domingo, 31 de outubro de 2010

Adiante

Recolho as pilhas de sonhos
das prateleiras de livros
onde guardei as folhas soltas
dos poemas não escritos
dos soluços não contados
dos primeiros versos vistos.
Revejo os atos.
Os interesses revisito.
Reencontro sustos e imprevistos.
Improviso um jardim inteiro
pra próxima estação.



O convidado?
Não sei.





Nos primeiros 45 minutos do dia 31.10.10

sábado, 30 de outubro de 2010

Curso

Mudo
se antes segui por aqui
atravesso o desfiladeiro
e desfilo as vestes
no ponto azul d'estrela.
A guinada é o avesso do raio
que eu construo na linha
que me permito cruzar.
Mudo
e te faço me perder de vista
eu mesma me perco.
Abandono o posto.
Recupero o pulso.
Saliento.




30.10.10 - 18h34min

Queda

Seguem meus passos
os raios de um sol sem lei
os fantasmas de um começo
enfurecido de trapos alheios.
Salientam meus equilíbrios
os 'des' dos ditos
e os restos das proteções montadas
em cavernas mal cheirosas
e em pratos raspados de alimentos crus.
Suspiram minhas perdas
os prantos dos meus olhos
e as plantas dos meus trôpegos pés
os esquerdos
os tentáculos
os remendos
risos esquecidos nas pálpebras
rios de pedras e pontas de lanças
esperas vãs
espetáculos comprados
nas palmas das mãos dadas.
Doadas horas
de estreitas precauções.





30.10.10 - 17h41min

Delírio

Antes e depois dos limites
as sombras encolhem entranhas
entrelaçam suspiros
corroem e colorem estrias
nas estreias dos começos.
Vestidos esvoaçam nos varais
das calçadas entrecortadas de olhares sangrentos.
Há verbos dançando no ar
e línguas ferinas
abrindo feridas
comparando fraquezas e fatos
nas frestas e réstias de luz dos orvalhos.
Orelhas dependuradas nos brincos das luas
pintadas em desenhos de criança.
Nem tudo é disfarce
nem tudo solidão
nem todos os cobertores deitam a cabeça na pedra
nem todos os dedos dedilham canções.
Somos estardalhaços ou estilhaços de vidas
perdidas nas pedras das trilhas
abertas entre alvoroços de versos
e partituras de velhos amigos
transformados em papel cartão.
Somos incompletos
e a incompletude dos meus braços
desfaz a incompreensão dos teus.
Somos inconclusos
e a inconclusão dos meus passos
descruza a invasão dos teus.
Somos insossos
e a insensatez dos meus rasos
desdiz a intrusão dos teus.
Somos nada
e ao nada nos recolhemos
todos os dias
às apalpadelas do absurdo
às aparências do que  já não é.
Nem poderia ser.




30.10.10 - 17h23min

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Independente?

"Eu não sei cadê você, não sei eu, porque? Eu?"



E se as razões se avolumarem
e os desencontros se multiplicarem
e as flechas não acertarem o alvo específico?
Nem todos os mapas tem os caminhos exatos
ou as trilhas perfeitas
os quase quatro anos
intervalos dos sete
ou as não tão grandes diferenças
que medem os medos. Estáticos medos mudos.

E os olhos se perdem de vista
na vastidão do mundo.

Há imagens que não se apagam
e vestígios de passagens que fixam
os Vestígios
e as Passagens.
Há presença
e permanência única.
E há o instante.
Esse mesmo que se repete
a cada minuto
e não admite perder
nem a lembrança
nem o reflexo
nem o Espelho nosso de cada dia.

E há um Eu
que eu sei em Ti.

O resto me foge.
Fumaça em campo aberto.
Chuva de verão passado.
Fogo em palha seca.
O resto me engole.
Vomita minha carne intacta.
Expele minhas vontades.
Devolve meus defeitos.

Mesmo assim
eu sei cadê eu
e sei tu
porque em mim
nada é provado
ao contrário do que se pensa
e ao avesso do que se espera.

Eu?





28.10.10 - 03h31min


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Forma


 
Se alguém perguntar quem sou
diga ser eu um verso solto
sem autor.
Silhueta perdida
sem dó
sem piedade
sem opção alguma
além da farta palavra.




27.10.10 - 02h29min

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mortalha

Voo pela sombra. 
Esfumaço os telhados . 
Inconscientizo-me. 
Amanhã? 
Não sei...






01h58min - 26.10.10

Nenhures


Socorro meus brios
no único piscar do minuto
pertencente ao que de mim
não é meu
nem aqui descansa.
Absolutamente resolvida
desligo minhas culpas
e sigo em frente.
O sol queima as retinas do dia
desloca as sombras pra longe
revigora os perdões
que evitei de contar.
Encontro um portão de ferro
viajo num sonho perdido
povoo os cantos da casa
reconstruída pela metade
demolida em um mês.

Respiro.




