terça-feira, 13 de maio de 2008

Oração


Santa Poesia, rogai por nós
reles instrumentos imperfeitos
de versos sem sentido
e questionáveis ritmos.
Rogai por nós
seres limitados e infames
tentando explicar tuas formas
teus sabores, teus encantos,
teus tormentos, teus quebrantos.
Rogai por nós
pretensiosos e arrogantes
de saberes engordados mas
vazios, de cansados semblantes.
Santa Poesia, rogai por nós.
Tende misericórdia dos gritos que damos
das chamas que ateamos nas folhas brancas
inflamadas pelos verbos que nunca usamos.
Tende piedade, Poesia,
desses nossos sonhos tão vastos,
tão inclementes, que ousam querer dizer da gente
quando nem a gente sabe o que nos vai aqui.
Tende piedade, Poesia,
desse desejo incontrolável de beleza
dessa urgência latente de estrofes mil.
Somos pecadores de palavras escolhidas.
Tende piedade de nós, Poesia.




13.05.2008 - 23h48min

Profecia

Quem pode saber o próximo movimento? Se pode machucar ou acolher, quem dirá? Os cacos da bola de cristal jazem, inertes, no tapete da sala vazia. Olhos mirando um horizonte inescrutável. O silêncio infla o espaço dilatado de pupilas estranhamente azuladas. Quem pode apostar no que não está? Quem abraçaria o escuro sem vestimenta alguma? Que espécie de entrega é essa que não pergunta nem padece do mal da curiosidade ruminantemente secular? As molas impulsionam para cima. Nenhum temor é pertinente diante da irretocável inocência ou da esperada coragem. De quem? 13.05.2008 - 23h13min

Tênue linha

Publico minha impressão da brevidade talvez para afugentar a sensação de abandono diante de tão constante presença: rondam-me as vestimentas frias do anjo nu deslizando lentamente pelo contorno das horas. Não se apressa nem se apresenta. Impera. Sabe-se definitivo e sempre cedo. Nunca passa despercebido. Rastro de sebo de vela e crisântemos molhados de água salgada e benta. Abençoado seja o sopro extinto. Voe em paz. 13.05.2008 - 22h50min

Inevitável

Teimo em trilhar o caminho oposto busco no oculto a imprecisão diária que atormenta os dias e as pregas das cortinas bailantes ao vento do Norte. Ouço música. Vejo vozes. Convivo com o que inexiste. Desnorteio o que está por vir evito previsões antecipadas das dores. São elas as visitas que espero sem pressa por saber que virão, sem dúvida alguma. Acumulo forças para a batalha final; se suficientes, quem poderá saber? Mas divido comigo mesma a apreensão. Foge-me o sono e os sonhos são brancos delírios sem pé nem cabeça, muito menos compreensão. Os primeiros sinais se anunciam extingue-se a esperança de melhores dias. São longas as noites. São duras as horas. São presos os cansaços. Não há tempo para eles. Nem para os lamentos. O horizonte está à frente. É pra lá que nos dirigimos. Para o bem ou para o mal. Pois que seja o que tiver de ser. 13.05.2008 - 22h32min

Noturno

O lumiar noturno pinga versos que escorrem pelos cachos dos cabelos avermelhados e vêm deitar no rascunho riscado de femininos traços firmes de rima e razões. Sensualidade natural enluarada instante úmido de sereno gélido em que a luz é difusa e os aparelhos não captam o tom preciso da melodia que não desafina uma nota sequer. Lampejos de memória inexata na tarefa por fazer de todos os dias. Sobre a estante de livros fechados, um se sobressai entre tantos: o que ainda está por escrever.... 13.05.2008 - 19h08min

Paráfrase


Tudo vale a pena
se a minha alma
e a tua tiverem o tamanho
a força e a imaginação
do mundo que a gente inventa
bordado de milhares de risos
e de todas as mais absurdas
c o n t r a d i ç õ e s...






13.05.2008 - 03h41min

Ponto Com sem Bê Erre?


Não erre, não ajuste
nem atualize a página que for.
Aqui se faz
o que se faz
aqui se paga
a quem se presta.

O quê?

Sarcasmo
ironia
à venda as palavras de Che
manuscritas
ao mesmo tempo
emaranhadas no comprometimento
da madrugada de preciosa companhia
entre um jogo consentido de risadas.

Não prometer é dívida
já que o pecado não tem endereço certo
portanto pode perfeitamente
morar, não ao lado,
mas na tela da frente.
Seriedade nas horas mais impróprias.
No meio da noite
duas seguidas.


Segue em frente o rojão de mistério
que envolve plenário e platéia.


Não sei ensinar o uso de armadura
ouso demais pra vestir uma.
Sequer sei como se abotoa
as presilhas do elmo
ou como se empunha
o veneno que atordoa.
Não sei também a nomenclatura
da tecla que bloqueia
muito menos a que perdoa.


Mas sei de destemor
e de desmedida,
igualmente de dor
e de despedida.


Só por isso
(e por saber que amanhã...
talvez...)
esse BOM DIA
se tornou boapedida
ponto com
ponto bê erre....




13.05.2008 - 03h35min

De perguntas e respostas

Algumas perguntas nos perseguem. Talvez as respostas também nos persigam, latas presas ao carro nupcial que nos leva, desde que casamos com a vida. Até que a morte nos separe. Ou não. (Escrita em 15 de abril de 2008) 13.05.2008 - 01h40min