quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Apagamento

Sanções diluídas
em molduras d'espelhos
águas passadas
favas contadas
listagens permanentes
despistes de rastros

desertos.





15.12.2011 - 01h20min

domingo, 20 de novembro de 2011

Alimento

Vivem em mim
as dores dos anos
que passam
as dores
e os anos.

A solidão é qualquer coisa
que me alimenta
uma quase companhia
disfarçada de ninguém
em quem depositar meus medos.

Os cantos d'alma
guardo-os
todos
intactos
no meu álbum de visitas
últimas
as minhas
pé ante pé
submersas
em gelo seco
e unhas pintadas de azul.

Programo as próximas atrações
factuais
fracionadas
e diluídas em gotas
de um suor espesso.

Es
pe
zi
nho
a culpa
de saber-me só
sem nada pr'oferecer
além de um silêncio mortal
e de um fio de cabelo quebrado
que insiste
no embaraçado
e assumido
assunto
a contra gosto
encerrado.

Enceno uma bola d'algodão doce
enfrento fugas e míticos ataques
faço da fera
aliada
e alinhavo
outros cabrestos
nas pontas dos dedos cansados.

Satisfaço o que possuo de meu
sem nada consumir.

Calculo invasões
e danço...

Danço
como se o corpo fora
minha vida inteira
derretida na pista quente
na gota salgada que
devagar escorre
rente
entre a blusa fina
e minhas costas.

A solidão é qualquer coisa
que me alimenta...







20.11.2011 - 05h34min



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Finados

Todos os meus fantasmas
aos bandos me voltam
às voltas co'as colheitas
n'outros invernos perdidas.


Todos os meus fantasmas
bailam danças de sôfregos espinhos
infravermelhas lâmpadas
cacofônicos espelhos.
Bolhas.


Todos os meus fantasmas
esfumaçados de delirantes visões
primícias de demências sempre tidas.


Tudo a um tempo.
Sem minuto livre.
Sentinela
e gravidade urgente.
Vácuo.
Subterfúgio.
Incorreção.



02.11.2011 - 18h16min

Cambaleante

Sorrateiros

bêbados versos
buscam encaixes
nas estrofes tortas
do poema mal nascido.

Azuleja o vidro da mesa
sem caneta opaca nem tinta de parede ovalada.

Os quadros esquartejam líquidos
e pontas de semelhanças desfocadas.

Manca
a blusa azul atravessa o pente
comprime a ponta da cela
sem eira, beira ou macete

esperneia.

Cambaleantemente
suspende-se um ar falso
de falta d'água na premissa das gentes.

Pena...



02.11.2011 - 17h30min


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sem título

Despedidas as fantasias
obrigam-se as penas
a dizer verdades
mal vistas
nas quadras que bailam
na dança dos desesperadamente despidos
de esperanças esvaziadas de tudo.
Ninguém louva a queda da espera
pelo que há muito
fora esclarecido.
A falta de ousadia
cala a surdez
instala o absurdo
absolve o que não sabia
da rota raiz perdida.
Renasce a ignorância
à luz do dia
tão clara quanto a sombra
do infinito
es
tri
den
te
men
te
impura.


31.10.2011 - 14h50min

Herança

No ralo da pia
quase no primeiro golpe
a foice acerta o Norte.
Sede.
Meia de seda rasgada
joelho no chão duro
de velas amadurecidas há séculos.
O orvalho fede a cachaça.
Já não se pode buscar quimeras
nem levantar bom testemunho
em defesa das próprias ideias.
A justiça é fumaça de cigarro úmido
apagado na sarjeta dos corruptos.
Construto de veias
e longas alamedas
de incerto destino
a ultrapassado jargão.
Gota que pinga o sal
da saliva da cegueira
de toda uma geração.
Pernas de pau
bambas.
Incensário extinto.
Maldição.



31.10.2011 - 14h37min

Imagem II

Deserto de nervos
secas tempestades de eras
heroicos ventos
trajetos
contos rasgados de trajes
perfeições construídas a dedo


de dama



louca






31.10.2011 - 14h07min

Imagem

Calçadas tropeçam poetas
unhas de fome palavreada
em mangas de camisa bordada de sangue azul.
O passo retido na fonte
toca a ponta do céu da boca
seca de opinião devassa.
À espreita, laços de fita
disfarçam múltiplas intenções.
Um verso não basta
pr'abastecer sombras e fúrias.
Intacto, o ranger da porta
permanece
exausto de assombros.
Pintassilgos riscam linhas
onde verbos pousam assuntos
alheios às espátulas
que arriscam canteiros
e cravejam rubis
de nada.
As entrelinhas leem os olhos
vistas d'outros espaços
espelhos de fibras
e mármores frios.
Já não distanciam jazigos
amarrando cordas
ao longo da planta vingada.
Vincos de nuances
prenhes de pontas mudas
escondem barreiras e vinhos
nas queimadas sendas
da estrofe não tida.
Resvalam poetas nas grutas escuras.
do que fermenta sozinho
do que se pretende desinteressadamente
verdadeiro e
nu.




31.10.2011 - 14h

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Essa tal felicidade

Um ponto desconhecido
num Universo distante
talvez um acorde
talvez um verso
talvez um sorriso
torrão de açúcar
em copo de cristal
quebrável
sustento de medida desconhecida
talvez um filme
talvez cena no quintal
do vizinho
no da gente
dúvida

assunto escrito
nas tábuas de uma lei que não sabemos

sem saber
escrevemos
cantamos
sustentamos nossos vãos desejos
nos desenhos de nuvens distantes

enquanto ela
essa tal felicidade
aos nossos olhos invisível
paciente e determinada
aguarda a chance
de nos abraçar.




10.10.2011 - 22h20min

"Filosofia é poesia, é o que dizia minha avó..." (Tremendão...rs)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vertigem



Dedilhar a próxima hora
balanço de lua sem luz
limiar de explodidas menções
n'uma ou n'outra nota musical
de revés.
Ao invés de saturar-se de nadas
delineia-se um azul difuso
na próxima curva.

