segunda-feira, 31 de março de 2008

Quem sou eu?


Talvez eu só tenha essa resposta daqui a alguns anos... Ou não...



Penso que sou água, águia,

fogo, ardente ilusão,

sensação permanente

de uma profunda solidão.

Penso que sou a procura

ou o estado letárgico

da completa loucura.

Sou égua solta nos prados

de uma vigília insólita.

Sou corrente que prende

meus pulsos ao passado

recente, indecentemente confuso.

Sou língua e pele e cabelos

vermelhos de pimenta malagueta.

Sou verso e prosa e conto

que ninguém conta

porque até eu duvido

e não divido a lente azul contigo.

Sou curso contido de água furiosa.

Sou alinhavo de espera

enquanto corro sem trégua

para um horizonte

que sempre sai do lugar

e fica mais distante.

Sou alegria e doçura

submissão e ternura

tristeza e desânimo

dor e amargura.



Sou mulher.





31.03.2008 - 19h18min

domingo, 30 de março de 2008

Pintura

Minha alma, que era azul, ficou cinza. Alguém aí tem tinta cor de rosa, pra emprestar? 30.03.2008 - 23h38min

Quintana, o eterno


"Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa".



(Mário Quintana)






30.03.20085 - 22h53min

Atentado contra a poesia

" Existem milhões de germes de poesia morrendo dentro dos seres humanos. Serão mortos por não serem devidamente alimentadas com os nutrientes da realidade, da paixão, da esperança, da liberdade, da Verdade.Eles foram aprisionadas pelo homem cotidiano, abandonados à fossa, sem água e sem luz. Deram ao tempo a infeliz missão de buscar arrancar-lhe o suspiro vital. Foram amordaçados e serão destruídos pela suas próprias emanações de emoções e forças instintivas, produzidas naturalmente para serem canalizadas em atividades criativas, enriquecendo-lhes suas existências neste universo de beleza e mistério.Os homens cotidianos são máquinas hipnotizadas pelo dinheiro, sexo e sucesso (sucesso?), sucesso da fama, do infantil desespero pela atenção, não o sucesso da realização da autêntica felicidade que nada mais é que a paz. Assassinarão a graça, e beberão para tentar gargalhar. Assassinarão a sabedoria, e fumarão para tentar pensar. Assassinarão o amor, e se masturbarão para relaxar. Assassinarão a liberdade, a justiça, e vão obedecer a lei do egoísmo, do nepotismo, da convencionada corrupção. Fechar-se-ão para sua característica de colocar-se no lugar do próximo em nome da ambição.Os homens cotidianos estão exterminando o que existe de vida neles, para depois seguirem como zumbis em direção a igrejas, procurando em imagens e no céu o Criador, sem se darem, por nenhum ínfimo segundo, conta que a divindade habitava o seu ser, em forma de liberdade, de criatividade. Sofrerão de lapsos, vultos da alma pura, impotente, derrotada pelo jogo dos sentidos que cuidará de fazer de seus donos mortos-vivos esperando a hora de dormir. "
Shirov Jarzida
*Texto postado por MANUEL, em
30.03.2008 - 20h04min

VIVA.

Ria. ore. minta. ceife. enfrente. negue. busque. traga. puxe. espalhe. compare. chore. entregue. coma. ame. durma. sonhe. saque. assista. suspenda. insista. surpreenda. alegre. sofra. conquiste. conturbe. apronte. aponte. cubra. tombe. trepe. tampe. escreva. risque. sussurre. cale. concentre. cuspa. desista. opere. compre. corra. sorva. seja. morra. 30.03.2008 - 17h37min

Partida

Alcei vôo sobre um MAR de possibilidades uma imensidão de flores e espinhos misturados a sorrisos e lágrimas e ausências e presenças repentinas. Fui embora sem avisar nem olhar as nuvens ou o frescor dos ventos que vieram do Norte. Fui embora e não deixei rastros nem restos de vestes nos espinhos que insistiram em rasgar-me a pele. As canções que embalaram os momentos marcaram a volta das ondas quentes que empurram meu corpo contra a areia e lambem os passos marcados no chão. Apagam o que se foi e não salvam nada. Nada fica pra trás quando amanhece. Nenhuma mancha resiste a um beijo doce. Nenhum beijo é suficiente pra fazer esquecer que nem tudo foi pintado de azul. Recuso a aterrissagem nessa terra devastada. Aguardo o momento propício pra fechar as asas. E voltar a andar com minhas próprias pernas; nadar nesse mesmo MAR de possibilidades que não evaporaram entre os suspiros de dor dos últimos dias, dos últimos laços, das últimas culpas. Há flores na praia. Vou pra lá... 30.03.2008 - 17h26min (Encontrei uma concha, na beira da praia; dentro dela, as canções que embalaram uma alegria há muito esquecida... O MAR...)

O mar

SE eu não estivesse ali naquele momento ou em outro qualquer SE eu não tivesse escolha e a roda dos ventos soprasse em outra direção SE eu os is tivessem os pontos exatamente postos uns sobre os outros e nenhum fosse tão parecido com um L ou com um ponto de exclamação ao contrário SE eu não fosse quem sou SE tu não fosses quem és nem tivesses representado o que representaste pra mim SE a vida tivesse menos suposições SE as estrelas fossem quadradas ou tivessem realmente as pontas que insistimos em desenhar nelas SE o mundo não fosse redondo e a gente pudesse chegar ao fim dele e simplesmente cair fora SE não houvessem tantas suposições e a gente pudesse, de uma hora pra outra entender os desígnios todos que nos cercam e que nos circundam e que nos devoram e que nos derrubam TALVEZ eu pudesse deixar de ouvir o mar... 30.03.2008 - 01h21min

Mea culpa, mea máxima culpa!

Culpada, ofereço meu pescoço à forca meu corpo ao apedrejamento minha alma aos tormentos do inferno. Culpada, pergunto as razões sem respostas as sombrias fendas abertas no silêncio que cresceu insolente entre as paredes de um deserto de promessas improváveis. Culpada, espero o inevitável castigo terrível de carregar na minha história a lembrança do momento exato em que sucumbi. Culpada, bato no peito e ardo as entranhas na busca da palavra ainda não inventada pra substituir aquela que me provoca arrepios e que irremediavelmente deverá ser pronunciada por esses meus lábios trêmulos de culpa. Culpada do maior de todos os pecados... e não me arrependo... 30.03.2008 - 01h14min

sexta-feira, 28 de março de 2008

Ninguém...


