sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ousadia


Viver é passar.
Cumprir os dias
como quem parte
sem jamais andar.
Viver é unir
os pontos e as pontas
de luas distantes
sem direito à desistência
nem ao cansaço.
Viver é contar
descabida história-
autor e personagem juntos
sem nunca se falar
nem saber o fim da estrada
mas sofrer o acidentado percurso
um com o outro
de mãos dadas.
Suada e suave distância
entre o que está feito
e o que será.
Viver é enfrentar
o parto diário
das incompreensões e alegrias
todas juntas
sem fissuras
ou enfeite de estrelas.
Viver é desacelerar o peito
empreender as forças
aprender a dança
dos desesperados.
E esperar.
É desencontrar
sem ter-se perdido.
Perder
e não compensar.
Viver é nada além de
ousar...







08.01.2010 - 23h32min

Depois


Depois da curva vem alguma coisa
que quaisquer desconhecem
depois da estrada, depois da juventude,
depois da virada, depois de depois de hoje,
talvez nada haja que valha
ou que tudo valha mais que ontem
mas que escondido permanece
por tempo (in)determinado
provavelmente esvaziado
dos olhos limitados
pela inconstante medida
que nada sabe
dessa (ou de outra-s-) vida.
O que existe depois da ruptura do momento
da explosiva gargalhada
da presença permitida
-ou nem tanto-
da gota escorrida face abaixo
interrompida por um lenço de papel
o que existe depois do segundo minuto
do qual quase nada foi palavra
do lampejo existido
no fio da cega navalha guardada
na bainha da cortina do instante
rasgada ou cortada
-tanto faz-
por espada ou centelha de fogo
por raio de luz ou reluzente sombra disfarçada.
O que existe depois
de depois
de depois
de depois
talvez permaneça
num paralisado depois de hoje
ou num caminho desviado
de um sonho que vivido fora
ontem
ou depois de ontem
ou depois do abismo
ou depois do retrato congelado
ou...






08.01.2010 - 18h34min