Côncavo.

Convés.






24.08.2011 - 22h

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Previsão



Canto a pedra da próxima hora
abrem-se os parênteses
e as linhas curvas turvam
os olhos
esvaziados de composturas.
Disponho as cartas
sobre as mesas verdes
de algodão doce.
Não tenho tempo
nem cruéis esperanças vãs.

Voo.





10.08.2011 - 20h19min


sábado, 6 de agosto de 2011

Inacabado




Abotoo as portas
amontoo os freios
e fricciono vertigens
comporto miragens
e experimento limites
basta que os olhos pintem
Artes e ofícios
e debaixo dos tapetes
escondam os ouvidos mudos.





06.08.2011 - 20h

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

À Francesa

Esteira

estende-se
port'adentro

o soco soa fundo

esguia

esgueira-se
port'afora


o fundo falso
abalroa
o passo


ninguém vê


a boca miúda


não comenta





05.08.2011 - 22h

Realidade

Pé no chão
assoalho gelado
pra fazer lembrar do dia
da hora precisa
em que o real virou fantasia
e o suposto bem mais que deveras
existira.
A língua trava no meio da rua
não olha o lado
e cospe fora a palavra
que jamais diria
não fosse o azul que grita:
SOPRA!
e o sabão se esvai na bolha
antes que o dia acabe.

Pé ante pé
o chão
resvala...



05.08.2011 - 15h23min

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Trajeto

Ganhar não é difícil
mas exige esforço
jogam-se os dados
e os próximos passos
são marcados de mistérios
sem verdade, impossível
sem entrega, improvável
as linhas não garantem
segurança de nenhum lado
té que no meio do deserto
surja o milagre.




04.08.2011 - 21h

Jogo

Jogo
mas não jogo alto
ando pelas beiradas das regras
recuo alguns instantes
e uso armas-surpresas
de vez em quando
pra não perder de vez a mão
a mão que do outro lado
recua alguns instantes
e usa desconhecidas
artimanhas suspeitas
de vez em quando
pra não perder de vez a linha
conheço alguns movimentos
outros invento
ao longo do campeonato
que pode se estender
por uma temporada inteira
e
se os jogadores tiverem
sorte
astúcia
vontade
repetir a dose
na próxima
enquanto isso eu jogo
mas não jogo alto
vou reconhecendo terreno
descobrindo o adversário
calculando os erros e
as possibilidades de acerto
equilíbrios perfeitos
nas mãos de quem joga
mas não joga alto

por enquanto


por enquanto
há que reconhecer terreno
avaliar o adversário
considerar as possibilidades de erro
e de acertos
certamente


nas mãos de quem joga
mas não joga alto


por enquanto



nas mãos dos participantes
o resultado
impactante


por enquanto


empate







04.08.2011 - 17h24min

Xadrez

Pontos de linhas cruzadas

costuras alinhavadas em quadros

devagar

perde sentido a couraça

estrada

um passo de cada vez

som de colírio nos ouvidos cansados

sem mestres

ninguém dirige nada

nem nada impede

nem nada empaca

jogo de dama

no xadrez vestido

posto à prova

na dificuldade do nó

que não intimida




desafia.









04.08.2011 - 01h34min

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Atuação






Aparo as pontas quebradas

lixo as arestas

corto as linhas em excesso

traço as próximas metas

meticulosamente

liberto-
-me.








02.08.2011 - 23h04min

Evasão


Foge
desesperadamente evita
os pontos escuros
da rua
foge
a rua
desemboca em beco
migra
esconde a embocadura
foge
alucinadamente pinta
laços obscuros
no lado de lá
íntimo
foge
a fuga espantada
do susto
estampado
na folha tingida
de nada
foge
no lado de cá
lançada a sorte
resulta em fuga
o que hoje me foge.

Como sempre
é minha
a palavra final.






02.08.2011 - 22h23min

Quieta

.
.
.
.



Nada direi
do que nada me resta dizer
falar confunde os termos

silenciosamente

tremo.


.
.
.
.




02.08.2011 - 01h03min

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Interpretação

Eu quero tudo às claras
meias palavras não bastam
vírgulas não revelam
insistentes reticências assustam
o que as metáforas permitem:
entendimentos vários.
Eu quero tudo decidido
saber onde meus pés pousam
entender o que me espera
do outro lado do pântano
e do nebuloso assunto.


Eu quero todas as respostas
antes que venham as perguntas
dentro dessa minha impaciência tanta.



01.08.2011 - 02h33min

sábado, 30 de julho de 2011

O eterno retorno

(A Persistência Da Memória - Salvador Dali)



Todos os tempos são simultâneos
o futuro se desenrola
nesse exato instante
em que a pena fere a folha branca
na conjunção de um agora com um ontem.
Está tudo aqui, nesse mesmo momento
minha morte, meu nascimento
as escolhas que não fiz
e todos os meus tormentos.
O eterno retorno de Nietzsche
volta sempre para o mesmo lugar
d'onde jamais partira-e-irá.

Todos os tempos
simultaneamente
num mesmo lugar...






30.07.2011 - 13h32min

Liso

Escorrego e quebro a'lma
no ponto exato em que as pernas bambas
exigem direção curta.
Peso e tragédia são muros
de escovas e pinhas
nos galhos das horas
que passam.

Impossível engessar a alma
improvável alcançar a cura.

Resta-me uma ponta intacta
regenerativa...

Pulso.




30.07.2011 - 02h09min

Desabafo



Viajo na garganta seca
arranco meu sonho das nuvens
e planto sementes no inferno
onde o fogo suporta-me as crises.

Com força, sigo a linha estreita
dos costumes questionáveis
e das insensatas lutas.

Não abandono meus medos
nem eles desgrudam de mim.

Minha mente sua sangue
desestrutura a simplicidade
complica qualquer instante.

Arrebato restos de salivas
desperdiçadas entre dentes.

Rasgo a ferida.
Aceito o dia.
Permaneço
nua.

Em mim.