Maria Fumaça.

Os trens,

as rés,

os réus,

os poréns

e todos os ninguéns

desse mundo de Deus...




Fumaças...





28.03.2008 - 23h

Trilhos


Andas nos trilhos,

os trilhos andam em ti,

os trilhos andam POR ti

ou, simplesmente,

ignoras os trilhos?






28.03.2008 - 23h21min

Parto

Sair de dentro de mim. Nascer. De preferência em noite de lua cheia ou em dia de torrencial chuva fria; só não pode ser em hora comum, dessas que a gente nem lembra nem vê dessas que o sino da igreja não toca que o despertador não desperta que a gente não salta da cadeira de repente, como se alguma coisa muito importante, estivesse por fazer. Nascer. Abrir com dificuldade os olhos e com cuidado esticar as pernas e os braços numa imensidão incalculada, antes pressentida, jamais apalpada ou plenamente acolhida. Nascer. Descobrir as descobertas todas e os espantos, espasmos e encantos dos novos e dos não tão novos desafios recolhidos nos cantos da vida que se inicia e recomeça a cada novo dia, em cada nova fresta. Nascer em dia de tempestade. Em dia de tormenta, nascer. E ter os azuis olhos de e-tern(a)idade. Dar à luz.... 28.03.2008- 01h31min

quinta-feira, 27 de março de 2008

Estradas


As estradas levam e trazem destinos.

As estradas carregam no lombo

os desejos dos viajantes.

E os sonhos.

E as paradas.

E as alegrias.

As estradas não têm pousada,

não têm anexos,

não têm sossegos.

As estradas somos nós,

em busca do s(f)im...







27.03.2008 - 01h09min

Atrevimento...


Atrevo-me a investir na bolsa de ilusões

nos milhões de senões e de situações

em que os mortais se vêem sem ter

para onde fugir ou como se proteger.

Atrevo-me a explorar os cantos escuros

escusos, inclusos na lista dos destemperos

todos que assombram meu particular país.

Atrevo-me a ser eternamente transgressora

das regras e metas oficiais que afligem

e infligem toda sorte de ordinárias maldades

contra a liberdade, o pensamento e a opinião.

Atrevo-me a ser eu mesma

num mundo mascarado e fútil

que mente e devora essa mesma mentira

como se fosse a semente de um amanhã

mais limpo e mais puro. Impossível!

Atrevo-me a contestar a ordem estabelecida,

a desestabilizar as pedras concretadas

de uma verdade há muito falecida,

a nadar contra a maré e a firmar meu pé

naquilo que considero forte e seguro.




Atrevo-me a pagar o preço.


Atrevo-me a sofrer.


Atrevo-me a sorver o suco da adversidade.





Atrevo-me a sobreviver.

















Aos 41 minutos do dia 27.03.2008
Um novo dia que nasce da escuridão...

quarta-feira, 26 de março de 2008

O Circo


Hoje o circo enfeitou as ruas

alamedas, edifícios, sorrisos,

provocou exclamações e ternuras

lembranças de uma infância

que vai longe, nas esquinas da vida,

ou alegrias de uma infância

que anda agora, entre outras crianças,

nas praças e escolas e parques

da cidade com gosto de pipoca

e picadeiro divertido.

Hoje o circo coloriu de vida

a minha vida suada de trabalho

e seriedade e compromisso diário.

Hoje o circo me fez subir na mesa

e declamar poesia feito saltimbanco

em dia de estréia de espetáculo.

Hoje o circo despertou, entre suas canções,

palhaçadas, equilíbrios e paixões,

a menina que eu insisto em fazer dormir

mas que ainda mora em mim...




26.03.2008 -19h06min


(Hoje é o dia do circo.
A imagem é de um mini cortejo circense, acontecido
no final desta tarde, nas ruas do centro de minha cidade.
Viva a magia do circo! Viva a criança que vive em nós!)

Canção sem compromisso

Desafino de dar Dó entro por uma nota saio pela culatra. Entre um Lá e um cá encontro um Fá que não deveria estar ali. Quem me ouve, releve que revelo só o que quero o resto, não digo, não conto, não canto, não recito. Acompanhe minhas notas que denotam nostalgia dance, requebre, delire. Que tudo isso, assim, sem compromisso, também é poesia... 26.03.2008 - 10h47min
Endereço certo é coisa complicada tão complicada quanto amor eterno jurado entre quatro paredes descascadas em noite de lua cheia e cama compartilhada. Caminhos sem volta existem aos montes mas dependem, todos eles, do primeiro passo, do momento da escolha, que espreita, ao acaso, entre desejos de loucura e culpas freqüentes. Endereços, amores, complicações, luares, desejos, alucinações, dependências, acasos, loucuras, paixões, tudo acaba sempre em ternura, ainda que essa ternura seja apenas a saudade de alguma coisa que jamais vivi... 26.03.2008 - 01h26min

Bilhete

Esgotei os argumentos. Talvez não valha a pena mesmo. Talvez teu medo é que tenha razão. 26.03.2008 - 01h15min

Do silêncio...

Prova de fogo, o silêncio. O largo e impenetrável silêncio. Fogo devorador das horas reservadas para a troca. Implacável silêncio de peso não calculado; desmedido silêncio que cala o que está por ser dito. Maldito silêncio que abala a estrutura do construído. Silêncio que desmorona o edifício. Poeira. 26.03.2008 - 01h11min

Escuta....

