domingo, 8 de junho de 2008

CITAÇÃO PARA PENSAR

Cirurgia de lipoaspiração?
Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada, nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?
Uma coisa é saúde, outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é auto imagem.
Religião, é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação.
Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem.
Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação. Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso.
A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem, imagem. Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa. Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o coletivo. Jovens não têm mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada.
Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal, mas...
Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados,turbinados, aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser. Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude.
Que eu me acalme. Que o amor sobreviva.
Cuide bem do seu amor, seja ele quem for.
Herbert Vianna - Cantor e compositor
08.06.2008 - 18h22min
*Não costumo e não gosto de colocar aqui textos de terceiros.
No entanto, ao receber esse por mail, de uma amiga muito querida,
quis compartilhar com o máximo de pessoas possível.
Não encontrei outro meio além desse. Afinal, o que eu mais quero
é que o amor sobreviva....

Namorar

Namorar é costurar as veias embrutecidas da solidão é soltar as amarras da amargura aspirar o perfume da ilusão. Namorar é pressentir o medo e não se importar com ele, é rir até às lágrimas, é beijar até perder o fôlego. Namorar é contar bobagens e cantar amores e flores e pedaços de canções quebradas que a gente ouviu por aí e que grudou na gente, carrapato de saudade. Namorar é andar de mãos dadas e dar-se sem reservas como quem não mora mais em si. Namorar é fitar longamente os poros do objeto digno do nosso amor; é passear detidamente pelas entranhas do objeto digno do nosso amor; é enlaçar, lamber, mordiscar a geografia do objeto digno do nosso amor. Namorar é encantar-se e encantar é catar os pedaços da gente que andaram espalhados por aí, juntar tudo e se admirar de como pode recompor um peito o poder do amor. Namorar é ficar junto, mesmo que distante. É rir sozinho, quando o outro aparecer de repente, na lembrança, feito grilo falante, feito doce de criança. Namorar é mergulhar fundo e voltar à tona, não por falta de ar mas por excesso de gostar. É ter sempre um céu azul sobre a gente. É ter, em noite de tempestade, um particular luar. 08.06.2008 - 03h38min

Sonho - Um conto

Ela entrou em casa. Trancou a porta, como sempre. Não poderia deixá-la só encostada, ela, uma mulher sozinha.
Olhou para o ambiente que a cercava. Apartamento pequeno, predominantemente branco (pra não cansar, ela dissera, enquanto cobria a pintura alaranjada das paredes, com tinta branca perfumada), decoração alegre, almofadas coloridas. As cortinas de 'voil' balançavam levemente, dança provocada por um fio de vento que insistia em passar por uma pequena fresta da janela fechada. O quadro com as mulheres sem rosto, obra dela mesma, era a única coisa que enfeitava a parede. Televisão desligada, som mudo. Não costumava ficar sem música. Escolheu um CD: coletânea do melhor da MPB.
Na cozinha, um vaso com flores do campo, suas preferidas. Não tinham perfume, mas coloriam e alegravam a cozinha também branca (pra não cansar, ela dissera, enquanto tratava de organizar os utensílios, instalar o gás, ligar a geladeira, pendurar os armários aéreos).
O quarto, sempre com as janelas abertas, exalava um frescor quase primaveril. Era ali que sua vida descansava. Quando descansava. Todo branco (pra não cansar, dissera ela, enquanto montava os guarda-roupas e colocava as lâmpadas nas luminárias), dava uma sensação de maciez, quase de nuvem, na cama coberta por um grosso edredom estampado de delicadas e pequenas flores vermelhas, sobre ele, os travesseiros macios.
Incenso de cinamomo por todo o espaço. Mesmo apagado, exalava um perfume leve, que a fazia descansar.
Começou a preparar a janta, arrumou a mesa, atendeu ao telefone. Era Marília, lembrando do jantar na casa de Eduardo. Tinha esquecido completamente. Guardou os ingredientes da jantinha gostosa que iria fazer. Eduardo era melhor cozinheiro, e o jantar seria delicioso, com certeza.
Um banho, creme, secador de cabelo, delineador nos olhos (não gostava de muita maquiagem, nem precisava), batom cor de boca, a sandália de salto agulha que ela adorava, vestido. Ligou para o táxi. Desceu pelas escadas. Estava sem paciência para esperar o elevador.
Na rua, o táxi esperava. Não se atrasou. Nunca se atrasava para nada, embora esquecesse de muitos compromissos, principalmente se fossem referentes a documentos. Aí era um desastre. Mas não era o caso dessa noite. Aliás, o jantar foi esplêndido, Marília e Eduardo eram ótimos amigos. Riram muito, falaram da vida, choraram até...
Eduardo e ela levaram Marília para casa, depois ele quis acompanhá-la também. Já era tarde. Ela aceitou.
Subiram, tomaram um café que ele fez questão de preparar, e ela adorou o agrado. Riram muito, ainda. Eduardo fazia caretas como ninguém. Conhecia bandas das quais ela nunca tinha ouvido falar, mas eram interessantes.
Depois ele foi embora, querendo não ir.
Depois ela deixou que ele fosse, querendo que ficasse.
Já na cama, pensou no quanto seria bom permitir-se ser protegida, cuidada, paparicada. As paredes pintadas por ela estavam ali. Os armários montados por ela estavam ali. As cortinas colocadas por ela estavam ali. O chuveiro, o gás, as lâmpadas, estavam todos ali. E só o que ela queria era o direito de ser frágil.
Foi seu último pensamento, antes de adormecer.
08.06.2008 - 0h41min