Na primeira hora e 37 minutos, do dia 30.07.2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Clareza




Arrasto minhas correntes
afundo os pés na terra
e sinto a dureza do chão
a pedra na janela
acertou-me a testa
sem culpa de ninguém
além da minha própria lama.

Eu
comigo.

Minh'alma descalça
descansa nos arredores do juízo
completamente perturbada.
Raspo os pensamentos
e as intenções que tive
descarto.
Recolho-me aos meus limites
que às vezes esqueço
que às vezes perco de vista
mas finco as estacas com força
té que outro vento me cegue.

Por enquanto me protejo.

Eu
comigo.





29.07.2011 - 23h38min

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Descrição

Eu gosto de dias claros
e roupas com cheiro de Sol
de luz natural
de primavera em flor.
Eu gosto de riso espontâneo
e de lágrima de emoção.
De campo, mato e cidade grande
cada um com seu encanto, lamento e confusão.
Eu gosto de dormir de conchinha
e de banho de mangueira na praia,
chantilly, gelo seco, manta uruguaia.
Eu gosto de fruta madura, toque de sino e sinal de fumaça.
Eu gosto de Tai Chi, arroz com feijão e mudança,
elevadores, cavalos e cães sem raça,
pinhão, batata doce e mel
e de estrelas coloridas, bordando o céu.
Eu gosto de quem acredita
de quem tem coragem
de quem segue a verdade
ainda que diferente da minha.
Eu gosto de gente bem resolvida
de quem não mente a idade
de experimentos gastronômicos e Arte.
Eu gosto de gente tímida
e de gente ousada
- mas só se for além da conta.
Eu tenho pena dos desesperados
e raiva dos injustos.
Eu fujo dos fracos e atraio bêbados.
Eu creio na infinitude
e gosto de acordar tarde.
Eu amo viagens
e vagens e fuligens.

Eu sou todas as miragens...



27.07.2011 - 12h03min

terça-feira, 26 de julho de 2011

Espólio

Minha poesia é espinho
cravado na minha pele clara
o sangue escorrido tinge a folha
e sobre ele desenho palavras.
Assim me doo
assim me doem as letras
a ferro e fogo arrancadas
a fórceps
no parto das madrugadas.




Minha poesia não tem a beleza da rima
cuidadosamente esfarinhada
pincelada a ouro
e dedilhada em violão afinado.
Não.
É manca a minha estrofe.
Coroa de pontiagudas foices
machucada de algodão
e grita
entre os dentes da caneta
grita
na face do papel
grita.

Minha poesia espezinha tudo
a rima
a métrica
o jugo
de ter perfeito ritmo
e coisa e tal.

E finca a faca
no olho maldito
que exige clemência
sem dar nó na garganta da lua
que brinca de clichês
e outros ques notórios
enquanto de mim
não é verbo que nasce
mas vida que escorre
vermelha de medo e vergonha
de tanto ser pequena
na'scuridão da noite fria.

Minha poesia é putrefato despojo.

Sobre o túmulo dela
uma lápide vazia.

Nada havia
a dizer
nada via...



26.07.2011 - 04h34min

Bah noite

Recolho-me à minha insignificância.
Versos travesseiram-me.
Atravessam as 4 horas que se esvaem em pedaços de vírgulas nos instantes.
Vou pela sombra.
Refaço o caminho da vinda.
A vinha afoga o lenço arrastado.
O sonho que não enraizou-se.
O lance de escada que não deu o primeiro passo
o primeiro invento
o primeiro pedaço de luz.

(Caco de espelho)

Que não deu a trégua que eu precisava.



Voo.




26.07.2011 - 04h12min

Embuste

Indago se me basta
um hoje raso.

Voos interrompidos
buscas com dia e hora
pra despedir os aplausos.

O vale reflete meus desejos e o Sol aquece o grão da uva inda nem nascida.

São longas as madrugadas em que vejo escoar-se de mim o que não houve.

Indago se me soa suficiente
um hoje exausto.

Fatos insistidos
bruscas linhas e honras
pra alimentar os instintos.

Os vãos engolem meus silêncios e a Sombra esquece a língua inda não inventada.

São negras as madrugadas em que, cega, tento desvencilhar-me das teias do que não tive.

Resvalo pelo que me esconde a essência.

Traduzo porões. Engulo cicatrizes. Repito erros. Disperso-me, feito estátua de mercúrio.

Uma palavra me perde. Um juízo. Uma cruz. E os limites me alcançam, famintos.

Sou água, escorrida na semente. Não brota ela. Broto eu, no sangue do dia. Todos os dias.

Vertente invertida.



Eu, aquela que ardia.





26.07.2011 - 03h54min

Obtuso-me

Invado devagar
devagar salvo as palmas
devagar não vou

fico.

Arrisco muito
quase tudo
e muito me afasto
quase de todo
no instante seguinte.

Não agrido
repito devagar
ao vagaroso ouvinte
o silêncio que petrifico.

Afundo
o beco.
Rasgo a hora.
Licencio a pergunta.

Mas a resposta não.

São redondas as pilhas de acertos
que eu não fui.

Estremeço e adiante sigo.

Eu
comigo.





26.07.2011 - 03h23min

Coleção

Coleciono palavras
intrusos vocábulos
substantivos vários.
Nos vãos dos espelhos
autorizo as frases
e adapto os dizeres.
Choro fácil
de lágrimas engolidas a custo.
Fácil rio
e amontoo vírgulas
misturadas a letras
matizadas de sal.


Coleciono palavras
nos olhos
nas pontas dos dedos
na saliva
nos ditos perdidos
e nos que não dou.


Só pra provar
quem manda

eu sou...






26.07.2011 - 02h43min

Encruzilhada

o mundo já não gira
vira a cabeça de lado
lança os ventos nas vestes
cambaleia nos sobrados
o mundo dá cambalhotas
meu corpo fechado anuncia a hora
agora tudo à volta importa
as portas abertas são livres
as liberdades, proféticas
o mundo abre as asas
canta no alto das árvores
e abraça as ruas estradas e trilhas

que eu não abri


no meio da encruzilhada
descubro um mundo
que não sei



26.07.2011 - 02h20min

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Abertura

E se as palavras aliviarem
a insistente tristeza instalada
alcançaremos enluarada vitória
entre as conchas das mãos espalmadas.