Afunila-se a estrada. A escolta dá a volta. E se cala. 26.03.2008 - 01h01min

terça-feira, 25 de março de 2008

Despedida

Ajusto a saia na subida da escada não caio nem titubeio na decisão as fotos antigas ficam no álbum esquecido dentro do armário igualmente esquecido num canto da sala de estar vazia. Ajeito as malas e as tralhas na porta de saída da casa. As caixas e os depósitos de lembranças amargas e distorcidas pela culpa ficam no divã do analista enriquecido pelas minhas moedas sedentas de ouvinte e de opinião. Estou seca e dura. Pedra pouco preciosa. Sem lágrimas, dobro a esquina do medo e não olho pra trás nem admito arrependimentos. Nada carrego comigo além do desejo de uma liberdade que já tive um dia. Passo pelo espaço frio da falta de companhia. Esse, velho conhecido. Não ando nua. Não mais. Nunca mais. As feridas expostas significam luta e sobrevivência. Doeu, mas estou aqui. As feridas expostas significam cautela agora. E silêncio. Nos primeiros 11 minutos, do dia 26.03.2008

O que será...

Embriago a alma com poesia e música troco as pernas na dança esguia de uma liberdade que desejo e que ainda escorre entre meus dedos água quente pré-filtrada pela areia alheia. O egoísmo é uma forma selvagem de violência doméstica. Infrinjo as regras das boas maneiras. Deito meu corpo cansado nos braços do amigo do peito que me acompanha diuturnamente e que me ama apesar de saber-me bem. Concentro as energias na fervura do sangue nas veias que carregam meus últimos planos na vermelhidão que incendeia meus cachos. Não como, não durmo. Há dias que os dias se sucedem como mantos brancos de pura feitiçaria. Há dias que as noites são turvas e as curvas não escondem os desvios das trilhas que me forçaram seguir. Traço a rota do desvio no desvario das troças que me obrigaram ouvir. Agora é questão de honra e brio. Por enquanto, ainda rondam os palhaços no circo erguido pra despistar percepções. Eu não durmo. Eles haverão de dormir. E então, irei... e será pra sempre.... 25.03.2008 - 21h20min

Coragem

Foges. Te escondes dentro de ti mesmo. Procuro por ti entre as letras lançadas ao vento, colhidas pela folha de papel que eu já conhecia... Foges. Tens medo de qual de nós dois? É de mim, ou de ti que te recolhes? Um vento frio anuncia a chegada do outono e a continuação da tua fuga. Até quando? 25.03.2008 - 01h09min

Inclusão

As diferenças tantas, tamanhas, tacanhas... As diferenças são cantos, arestas, volumes... As diferenças são cordas que nos amarram ao outro, ao invés de nos amarrarem ao poste da indiferença. As diferenças são bem-vindas à minha vida, à tua, aos espaços e planetas que nos circulam. As diferenças nos fazem únicos e permanentes ao mesmo tempo que nos mostram o quanto somos i n t e r d e p e n d e n t e s. Quais são as nossas diferenças? Idade, altura, espaço ocupado na Terra, família, cultura, que outro motivo nos impede de S E R M O S? Que outra razão me impede de te incluir na minha vida? Que outra razão te impede de me incluir na tua vida? 25.03.2008 - 01h03min

segunda-feira, 24 de março de 2008

Pela minha cabeça...

O que me passa pela cabeça não é palavra não é sentença não é delírio, sequer mistério. O que me passa pela cabeça é só um suspiro, um certo pesar um pensar em branco, meio sombreado feito de vinho e profunda solidão. O que me passa pela cabeça não é nada comparado ao que me passa pelas mãos: facas, cordas e estilhaços de vidros, de peles, de algodão... Mas tudo isso é só um suspiro... Nada mais que um breve suspiro... Um suspiro só... 24.03.2008 - 20h28min

o que faz um ponto... III

O universo de cada um é um mistério igualmente diferente um do outro. Diferentemente único. Unicamente esquecido entre os iguais. Destaco as folhas em branco, da agenda vazia de sentidos e opiniões. O alfabeto é minha estrada. O dicionário, meu pai. O caderno, meu fado. O desejo de dizer, meu carrasco. Os pontos, as vírgulas, as reticências, meus irmãos, parentes e amigos. A caneta vazia de tinta minha solidão anunciada.... 24.03.2008 - 01h26min Para Adrebal

o que faz um ponto... II

Será que a alma bate ou é a vida que bate na gente? E se a vida bate na gente porque é que a gente não morre? Batida de vida corrige ou seqüestra a alma? Seqüestro de alma enlouquece ou faz ver mais longe? Ver vale a pena, ou seria melhor não ter olhos? São os olhos ou as palavras que vêem? As palavras, então, têm alma? 24.03.2008 - 01h18min Adrebal sempre me faz pensar...

o que faz um ponto...

um ponto desata um nó ou o nó é o próprio ponto? o ponto é o xis da questão ou o xis é só outro alimento? o alimento é um nó na garganta ou a garganta é o nó da existência? a existência é um nó que dói ou a dor é que é a prova da existência? 24.03.2008 - 01h11min A partir de uma conversa com Adrebal

Da morte...

O brilho da estrela só é visto após a sua morte. Antes disso ela brilha sozinha, na escuridão de um universo inteiro, que pesa sobre ela. 24.03.2008 - 01h09min

Restauração


Produz algum efeito reconstruir os templos?

Restaurá-los?

E quem restaura a fé?
As grades na porta do templo?











Aos 54 minutos do dia 24.03.2008

Questão


É a arte que me ronda

ou eu é que ando à procura dela?










Aos 45 minutos do dia 24.03.2008

Prudência

Embaçado, o meu olhar Meus olhos, anuviados, o que traduz meus passos em atrapalhadas trocas de pés. Melhor ficar parada e esperar que o céu se abra. Dissipar a densa névoa é obra da passagem do tempo. Escolher o caminho a seguir é responsabilidade minha. Esperar é sensatez. Calar, inteligência... Shhhhhhhh..... O próximo passo ninguém deve saber... Aos 42 minutos do dia 24.03.2008

Imagem


A luta é diária... extrapola a escultura.

Espada que trespassa o dia.

Dor.






