sábado, 31 de maio de 2008

Leitura

Leio meus poetas preferidos. Leio os poetas, não as letras. As letras são vias veias por onde o sangue queima. Leio o tesouro brilhante plantado na página vertiginosamente pranteada. O movimento azul o sonho descrito colho na saliva da noite. Banho as vírgulas na raiz da mente. Meu alimento é o poeta. A letra é apenas detalhe. Entalhe na tinta fria. Deslizo entre devaneios provocados pelas viagens do poeta que leio. A incompletude é um fato - a minha, principalmente -. Cada vez maior, cada vez mais evidente enquanto leio os poetas enquanto me faço mais gente. 31.05.2008 - 18h

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Poesia, paixão, inveja...

Poesia mata? Paixão mata? Inveja mata?
Poesia castiga.
Paixão grita.
Inveja mata.
Poesia redime.
Paixão cega.
Inveja mata.
Poesia abençoa.
Paixão maldita.
Inveja mata.
Poesia aproxima.
Paixão destoa.
Inveja mata.
Poesia acompanha.
Paixão afasta.
Inveja mata.
Poesia é tua voz.
Paixão é cópia.
Inveja é morte.
Poesia são esses teus olhos,
é esse teu riso,
é esse teu jeito de menino solto nos prados,
de homem forte no leito.
Paixão são os desatinos,
é a perda da cabeça,
da memória, do discernimento
do que é bem ou mal
do que é bom ou ruim
do que é vida ou é fatal.
Inveja é morte.
Poesia é tua presença,
tua atenção,
teu carinho misturado com letras
que são pura leveza, uma quase canção.
Paixão é desarmonia,
desarruma, desajusta.
Desastre!
Inveja
é
morte.
30.05.2008 - 04h47min
Se for pra morrer, que seja de poesia por ti,
que com amor tem a ver....

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Companhia

Ele dorme. Adormecido entre os lençóis é quase um ente é quase um estranho entregue a sonhos que não posso alcançar. Descansa as provas das procuras por padrões que estilhaçam as vidraças e os fundos das lembranças guardados a sete chaves em chaveiros ovais. Ressona entre os travesseiros a cabeça pesada de sono leve feito operário feliz no primeiro dia de greve. Greve de insônia forçada. Por mim. Eu, responsável pelo cansaço e desalento do seu corpo. Eu, acostumada a atravessar horas escuras e insanas enquanto todos dormem, e que obrigo a companhia abençoada de/por/com ele. Hoje ele dorme e eu suspiro. Amanhã, ambos acordaremos. 29.05.2008 - 02h09min

Desabafo

Estupefata fico quando meus olhos veem o que decerto não é certo o que decerto é do mal semente. Tonteio pelas alamedas da vida quando a mão que dá, reclama quando a mão que recebe, rechaça. Questiono meus valores opiniões, desgastes que evito ou que procuro, em meio a questões jazidas ou recém paridas nos hospitais das almas que me cercam e que se intitulam donas de saberes exatos. (Que será isso, meu Deus?) Queimo em meio às labaredas das línguas malditas que se dão o direito e o crédito de saberem o que existe por dentro do cara que atravessa a rua e carrega o estigma que atesta: bandido! (sem nunca ter sido). Revolto meu estômago sensível ante a poluição de mentes duras que julgam ser esta a suprema ditadura: a de quem não tem mais nada além da própria opinião, diversa dessa podre maioria. Desabafo. E volto a ser aquela que observa e que promove, se não muito, ao menos um tanto de aflição nesses tais que são por incrível que pareça, apenas meus semelhantes. 29.05.2008 - 01h26min

Acordo

Eu queria um acordo com a vida: acordar de uma hora pra outra e descobrir-me 'encontrada' por mim mesma, por ti, por esses teus olhos escuros de madrugadas pagãs. Eu queria um acordo com a vida: um giro parado no Globo uma geral paralisia. Só eu. Só tu. Donos de nossos movimentos. Nenhuma testemunha invasiva. Eu queria um acordo com a vida: uma canção qualquer a passear em nossas línguas. Um torneio de dizeres inúteis tão fartos tão vermelhos quanto uma suculenta maçã amadurecida. Eu queria um acordo com a vida: um único sono sem sonhos uma eterna noite dormida em que meus dormentes membros estivessem presos aos inclementes membros teus. Eu queria um acordo com a vida. E ela me atendeu. 29.05.2008 - 01h17min

Vingança

Minha vingança é a poesia. Vingo-me da desesperança, vingo-me do enternecimento que me toma sempre que há de ti nas ruas, nos cheiros, nos sabores que adivinho nos meus sentidos como premonição provocada por um outro, que não conheço. E escrevo. Rasgo a folha, rasgo a vida, rasgo a roupa que me cobre as entranhas passionais. Fervem-me as veias e as velhas perguntas sondam minhas cicatrizes como se não bastassem os corvos, as diretrizes e os curiosos, que fuçam meus rastros e querem e precisam e clamam pra ser um tantinho de mim. Ou ter. Ou roubar. Ou invadir. Ou tomar. Ou ignorar. Ou... O lápis corre sozinho sobre as linhas escurecidas da agenda "milenar". São milhares de confissões veladas e lidas como literais. São pombas, são gravetos, são escadas soltas nos quintais da vida. Dessa mesma vida que dividimos nos segundos em que os mortais parecem mortos em seus berços. (Esplêndidos?) Dessa mesma vida de que tenho sede e que cedo a vez todo dia em que só o que quero são teus olhos postos sobre mim. Aos 53 minutos do dia 29.05.2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Canção de aniversário*

Cantar a pedra que te ofereço agora não pedra sabão nem pedra canção do tipo que a gente esquece no primeiro acorde ou do tipo com o qual a gente, de cara, concorde. Cantar a pedra da idade que te chega ou que de ti se esvai hoje feito poesia escorrida pelo telhado da vida da tua vida de insistente escritor. Cantar a pedra que, longe de ser doçura, é liberdade e provisão. Providência de verso escancarado que promove reflexão e escárnio. Escarram teus contos um quê de grito. Do teu grito? Do grito do pranto? Do grito do outro? Do grito de todos os que não têm coragem ou vontade de gritar? Cantar a pedra do começo permanente da busca permanente, do constante estudar. Cantar a pedra que te guia que eu não sei que nome tem, que tu não sabes também, mas que ambos conhecemos. Cantar a pedra dos teus anos. E desejar que sempre estejas bem. 28.05.2008 - 04h39min *Para Fabrício, meu amigo querido, no dia do seu aniversário

Vem

Quando ele vem não tenho tempo pra mais nada não estou pra mais ninguém. Desfaço as amarras das convenções liberto os delírios covardes das ilusões, acorrento o medo. E espero. Na capa do livro, apresento o estilo da história que quero viver no momento em que ele vem. Quando ele vem não há deserto ou instrumento que eu não tenha aprendido a tocar. Há liras, sonetos, soluções, há espadas e épicos e histórias bem contadas, quando ele vem... 28.05.2008 - 0h39min

Irônico rugido

Eu tenho o raro dom de domar a fera que há em mim e sou tão especialista que ela nem sabe que existo que ela nunca me diz 'Sim'. Mas a mantenho cá dentro em total silêncio e segura prisão. O que diriam os moços, as mulheres, as crianças, os dementes, os anciãos, se, de uma hora pra outra, assim, de repente, a fera virasse bela e quisesse o mundo de presente? 28.05.2008 - 0h32min

terça-feira, 27 de maio de 2008

Quintana saudade...




