domingo, 23 de janeiro de 2011

Fac simile

Não comento o espelho fosco
que mal reflete a imagem assistida.
Apago a chama recém adquirida
e pingo uma gota de orvalho
no paletó amassado da madrugada.
São fantasmas e delírios
brigando por um espaço no facho de luz
que se precipita nos olhos apagados
da luta imperfeita de toda uma vida.


Os cacos de hotel, os princípios permitidos
os aéreos anos de doirados sonhos
insuspeitos de trilhas e pedaços de algodão partidos
particípios de um passado oculto na fibra.


Formação de quadrilha
furacão de partilha
fundação de quinquilharia.


Formas de vida que abalam
a estrutura do poema recém escrito.


NÃO AFUNDE!
Gritam-me gargantas mudas.
Apressam-se botes salva-vidas.
Erguem-se cortinas.
Falham alaúdes.


NÃO AFUNDE!
Gritam-me.






Queimo.











 


23.01.11 - 03h02min

3 comentários:

Nefasto Curvatório disse...

Guria, não sei ao certo, mas para mim, este teu poema é o mais crítico, do tipo criticar certas coisas por aí. De repente nem foi o intuito, mas cada um sente algo não é? Como diria Pessoa, "Sentir, sinta quem lê". Gostei e fica aí teu grito para nós.

Simone Toda Poesia disse...

E é por isso, Fabi, que não se explica o poema, né? Impossível, se esse entender depende do leitor e do seu momento de vida. Sentir é algo muito particular, interno demais, pra um terceiro se intrometer. Eu escrevo, e sei o que eu quis dizer, mas o que eu quis dizer não tem nada a ver com o que o outro vai entender. Independe da minha vontade, e da vontade do outro. É muito mais subjetivo que parece. Pois então, que "sinta quem lê"...rsrs

Beijos, querido, e obrigada por acompanhares meus gritos e meus incêndios...rs

Unknown disse...

Prefiro "queimar no presente contínuo a afundar-me nos pedaços de algodão partidos particípio de um passado oculto na fibra..." Belíssimo Simone! Beijos amiga.