segunda-feira, 21 de abril de 2008

Inspiração

Inspiração é coisa que a gente planta entre as fagulhas deixadas pelo poeta. Molha na língua o gosto da vida e aquece o peito enrolado na manta. Inspiração a gente colhe dos passantes que tomam suco de melão e aguardentes. Inspiração é aquela estrela que a gente ainda não vê porque o sol arde forte entre nuvens esvoaçantes. Inspiração é bicho de pluma e asa enorme que voa sem avisar nem dizer porquê e a gente até acredita que ela não volta até que de repente, ela grita o nosso nome. Inspiração é amiga revoltada e carinho no rosto é pele arrepiada e beijo no pescoço é sorriso disfarçado e voz rouca é tristeza repentina e dor louca. Inspiração é isso mesmo que envolve a gente e faz crescer o desejo de riscar de caneta o papel, a tez, a parede, a mente de palavras que talvez nem tenham muito sentido mas que estão impregnadas de sentimento. 21.04.2008 - 17h

Procura

A procura é uma das minhas inquietudes estou sempre à procura. Procuro por ele, procuro por mim, procuro por nada, procuro o sim. Busco aqui, acolá, mais adiante, e dou de cara sempre com um gigante que se chama vida, a me olhar, impaciente. Ai, ai, ai, que moça mais impertinente, que não sossega nunca, que anda sempre pra frente. É assim que passo meus dias. São assim minhas insones escurescências. Essência de rosas no incenso queimando no meu quarto. Não espero. Nego os braços cruzados. Se páro, é só pra renovar as forças. Movimento é meu lema. Movimento a minha vida. O gigante que me abraça e cura qualquer ferida. Na rua, acendo os olhos. Na tela, acendo as luzes. No espelho, acendo a alma. Vou em frente, que atrás vem gente. E nunca se sabe até onde se pode inventar uma nova doçura. É o que eu quero: a alquimia do dia-a-dia. A invenção de um novo amor pulsante. 21.04.2008 - 16h13min

Renovar

Terminei a faxina da casa (feriado, sabe como é...) e aproveitei pra fazer faxina na vida com o pó, foi a tristeza com o lixo, o cansaço com a sujeira, a desesperança. Agora, banho tomado, cheiro de limpeza no ar, sinto o peito renovado e estou pronta para amar. Ah, não dou mole não não vim pra ficar sozinha não estou aqui pra curtir solidão. Meu negócio é companhia. Se for boa, fique até que queira ficar. Se ruim, vá embora, que eu não quero me chatear. Quero paz, alegria, doçura e carinho. Sem isso, não sou ninguém. Mas recomeço sempre, se não tiver alguém. E agora não tenho. Estou à procura. De novo. E quantas vezes forem necessárias. Até que... Eu morra? 21.04.2008 - 15h30min

Gênero

Passado e futuro, substantivos MASCULINOS. Alegria, substantivo FEMININO e bem se vê que ela faz parte do nosso universo. Passado bem vivido, Futuro bem esperado, Alegria o tempo todo, inda que um resto de lágrima no canto de um dos olhos tenha ficado. Alegria é companhia certa na roda de amigos inda que o peito pese e que a folia seja apenas um escape. Escapa da tristeza prolongada, deixa a dor no passado que é substantivo masculino e pode te proteger dela. Escolhe sempre o sorriso hoje, aqui, agora e espera encontrá-lo de novo lá adiante como foi em outros tempos, como foi outrora. Vive o instante presente, também masculino (cá entre nós, ainda bem) e engole o mel do momento doce que não volta mas que haverá de ser sempre teu. Aos 52 minutos do dia 21.04.2008

Proteção

É preciso dormir. Reconhecer que outro dia se foi e o prato das novidades permaneceu vazio. A tinta do cabelo ruivo escorrendo pelo corpo debaixo do chuveiro quente o cheiro do shampoo suave e as extremidades dos membros cheias de espuma macia vermelha. Os cachos molhados se alisam. São lisas as horas sozinhas escorregam entre os dedos feito sabonete molhado. Passam. As passagens estreitas são vales que não levam a lugar algum. O escuro é silêncio. O silêncio é a porta de entrada do suspiro profundo. As camisas, as saias, os mundos, se diluem no espaço inventado. Juramento sacramentado: na próxima vez a porta estará trancada. 20.04.2008 - 02h27min