E se os risos forem constantes
e as condições permanentes
talvez vejamos nascer uma chance
de fazer com que tudo seja diferente.

Rimas, orvalhos, defeitos
confessos ou não nas letras
nos desenhos estrelados
ou ventos soprados nas janelas
plantados nuns versos devassos.

Eu planto sementes
tu decides se elas vingam...
Ou não...





25.07.2011 - 02h38min

quarta-feira, 20 de julho de 2011

À força

À força
as ondas espumam as águas
o sol alaranja o Guaíba
os olhos encerram a madrugada.
À força
os orvalhos umedecem flores
os bailes acendem os olhos
as lembranças nascem amigas.
À força
as distâncias rasgam entradas
os poemas pingam fatos
as estradas pintam existências.

À força
o sono se alimenta
de suave companhia.





20.07.2011 - 01h30min

Memória

Desmemorizo-me
pra peneirar os nervos
lembro aleatórias cenas
idas e vindas neurônicas
elegâncias passadas
invisibilidades minhas.
Movimentos da vida
que rola morro acima
                               te
                        men
                    te
               ten
           mi
       ter
   in
sem pedir licença
sem caber nas mãos
sem desculpas
ou razões outras
que não aquelas
que a memória aprovou.







20.07.2011 - 01h20min

sábado, 16 de julho de 2011

Arte

Minha arte é caco de vidro no sapato
estrada de brasas
que trilho descalça
pra não esquecer um verso sequer.
Minha arte
longe de conhecimento
é compulsão
necessidade imperativa
hiperativo verbo que brota
sem aviso
nem rendição
em tempo algum.
Minha arte exige tudo
e de todo fácil se desfaz.
É silêncio e escuta
brevidade longeva
detalhe e escândalo azul
destituída de pureza ou escravidão.
Escrava sou eu, dela.
Ela vem e se esvai quando quer.
Ela sopra, bendiz ou amaldiçoa
quando bem lhe apraz.
Minha arte é o desenho na janela
dessa minha vida
eternamente fechada
para o constante.
Caco de vidro
caco de telha
caco de instante
que me corta o pulso
e sangra
dissonante
feito fio de navalha vencida
na carne da folha branca.





16.07.2011 - 14h07min

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Poesia

Fértil é o dia
em que brotam letras
bolhas de sabão
grafitadas
na folha virgem medida.
Qualquer motivo é verso
a ajuda pedida
e negada
o botão entreaberto
o aperto no peito
a linha do trem
a nova oração
o espelho quebrado
o medo invertido
a emoção.
Qualquer razão é bastante
o dente do siso
a farda verde
o fardo dormente
a circunstância
a pompa
o absurdo
o inconsequente.
Qualquer imagem é presente
inclusive a de mil novecentos e oitenta e cinco
ou antes
ou dois mil e onze.
Fértil nascença de estrofes.
Alimento.







14.07.2011 - 19h55min

Possessão

A realidade que eu guardo
é a ponta do grampo
de uma fotografia
que o delírio me permite possuir.
O que meus dedos tocam
são meus minutos-limites:
é o que eu tenho de meu.
Meus sobrepostos pertences
estão no meu hoje.
Meus remendos
imprestáveis pressupostos
de esquecimentos.
Eu sou o que hoje guardo
nas entrelinhas
das minhas medidas
feixes de nervos expostos.
Exporto dicionários
de cicatrizes perfeitas
e sinônimos duvidosos.
O que adivinho
o que suspeito
imagino
sonho
ou desejo
é ilusão.
O que me esvai dos dedos,
lembrança.
O que tenho
de fato e de direito
é o agora
e é nele que eu me liberto
é dentro desse mito
que eu moro
e suo
e sou.



14.07.2011 - 18h35min

Crença

Rasuras nas luvas
com que o vento
conta as gotas de hoje
nas íris embaçadas
das catedrais brancas
que esperam fiéis.
Contratos rasgados
incendiadas preces
violentas cenas paradas
nas veias fechadas
de uma América outra
que não a latrina
que não o latido uivado
d'alma desesperada e aflita
presa em si mesma
ensimesmada
loucura.

Rabisco.




14.07.2011 - 01h44min

Jamais

Nunca
é um tempo de por enquanto
que se arrasta ao longe
das gotas lânguidas
do escorrido relógio
de Dali. Daqui
nada se vê
além de agora
e o que não penso
é quase estrada trilhada.
O Nunca afirmado
pode ser Sim ou Não
depende da distância
entre o Sempre e o
tiquetaquear da vontade
prevista ou In.
Nunca é um tempo de por enquanto
enquanto durar a hora
arrastada de cascalhos
e repentes chuviscos
rebentos de listras azuis
nas calhas encarceradas
que pingam esperas
e corredores vazios.
Por enquanto
inda insta o orvalho
que não mais se esvai
nas frases do tempo
escoado dos quintais
da vida de dentro de mim.
Por enquanto
o Nunca aguarda
a calçada despretenciosamente
limpa
ventanear outonos
de folhas amassadas
e desistentes esperanças
tidas.
Nunca
é agora
por enquanto.


14.07.2011 - 01h04min

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A paga

Aqui se faz
aqui se paga o preço pedido
sem pestanejar
ou tremer de mãos
os freios
os suores
as instâncias.
Aqui se faz
aqui se paga o preço justo
sem delongas
nem desculpas
ou equívocos
independentes das nossas juras.

Aqui se faz
aqui se paga a justa medida.

Agora.