Para Quintana, que sopra versos ao vento, inda hoje.

Repara, observa, te concentra... percebes?

Eles vêm feito brisa suave. É preciso sentimento

e um tantinho de verdade, pra recolher seu toque nas faces.

Quintana, ah, Quintana, meu velho anjo-poeta...







Sentei-me ao seu lado.

Falamos de tudo um pouco

fantasmas, cadeiras de balanço,

anjos, ventos uivantes.

Ele ouvia mais que argumentava,

é verdade, é verdade, é verdade,

dizia, entre uma tragada e outra.

Passava a mão na cabeça calva,

sorria um sorriso largo

levemente a cabeça balançava.

E ouvia, sem pestanejar,

afinal era verdade que ele jamais

havia conseguido, em vida,

as asas ocultar...





27.05.2008 - 23h51min

Messes

Ninguém me ensinou a aparar as arestas das frestas por onde esse vento frio me invade. Ninguém cercou o terreno baldio nem sequer a sobriedade que me falta na hora exata em que pressinto teu riso solto na veia do medo que tenho de me concentrar em ti. E tu, impassível na tua mocidade, te divertes, indo embora de repente como quem não tem mais nada pra dizer. E tu, impossível na tua capacidade de fazer surpresas e de provocar desempates voltas sempre, com mil coisas pra eu perceber. E lá se vão os meses, semeadores de messes e de amparos nas madrugadas férteis. Não importam as horas excedentes. Somemos os brilhos e os assuntos desconjuntos. É assim que eu prefiro. 27.05.2008 - 23h22min

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Gerúndio

Foi ouvindo o canto da sereia que ele o problema resolveu rogou à lua humildemente, tristemente pediu ao céu, um único adjetivo que lhe fosse suficiente. E prometeu: Recebendo a graça, criando o dito, chegando a manhã e atendido o pedido, 'o infinito desbarato rompo as algemas da vida por todo o Planeta, meu grito!'. E assim se fez. Pois quando do mar se vê o agito respondendo pelo nome de Atrito, escreve gentilmente poemas sem o vocábulo 'talvez'... 26.05.2008 - 22h30min (...uma prosa poética...)

Definição

São prendas, presilhas, são laços, madeixas presas, são faces coradas, sorrisos maldosos. São sonos, são sonhos, são passos, escadas, caracóis, enlaces. São estrelas penduradas nos varais, madrugadas nascendo nos quintais são milhares de visões embaçadas. São fendas, são brilhos, são raças, são reluzentes solstícios, cachaças. São versos, poemas, sonetos, palavras, soluços, travessões, pedaços... de todos expostos nas praças.... 26.05.2008 - 22h

Cuore

Core. Pinte as faces da cor da vida. Decore o sorriso da estrela. Construa uma escada de versos e vibre na escala de notas que o violão do meu corpo incendeia. Desenhe em preto e branco as medidas aceitas. Não minta. Não sofra. Não suspeite. A surpresa é um deleite e o fogo tem a fome da sereia. 25.05.2008 - 23h40min

domingo, 25 de maio de 2008

Ameaça

Vou te contar um segredo... em voz bem baixa, chega bem pertinho pra ouvir (mas depois vou ter que te matar, sabes disso, né?): Palavras têm vida própria. Saem quando bem entendem, voltam quando dá na telha, esbofeteiam, acariciam, invadem, alimentam, desnorteiam. Palavras têm asas e mania de ruminar. São boas, são más, pegam a gente de jeito e não soltam mais. Palavras são dispensáveis, às vezes, mas ninguém conta isso pra elas, então elas não aprendem, e vivem dizendo coisas que não deviam, escorrendo olhos abaixo, e, por vezes, vestindo nossas mãos, luvas que são... Ah... as palavras... *Agora que te contei o segredo, e que ouviste, podes fazer o último pedido, mas faz sem palavras, por favor... 25.05.2008 - 05h24min

Passárgada


Vou-me embora como quem
se diz liberta do vício
mas volto, como quem
tem recaídas sobre recaídas
e recaio sobre o mesmo livro
que li na semana passada
e que escrevi no início do ano
mas não publiquei
por medo do olhar alheio.

Vou-me embora como quem
tem pra onde ir
ou onde ficar
ou quem amar.
Como quem tem o que escrever
sobre o que opinar.
Como quem ri e não diz
como quem sofre e é feliz
como quem não anda
mas sabe para onde ir.

Vou-me embora
faço as malas e esqueço
o dia do meu aniversário
o dia do teu começo.

Vou-me embora e não olho nem pra trás
nem para os lados
muito menos pra frente.
Olho pra cima.
Porque é pra lá que eu vou.


Não me siga.
*nem me obedeça






25.05.2008 - 03h32min

Homenagem


Alguém que tem olhos pra ver?

Adrebal Lírio.

Adrebal não é só vidente.

Adrebal é farol.

Mostra o que há também pra gente.

Mostra o que há para o mundo em geral.

Quem quiser, que ouça, que veja, que fale,

Adrebal não esconde.

Adrebal é grito que se ouve na imagem.

Adrebal é inconformismo selvagem

atado a uma simplicidade que ecoa

há milhares de anos-luz.

Adrebal é poesia que vai adiante

e que não pára,

não pára,

não pára...













