domingo, 17 de fevereiro de 2008

Dica de leitura

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de José Saramago (Companhia das Letras).
Não me perdôo por não ter lido esse livro até...ontem..rs...rs... aliás, já recomecei a ler, mal terminei. Identifiquei-me com tudo, desde a primeira linha à última. E eu, que tinha medo do Saramago, me apaixonei por ele (o quê? me apaixono muito facilmente? ah, mas meu coração tem lugar pra todo o mundo... meu coração é enorme...rs...se for um bom autor, tem lugar garantido...rs), vai ver por isso mesmo tinha medo, não era dele, era da paixão..rs...rs...rs.. "... já éramos cegos no momento em cegamos. O medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos"(p.108).
O tema "cegueira" me atrai grandemente, pelo seu valor metafórico. Muitas vezes me sinto cega num mundo de videntes, e outras muitas vezes sinto como se eu fosse a única vidente, num mundo de cegos, como a mulher do oftalmologista, no livro. O livro? Ah, conta a história de uma epidemia de cegueira, que se abateu de repente sobre um país inteiro. Bobagem? Vai ler....
Algumas frases saltaram do livro e ficaram dançando diante dos meus olhos, ganharam vida própria, e ainda estão aqui, diante de mim, me fazendo pensar, pensar, pensar...questionar meus próprios pensamentos, minhas posturas, meus conhecimentos (os poucos que tenho). Aí vão algumas delas, só pra compartilhar com vocês:
"É preciso cegarem-se todos, para que enxerguemos a essência de cada um? Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" (p.01)
"Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira?" (p.109)
"Lutar sempre foi mais ou menos uma forma de cegueira" (p.111).
"... vistas bem as coisas, não há no mundo nada que em sentido absoluto nos pertença" (p.119)
"... é sabido que as razões humanas se repetem muito, e as sem-razões também"(p.139)
"... certas coisas é melhor deixá-las sem explicação, dizer simplesmente o que aconteceu, não interrogar o íntimo das pessoas..." (p.143)
"... cada bala disparada é uma fração de autoridade que vai perdendo..." (p.172)
"... a cegueira também é isso: viver num mundo onde se tenha acabado a esperança" (p.173).
"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem" (p.269)
Na verdade, não pude colocar aqui TODAS as partes que estão dançando, ainda, diante dos meus olhos... Por serem inúmeras...rs... Aliás, é quase que o livro todo...rs....rs... Um livro "devorável" (preciso invocar a licença poética?); tanto, que comecei a ler ontem à tarde e não fui dormir antes de terminá-lo.
Saramago desvirtua (maravilhosamente, aliás) as regras de pontuação, o que pode representar uma certa dificuldade na leitura do livro. Mas vou te ensinar uma tática: MERGULHE. Entre na história. Misture-se aos cegos. Seja também um cego (todos o somos, em maior ou menor grau). Então a pontuação não terá a menor importância. Porque vais ouvir as vozes dos outros cegos, conseguirás distinguir perfeitamente a do narrador e as dos personagens. Não estarás mais LENDO, mas VIVENDO a história.
Muito bem, hoje recomeço a leitura, agora com outros "olhos". Sou outra. Esse livro merece muitas leituras da mesma pessoa, com visões diferentes. Não entendeu? Então leia o livro. Depois me conte...ok?
Ah... também tenho ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ... Ele está fresquinho, me aguardando, a partir de amanhã...
(Esses livros, entre muitos outros, estão disponíveis para download na Biblioteca Virtual Gratuita: http://portaldetonando.com.br/ )
17.02.2008
(Considero importante salientar que a minha intenção aqui não foi a de escrever uma resenha ou um resumo, nos chamados moldes acadêmicos. Resenhas e resumos são facinhos de encontrar na Rede, sobre qualquer livro. Só o que quero, sempre que comento um livro, é compartilhar com meus leitores o que essa obra FEZ comigo. Como me senti ao VIVER essa leitura. Como saio dela. E gostaria de receber teu retorno. Leste esse livro? Como te sentiste? Valeu? Não? Porquê? Me conta, quero saber...)