domingo, 18 de julho de 2010

sucumbir à tentação da estreiteza


depois da lua e do sol tido

depois de todos os anéis nos dedos

e os digitalizados sorrisos

pintados no papel branco

poema amanhecido e interrogado

quanto às demências e falhas sofridas

ir assim morrendo aos poucos

feito folha outonalmente caída
atravesso pântanos mortos


pálidas sombras de lamas

e cultas leviandades vividas

são curtos os dias de tranqüilidade

são sonhos os campos elísios

inalcançáveis soluções bastardas

de assuntos forjados nas feridas

cruéis cicatrizes de dores tidas

nada além de enganos e mitos
deixa-me pensar na ilogicidade da poesia

no escândalo que é inverter os sentidos

e agarrar-se aos versos

como quem busca a cura

para os males desconhecidos

ou paralelo para os mitos conhecidos

ou só uma tábua de salvação

deixa-me andar pelas sendas da inocência

e usar rimas na minha canção

inenarrável aventura diária

que independe das parcas moedas

eventualmente tilintantes nos meus bolsos furados

independe de respostas amorosas

e de companhia mais digna

além da caverna de uma beleza vazia

o sal da história antiga

dá gosto à edição d’outros verbos

vocábulos d’outras línguas

sonâmbulos criados

feito deuses supremos

fagulhas de sinfonias supostas

jazz
já não me assusta andar só
sou risco e pluma voejante
costume de sombra dormente
nenhum resto de história pendente
nada que me impeça de seguir
adiante
sem respostas
as perguntas emudecem
mudam as visões
vistas grossas
intrusões
sem proposta
a óbvia conclusão
soma-se à estrada
já trilhados os caminhos
viram sombras
da voz que já não ouço
nem espero ouvir