*Beijos, meu querido. Te adoro, viu?(mas isso não é novidade pra ti)







Final de maio de 2008 - porque amizade verdadeira é coisa rara...

sábado, 24 de maio de 2008

Shim'On*

Meu nome carrega o peso da sina que me foi imposta sou ouvinte, estou exposta, sou pergunta, mas nunca, jamais, tenho a resposta. Em vão procuro por vias tortas nas minhas mãos, páginas mortas estrelas cantantes de dias findos. Ouço vozes, escuto trovões anunciam eles a chegada do anjo nos braços do vento Minuano. Ouço música e burburinho de poesia e inocência e solidão. São esquerdos os caminhos são possíveis os tropeços são prováveis os senões. São presentes as asas... Ouço vozes e não tenho a resposta... Ouço... *Simone, do hebraico Shim'On, que quer dizer "aquela que ouve" Nos primeiros 6 minutos do dia24.05.2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Processo

Admito o cúmulo da audácia de repetir-me a mim mesma nos versos que faço. Concentro força e energia na esfera de vidro que é meu grito metamorfoseado em agulha e linha pra costurar as frases sem vírgulas os ditos, os não-ditos, os bem-ditos os mal-ditos formados pra impressionar a mim mesma nas horas em que procuro um pouco d'água pr'essa minha sede... 23.05.2008 - 14h42min

Semente

Planto versos onde pretendo colher poesia... 23.05.2008 - 04h01min

Imagem

Rasgo o peito na densa e solitária escuridão ensangüentadas letras paridas na dor escorrem ao longo da página... Se queres meus porquês e meus sonhos plantados nas palmas das tuas mãos as mesmas mãos que jamais alcançaram as minhas impedidas pelas distâncias insondáveis das placas das estradas dos sentimentos inenarráveis ou sequer existentes, liberta a voz rouca, latina latência das madrugadas sem testemunhas ou confessos pecados mortais. Rompo as cadeias da gangorra do tempo. Cheguei antes e me atrasei. Sou rastro na areia escaldante pé de vento uivante, minuano no deserto a cantar pra ninguém. 23.05.2008 - 03h58min

Noite insone

No meio da noite insone incendeio as pontas dos dedos e ardo na folha em branco entregue ao transe da escrita externado o sentido da vida de todo o poeta que se esvai dividido entre os dias normais e os dias que são noites para todos os outros mortais. No meio da noite insone busco razões pra dizer teu nome teu cheiro teu jeito tuas cruzes teus poderes tuas vertigens teus prazeres tuas origens. No meio da noite insone sem pregos sem tinta sem sono emprego meu tempo na única coisa que garanto: escrever poesia de nada que de tudo já tem de monte. No meio da noite insone fuço entre os furos das letras redondas feito louca bordadeira de ondas e não encontro e não desmancho o fio da meada da agulha nova que haverá de trazer à tona o que há comigo assim insone sem motivo... No meio da noite insone um anjo malvado me disse que amanhã não é feriado e que o raiar do dia reserva cicatrizes e dores diversas. Ah, eu sei... não tenho pressa... 23.05.2008 - 03h16min

Instrumento

Sou corda de violão
tensa e preparada
pra dar o tom
a nota
que teus dedos buscam.
23.05.2008 - 02h17min

União

Força e suavidade juntas são pontas de flechas embebidas em veneno eterno. Força e suavidade juntas prendem em nó de marinheiro. Pra desatar, nem os deuses, nem mandinga; não adianta chorar. 23.05.2008 - 01h54min

Firmamento


Nas asas do anjo que não voa
conheci a noite e as estrelas e
apertei a mão da lua e dos planetas.
Criei curvas e risquei palavras
como quem não precisa de canetas.
Ri alto e sem cuidado
bocejei, mergulhei, espreguicei
as nuvens e suas primas
as borboletas azuis.
Sim, há borboletas azuis no firmamento
entre os anjos e os poetas
entre os encantos e os profetas
entre os amantes e as setas
que indicam o caminho da próxima rima
talvez logo ali, no paralelo trinta,
ou talvez mais além,
bem em cima
de Greenwish.
Elas voam abraçadas
em imensas revoadas
daí o céu ser azul.
Não sabias?






23.05.2008 - 02h03min

De deuses e heróis

Deuses são intocáveis. Dançarinos na imensidão do céu, observadores dos nossos trôpegos passos. Mortais, tu e eu. Passageiros na agonia das dores espiralhadas dos dias que se esvaem em noites frias. O quarto, o quinto, o sexto, o décimo, que seja, elementos a mais na junção das estrelas que demarcam os caminhos já traçados e os que haverão de ser. Deuses, cujos poderes exalam perfume de verbos frescos. Sorridentes fragrâncias vermelhas, té onde teus olhos alcançam... Té onde possa ser.... 23.05.2008 - 01h41min

Seu moço

Pra me acompanhar não é bem assim, seu moço. Tenho alma repentista na ponta da língua sempre um verso solto pronto pra ser devorado por mim ou por ti depende de quem primeiro beijar a palavra capaz de desencadear o poema inteiro, seu moço. Ah, seu moço, pra me acompanhar não é bem assim meu sono é traiçoeiro passa ao largo do meu travesseiro não quer saber de mim. Pra me acompanhar, seu moço, fique sabendo que não é bem assim... 23.05.2008 - 01h17min

QUARTO

Três versos sem pestanejar criados a partir de sonhos ou de um novo linguajar. Três versos meio impróprios pra menores de mil anos por suas linhas dissonantes por seu tom desconcertante. Três versos ardentes que fervem de dor e medo e covardia do azul profundo de águas distantes da terra desconhecida que nem mar tinha. Três versos querendo crescer e chegar logo ao quarto, ao quinto talvez... Não, o quinto já tem pai com nome esquisito. O quarto verso guarda a pergunta que escorre pela garganta perdida entre as entranhas do poema que ainda nem nasceu. Por onde andará esse elemento que responde por quinto? Onde foi que se escondeu? 23.05.2008 - 01h09min

Travessia

Atravesso noites os dissabores se perdem na escuridão pincelada de azuis estrelas cristalizadas. Amanheço poentes e proponho a poetas ausentes que se apresentem sem papel ou caneta na mão sem tinta ou inspiração que sejam só o que são complexos seres viventes. Eu, artesã da palavra que nasce não sei onde que voa não sei por quê. Eu, dependente completa da folha em branco do desejo de dizer. Eu, árvore seca de serrado a menor das mulheres solitária e vazia, solta no prado que verte verbos aos milhares que busca o ainda não dito que sopra o nunca sentido. Eu, nua e exausta comum entre os comuns comum entre os outros comum entre o espelho e eu. Atravesso portas umbrais cortados pelas brasas das canetas apertadas entre os dedos de poetas que se recusam a ficar surdos aos apelos da alma, da vida, do coração. Aos 56 minutos do dia 23.05.2008

Prata da casa

Os escritos se sucedem sem ligação alguma entre eles são surtos de movimentos nas linhas fixas da agenda riscada de silêncios e pontos de contorno das vias externas do dorso das mãos que escrevem letras azuladas pra serem lidas por ninguém... 22.05.2008 - 23h29min

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O terceiro não chegou...