23.03.2008- Domingo de Páscoa

quinta-feira, 20 de março de 2008

Desiderata*

Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio. Tanto quanto possível sem humilhar-se, mantenha-se em harmonia com todos que o cercam. Fale a sua verdade, clara e mansamente. Escute a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história. Evite as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito. Não se compare aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores a você: isso o tornaria superficial e amargo. Viva intensamente os seus ideais e o que você já conseguiu realizar. Mantenha o interesse no seu trabalho, por mais humilde que seja, ele é um verdadeiro tesouro na continua mudança dos tempos. Seja prudente em tudo o que fizer, porque o mundo está cheio de armadilhas. Mas não fique cego para o bem que sempre existe. Em toda parte, a vida está cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Sobretudo, não simule afeição e não transforme o amor numa brincadeira, pois, no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva. Aceite, com carinho, o conselho dos mais velhos e seja compreensivo com os impulsos inovadores da juventude. Cultive a força do espírito e você estará preparado para enfrentar as surpresas da sorte adversa. Não se desespere com perigos imaginários: muitos temores têm sua origem no cansaço e na solidão. Ao lado de uma sadia disciplina conserve, para consigo mesmo, uma imensa bondade. Você é filho do universo, irmão das estrelas e árvores, você merece estar aqui e, mesmo se você não pode perceber, a terra e o universo vão cumprindo o seu destino. Procure, pois, estar em paz com Deus, seja qual for o nome que você lhe der. No meio do seu trabalho e nas aspirações, na fatigante jornada pela vida, conserve, no mais profundo do seu ser, a harmonia e a paz. Acima de toda mesquinhez, falsidade e desengano, o mundo ainda é bonito.Caminhe com cuidado, faça tudo para ser feliz e partilhe com os outros a sua felicidade. 20.03.2008 - 23h43min *DESIDERATA - Do Latim Desideratu: Aquilo que se deseja, aspiração. Este texto foi encontrado na velha Igreja de Saint Paul, Baltimore, datado de 1692. Foi citado no livro "Mensagens do Sanctum Celestial", do Fr. Raymond Bernard. O texto é de Max Ehrmannn e foi registrado pela primeira vez em 1927. Hoje em dia pertence a © Robert L. Bell. Texto e informações no site: http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/desiderata.asp

Cosmopolita

Não é sempre que se abre uma clareira no meio de densas árvores de concreto e cimento armado. Não é sempre que se trançam os cabelos nos passos da embriaguez da alma não provocada por álcool ou destilados mas pela beleza da candura da menina ou pela delicadeza do vôo da borboleta branca. Não é sempre que se faz dia claro que o orvalho congela na ponta da folhagem protegida pela marquisa que um raio de sol acaricia teus olhos que um pingo de chuva se junta a uma lágrima tua. Não é sempre que o burburinho da cidade é apenas e tão somente som difuso mas é sinal de vida e pulsação para o bem e para o mal para o sonho e para o real para a coragem e a escravidão. Não é sempre que um eclipse se deixa ver por olhos humanos corrompidos pela tristeza do mundo moderno. Não é sempre que uma estrela nova explode na escuridão do universo em meio ao silêncio solitário do cosmos ou ao barulho ensurdecedor desse mesmo c o s m o s... Cosmopolitas somos nós todos filhos de uma cultura dinâmica e imprevisível, que dá e tira com a mesma rapidez e sem nenhuma cautela que oferece e remete ao óbvio e também à novidade tão grande que fica difícil definir...
"Você é filho do universo
irmão das estrelas e árvores
você merece estar aqui..."*
20.03.2008 - 23h32min *Trecho da Desiderata http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/desiderata.asp

quarta-feira, 19 de março de 2008

Do vil metal


Um momento
pode até ser comprado;
uma vida, não...










Um dia ainda escrevo um tratado
sobre o trato que penso merecer
essa gente que só valoriza e vê
o brilho do metal que compra tudo
menos a alegria de viver....






Aos 10 minutos do dia 19.03.2008
(Imagem: http://www.cosmo.com.br/humor/images/2007/5/31/moedas1.jpg)

terça-feira, 18 de março de 2008

Eu SOU...


Sou alguém em permanente construção.

Sou quem grita e ensurdece o vizinho.

Sou quem cala e nunca consente.

Sou agressiva e cruel, doce e carinhosa.

Sou ingênua e geniosa.

Sou a força e o fel, o medo e a ansiedade.

Sou estátua e dança.

Sou alguém que anseia por liberdade.

Sou alguém que chora de saudade.

Sou alguém que ama e odeia

em medidas iguais.

Sou intensa e desnuda.

Não finjo, não minto,

não torço pela injustiça alheia.

Sou rouquidão, silêncio, loucura.

Mas antes, e principalmente,

sou solidão...





18.03.2008 - 23h43min

Só...


Decididamente

estamos sós...

rodeados de estranhos,

somos ilhas...

serpenteando entre nós,

nosso sangue...

sós...

eu...

tu...

nós...

isolados entre saldos

negativos de verbos

silenciados de outros...

sós...

o poder que sobe à cabeça

o saber que desce aos pés

o sonhar que morre no dia

a morte que ronda o prato

da ceia do domingo de Páscoa.

sós...

eu...

tu...

nós...

que não estamos juntos

embora pareçamos unidos...

nós...

miseráveis

embora tenhamos nascido juntos...

nós...

que crescemos sem lei

embora pareçamos retos...

sós...

nas mãos dos manipuladores profissionais

sós...






Um dia desatamos os nós a sós





como sempre estivemos...




sós...














18.03.2008 - 23h31min

segunda-feira, 17 de março de 2008

Castelos de areia


Construo castelos de areia.

Na beira da praia

as ondas que quebram

são língua de sereia

cântico de morte e encanto.



A filosofia não protege quem sabe.
A sabedoria não esconde quem foge.
A história não depende de quem morre.
Escolho as palavras exatas
que encolham o sentido do verbo
que ainda não encontrei.
Compreendo a sorte e planejo
a próxima estratégia para fugir dela.
Não trago ferimentos abertos
ou cicatrizes profundas
oriundas das dores e vertigens
de cegamente andar nas sombras
do que desconheço e do que busco
desintoxicada das convenções
impostas diariamente a todos os seres.
E aceito os açoites das terceiras intenções
que desconhecem os perigos que enfrento
ou que desdenham do que considero ilusão.
Sou contrária e ouço vozes alegres
que falam de coisas distantes que eu não vi.
Sou louca, originária de uma terra onde não nasci.
Sou impaciente, intolerante, intransigente.

E construo castelos na areia
e moro neles
e neles sou feliz....