Aos 9 segundos do dia 13.07.2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Heteronimozar-se

Tal Pessoa
invento-me diferente
ora sou forte
ora minguante
ora invisto na letra
ora disfarço de mim.
Se agora rio
daqui a pouco visto patins
calço máscaras
rasgo limites.
Se agora o pessimismo
define meus rumos
alimento as crenças
crianças descalças
rock pesado
remédio pra dor.
Se agora me falta a linha
monto parâmetros
desfaço arredores
interno hospícios
externo estilos
somo concretudes.

Longe de Pessoa ser
Pessoa sou
Se não
for, faço-me...



Aos 16 minutos do dia 12.07.2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011

Teoria

Pouco aprendi
do quase nada que me foi buscando
uma ponta aqui
outra ali
extrapolando
limites já gastos
impostos
pela história
que eu vivo aqui.

Os dias que me atravessam a garganta
são cordas do universo paralelo vocal
que me acompanha. Não
sei d'onde vim
mas sei daqui
desse comboio de metáforas diárias
metamorfoseadas em Kafkas, Shoppenhauers e Rilkes
enrolados à tua língua
que maldiz esse meu defeito
de te pendurar uma chave ao pescoço
e ordenar:
liberta o calabouço!




02.07.2011 - 18h

Pingos

Meus "is" perderam os pontos
cardeais
desnorteados
vestiram um gole de horizonte
e se acomodaram
no meio da profecIa.


Foi o fIm.





02.07.2011 - 13h44min

A partir daí

A partir daí
os lisos lenços d'areia
dispersaram o espaço
dispensaram o tempo
toques silenciosos na retina
crendice d'alumínio
fruteira sobre a mesa de mármore cru
frio de morte
a partir daí.

No entorno
as prioridades todas
alinhadas por importância
por mérito alencadas
nem um descarte
nem um deslize
nenhum desligue


a partir daí.






02.07.2011 - 13h10min

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Do escrever

Escrever é endireitar as curvas
ou torná-las mais sinuosas
depende do quanto dance teu lápis
ou de quantas palavras
vertam do teu sangue quente.
Escrever é buscar perguntas
nos pontos finais das palavras.
É arrebentar nós já desfeitos
e disfarçar dores assustadas.
Escrever é pescar um sonho aqui
um limite logo adiante
uma história perdida no halo da lua
ou contar as estrelas todas do país.
Escrever é rodear mundos
desbancar certezas
e expor as veias abertas
não da América Latina
ou dela também, por certo,
mas antes e principalmente
da tua própria face.

Oculta
(te)?






27.06.2011 - 21h36min

Extrema Unção

Se a minha poesia te agarra pela garganta
dá um nó nos teus olhos
amarra teus tornozelos
e paralisa-te os pulmões,
comemora!

Onde encontrarás maior beleza
que a de benzer com poesia a hora fatídica?



27.06.2011 - 15h40min

Quintana e eu

Quintana não gostava de pôr data
às suas poesias.
Nem precisaria: a letra de Quintana
como o próprio poeta, era eterna
e, como eterna, de data não precisaria.

Por isso dato todas as minhas.
Como eu,
elas partirão...






27.06.2011 - 15h08min

Extremamente fácil

Dizem os entendidos
que é fácil fazer poesia.

Fácil é plantar batatinha!

A poesia exige sangue
dieta equilibrada
(valha-me Deus!)
e muito conhecimento.
Não o sangue de vaca, bode ou galinha
no cruzamento da esquina
com pipoca, arroz branco e pinga.
O sangue das tuas próprias veias, todinho.
É esse que a poesia reclama.
Não a dieta de frutas, verduras e fibras
o cardápio bem certinho
e todas as calorias milimetricamente calculadas
e seguidas com rigor científico.
A dieta das letras inventada por ti mesmo.
É essa que a poesia reclama.
Não o conhecimento
que qualquer explicação resolve
contido, inteiro, num canudo colorido
no final de uma longa e bonita jornada.
O conhecimento galgado no olho
no fundo da íris manchada.
É esse que a poesia reclama.

Fácil, mesmo, é plantar batatinha.

Extremamente difícil é parir poesia.



27.06.2011 - 15h

Doença

Eu sofro dessas dores crônicas
a que remédio algum dá jeito.
Dessas que os médicos dizem ser nada
mas que te torcem, mesmo assim,
do lado avesso.
Pois são essas dores que me perseguem
e riem do meu sofrimento.
Elas vem aos bandos, as covardes,
e, traiçoeiras, atacam num repente,
sem direito a resposta
nem aviso que me prepare.
Atormentam-me as carnes
os ossos e as conjunções e conjunturas
se conjunturas em mim houvesse.
Não  perdoam fim de semana, dia útil ou  inverno
inventam a hora que querem
impedem o curso do momento
bem no momento chegado.
Não querem saber se estou sozinha
ou se ando acompanhada
se ainda não termina o dia
ou se é alta madrugada.
Chegam com força e em bando
as desgraçadas.
Elas, as minhas dores de nada...




27.06.2011 - 14h34min

Entender ou sentir, eis a questão

"Te ler é como sentir a tua presença
sem poder te tocar.
Sinto a força
mas não tenho capacidade de entender"





Minha poesia é pra ser engolida com copo d'água
leite ou cicuta.

Entender é perder o mistério
concentrar-se no que a inteligência mede
dar-se conta só da superficialidade.
Entender não está nos princípios
nem nos revezes
muito menos nas amizades.
Entender restringe os fatos
encaixota os portões
enraíza as imagéticas.
Entender impede a troca
porque estanque
enquanto sentir enternece
e expande.
Sentir traz de volta
arrasta o lenço
deixa rastros no tempo
marca indelével
digital só tua.

Tu, que sentes, sinta.
Tu, que entendes, desista.

Minha poesia é pra ser sorvida com aguardente
sal e pimenta a gosto
pela pele dos que não entendem.

É pra esses o meu delírio.





27.06.2011 - 14h

domingo, 26 de junho de 2011

Tu

Tu dizes o que de mim
os olhos expostos atraem
os brilhos os sopros os infinitos cais
as heresias e as milhares de ousadas fantasias
nas prateleiras perfeitas
do minuto quente de agora.

