sexta-feira, 29 de junho de 2012

Um canto

Ter um trocado
um metro quadrado
uma janela
onde debruçar os olhos
e esfriar bolos de milho
bons de cheiro e
paladar apurado.
Balcão de pia
fogão à lenha
escada de corrimão
e um prato feito
de arroz e feijão.
Coleções de experimentos
consertos de instrumentos.
Nos fins de semana,
bolinhas de sabão.
Nas paredes de tinta
os retratos à mão.
Nada que impeça o riso
que proíba a dança
que insulte a paixão.

O tempo não é dinheiro
nem o direito à liberdade
só mais uma condição.

Perpétua

Eu dato meus ditos
assim formato a história
dos meus vividos
- ou dos sonhados
tanto faz
ambos são meus -.
Sou imune a lembranças que ferem
inda que tenha
vez em quando
que a elas voltar.
Escrevo nas margens
dos marginais atritos
e atribuo as vitórias
à mudança das marés
em dias de lua branca
e em pétalas de margaridas cheias.
Carimbo meu sangue
nas bordas da folha
agora carmim.
Espreguiço olhares
nas dobras de um papel
marfim.
Que fiquem os tais ditos
té depois que eu vá...

Fatalidade

O dia improvisa
um não-sei-que
inacabável
incabível
no curto espaço
do voo de uma ave
té a boca
de um precipício

que não cai...