Aos 49 minutos do dia17.03.2008

E agora, Drummond?


Se fico, sou presa fácil

a ver navios sem velas

sem velar o mar azul.

Se parto, morro na praia

esgueirando-me à toa

entre as palmeiras e os orvalhos

de madrugadas sem estrelas

de versos soltos sem poemas

de encantamentos derretidos

nas horas de absoluto pesar.

Se sonho, corro o risco

de acordar exausta e vazia

pra descobrir que o mundo é este

que rodeia minhas crinas

que rareia meus imprevistos

que diminui as possibilidades.

Se acordo, aceito o fato

do sol estar morrendo

do dia ser meu hoje

do riso real que sou aqui.

Se espero, desconfio.

Se desespero, confino.

Se construo, não sei.

Se sei, desenformo.

Torno novo o ontem feito.

Dito minhas próprias regras

meus fusos horários desordenados

minhas impressões escassas

na roda da vida no sono de agora.

A oportunidade estendida

tapete vermelho na escada

que sobe, não se sabe pra onde.

Mas sobe...

E eu não sei onde a opção.

E eu não sei onde a versão

do que é verdadeiro e forte.

E eu não sei onde a escolha.



E agora, Drummond?







Aos 31 minutos do dia 17.03.2008

domingo, 16 de março de 2008

Eternos poetas

... poetas nunca deveriam desistir, ainda que as musas se alternem, ainda que inexistam, ainda que se revelem imperfeitas ou inadequadas ou infelizes... Os poetas, esses, devem permanecer pra sempre, ainda que doloridos pelas descobertas ou pelas encobertas dores... Os poetas, esses, não podem deixar de escrever... Nunca. 16.03.2008 - 01h26min

Tecelã de versos

Com uma palavra teço a trama do verso na folha branca da agenda vazia de si mesma transbordante de mim e de além de mim. Meu vôo nas asas poéticas não tem descanso ou agito ou remanso. É viagem certa no verbo é vantagem vasta no dito. Mergulho no mar dicionário dirijo sem rumo, me aprumo. Agora não sou mais eu. Agora é a palavra que mora em mim. Teço a trama do verso o resto é resto... 16.03.2008 - 01h04min

Meus versos esperam....

Meus versos são desesperadas tentativas de fuga do silêncio que ronda meus ouvidos na madrugada madura do roubo de vida que os dias me obrigam a ver do rombo na lua que a chegada da estrela vazia torna precisa e insegura a estrada que estou por dizer. Meus versos são salvação e susto d'alma branca ligeiros deslizes da sofreguidão com que corro ao encontro desses braços que não estarão lá que inexistem ou sugerem o sonho desfeito insatisfeito desejo de razão entre os ventos e incertezas nas curvas percorridas pelo coração. Meus versos são marcas na pele arrepiada de frio tatuagens de símbolos significados sussurros suores sons são linhas dançantes de bailarinas invisíveis que prevêem o próximo movimento e entristecem são luzes vermelhas que indicam o perigo e o cuidado são cruzes e velas e barcos e algozes e exércitos e charcos por onde meus pés se molham e por onde minhas mãos deslizam e desligam e desmontam e desmentem e desesperam... Meus versos esperam... Aos 52 minutos do dia 16.03.2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Por mim...

Sombras são princípios de formas inexatas de algo que vai além. Formas são princípios de sombras exatas de algo que não vêem.
Moldo a forma da autoria da minha vida: quem me deu o direito de ser eu mesma? EU!
Escolho os feijões que quero plantar na horta mágica das minhas alquimias de letras e versos e monossílabos átonos misturados às sensações dos invernos passados ao pé de um fogão à lenha e um disco de pinhões assados na brasa.
Saudade de um sossego quentinho do ombro do homem que amo do som da risada de algodão ao meu ouvido espumante poema escrito com gosto e cor de vinho.
Calculo a falta que fazem as páginas de amanhã nessa leitura que sempre me espera com gosto de surpresa e admiração.
E agradeço...
13.03.2008 - 23h52min

Liberdade

Abro as asas
alço vôo
liberdade
eis-me aqui!!!!!!!!!!!!!!!
Ando livre pelos caminhos abertos por mim
sem pegadas alheias, diviso as direções que me pertencem
ou que traçam meus avanços pela estrada afora
que não se interrompe nem cessa de estender-se à frente.
Labaredas de fogo iluminam meus passos paroxítonos
escrevo versos como quem toma um copo d'água doce
e se acalma da barbaridade da rua de fora
do meu mundinho de poemas escolhidos a dedo-de-dama.
Domo a passagem do tempo e adormeço entre as plumas
das vertigens dos concursos dos folhetos das fuligens dos folguedos
que sopram num vento de insônia na minha espinha vertebral.
Ilusão é o delírio de uma realidade que trafega náufraga
no dilúvio de acertos e desacertos que castigam os dias
que vêm chegando nos atropelos das horas medidas e contadinhas
enfileiradas diante dos relógios de pulso de bolso de parede
medíocres marcações do fatídico efeito da passagem de um tempo
que não se sabe direito o que é a que veio quando quanto onde é se é que é
ou o que quer que se considere que seja... ou não...
O outono solta as folhas das árvores e espreguiça as palmeiras azuis
ah... palmeiras sempre serão azuis...
E 'sempre' é um espaço que cabe nos meus dias
D I A R I A M E N T E
minha estrada se esparrama por esse espaço
é nele que danço
é nele que sei ser
essa
que sou...
13.03.2008 - 23h39min

Palav...