O segundo virou terceiro na minha mira ando pela esquerda, evito o meio sou miséria e euforia. Castelo assombrado por fantasmas azuis todos enrolados em pedaços de pano rasgados d'alguma cortina velha, sem serventia. Essa, minh'alma perambulante pelos atalhos que abro pelos assuntos que escolho pelas frestas dos assoalhos. Soa distante a campainha certeira que avisa estar vencida a primeira chegada do terceiro que não veio. Que, quando chegar, será passado como o primeiro... 22.05.2008 - 01h22min http://br.youtube.com/watch?v=qKq0hz44GnQ&feature=related

De volta ao começo


O tempo pára nas asas
de um amor partido.
São puras as metades
que separam o débito
do que já não é devido.
São cruas as passadas
de dois, que se distanciam.
O todo sem partes
é meio esquisito.
Parece queijo suíço
sem sal, dó ou doçura.
Assim somos nós
depois do adeus dito.
Desdigo o absurdo
da perda sublime.
Que nada!
Na ponta da faca
dou murro!
Esburaco a pinça do medo.
Estremeço a pele sem tinta.
Agora é que começo
tudo de novo
outra vez.

Respiro.



Aos 29 minutos do dia 22.05.2008

De sonhos, amores, ventos, palavras...

Uma palavra jogada ao vento um sonho que não soube ser um presente jamais aberto um amor que não coube ter. Um vento soprado na palavra solta no sonho jamais aberto cujo amor foi um presente que floresceu no deserto. Um presente solto no sonho de um amor feito de palavras um vento jamais desperto um aperto de sombra errante. Um sonho de amor presente de palavras e desertos escaldantes. Que não soube ser. Que não soube ter. Que não arriscou as delícias do vôo rasante... Aos 18 minutos do dia 22.05.2008

Fui lida na Malásia!

Nem sei como se chega lá!
Tem lá nesse nome, confira:
Ma LÁ sia!
Lá eu sei ser bem longe
e não sei se me entenderam, lá.
LÁ também é nota
de qualquer música
na escala da escolha
pela letra da alegria.
Só que lágrima
também tem LÁ.
Como em todo lugar.
De um jeito ou de outro,
melhor saber que na Malásia
agora tem, além de tudo o que tem lá,
também a minha poesia.
(Com uma alegria quase infantil,
daí o tom também quase infantil
da letra dessa euforia...
Aos 09 minutos do dia 22.05.2008)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

É ouro!

As línguas são várias e os temores, castanhos. Há que se usufruir da linha como quem sabe ser essa a sua última escolha. A última tragada na fumaça da vida que se esvai, ligeira. Os sonhos são castos econômicos e vastos. Não são contradições; complementos. Compreensão é parecida com lamento quando uma parte pensa que a outra não merece tamanho tormento. As linguagens multiplicam a possibilidade de ação sobre o objeto móvel que se atenua na mão do ourives artista. Sim, é ouro. Ouro! 21.05.2008 - 23h59min

Noites de partos pardos


São pardas todas as noites dos gatos?

São gatos todos os pardos da noite?

São partos de gatos à noite?

São noites os partos dos gatos?

São luzes, estrelas, borboletas ou gatos

as claridades pardas da noite?

São noites, gatos, estrelas ou luzes

as borboletas pardas esclarecidas?

São claras as noites sem partos, sem gatos,

sem luzes, estrelas ou borboletas?

São borboletas as luzes dos gatos

na parda noite sem estrelas?

São apavorados gatos partidos?

São pardos os partos de estrelas?

São borboletas pardas?

São gatos claros?

São noites?

São noites
parturientes...











21.05.2008 - 23h41min

Exposição

Pendurada no varal, minha poesia posta à prova pelo povo letrado que já se vai, que silencia. Pendurada no varal, minha vida escorrida entre os dedos do dia feito pétala desnuda que se desprende da fantasia, do cabelo, da folia. A semântica é um detalhe os livros lidos, mistério as invenções, os sucessos, questões em aberto no grande palco iluminado por estrelas vadias. Procura-se um genuíno intelectual entre os prendedores do varal com os óculos no bolso, na mão um punhal. Quer cortar o preconceito do verso manco, sem jeito que escrevi sem nem pensar. Quer sacanear as regras quer investir às cegas num único verbo: C A N T A R O L A R. E eu, ciumenta da minha obra, observo estática os observadores que dela tomam uma prova. Molho a língua n'água doce exposta e sei que não sou eu é minha pele, boca, alma à mostra aos olhos frios que passam aos bons olhos que me alcançam e sabem de mim e me abraçam. 21.05.2008 - 20h28min

terça-feira, 20 de maio de 2008

Quem eu sou


Alguns me consideram uma verdadeira chata.

Outros me acham pretensiosa,

mandona, autoritária.

Terceiros me vêem como humanista,

ou

contradição das contradições:

incendiária.

Quartos me dormem.

Quintos me acordam.

Sextos me sacodem.

Sétimos me dominam.

Oitavos me devoram.

Nonos me abominam.

Décimos... sei lá...


Quanto a mim, quando me vejo

me penso bem assim:

nem tão santa, nem tão bizarra.

Sou de estrela um lampejo

cantoria de cigarra.

Sou pirilampo travesso

que dança entre os festejos

de um São João deserto.

Eu sou assim.

Quem gostar de mim, que goste.

Quem não gostar, que se baste.


Eu sou o pó e a estrada juntas

o vento, o sol, a espuma, a prataria.

Não sou de vidro, não sou de barro.

Sou mulher.

Cuidado comigo,

eu amarro!





20.05.2008 - 23h35min

Madrugada

Na construção das frases, o deslize formatação de versos, declive e intenção de não-dizer, só dançar entre letras e provérbios e estupefatos espectadores da liberdade irmã. O rodopio molhado debaixo de chuva quando todo o mundo se recolhe e acena a cabeça como quem sofre de lento desespero infantil. Não te assustes, criança de mim, que mora em meu peito e pulsa feito relógio de corda, feito varinha de condão. São tuas as horas lembradas as livres revoadas de versos e risos soltos nas madrugadas negras em que estão presos os senhores toscos e em que se prezam os sonhos e as não-divergências e as adjacências das alegrias que não têm licença para aflorar de dia. São tuas as abstinências e teus os mistérios quando a troca é presença e remédio para as dores, ausências, tédio. O peito que abre em soluços e verbos sem pé nem cabeça, sem cérebro mas pleno de significados engraçados e veementes encantos sorridentes. Eu penso que assim são as gentes de pele arrepiada e sensibilidade primária de passo nunca poupado e luta diária de grito que ecoa na febre revolucionária. Eu penso que assim são os grandes com leveza de bailarinas e coração de gigantes... 20.05.2008 - 22h39min

sábado, 17 de maio de 2008

Fotografia

Paraliso o instante que quero guardar - são tantas as horas que ficam pra trás - os sonhos contidos, as lembranças criadas baús de tesouros incalculáveis na energia condensada numa folha de papel especial. Areia movediça. O presente remete ao passado num piscar de olhos e de lentes automáticas. Os teus olhos as minhas lentes as tuas lentes os meus olhares para um horizonte que se encerra logo ali quando o retrato se rasga feito véu apodrecido de noiva largada no altar. O álbum embrulhado pra presente caixinha de música inaudível que teima em tocar na mente. A canção do primeiro encontro do encanto do brilho no olhar a canção do primeiro beijo do encanto do brilho no olhar a canção do primeiro sonho do encanto do brilho no olhar a canção do primeiro adeus do desencanto da lágrima no olhar. A eternidade presa na imagem. Areia movediça para o bem ou para o mal. Decide quem a tiver que pisar. 17.05.2008 - 20h45min