Tu és o que de longe persiste
na minha mais complicada trama. Tu
és a paciência dos anos idos
o mantra a cura o pedido
a centelha que se aplica
ao bordado da vida que continua.

Tu és o que de mim me aguarda
na calma noite sem janelas e fria
a umidade anelada a crina a carne crua
o ponto de começo a velada sintonia a partilha.

Malícia.


26.06.2011 - 16h32min

sábado, 18 de junho de 2011

Epígrafe

Mancho a folha vazia
escarneço do sistema
libero o estado de sítio
violento o instinto
açoito o sentimento
alimento a continuidade
num espaço que desconheço:
o da mente sã.







18.06.2011 - 01h20min

terça-feira, 14 de junho de 2011

Ou não Ser

Eu sou um livro ao avesso
sem capa, prefácio ou chocolate.
Frase inacabada
no meio da mordida acesa.
Sou a parte de dentro
a língua molhada
a cabeceira inversa.

Eu sou um livro rasgado
arrastada linha paralítica.
Umedecido segredo
fala interrompida
intuito de fechadura.
Sou passagem obrigatória
no caos do escuro.
A fuga
a febre
a fúria
da ponta dos dedos.

Eu
editora dos meus medos.






14.06.2011 - 21h48min

Fernando Pessoa

Se eu fosse Pessoa, faria versos. Mas Pessoa
houve um só.
A mim
restou ser leitora dos verbos de outras gentes
parentes dos deuses das letras
moradoras de terras distantes
i
nal
can
çá
veis
estrofes horizontais.
Se eu fosse Pessoa, faria versos.
Mas Pessoa houve um só.




14.06.2011 - 21h

Tempo, tempo, tempo, tempo, tempo...

É sempre hoje.
No meu colo
a caixinha de sonhos
com que Pandora
me presenteou.
Inútil entulho
nas minhas mãos vazias.
Se o tempo é sempre hoje
de que me vale sonhar?
Passam as horas
no relógio parado na estante.
A estante
o relógio
os dias
estão presos no tempo de hoje
como eu
e a caixa que Pandora
a grega
ousou me presentear.




14.06.2011 - 20h35min

domingo, 12 de junho de 2011

Escrita

Escrevo minha poesia
em linha de papel amassado.
Compactuo com o silêncio
consumo a prática da letra
entre as esporas do dia.
Minhas feridas são lágrimas
nas vírgulas que desdobro
dessa folha azulada.
Os olhos que me espreitam
buscam deslizes
acima dos medos
além dos dizeres
encontram meus pontos
costurados nas filas
recém riscadas de espelhos.
Refiro-me aos limites
e às esperas dos desenhos
que meus versos
haverão de ressuscitar.





12.06.2011 - 21h59min

Confidencial

Escondo a fonte d'água
nenhum olho alcança o estrado
de pontas de vidros
que percorrem meus passos
pr'esquecer as trilhas abertas
na última hora da colheita.
O ponteiro insuspeito
alimenta o curso
da parede nua
surpreendentemente lisa
apesar das pontas dos pregos
nas linhas escuras dos minutos
que arrastam as correntes
das horas
dos silêncios
dos pálidos segredos.





12.06.2011 - 20h37min

Rasgo


Sempre insuficiente tempo

Presente de grego

No bolso da vida

Breve, muito breve suspiro

Sopro de sofreguidão

Interrompido susto

No âmago da vida

Corte brusco de navalha cega

No que se pretendia vasto

Vaga sensação de infortúnio.



Cuidado ao guardar lembranças

Risos, assuntos, assombros

Embrulhados na caixa de Presente

Que se recusa a ficar no Passado

Inda que a queda a tenha estraçalhado.



Nada que doa, me vale a pena, poetaria Pessoa

Enquanto minha poesia é quase um gemido

De todas as perdas de todos os anos idos

E do último verão, congelado no derradeiro frio

De um inverno que custa a passar

Doendo-me muito mais que as juntas

Torcendo-me as entranhas

Estranhando-me os pensamentos.



Ainda assim, nenhuma mácula atinge

O profundo que não é ouro

Mas vale mais que qualquer brilhante.

Ainda assim

Ninguém nem nada preenche

O espaço vazio

Que assim ficará

Té que a terra cubra esses meus olhos

Que tocaram os dedos do impossível

E por ele devorados foram

Sem direito à réplica, súplica ou desistência

Sem direito algum

Além do gosto de alumínio

Na porta dos próximos anos.







12.06.2011 - 20h






quarta-feira, 1 de junho de 2011

Movimento

S2

Danço no espaço vazio
como quem pinta um quadro
louco
de espelhos e espinhos
e cataratas e esquadrinhamentos.
Arrumo a cadeira na ponta da lança
balanço
o anzol de cartas vermelhas
adonadas de riscos de um sol desmaiado.
Rodopio na quina de um degrau
que arremessa os próximos instantes
pra longe das obviedades
suspensas
as plantas dos pés esvaziam
as portas de um mármore raro
e espantos
e poesia.




01.06.2011 - 22h20min

Cansaço

S2

Sou uma mulher cansada
os cansaços pesam-me na garganta
nos ombros, nas pernas, joelhos e braços
circulam-me os tornozelos
e amarram meus passos.

No entanto, há em mim um descanso nato
um não-sei-que de leveza
mesmo nos tornozelos amarrados
uma certeza de que a garganta
se haverá de abrir de repente
depois de um beijo teu.





01.06.2011 - 01h

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dentro

S2

De corpo presente
somam-se os hinos
e os alinhavos
e os segredos
e as lanças
vindas das íris castanhas
marcadas de tudo o que se tem
iluminadas alegrias
apostas consagradas
entrelaçados dedos

anéis.





26.05.2011 - 23h38min

Agora

S2

Tu dizes o que o coração professa
os anseios, os sucessos,
as plantas dos pés
na linha do começo
que de fato alimenta
tudo o que em mim despertas.

S2

Os tempos idos
de inocências findas
suficientes de haver sentido
o andar nas areias finas
não foram
são
sadios Presentes


nossos.