26.10.10 - 01h39min

Ceia





Dos meus cacos
recolho as sobras
e as colheitas fartas
excluo as bocas e os olhos
remendo as costuras
e os passos mal feitos
e os mal amados, tanto faz.
Se não passo o falso
também não possuo.
Disseco a palavra
e não digo nada
além do silêncio que grita
minhas rouquidões
e meus estados de consciência
turva
táctil
texturizadamente fértil.
O assovio  não descreve
a decência que desconheço.
Desço as escadas
da forma
e da fortuna.
Questiono discernimentos.
Consumo estradas
conheço esgotos
conservo meus muitos nervos
nas pontas dos dedos medrosos
que cavam buracos na lua.
Sem Amanhã
resta-me Agora
o fino fio de instante
que cala a sádica matraca.
Sem prévio aviso
o céu da boca seca
i
n
ce
n
d
ei
  a.




Aos 48 minutos do dia 26.10.10


domingo, 24 de outubro de 2010

Verdades e/ou mentiras


Dar as costas à mentira
é desnudar-se
desproteger os pactos
deslocar os focos.
Dar as costas à mentira
é dispor-se à queda e
à lembrança contínua
dos detalhes dos fatos.

Aceito o preço.
Escolho a verdade.






24.10.10 - 15h




quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A cruz partida

A força da letra arrisca os centavos
e as dignidades
na esquina da multidão
sedenta da prata da casa.
A força da letra
enterra tesouros
descasca andorinhas
traduz pormenores
em linhas exaustas
pontilhadas de alfinetes
e regalias furtadas
de algemas antigas.
A força da letra
atravessa ponteiros
escala travesseiros
pinta fantasmas de preto
sacos de lençóis de ilusão.
A força da letra
mora nas minhas entranhas
estranha meus medos
muda minhas palavras
mais tacanhas
em tamanhos desastres aéreos.
Inesperada morte.
A força da letra
condena meus atos
aponta o dedo
regula, reclama, rechaça.
Sentencia.

Nos pregos, uma cruz.
ANKH!




21.10.10 - 04h44min

Mea culpa

Escasseiam os argumentos
quando só o que se tem
é um frasco de amargo ciúme.

Pesos e medidas diferentes
dependentes da condição crida.

Na extremidade da não-virtude
o precipício guarda a lágrima.

Algumas verdades são proibidas
sob pena de macular a esperança.

Direitos são descartadas reivindicações
quando ovos cobrem um chão de espinhos.

Situação de vidro, castigada com a morte.
E morte de cruz.
Mea culpa.
Mea máxima culpa.






21.10.2010 -  03h29min
Infringir regras é dispor-se a pagar o preço. Alto. Deveras alto.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Virtualidade

Vives a minha vida
meio de lado
clara sombra imperceptível.
Quando preciso de ti
onde?
Quando não
porque?

Vives a minha vida
de "revesgueio"
oscilando entre a ausência
e a ilusão de acompanhamento.
Quando pergunto por ti
onde?
Quando não
o que?

Vives a minha vida
só de letra
gravada na pedra que apaga
sem preciosidade alguma
sem cortante instrumento
além do que já sabes
e do que já acendeste deveras.
Quando procuro por ti
onde?
Quando não
em que?

Vives a minha vida
confortavelmente
sentado na poltrona em frente
sem intimidade
sem pestanejar de dentes
(sim, dentes pestanejam, ao ranger).
Quando padeço por ti
onde?
Quando não
pra que?


Responde!



19.10.10 - 02h59min

Anda pela sombra, essa minha insignificância II

Recolho-me à minha insignificância.
Desfigurado significante de olhos vazios
no absurdo de uma página quadrada.
As respostas ficam pra amanhã.

Vou pela sombra.
Pela sombra,
meus medos.
Pela sombra,
os roncos dos viciados em letras.
Pela sombra,
meus pecados.
Quantidades inúteis de vozes
caladas, antes dos ecos
responsórios de ansiedades
que não veem.
Silencio os dedos e as veias.
Roo um voo rasante.
Enterro os cílios.
Minto.
Morro.
Pra ressuscitar
amanhã
e depois
e depois
e depois
indefinidamente
borboleta opaca
atraída pela luz do sol
té que o calor derreta as asas.
Ícaro de cera sonhada
no equilíbrio entre a queda
e a mais pura perfeição.





19.10.10 - 02h46min

sábado, 16 de outubro de 2010

Endereço

Minha poesia está em ti

mora em teus poros
sua o teu suor
escorre pelos teus cabelos
e dança nos acordes da tua guitarra
nos anéis de caveiras nos teus dedos
na tua barba por fazer.
Minha poesia está
nos mais de cem versos que te devo
no ciúme controlado
no sotaque carregado
na linha do tempo que eu perdi.
Minha poesia está
na milionésima parte tua
a metade da metade da metade
a  que me pertence inteira
a parte mais ínfima
um quase nada
de todas as tuas frações diárias.

Minha poesia está em ti.






16.10.10 - 03h06min

Ne me quitte pas

("Fui Jacques Brel quando você se foi")


fui o sofrimento dele

o mesmo que escapou de ser dito

o mesmo que não pode ser traduzido

em língua alguma

pois fui isso

menos que nada

quando tu te foste

de mim.