Sonhar

Sonhos são sinais que aparecem demais e acabam por ficar invisíveis... Observa. 17.05.2008 - 20h02min

Virtual

Varar a noite varrer a sala vangloriar-se de SER. Vender ilusões virar lobisomem ver assombrações. Chatear-se da superfície supervisionar o EU erotizar a distância. Desmoralizar a simpatia sacramentar a ignorância incendiar a aventura. Inventar a nova ordem organizar o movimento mostrar o sentimento. Virtualizar virilizar vingar vigiar viajar velejar intuir.... 17.05.2008 - 19h59min

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Poesia

Olho para o lado e penso Poesia com os olhos fechados penso Poesia no sonho ou sonambulando penso Poesia na conversa faceira, na lágrima ligeira só penso Poesia. Construo versos do avesso do abrigo onde entristeço e onde penso o que digo e só penso e só digo Poesia. Uma frase, uma palavra, uma idéia são suficientes pra fazer nascer do umbigo a estrofe oferecida para a platéia. Não espero aplausos. A criação é só um reflexo do que vivo do que rio e do que padeço e não sei se pareço com uma velha doida que fica falando de qualquer coisa sem nexo ou remendo ou intermediário que a ouça. Mas, pra mim, tanto faz; o que quero e o que preciso é pensar Poesia. 16.05.2008 - 13h55min

O pássaro


Um ninho.
Tem um ninho de passarinho
na árvore, perto da minha janela.
E ele canta,
(não o ninho,
nem a planta,
mas o passarinho...)
na árvore, perto da minha janela,
pra eu ouvir.
Só pode ser pra eu ouvir.
Que outro motivo
teria um passarinho
pra construir um ninho
na árvore, perto da minha janela,
além de cantar pra eu ouvir?
Nenhum.








16.05.2008 - 13h45min

Válvula de escape

Tem gente que usa droga tem gente que bebe tem gente que se mata tem gente que escreve.... 16.05.2008 - 11h38min

Probabilidade

O barulho natural do dia, talvez, o movimento natural do dia, talvez, a secura natural do dia, talvez, o fervor, a vida, a alegria natural do dia. Talvez seja necessária essa melancolia da noite, sugerida pela escuridão, para fazer brotar essa vertente. Talvez seja necessário o silêncio do mundo exterior pra que a gente ouça os versos que brotam do interior e que gritaram o dia todo, mas não foram ouvidos, ensurdecidos que estávamos pelos ruídos do mundo. Talvez... apenas talvez, a solidão da noite seja a melhor companhia poética, que o poeta possa desejar... mas tudo isso é apenas um grande, enorme, imenso, TALVEZ. A resposta mesmo... Não sei... Eu-não-sei... 16.05.2008 - 01h

Eterno retorno

Escorrego nas curvas de um tempo que não passa passeio pelas fugas que preventivamente preparei pra mim percebo um não-sei-quê de desconfiança no vento que desalinha meus sorrisos e desabotoa a esperança espero pela imperfeição que me acompanha ao longo da lânguida estrada escovada de estranhos sóis sou lâmpada em processo de incêndio e acendo as velas para o oratório de cima da casa para só então construir a frase lapidada em pedra sabão ensaboo o piso e escorrego nas curvas de um tempo que não passa... que passeia pelas fugas... e recomeça... Aos 59minutos do dia 16.05.2008

Visão

Não eram verdes. Não eram de nenhuma cor. Não tinham estatura. Não tinham medidas ou formas. Talvez anjos? Sementes talvez? Uma força, energia, uma luz ou não... Não foram palpáveis palatáveis prováveis... Não digeriram nem dirigiram deveras a palavra a mim. Pois não eram. Mas estiveram aqui. Meninos, eu vi! Aos 51minutos do dia 16.05.2008

Quando?

Quando a gente sonha, é só imaginação? Quando a gente imagina, é só assombração? Quando a gente dorme e não sonha, morreu? Quando a gente não dorme, mas sonha, sofreu? Quando a gente rumina um dito, é teimosia? Quando a gente pesquisa um mito, é geografia? Quando a gente constrói um barco, é marinheiro? Quando a gente tem fome, basta o dinheiro? Quando a gente pergunta, uma resposta é suficiente? Quando a gente responde, a pergunta foi pertinente? Quando a gente emudece, estremece, cora, é sinal? Quando a gente fala, empalidece, demora, é fatal? Quando a gente amanhece sem sonhos, sem imaginação, sem assombração, sem morte, sem sofrimento, sem teimosia, sem lamento, sem mitos ou heróis, sem nenhum de nós, sem cordas de marinheiros, sem circos ou picadeiros, sequer sem baderneiros, sem respostas ou perguntas ou consentimentos conseqüentes, mas amanhece, impaciente, é a VIDA? A vida que dança diante ou dentro da gente? Nos primeiros 10 minutos do dia 16.05.2008

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Tudo o que não existe

Se não existe, está por fazer...

Nada há que já não exista nada que já não tenha sido inventado descoberto desdito. Nada há para ser construído. "Eles" existem. Eu os vi. Se crês, se não crês, se duvidas, se investes nas críticas, nada há que eu possa fazer, além de repetir: EU VI! Mas se insistes na incredulidade, respondo, com o afeto que me é característico: Meu bem, tudo o que não existe vai muito além do físico, vai muito além de mim

e de TI.... 15.05.2008 - 23h52min (A pedido...)