26.05.2011 - 01h10min

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ocupada

S2

A vantagem de ser livre
é a escolha de ocupada estar
liberdade que independe
do quanto se agitam ao lado
de quando é possível ficar.
Por mais que terceiros dancem
as canções que gostas de ouvir
a que a ti pertence
só pode ser cantada
por uma única voz


aquela que escolheu te sentir.



25.05.2011 - 23h53min
(...ciúme bonitinho...rs)

Tenho dito

S2

O dito é o exposto
acima do intento
ao largo do previsto
a despeito do suposto.
O dito fica pelo não-dito
se o outro tem argumento
e o elemento do fato
é carta de baralho
dentro do jogo da vida.
O dito acompanha
a roda da hora
o momento do grito
o calo na garganta
de tantas vezes dito
o começo do vivido
e a continuação do bendito.
Bem dito o fermento
do que ferve
na pressão do alimento
que corre ao encontro
do outro lado
do dito
do não-dito
do exposto
do alargado






peito.












Nos primeiros 3 segundos do dia 25.05.2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

Selo

Desafios nas ranhuras das folhas virgens

palavras pescadas no sangue

rangidos dentes selados

ganas de tudo perder

desfiados rolos de linhas azuis

nos teares abertos pelo vento

fiapos suspensos

surpresas vendadas

sal de raça

arrancado verniz.





24.05.2011 - 22h

Mais do mesmo

Tateiam nas lisuras do mesmo
arrumam motivos
empilham razões
perpetuam o que já é
serpenteiam entre senões
escondem os dedos
dão o tapa
respondem nãos

e as mãos...

as mãos


enconcham medos...




24.05.2011 - 21h

Poder

S2


Instante castrado
retorno no galho distribuído
contornos indeléveis
laços de luzes criadas.
Abertura da janela confiada
no baú das mesmas tintas difusas.

Felpa na quina da hora.

Fora
os campos cobertos de flores.
Dentro
um sono não obtido.






24.05.2011 - 20h17min

Slow motion

Lento, lento
cai o dia.
Despenca do alto da estrada
lento
dia lento
desalento.
Lento, lento
descortina o dia
a próxima vitrina
a varanda vazia.



24.05.2011 - 20h

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Arte

Nada como a Arte
pra fazer nascer o belo
no meio da madrugada fria.

No coração do escuro.

Nada como o escuro
pra fazer nascer a Arte
no meio do coração frio.

Na madrugada do belo.

Nada como o belo
pra fazer nascer o coração
no meio da Arte.

Na bela madrugada do coração da Arte...

Faz frio

e daí?




Madrugada de 13.05.2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Nulo

Dor de cabeça
a nula visão
de aneis estreitos
e alusões
iludidas pontas
de estacas
extras
de estorvos
plásticos.
Dor de ser
leve
pluma
desvio de coluna
conduta
que vaga em círculos
e
in
cen
deia
o balanço de agora.



12.05.2011 - 01h50min

Macramê

Sopra um vento inquieto
nas folhas de um outono vivo
subjetivamente interno
de encontro estético
insone
quase satânico
ou santo.
Um sopro de tecido rasgado
de inquieta liberdade
de constante descoberta.
Sopro de íntima realidade
assunto de ventania
no sangue que corre
pura pressa
de saber.
Um sopro trançado de linha
língua de revoltos versos
sem ação ou exercício outro
que não a influência da resposta não-tida
o dito visual absurdo
abundantemente reconhecido
na linha da palma da mão
do artista.
Um sopro flui no começo de tudo
o toldo cobre a falta da luz
que absorve o campo sem relva
rasgados restos de pesos
pastos coloridos na selva.
Macia vantagem
no fundo da garganta
onde o sopro
alimenta a palavra
que não cospe
atormenta.





 12.05.2011 - 01h40min

domingo, 1 de maio de 2011

Palavra

Pintada no verso
a palavra dita
com barulho de papel de presente
pressentimento de esqueleto
configurado em ausência.
Plantada no verso
a larva maldita
com intuito de língua doente
partícipe de lamento
deflagrado em anuências.

Pranteado no verso
o reverso da medalha
tateado às cegas...



01.05.2001 - 21h23min

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Óculos



A vista embaça.
A força atrasa a luz
que não trança o rumo certo.
A lista arrasta a imagem
na transparência da lente
que a figura abraça
sem pressa de ser permitida
sem pauta ou pinta ou pente
que exprima o sentido.
O único sentido silente.
O mesmo do exato instante
em que os óculos descansam
na ponta da prateleira do absurdo.




Aos 42 minutos do dia 28.04.2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Suposto

Nas fibras dos laços
os pedaços da luz absorvida
silentes
os segredos assumem cores
de fotografia antiga
sinal de limite obtido
enquanto
o sol pinta um céu de manhãzinha.

Os sangues estão prenhes de expectativas...


Aos 38 minutos do dia 13.04.2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Limitada



No limite entre ontem e hoje...

18.03.2011

Pintura




Recém saída do forno.... à lenha...
Aliás, uma boa trilha para esses traços seria Lenha, cantada pelo maravilhoso Zeca Baleiro...rs


Aos 38 minutos do dia 18.03.2011
Especialmente pra "ele"

quinta-feira, 17 de março de 2011

domingo, 13 de março de 2011

Arte


Teu desenho explode versos
cala-me os verbos
silencia-me a boca.

Só meus olhos dançam no papel
por onde teu lápis cantou teus sentimentos.





13.03.2011 - 21h

quarta-feira, 9 de março de 2011

Araucárias


Nas tuas pastas
insones pontos de fusão
de pretéritos mais que perfeitos
alcançados por presentes indicativos
sem outra causa
além da descoberta
do que sempre esteve ali
camuflado de leve afeição.
Esses teus olhos
colibris ligeiros
diluem-me as pálpebras escuras
e pintam nelas retornos bem-vindos
de conversas e longas silhuetas
debaixo dos pinheiros
que ainda estão lá
como tudo o que ontem esteve
e permanece.