As palavras dançam nas folhas, nos ouvidos, nos lábios, bailarinas suaves de hipnotizantes movimentos leves convincentes argumentos poéticos delirantemente belos
p a l a v r e a d o . . .
13.03.2008 - 01h07min

quarta-feira, 12 de março de 2008

Miscelânia

Voa ao vento minha saudade sopra o pensamento e a espera da canção ouvida à janela no espaço aberto sem lei. Sopra ao vento a eternidade voa o instante e o lamento o consolo de um anjo distante que sorri, complacente e belo, embala a coragem de não-saber o que haverá de ser o que haverá de vir. Canta o vento na proximidade o esforço de nitidez e de tormento nas cortinas dançantes de tule transparentemente branco. O banco da praça aguarda que o dia amanheça que a noite anoiteça que novos passantes nasçam que a vida aconteça normalmente como se o sol ou a chuva não se importassem se o trem descarrila ou se a porca torce o rabo ou se o xarope é bom pra tosse. O trinco da porta destranca o riso e abençoa a floricultura da esquina onde as bromélias são viçosas e os vínculos têm afetivo odor de rosas. O enfeite na porta convida à entrada de quem se considera eleito de deuses e anjos diferentes que perambulam pelos campos solitários e encontram, em seus preâmbulos, nada além de uma xícara de chá de hibiscus pra pintar de vida o nosso tão comum dia de hoje... 12.03.2008 - 20h01min

terça-feira, 11 de março de 2008

... a melodia da saudade...




te sè
y eso es todo
porque lo demàs es
aquello de amar y desamar
es como reìr y doler
el asunto es que te sè
somos
y es màs allà de eso






canta meu peito ao som da tua voz distante
aproxima meu peito do som da tua voz presente
las repercusiones de su canto, el silencio
el silencio distendido por los kilòmetros

pero no hay distancia ninguna
al final y al principio la voz nace en el otro
el que por momentos es uno
ninguno
distancia e saudade

distância e saudade

não há...



11.03.2008 - 01h01min

(Simone Aver e Roberto Amezquita)

sábado, 8 de março de 2008

Quem eu penso ser...


Sou uma incógnita
e um livro aberto.
Sou letra que não pode ser
escrita
sou letra que não pode ser
lida
sou letra que não pode ser.
Sou ilusão.
Imagem na tela colorida
de um mundo em extinção.
Sou vulto, sombra, telepatia.
Sou viveiro de pássaros
na cabeça do poeta mexicano.
Sou assombração.
Sou constância e demência.
Ouço vozes, vejo coisas,
desato nós e ato imprevistos
passos travessos na estrada
que está por ser aberta.
Sou linha de trem descarrilado.
Sou o trem.
Sou a linha.
Sou o vagão perdido
fechado em ostra.
Sou o nada
que desabrocha em cada verso
onde haja encanto
encontro da magia com a música.

Poesia.


Paixão.



08.03.2008 - 20h43min

quinta-feira, 6 de março de 2008

Hora marcada

Exupéry escreveu, eu assino embaixo: "se vens às quatro da tarde, desde as três começarei a ser feliz"; e acrescento, humildemente, no meu terno desejo de fazer-te ver o quanto me és caro: se vens às quatro da tarde, desde o instante primeiro em que eu soube disso ou que adivinhei, ou sequer suspeitei que viesses às quatro, ou às três, ou à meia noite, ou quem sabe às seis, fui mais do que feliz. Andei saltitante à tua espera. Corri pelos bosques e ri alto, criança solta entre brinquedos raros. E sonhei contigo. E cantei com o sonho que tive contigo. E dei-te minhas mãos e minha vida, no sonho que tive contigo. E sentamos juntos, debaixo da macieira, pra contar histórias vividas, engraçadas ou sofridas, pra lembrar passados e rir das lembranças tidas; no sonho que tive contigo. Até que venhas à hora marcada e ao invés de sonhar eu viva contigo... Aos 11 minutos do dia 06.03.2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

Condicionantes?

Sem chuva, que graça teria o sol? Sem sol, qual o desejo de chuva? Se não fosse a esperança, o que seria dos homens que andam desgarrados, à procura de abrigo não para o corpo, que este qualquer marquise oferece, mas para a alma, para o peito coberto de feridas, nenhuma cicatrizada, todas doloridas? Se não fosse um sorriso, que cor teria o dia? Se não fosse um abraço, qual a força da dor? Se não fôssemos todos o que seria da vida? Se não fosse a vida, o que seria do amor? No primeiro milésimo de segundo do dia 06.03.2008 ou no último milésimo de segundo do dia 05.03.2008

A ORIGEM DA MORTE



Mitos sobre a origem da morte envolvem com freqüência uma discussão entre dois seres, como no seguinte relato do povo shoshoni das planícies ocidentais.
No tempo antigo, as duas figuras mais importantes eram o Lobo e o Coiote; este sempre tentava contrariar os desejos do Lobo. O Lobo disse que quando uma pessoa morria poderia ser trazida de volta à vida atirando-se uma flecha na terra abaixo dela. Mas o Coiote disse que era uma má idéia trazer pessoas de volta à vida, porque haveria gente demais. O Lobo concordou, mas decidiu em segredo que o filho do Coiote seria o primeiro a morrer, e só com esse pensamento provocou a morte do menino. Logo o triste Coiote contou ao Lobo que seu filho havia morrido. Ele lembrou as palavras do Lobo: que as pessoas poderiam reviver se uma flecha fosse atirada embaixo delas. Mas o Lobo alegou o que o próprio Coiote havia dito: os homens deviam morrer. E desde então foi assim.












In:MITOLOGIAS - Deuses, heróis e xamãs nas tradições e lendas de todo o mundo - Organizador: Roy Willis (Publifolha)










05.03.2008 - 23h28min

*"Mundo, mundo, vasto mundo..."


Há mundos e fundos
e fuscas velhos
abandonados em terrenos baldios.
Há mundos e mundos
abandonados em bairros baldios.
Há mundos e mundos
nos mundos dos fundos dos poços
em que abastados moços
riem alto e reclamam da boa sorte tida.
Há mundos e fundos
mergulhados na imundície humana
na lamentável falta de assistência
em todos os sentidos.
Há fundos mundos à parte
vivendo malditos e esquecidos.
E há medos nos mundos...
Em todos os mundos há medos fundos
de que outros mundos tomem
os mundos que pertencem a estes,
àqueles, ou a terceiros.
E há mundos perdidos dentro dos quartos,
entre as quatro paredes dos barracos
de uma única peça que não se sustenta há anos
mas que sobrevive...

Os mundos convivem à força, e, no fundo,
forçam as entradas das entranhas das gentes.

Sim.

Os mundos são feitos de gentes....



Os mundos são feitos do fundo de nós...