Aceitação

Infrutíferas investidas da sorte atravessam alamedas revestidas de sombras de verdes sabores e sutís revelações. Não quero os porquês nem os conhecidos senões. Acima das nuvens os semblantes das tempestades não se percebem, não determinam a necessidade de guarda-chuva ou de capa plástica de proteção. Tudo é azul sobre as nuvens; a nova escuridão do Cosmos trespassada pela cor da imensidão do mar sem fim. Velejadores de alturas de ventos inconstantes relatam particulares verdades de antes da chegada das nascentes. Perdem-se as anotações da madrugada entre outros papéis de duvidosa importância, posto serem minhas as mínimas chances de remota vitória tardia. As distâncias conheço bem e os termos delas e seus efeitos, sua devastação silenciada pelo próprio silêncio que arrasta a Torre de Babel cuja base é a imaginação de meninos e de lobos e de anciãos e de mulheres que mudam de lugar a sorte, a caprichosa sorte que já não sabe meu nome que já nem lembra quem sou... Às 05h da manhã do dia 15.05.2008
(Obrigada, Ti. Têm sido importantes teus risos,
tuas histórias, tua companhia e, principalmente,
tua preciosa LUZ. Se a sorte esqueceu meu nome,
me provas todos os dias que a amizade não fez o
mesmo. Obrigada por seres quem és e por estares
aqui, na minha vida, desde antes... Te adoro.)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um minuto de silêncio

Pelos 15mil mortos em terremoto, na China
A terra tremeu lá devorou corpos almas recém paridas almas dormidas deixou almas doídas. A terra tremeu lá sacudiu pilares e derrubou uniões. A terra tremeu lá... fez ocre meu paladar aqui... 14.05.2008 - 23h50min

Dúvida

A beleza, a leveza, a alegria
anestesiam?
14.05.2008 - 0h15min

Areia

No primeiro segundo do dia o primeiro verso brota. No segundo segundo do dia não há mais versos não há mais sobras não há mais nada porque os segundos escorrem entre os ponteiros da vida e entregam os pontos. Sem retoque os próximos versos esperam ser vividos. No terceiro segundo do dia já é amanhã, e o rabo do ontem ficou preso entre as vírgulas que indefinem a frase de abertura a ser pronunciada pela nova criatura caricaturizada pelo tique-taquear dos hiatos, das ausências, das insistentes aberturas entre um e outro segundo. O próximo, muito distante do anterior. O anterior, já a virar a esquina de outrora, virado em letra e forma, guardado entre as páginas amareladas de um livro esquecido na estante ou na memória muda. Instantes... Aos 46 minutos do dia 14.05.2008

EU


Bruma densa,

dissipada ao amanhecer....













No primeiro segundo do dia 14.05.2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

Oração


Santa Poesia, rogai por nós
reles instrumentos imperfeitos
de versos sem sentido
e questionáveis ritmos.
Rogai por nós
seres limitados e infames
tentando explicar tuas formas
teus sabores, teus encantos,
teus tormentos, teus quebrantos.
Rogai por nós
pretensiosos e arrogantes
de saberes engordados mas
vazios, de cansados semblantes.
Santa Poesia, rogai por nós.
Tende misericórdia dos gritos que damos
das chamas que ateamos nas folhas brancas
inflamadas pelos verbos que nunca usamos.
Tende piedade, Poesia,
desses nossos sonhos tão vastos,
tão inclementes, que ousam querer dizer da gente
quando nem a gente sabe o que nos vai aqui.
Tende piedade, Poesia,
desse desejo incontrolável de beleza
dessa urgência latente de estrofes mil.
Somos pecadores de palavras escolhidas.
Tende piedade de nós, Poesia.




13.05.2008 - 23h48min

Profecia

Quem pode saber o próximo movimento? Se pode machucar ou acolher, quem dirá? Os cacos da bola de cristal jazem, inertes, no tapete da sala vazia. Olhos mirando um horizonte inescrutável. O silêncio infla o espaço dilatado de pupilas estranhamente azuladas. Quem pode apostar no que não está? Quem abraçaria o escuro sem vestimenta alguma? Que espécie de entrega é essa que não pergunta nem padece do mal da curiosidade ruminantemente secular? As molas impulsionam para cima. Nenhum temor é pertinente diante da irretocável inocência ou da esperada coragem. De quem? 13.05.2008 - 23h13min

Tênue linha

Publico minha impressão da brevidade talvez para afugentar a sensação de abandono diante de tão constante presença: rondam-me as vestimentas frias do anjo nu deslizando lentamente pelo contorno das horas. Não se apressa nem se apresenta. Impera. Sabe-se definitivo e sempre cedo. Nunca passa despercebido. Rastro de sebo de vela e crisântemos molhados de água salgada e benta. Abençoado seja o sopro extinto. Voe em paz. 13.05.2008 - 22h50min

Inevitável

Teimo em trilhar o caminho oposto busco no oculto a imprecisão diária que atormenta os dias e as pregas das cortinas bailantes ao vento do Norte. Ouço música. Vejo vozes. Convivo com o que inexiste. Desnorteio o que está por vir evito previsões antecipadas das dores. São elas as visitas que espero sem pressa por saber que virão, sem dúvida alguma. Acumulo forças para a batalha final; se suficientes, quem poderá saber? Mas divido comigo mesma a apreensão. Foge-me o sono e os sonhos são brancos delírios sem pé nem cabeça, muito menos compreensão. Os primeiros sinais se anunciam extingue-se a esperança de melhores dias. São longas as noites. São duras as horas. São presos os cansaços. Não há tempo para eles. Nem para os lamentos. O horizonte está à frente. É pra lá que nos dirigimos. Para o bem ou para o mal. Pois que seja o que tiver de ser. 13.05.2008 - 22h32min

Noturno

O lumiar noturno pinga versos que escorrem pelos cachos dos cabelos avermelhados e vêm deitar no rascunho riscado de femininos traços firmes de rima e razões. Sensualidade natural enluarada instante úmido de sereno gélido em que a luz é difusa e os aparelhos não captam o tom preciso da melodia que não desafina uma nota sequer. Lampejos de memória inexata na tarefa por fazer de todos os dias. Sobre a estante de livros fechados, um se sobressai entre tantos: o que ainda está por escrever.... 13.05.2008 - 19h08min

Paráfrase


Tudo vale a pena
se a minha alma
e a tua tiverem o tamanho
a força e a imaginação
do mundo que a gente inventa
bordado de milhares de risos
e de todas as mais absurdas
c o n t r a d i ç õ e s...






13.05.2008 - 03h41min

Ponto Com sem Bê Erre?


Não erre, não ajuste
nem atualize a página que for.
Aqui se faz
o que se faz
aqui se paga
a quem se presta.

O quê?

Sarcasmo
ironia
à venda as palavras de Che
manuscritas
ao mesmo tempo
emaranhadas no comprometimento
da madrugada de preciosa companhia
entre um jogo consentido de risadas.

Não prometer é dívida
já que o pecado não tem endereço certo
portanto pode perfeitamente
morar, não ao lado,
mas na tela da frente.
Seriedade nas horas mais impróprias.
No meio da noite
duas seguidas.


Segue em frente o rojão de mistério
que envolve plenário e platéia.


Não sei ensinar o uso de armadura
ouso demais pra vestir uma.
Sequer sei como se abotoa
as presilhas do elmo
ou como se empunha
o veneno que atordoa.
Não sei também a nomenclatura
da tecla que bloqueia
muito menos a que perdoa.