Traços de nós dois
araucárias...







09.03.2011 - 18h30min
Araucárias - desenho "dele"

domingo, 6 de março de 2011

Rutilar

Imagens  pintadas a tinta
 alusão à proximidade
que desenha teus traços
misturados aos meus.
Riscas perfumes
soprados por virgens
aves presentes
voejantes suspiros
teus olhos,
minhas mãos,
nossas sementes.







06.03.2011 - 01h25min
*Enquanto voltavas pra casa,
depois de estarmos juntos...

sábado, 5 de março de 2011

Vênus ama Marte






De bandeja, o mote planetário...




Diferenças à parte
os passos de dança enchem o espaço
pontilhado de estilhaços e fibras
regeneram os cortes
aproximam os nervos
enrijecem os membros
destroem saudades
Vênus desnuda
músculos à mostra
encosta em Marte vermelho
encouraça.
Se os astros enxergam
fazem olhos cegos
ouvidos surdos
disfarçam
Vênus ama Marte
e ele corresponde.







05.03.2011 - 03h21min
*Ilustração: "Não sei" dele, pra mim
** O neto de Marte pincela o mote na tela branca da mais insana das Vênus insones...

5 coisas...

I

Capaz de amar à distância
sustento meus laços
nas mãos da lembrança
dos calores, dos afetos tidos
afeitos às festas das almas
a minha e a tua
juntas, desenhadas e assumidas.

II

As maiores fantasias
que me povoam a mente
dizem de amor feito
em laço estreito
o meu
o teu
juntos, desenhados e assumidos.


III

Assombra minhas noites
o temor da solidão extrema
o medo da falta de coragem
de solitária andar
eu só.


IV

Blefadora profissional
é bem possível que nunca descubram
que de nada eu entendo perfeitamente
mas meto a cara
arrisco palpite
e finjo saber.
Engano bem
no fim.

V

Meu silêncio completo preocupa
matuta minha mente
um jeito, uma forma, um bordão
de cair fora de repente
de quem não me deu
a justa valorização.





05.03.2011 - 02h39min
*Resultado de um desafio, proposto pelo meu amigo e irmão virtual, Fabrício.
Taí, Fabi. Não ficou grande coisa, mas saiu....hehe

**Nesta primeira noite de carnaval, enquanto eu ouço barbaridades
acontecendo na rua, bebedeiras, "viagens", gritarias, cá dentro poeto
com minhas companhias virtuais de hoje: Fabrício e Stênio. De cara limpa
e versos n'alma. Saudavelmente divertido. A poesia pede verbos.
Nós os criamos.



Vênus

Grafitas teus sonhos
arraigados em nossas vidas
a favor das insônias
as histórias
lentamente escritas
teu lápis desenha-me
as curvas que me desvendas
abençoadas pontas de estrelas
viradas de dias adolescidos
acrescidos d'outros
tão grandes
tão plenos
tão bem vividos
que ouso pensar
m
i
l
a
g
r
e
s
contigo
.
.
.







Aos 49 minutos do dia 05.03.2011
*Ilustração: "Vênus"; dele, pra mim

Nós

Os ponteiros do relógio
os calendários
os anos passados
as juventudes
os destinos traçados
en
tre
la
ça
dos
inda que não soubéssemos
inda que desejássemos
inda que corajosamente
negássemos os fatos
de dentro de Nós
'té que explodíssemos em traços
as minhas linhas
as tuas mãos
as minhas luas
as tuas ruas
convergindo as duas
para o começo
que não houve quando haveria de haver
mas que hoje...
ah...
"essas horas
essas dores"
esse mesmo amor
de que teus versos me dizem bem
ah...
esses dias que descontamos
dos anos subtraídos
por nossas inocências
ah...
esses desenhos
de que teus dedos me dizem bem
ah...
essa tua companhia que não me falha
essa tua memória que me guarda intacta
essa tua presença que não se afasta
ah...
essas canções velhas
essas danças que abraçamos
esse mesmo amor
de que teus versos me dizem bem...
ah...







Nos primeiros 10 minutos do dia 05.03.2011
*Ilustração: Obra "dele", especialmente pra "Nós"

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Transição

Perco-me na cancela
o corredor estreito aperta a cintura fina da noite
e a poesia me oferece o bote salva-vidas.

(A mulher acende um foco de incêndio
na altura do ventre descoberto).

Transcrevo outras linhas
machuco a folha lisa
desobstruo os pontos que me cegam
temo pelos outros
mas não desisto.
Requisito o direito à rasura
rastreio as pegadas
e faço versos
pra contar minhas flores
regadas por teus beijos.




25.02.2011 - 21h

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Afeto

Quase 30 anos depois...

Atos lícitos
abotoados a lembranças
guardadas na caixa
de preciosidades
de outrora.
Renovar ansiedades
as saudades dos dias
orvalhados ósculos
inesquecíveis vidas.
A minha
a tua
à meia noite costuradas
numa praça
vazia de tudo
menos de afetos.
Esses perduram...





24.02.2011 - 19h

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cançoneta

Mais uma demão

de tinta na noite
pra enfeitar o sono

e inventar palavras

de dizer 'te amo'.








10.02.2011 - 02h

Memória

Ponto exclusivo
específico porto
acerto selado
acelerado posto
todo avesso é versado
composição de começo
corpo
oposição
laço


es-tre-me-ço...




10.02.2011 - 01h54min

Vela

Escorro
cera de vela ardente
derreto-me em substâncias febris.
Vidente
corro
antes que me delire o espaço e
eu seja apenas lembrança
do que tive.
Partes minhas me coram pedaços.
Ardem-me.
Não sobro.
Um sopro me funde contigo.
Um.







10.02.2011 - 01h07min

Escancarada janela

À flor dos nervos
a pele dança
a luz acesa
o frio na espinha
a chuva vindo
pingo d'água na calha lenta

dentro

cara limpa
tudo agora





leite fervendo.







Aos 47 minutos do dia 10.02.2011