Que os meus, só a mim pertencem.
Ainda que em cada homem haja um tanto do que é universal.
08.04.2008 - 23h42min
terça-feira, 8 de abril de 2008
Súplica
Não, por favor. Poupem-me do martírio de explicar o que eu quis dizer.
Assumam meu verbo. Tomem para si os sentidos todos.
4...3...2...1...
Pergunta perdida
é coisa de não-dizer
o feito destituído
o fato de não-querer
fala a prata da casa
que prato fraco se quebra
de tédio e desengano
acontecido mil vezes ao ano
entre as contagens regressivas
insistentemente abortadas.
Aborda o recomeço...
08.04.2008 - 23h38min
Escolhe, acolhe, recolhe... alucina...
Se te escolho entre todos os mortais
e a ti dedico atenção e cuidados
é que tens um não-sei-quê
nesse teu olhar alado de poeta enternecido.
Se te acolho entre meus membros
num abraço quase embrionário
é que tens um sei-bem-o-quê
nesse teu andar enluarado de poeta anoitecido.
Se te recolho entre as palavras
que escrevo e que bem domino
é que tens um bem-querer
nesse teu falar enfeitiçado de poeta amanhecido
que me escolhe,
que me acolhe,
que recolhe os meus cacos todos
que, enfim,
me alucina...
08.04.2008 - 23h29min
Amor e pão
Do lado de fora da vida,
o cansaço, as costas doídas.
Brisa leve anuncia lá adiante
que a letra é navegante
e o espinho é passageiro.
Escreve torto nas linhas
imprecisas do tempo direito.
O espaço é denso e certo?
Fomento o sentido perfeito
da consolação e do lamento.
Considero as curvas da passagem:
frestas nos muros erguidos
nas arestas cortadas do medo.
Encontro abrigo e oração na casa
que acolhe o andarilho errante
esfarrapado e cambaleante
que já perdeu tudo
primeiro que esse tudo, a razão.
Descanso a cabeça no ninho
tecido fio a fio lentamente
e agradeço a polpa escorrida
da fruta suculenta oferecida.
Brilhante oferta carnuda.
Amor e pão é do que todo Ser precisa.
08.04.2008 - 23h21min
Anestesia
Quando a saudade for tão grande
a ponto de anestesiar-te o peito,
observa...
É serviço do tempo garantir-te vivo.
Desnuda-te e perdoa.
O que é teu, não esquece.
Acorda e sonha,
que o desejo, um dia, amanhece....
08.04.2008 - 02h08min
Exílio
...à noitinha,
o crepúsculo pinta de vermelho
um imenso céu azul...
Nas conchas das mãos
as lágrimas derramadas
pelo absurdo silêncio.
O desespero é parte de quê?
Do abandono ou
da esperança?
Na prancheta as últimas palavras
tristemente pronunciadas
como um toque de amargura
pincelado na delícia de viver.
E uma saudade do não-tido
anestesiando o peito
gritando por uma anistia
impossível de se conceder!
O exílio é o castigo do desobediente
que insiste na procura vã
de uma atenção ausente
ou da presença que não pode ser.
Exílio é tortura consentida,
dor que brota de noite
e te acompanha nas horas do dia,
com cheiro de flor quase parida
entre as contrações e os tremores
e os espasmos que a solidão,
essa furada canoa, provoca no peito
de quem já não tem no que sonhar,
além de um coração vermelho
e de um céu azul a pulsar...
08.04.2008 - 01h58min
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