Mas sei de destemor
e de desmedida,
igualmente de dor
e de despedida.


Só por isso
(e por saber que amanhã...
talvez...)
esse BOM DIA
se tornou boapedida
ponto com
ponto bê erre....




13.05.2008 - 03h35min

De perguntas e respostas

Algumas perguntas nos perseguem. Talvez as respostas também nos persigam, latas presas ao carro nupcial que nos leva, desde que casamos com a vida. Até que a morte nos separe. Ou não. (Escrita em 15 de abril de 2008) 13.05.2008 - 01h40min

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sina


Poesia é a maldição do poeta
impelido a desnudar-se
ante olhos curiosos e invasivos
que perscrutam os versos
os reversos, os signos e os sonhos
que o primeiro sequer tentou
exprimir
ou
espremer
das entranhas da atribulada alma
perseguida pelas orações subordinadas
ao duro escrever nem um pouco sintético.
É atlética a dança da caneta sem canção ou par
na pista clara e completamente vazia de sentidos
que despudoradamente lhe oferece a chance
de dizer o não-dito ou o inter-dito ou o...
Ah... um sussurro
um lamento na folha virgem
e todos os leitores do mundo saberão
que o que te passa pelo peito, poeta,
é essa dor, é essa angústia, é essa alegria
de, à Poesia, jamais poderes dizer
NÃO!




12.05.2008 - 23h23min

Sombreado


Sombra que me habita ou

que me persegue ou

que me devora.



Sombra que me define ou

me permite o sopro do invólucro

que tenho e que não assumo

na diária corrida ao encontro

do desejo

de

sem sombra de dúvida

apenas







SER.











12.05.2008 - 22h58min














Da importância da solidão

Não me pesa a solidão dos meus dias. Velha companheira, não me vejo sem ela, sem os seus acordes diários nas frias madrugadas de outono ou nas perfumadas tardes primaveris. Amiga de todas as horas, ri comigo e verte copioso pranto quando entristeço. Conhece-me por inteiro, a solidão. Mãe da noite, irmã do tempo, sopra o calor do verão no peito frio e é companhia certa, certeira flecha embebida em veneno poético lilás. É ela que me permite o verso absurdo colhido de sua fértil presença branca. De sua saliva é que escorrem os verbos que molham a folha carente da poesia que verte dos meus dedos assim meio que em cascata sem nexo ou correção rítmica alguma... É do ventre da solidão que nascem meus escritos e minhas linhas tortas as palavras mortas que o instante insiste em ressuscitar. Ela, a solidão... 12.05.2008 - 22h35min

Tons

O tom é um tanto grave agudos são os ecos nas grutas derramadas nas fileiras das frestas das almas atormentadas por fantasmas ensandecidos e musicais. É grave o passeio pelas alamedas cobertas de folhas secas, soltas ao vento de outono, nos frios dias de um maio gris. É aguda a voz da gralha que graceja da dor deixada pra trás. As notícias não são as melhores nem as perspectivas as mais azuis; só os bois andam na frente dos carros e os cavalos galopam nos campos como se nada dissesse respeito a eles. E nada diz. Nem a ti, cego passante pela minha vida. São os meus dias que assombram a esperança de cores rosadas e um amanhã que pertence a outrem. São as esferas entortadas pela força de uma história já escrita que rege a orquestra da terra e que permeia o silêncio da noite, coruja insone de alma artista. 12.05.2008 - 20h34min

domingo, 11 de maio de 2008

Limite


A tora descascada da vida

anda cansada e desiludida

de nada mais ser

além de força, cansaço e





solidão...











11.05.2008 - 21h30min

Sapientia


Rangem as correntes

que carregam as apostas

entre os dentes

de babas expostas.

As torturas que infligem

dor ao saber

não são legítimas.

Há engano na voz

que grita da bancada:

"Tudo exige busca suada!".

Mentira. Bobagem.

Há prazer no caminho

da descoberta diária

e, nela, o peso das correntes

não tem vez.

É leve a bagagem

do cientista maluco

do aluno curioso

do professor desacomodado

que parte do inesperado

pra cair no assombro.

Sabedoria é a chave

que abre o cadeado da ira,

liberta as línguas malditas

e faz ferver as falas arbitrárias.

Sabedoria é raridade

em terra onde se pensa

que nada haja pra ser descoberto

por qualquer reles mortal.





Correntes rangentes de medo

um dia se rompem

e aí...

talvez...





sapientia...




11.05.2008 - 21h21min

Dias


Na virada do dia, perco a noção exata da fuga
não sei mais se fui tua sombra ou se exerci patrulha
sobre os limoeiros plantados na porta da igreja vazia.
As folhas secas cobrem os caminhos que trilho
premonições de dias escuros e longas jornadas.
Fecho o jornal da semana passada. As notícias são as mesmas
que todos acompanham, sedentos de sangue avermelhado.
Azuis são as preces que não alcançam um céu de anil
e as obras são vagas, são restritas às quermesses
das noites de sábado dos junhos frios. Juno ferve.
As pequenas bonecas dançam nas mãos da menina
que ri e fala sozinha, com diferentes vozes,
a narrar a trajetória singular de tão singulares personagens.
A inocência salva a alma, lava as feridas, cicatriza as dores.
Ver o que pode ser visto é mais que privilégio.
É quase abandono.
A porta do armário abarrotado de louças não fecha direito.
A porta do horário abarrotado de compromissos imprevistos
que não serão aceitos nem deletados,
apenas escritos no livro da vida...


11.05.2008 - 19h08min

Luzes e mitos


Somos mitos.
Somos mentes.
Somos muitos.
Somos mentiras impertinentes.
Somos desconcertos permanentes.
Ambulantes e desafinadas canções
que ninguém consegue entoar em coro.
Somos sementes.
Descabelados, perambulamos exaustos
e desavisados entre outros iguais
que tateiam a esperança da reviravolta
mas não voltam nem reviram
nem revoltam a aliança.
Somos semelhantes às estrelas
aos rebentos que não nasceram
por absoluta falta de tempo ou de memória.
Somos restos de luzes ovais
que se espatifaram no cosmos
e resultaram em nós.
Somos tudo e nada cotidianamente
e não nos damos conta das carruagens de fogo
que nos atravessam as têmporas e os caminhos.
Somos cegos e errantes, tentando acertar.
Estamos sós.