05.03.2008 - 21h01min
*Esse título é um verso do Poema de sete faces,
do eterno Carlos Drummond de Andrade
**Imagem colhida esta tarde, enquanto esperava o ônibus
que me levaria ao meu destino...

terça-feira, 4 de março de 2008

'Sei que nada sei'

Rebuscando entre os poucos aprendizados que tive ao longo de quase metade da minha vida descobri que nada aprendi, que nada salvei. Sou um tanto de conceitos que se renovam a cada momento, como as células do meu corpo, como as expressões do rosto de quem amo. Não sei nada sobre nada, porque tudo renasce a cada instante, tudo se modifica toda hora, tudo se reconstrói, cresce, às vezes desaparece, outras vezes simplesmente carece de qualquer outra definição. Apenas é. Rendo-me às lições que me rondam. Nessa segunda metade da vida, quero aprender.... 04.03.2008 - 23h

Catarse

Escrever é um vício que me traz alívio de tudo o que me enche e não tem por onde escorrer. Transbordo o que me vai por dentro de dentro de dentro de... Não guardo pudores neste ato como não guardo pudores naquele ato, é fato que o fogo queima e levanta bolhas e as bolas de fogo que cuspo nas páginas brancas que lês são meus desatinos meus absurdos meus impropérios meus alfinetes e colchetes e remédios. Sortilégios que se bastam a si mesmos, exaustos de andarem presos entre as grades das convenções que me obrigam a andar numa linha imaginária que eu não pintei! Rente à vida segue a corrente maldita da tradição. Debato nos meus versos a revolta que me cabe e a que não me cabe e a que não quero ver e a que me cansa e a que me lança pra longe do universo direitinho e estreito dos dois olhos que são um e por isso mesmo vêem pouco e limitam a visão do outro por imposição por disposição de encaixotar o visto e negar o existente que está ali nas fuças do vivente. Esperneio pra que as cordas não me prendam deveras. Soqueio as paredes e minhas mãos se ferem. Choro. Não sei para onde correr. Busco explicações nos poetas que amo. Alento. Consolo. Esperança. Neles, esse mesmo desejo de muda. Essa mesma gana de muda. Esse mesmo grito de muda. E mudo. Emudeço. Medito. Sossego. Ardo em febre. Curo as feridas. Suo. Bendigo. Mendigo um pouco de água num deserto de belezas puras. Purifico a mente. Esqueço... 04.03.2008 - 22h52min

segunda-feira, 3 de março de 2008

Eis a questão:

Se uma fração de segundos pode mudar uma vida, o que dizer de um dia inteiro? 03.03.2008 - 02h16min

domingo, 2 de março de 2008

Os 50 mais...


Atendendo a uma proposta do Fabrício, amigo, poeta e irmão (não de sangue, mas de coração), disponibilizo a lista dos 50 livros que mais gostei até hoje. Fabi pediu que eu colocasse na ordem de preferência. Infelizmente não vai ser possível fazer isso, com exceção dos dois primeiros. Os restantes não tenho como classificar, já que tenho todos como livros mais do que maravilhosos e para os quais volto sempre que possível, com a mesma gana da primeira vez; minto: com uma gana maior que da primeira vez, já que, depois da segunda, já sei o quanto aprendi naquelas páginas e quanto prazer sinto em revisitá-las. Logo, depois de tentar colocá-los em ordem de preferência muitas vezes, desisti de tamanho trabalho, não vi coerência na minha classificação; nem coerência nem constância, já que fiquei trocando de lugar muitas vezes...rs...

Aí vão os 50 mais, pra mim...



*Geórgicas - Virgílio

*Genoma - Roberto Amezquita

*Ensaio sobre a loucura - José Saramago

*Médico de homens e de almas - Taylor Caldwell

*Assim falava Zaratustra - Nietzsche

*O livro dos abraços - Fernando Galeano

*Einstein, explique, por favor - Jean Claude Carrière

*A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir - Rubem Alves

*O príncipe - Maquiavel

*Para além do bem e do mal - Nietzsche

*A sujeição das mulheres - Stuart Mill

*Ensaio sobre a liberdade - Stuart Mill

*A estátua e a bailarina - José A. Gaiarsa

*A cegueira e o saber - Affonso Romano de Sant'Anna

*Mensagem - Fernando Pessoa

*Ecce Homo - Nietzsche

*Amores sobre o Don - Heinz G. Konsalik

*Crônicas de uma educação vacilante - Claudio de Moura Castro

*A arte de escrever - Schopenhauer

*O alienista - Machado de Assis

*Estrela da vida inteira - Clarice Lispector

*O ser e o nada - Jean Paul Sartre

*A divina comédia - Dante

*A hora da estrela - Clarice Lispector

*A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector

*Água viva - Clarice Lispector

*Mito e significado - Claude Levi-Strauss

*A psicanálise dos contos de fadas - Bruno Bettelheim

*Livro do desassossego - Fernando Pessoa

*O morro dos ventos uivantes - Emily Bronte

*Vigiar e punir - Michel Foucalt

*Casa grande e senzala - Gilberto Freyre

*1984 - George Orwell

*Quando Nietzsche chorou - Irvin D. Yalom

*O dia do curinga - Jostein Garder

*O mundo de Sofia - Jostein Garder

*Metamorfose - Kafka

*O caçador de pipas - Khaled Hosseini

*Insustentável leveza do ser - Milan Kundera

*A menina que roubava livros - Markus Zusak

*Confesso que vivi - Pablo Neruda

*A alegria de ensinar - Rubem Alves

*O nome da rosa - Umberto Eco

*Eneida - Virgílio

*O tempo e o vento - Érico Veríssimo

*Inteligência Emocional - Daniel Goleman

*O poeta ao piano - Michiko Kakutani

*Satiricon - Petrônio

*A hora de todos - Quevedo

*Todos os de Mário Quintana (o que me faz citar aqui mais de 50... desculpa, Fabi, ultrapassei os limites...rs)





02.03.2008 - 19h30min

Conseqüência

Forneces uma palavra com ela te faço um verso se me deres um verso escrevo um poema se me ofereces um poema invento um conto se,porém, um romance ofertares, então terás nas mãos a vida dessa poeta... Traça na mão que escreve a linha da vida... 02.03.2008 - 17h52min

