terça-feira, 22 de julho de 2008
Fina trama
Delicadamente costuro retalhos
com linha quase transparente.
São pedaços de mim que espalho
entre os lençóis da cama desfeita.
São espasmos de minh'alma
e histórias que já não ouso ouvir.
São desenhos de estradas frias
e cantigas distantes de passos sombrios.
São risadas desdobradas
nas noites de um verão guardado
entre as memórias mais caras
entre os porões das lembranças
que escondo das vinganças
de quem nunca, jamais, sorri.
São os passos escolhidos e dados
e as conseqüências dos fardos
e as consciências do que me fez feliz.
São meus pesos e minhas medidas,
meus pecados e minhas partidas,
meus remendos,
meus encontros,
meus jazigos,
meus membros,
meus medos,
meus escombros
meus tudos...
tudo que sou eu...
Os retalhos fazem parte dos retratos da fina trama
que costuro l e n t a m e n t e
como se uma enorme festa estivesse a me esperar
como se um raio de sol, único, diferente,
me cobrisse por inteiro, desde o Oriente.
Recolho os retalhos mal-costurados e que me são caros.
Chuva de letras curvas deles faço
e disfarço o interesse maduro despertado.
Vale o jogo presente na fina trama,
que vela pela sorte de quem arrisca
a descoberta do que existe no conjunto dos retalhos
na costura final da colcha colorida...
Aos 7 minutos do dia 23.07.2008
Quebra-cabeças
Pacientemente, ele monta as peças. São mais de mil, espalhadas pelo chão. Quando pensa ter encontrado o encaixe... hummm.... não era essa, não...
De vez em quando as peças se perguntam de onde ele tira tamanha dedicação. De onde o interesse por essa forma de diversão? Afinal, há tanto tempo dispensa atenção às peças, que estabeleceu com elas uma espécie de amizade bonita.
Sobre a mesa, lentamente, vai tomando forma a montagem. Prêmio mais que merecido.
Sobre a mesa, agora perfeitamente perceptível, o desenho do quebra-cabeças incompleto: as curvas de uma mulher e seu misterioso colar de pérolas...
22.07.2008 - 01h30min
*Pequena prosa poética
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