11.05.2008 - 17h09min

Insônia

Às vezes, a gente esquece da hora, o sono esquece da gente e a noite também. Então se pode medir um tempo que não existe ou que até existe, mas o relógio não tem. É o prazer da palavra leve e bem dita sem preocupação de horário ou da labuta diária, sem o stress cotidiano que altera qualquer plano e deixa os viventes meio reféns de si mesmos entre os implacáveis ponteiros que gritam: "É tarde!". O coelho, de Alice, que o diga! O silêncio da noite insone é bem-vindo. Faz a lua flutuar em pensamentos desordenados, mas, quem quer ordem, em plena madrugada? Quero mais é navegar no sono alheio conversar com quartos, quintos, terceiros, enxergar muito além do que me permitem os travesseiros. Quero mais é abrir as portas da noite e embriagar meus sonhos de estrelas cantantes. Quero o descompromisso do sereno frio que gela os ossos mas não alcança a alma, essa, enrolada em seu cobertor de carinho. Quero a impassividade de quem sabe onde quer chegar e o ouvido atento, os olhos bem abertos e os passos contados, pra não errar. De novo, não. 11.05.2008 - 03h27min

sábado, 10 de maio de 2008

Cheiro de filha, amor de mãe

Telefone tocando madrugada de sábado voz próxima, frescor de inverno debaixo da pilha de cobertas coração aquecido e as vírgulas os pontos as exclamações que se perderam ou se congelaram na noite de sexta Aninho meu corpo ao corpo quente de minha pequena filha a felicidade tem o cheiro dela a alegria tem o cheiro dela a leveza tem o cheiro dela e as vírgulas os pontos as confusões estão em algum outro lugar bem distante do cheiro dela Telefone toca madrugada de sábado véspera do dia das mães a essência de ser mãe tem o cheiro dela da minha filha 10.05.2008 - 14h59min

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Do dia em que Ana Terra saltou das páginas de um livro




Visita ilustre, Ana Terra brotou das páginas escritas por Érico.
O Tempo soprou na memória e Ana Terra esqueceu a saga,
Esqueceu a hora, esqueceu o horário do trem. Esqueceu!
Esse mesmo Tempo deixou de presente um restinho de memória
Nos barquinhos de papel, soltos em dia de chuva, ao vento...
O Vento soprou nos cabelos, clareou as madeixas e a pele,
Deixou na boca um beijo com sabor de chocolate.
Ana Terra, traduzida em ilustrações de histórias infantis,
Nos livros que passeiam entre os dedinhos inocentes
De crianças que ela não conhece, mas que conhecem os traços dela.
Ana Terra.
Quem disse que um dia saltarias dos lombos dos cavalos
Desse épico gaúcho extraordinário, e estarias assim tão próxima,
Tão viva, tão bem desenhada, entre os alunos de nossa escola?
Contadora de histórias, esperamos ansiosos entre aquarelas,
Colagens, sucatas, canetas e patos que perderam o P.
Perderam ou esqueceram? Tsc, tsc... ai, essa falta de memória
Ainda vai transformar a Terra em Lua. Se assim for, muito bem.
Mas se não tiver chocolate, nem vem que não tem.
Sai pra lá!






*Em homenagem à grande ilustradora e autora de livros infantís, Ana Terra.



09.05.2008 - 17h58min

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Energia


E eu, que mal sei de mim,
dei de cara contigo e fiquei assim
meio bamba das pernas
meio transbordante de sins...
Meio, porque, se fosse inteira,
não seriam sins,
esses todos que escorrem de mim;
seriam flores e canções,
plantadas e compostas
entre as costelas de um anjo
que dançasse com outros
querubins...




08.05.2008 - 22h36min

Bússola


Pra que lado fica

a saída da saudade?

Em que rua eu entro

pra encontrar o começo

da meada de delícias

que cabe inteira

na minha mão direita?

Qual é o endereço

do meu sonho mais precioso?

Essa linha de ônibus

passa pelo teu corpo?

O Norte fica na minha frente

se eu estiver atrás de ti?

O Sul é pra cima,

pra baixo

ou pra trás da vida?

Será o meu Sul

o teu Norte?


Na falta de uma bússola,

proponho olhos fechados,

um giro sobre o próprio eixo

e um demorado desmaio.

Depois disso, um longo beijo.



E nenhuma direção

será mais importante

que a que me leva ao teu coração...






08.05.2008 - 20h54min


Estrofe

Ando procurando O diapasão que me dê o tom exato da canção da minha vida. . . . 08.05.2008 - 20h08min

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Espectralismo

Engravido do desejo
de parir A canção.
Concebo a harmonia. Os primeiros acordes: sílfides nuas e livres, a dançar. Um Si Bemol escorrega entre meus dedos trêmulos de luar. Um Ré volta atrás, arrependido. Dou o tom da estrofe catártica. Arrepio a pele crua. As cifras, todas, de pé. Aplaudo. 07.05.2008-22h10min

Eu SOU


Sou um ponto de interrogação
diante de um espelho mudo.
Sou um ponto final,
entre outros dois iguais.
Sou aquilo que não se vê,
aquilo que não se toca,
aquilo que não se percebe,
mas que se pressente,
entre um sopro de lua
ou um raio de sol escaldante.
Sou o amanhã cambaleante
sobre as pernas de um hoje
que se desprende.
Sou a pressa e a imperfeição
juntas, inseparáveis.
Sou a cegueira e a visão,
o marasmo e a enxaqueca
depois da impertinente visita
da solidão, que se despede.
Sou alegria, rebeldia, exaustão.
Inconformismo preso na forma
retangular dos óculos prateados.
Sou barulho e silêncio.
Duas partes opostas
guardadas entre as portas
que protegem o que há em mim.

Eu

SOU.



07.05.2008 - 19h21min

terça-feira, 6 de maio de 2008

Substantivo feminino IV

Descabelada, acordou. O pesadelo interrompeu. Toalhas limpas buscou. Pão e mel comeu. Saiu à rua, no mundo entrou. Sorriu à lua, asas criou. Voou. Loucura. 06.05.2008 - 23h46min

Substantivo feminino III

Ela entende, perdoa, portanto esquece. Ela aceita, releva, portanto esquece. Ela ouve, desculpa, portanto esquece. Ah, não, o perdão é masculino, dirás... E eu te responderei, com um sorriso maroto: feminina é a compreensão, meu garoto. 06.05.2008 - 23h41min

Substantivo feminino II

Paixão: aquela coisa que te pega, te amarra, te enleia, te deixa tonta, meio perdida, partida ao meio. Paixão é coisa de louca de doida varrida de quem não tem amor pela vida. Ou tem. Vai saber... Isso mesmo! Ela te engole inteira, sem nem mastigar! Vixe Maria Santíssima! Mas está em mim e eu não sei como me livrar... 06.05.2008 - 23h37min

Substantivo feminino

Alegria canta alto na rua não liga pra cara de espanto do cara amarrada que passa ao lado sem entender nada. Claro que não! Alegria é substantivo fe-mi-ni-no, meu irmão! 06.05.2008 - 23h34min