Sangrando

Enlouquecida ando a passos largos pelas avenidas de letras malditas evitadas por transeuntes menos afeitos às descobertas ousadas ou às perigosas incursões pelo mundo hostil da escultura em argila quente e da viagem sem volta para o mundo construído além, que ninguém viu. Volteio em danças sem acordes e acordo os cães raivosos de baba venenosa. Não busco nada além do verso que jamais escrevi. Não crio nada que não grite aos teus ouvidos. Fúria e terror na linha do café expresso sobre a mesa de um bar desconhecido na companhia de um bêbado velho e sujo de quem ninguém sabe o que será... Medito sobre os passos que não dei e sobre os fantasmas que carrego comigo. Transporto os desejos que tenho nas costas em largas aljavas feitas de saco amarrado e tingidas com meu sangue fresco. Sou sangue. Sangro o tempo todo. Verto vida agri-doce por meus poros todos. Energia que não cabe em mim. Transbordo e te assusto deveras. Não condeno as fugas ou os medos ou os momentos em que evitas o turbilhão de emoções que afugenta. Eu sangro. 02.03.2008 - 17h42min

Desejo

Vestiu-se de negro e saiu na noite escura. Assim camuflada descobriu que só o que queria era ser notada... 02.03.2008 - 17h13min *Um miniconto

I-limitado

O limite da exaustão é uma marca. Sono insuficiente. Comida insuficiente. Leitura insuficiente. Amor demais.... 02.03.2008 - 01h04min

Exposição

Esculpo versos numa folha virtual que só toco através de um teclado. Proponho imagens co'a imagem que faço de mim. Exponho meu peito à crítica alheia e enveredo por um caminho claro de duas concepções: a minha e a de quem me lê. Mas eu não conto. Uma vez escrita, sou letra e impressão. Uma vez escrita, transporto-me ao universo único e plural das vozes múltiplas dos conhecimentos diversos das várias interpretações. Meu corpo aberto e nu. A alma sobre a mesa. E olhos famintos a engolir o interior do interior do interior do que ainda virei a ser... Aos 54 minutos do dia 02.03.2008

Criação

Compulsiva, crio poemas que gritam de dentro de mim. Repulsiva, grito crias poéticas de mim. Criativa, esqueço de mim e não crio.... Aos 45minutos do dia 02.03.2008

Sobriedade

Desordem na importância das horas acordo quando deveria dormir durmo quando deveria acordar não devo, quando deveria devo, quando não deveria recuso-me a andar nos trilhos evito as trilhas e prefiro os caminhos ainda não abertos por mãos alheias exploro, imploro, recolho impressões inexatas e cheias de erros pagãos não sei o que digo e dito mistérios alquímicos para um escrevente invisível que me olha sem me ver e me sorri um sorriso desdentado e cru não sei o que sigo e sinto a cegueira dominando o mar não sei o que desconheço nem o que conheço nem o que não sei. Ando a esmo, meio sem rumo ou propósito de ilha perdida ou deserta ou povoada de estranhos seres compostos de estrelas e brilhos artificiais. Lúcida. Aos 42 minutos do dia 02.03.2008

Transbordamento

A fonte do verso volta a verter forneces alimento e loucura suficientes para fazer nascer verbos aos cântaros palavras dançantes delirantes desígnios vocabulares. Escrevo sem pensar sentir é que é o segredo. A textura da linha a textura da letra a textura da pedra que apanho devagar e construo o primeiro degrau da escada que me fará ver o que não sei... Aos 32 minutos do dia 02.03.2008

Compasso


Confundo os caminhos que me levam ao destino exato
todas as pedras se fundem num só mistério
não há mais que estrelas mortas no céu sem luz
e o arco-íris brilha na minha janela, depois que teus olhos
lacrimejaram, saudosos de um tempo que ainda não vivemos
ou sim, ou já, ou além de nossa percepção pequena.
Confesso os descaminhos e desculpo os horários diversos
que entrelaçam as dificuldades e os abortos de monossílabos:
eu, tu, nós...
Visto-me de orvalho e infinito na noite fria e úmida
que se transforma em madrugada e escuridão precisa
conforme a inexistência do tempo ou da visão que tenho dele
e de tudo o que ele representa: os dragões, as serpentes, as rugas,
os equilíbrios e as loucuras, os desejos latentes e as conquistas suadas;
os versos, as canções, as imagens que não se formaram
e as que tivemos entre delírios e ilusões; e as que não tivemos...
e as que apenas tivemos, sem promessas ou propostas,
sem sequer palavras ou traduções em línguas nossas;
e as que tivemos em secreto ou em aberto ou em qualquer
outro espaço que não o de dentro ou o de fora ou de cima
sentidas sem pena ou compromisso com o que quer que seja
diferente do que é simples e belo, como o amanhecer de um novo dia.
Tempo.
Linearidade.
Distância.
Vontade.

Não há.

Corro entre as cobertas que escondem o amanhã
que desconheço e estremeço entre as penas que virão
ou não ou não ou não ou não ou não ou não ou não ou não
os instrumentos de percussão tamborilam nos meus ouvidos
poesia instrumental que mora em mim
no meu peito
sempre que te vejo
sempre que te toco
sempre que te...


Há.






Aos 21 minutos do dia 02.03.2008
*O registro do arco-íris foi feito no instante
mesmo de lacrimejante saudade...

sábado, 1 de março de 2008

Caímos perdemos de vista as luzes alumiamos escuridões escorregamos nos corrimões das escadas que nos levaram para além do espaço reservado a cambaleantes ilusões. Cercamos o jardim recolhemos as folhas dos plátanos espalhadas pelo caminho amareladas de outono esperanças claras de renovação e alimento de beleza constante anualmente presente no dia. Cercamo-nos de sorrisos e palavras inteiras mordiscadas aos poucos deliciosamente perfumadas de essência de limão e mel buscamos o alucinado ritmo da manhã que se anuncia no horizonte como se fosse um baile de formatura como se fosse um sonho de princesa e um embrulho de mistérios e névoas brancas como as penas do ganso que voa para seu destino e sua realidade única. Queremos o gosto da vida. Queremos a seiva da solidão... 01.03.2008 - 01h47min