Fui muito além da dor dita

ou da dor escondida

fui a dor desesperada

a que se crê maldita

a que se rasga

e que se odeia

essa mesma dor

que foi Suzanne Gabrielle

talvez "uma mistura de Brel y Pagliacci"

não tive tintas pra pintar o rosto

já que nenhuma permanecia

posto que as lágrimas apagavam

qualquer pintura, qualquer disfarce, qualquer fuga.

Eu fui A Dor

a solitária Dor de quem se sabe condenado

à distância e ao silêncio.

Eu fui essa Dor

promíscua.

Eu fui essa Dor

rasgada.

Eu fui a Morte

de mim.






16.10.10 - 02h50min

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Anda pela sombra, essa minha insignificância I

Recolho-me à minha insignificante
letra de mulher,
perdida n'algum ponto
entre a consciência e a embriaguez
de um verso sem rimas.
Vou pela sombra, feito cão perdido
em noite fria e sem luar.
Sem dono, sem folha branca
onde esvair os elementos
que fazem de mim quem eu sou.




15.10.10 - 01h15min

Movimentos

Eu gosto de surpresas.
Eu gosto do que não se pode controlar.

Um minúsculo espanto
um risco de sorriso no olhar
um leve franzir de testa
imperceptível mudança de traço
não-ensaiada
nem possível de repetir.
Uma Sempre Nova
explodindo dos poros
involuntariamente exposta.
Um jeito de mexer nos cabelos
um jeito de cobrir o rosto
com as mãos espalmadas
um arregalar de olhos castanhos
um movimento de íris
um dilatar de pupilas
uma indisfarçável ansiedade labial.

Eu gosto de surpresas.
Eu gosto do que não se pode controlar.
Eu gosto de instintos.





Aos 55 minutos do dia 15.10.10

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Profícuo

Madrugadas estéreis
suados sais compostos
de equilíbrios e corpos.
Nada dito
além de amenidades
e posturas de contas sem nós.
Trocas de esperas
tranças de lavas
sucessivos voos.
Vantagens.






14.10.10 - 19h

Compreensão

E se milagres acontecem
mil contradições chocam
os ovos da malícia.
Entendimentos à parte
somos metade da acidez dos campos
onde caíram cometas imaginários.
Não valem os tédios
dos aliados
dos repetidos
sempre os mesmos
sempre os iguais.
Evoluem as falas
e as filas aumentam
nos pontos cruzados das sortes
jamais conhecidas.
Adiante, as viagens
acumulam vantagens ilusórias
d'outros mundos
outras formas de vida
aquelas mesmas
acreditadas um dia.
Acreditadas
ainda.





14.10.10 - 18h

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Caminhante

Os sapatos calçam canções absurdas
deslizam ruas e ladeiras
enlameiam-se de estradas poeirentas
marcam os saltos nas pedras
das picadas abertas a pé.

Um Blues traz ondas de nostalgia
no couro do bico fino
no canto do quarto agora vazio.

No entanto
as respostas riscam as paredes
do que não se pretende esquecer.
Narram as marés de sorte e
estonteante metal noturno
às cordas violentamente dedilhadas.

A dança não precisa do corpo
nem de qualquer outra aliança
além da oferecida
sem dedos nem presilhas
sem larguras ou alimentos
que fortaleçam além da conta
o que por si só
já é exagero.

Descanso.






13.10.10 - 23h
(Obrigada por me devolveres, na ponta do teu riso, nas conchas das tuas mãos, "O" mote)

Consequência

Acostumo os olhos
à nova luz já conhecida
esquecida do que me revela
a fartura de gordas palavras.
Uma volta
nunca traz de volta o mesmo
mas o quase, o reconhecível,
o semelhante;
visto que os meses tecem frisos
nas fissuras das distâncias
nos passos já tidos
nas esperanças recolhidas
e secas
e obtusas.
Um sol recém nascido
planta a luz de um outro encanto.

Faz-se uma musa.



13.10.10 - 13h10min
(Vertente de versos, essa volta tua)

Deserto

Sem alma.
Inóspitos caminhos
iguais semblantes
ocre prazer.
Oca, a embalagem
exala conteúdo vazio.
O riso alheio soa mais alto.
O próprio, falso.
Nada completo.
Nenhuma melodia bastante.
Escolhas a esmo.
Anestesiados instintos.


Depois disso tudo
oásis...





13.10.10 - 13h
(A caminho do trabalho. De volta, a vontade de "dizer")
http://www.youtube.com/watch?v=_VSGm3Uv4Qc&feature=related

domingo, 10 de outubro de 2010

Again

O tique-taquear das horas impróprias
assombra a ausência das maiúsculas.
Um sopro de esperança no metal
o gesto conhecido e amado
perdido no espaço de meses
nunca de fato silenciado.
É possível.
Sempre será.






10/10/10 - 3h
*Data a ser lembrada. Try again...
Longe, o corajoso guerreiro acena. De volta...