domingo, 31 de janeiro de 2010

Quem sou eu







Sou um i sem pingo ou 
um pingo sem i... 
Um rasgo na cortina do tempo ou
um traço no anônimo lamento. 
Sou quem fui ou 
talvez uma idéia do que serei. 
Sou um verbo ambulante ou 
a ambulância onde o verbo se perdeu. 
Sou farmácia e doença. 
Sofrimento e dança. 
Mentecapta. 
Criança. 
Sou poeira e razão. 
Companheira e ilusão. 
Sou música e mudança. 
Impermeável semelhança. 
Com o que? 
Não sei.
Além de tudo 
ainda não me inventei...










31.01.2010 - 23h20min

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Marulho

Longe, imenso Mar
distante som de um 'celo'
canção em DIMenor.
Que versos arrastarão
as ondas do poeta negro?
Suponho
contrapondo Nietzsche...




segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Implícito

Troquei visita com as tuas cruzes
e as faixas penduradas nos teus armários
manchadas de cicatrizes.
Não vi teu riso
extinto há tempos
dessa tua boca surda.
Contei os pontos
dedilhei as cordas
suavemente.
Sem pejo
vasculhei as iras
ironizei as luas
frias
cruas.
Tranquei a visita
num canto do medo.
Intimidei o corte.

Voei.







25.01.2010 - 16h12min

Tombar

O meu amor 
é um cabo de guarda-chuvas
virado do avesso
sem préstimo algum
sem data de fabricação
nem nome do proprietário
nem nome do inventor.












25.01.2010 - 16h04min

Tambor

Fisguei o canto da letra
guardanapo vermelho macio
desperdício ilusório
canção de galo arredio.
Desfiei o valor do salário
na vírgula cansada
no tremor do arrepio.
Não ousei dizer o contrário
nem amparei a nuvem cinza
sobre a frase errante
de doentes bordas virís.
Pisei fundo e vilipendiei
os deuses
os astronautas
os inventores de leis.
Construí o meu mundo
e nele me instalei.

Pago meus erros
meus pecados
meus defeitos
todos
sem cuidado
ou alívio
ou saber.

Meu mundo
tem quatro carvalhos
e uma janela
vazia de imensidão.

Escrava falsa
aceito o fado.

Danço na última cratera da lua
no último anel de Saturno
na última estrela que brilhar.

Escrava falsa
'proibido se queixar'...






25.01.2010 - 15h58min

Quem é você?






Pois essa mesma pergunta 
ao meu espelho eu fiz 
e ele responder não soube.
Ficou todo atrapalhado, o infeliz! 
De manhã me disse que eu era uma louca

despenteada
inchada
amassada 



sem 


sal! 


À tarde mudou de idéia
inventou-me um brilho tal
de madrasta ou de medéia
que não sei d'onde tirou. 


À noite
pra surpresa de quem pergunta
sem menos nem mais 
chamou-me artista,
que de tudo sou capaz. 


No dia seguinte
sem papas na língua
desfiou-se em predicados 
que não sei onde encontrou. 
Entre os bons 
e os menos citáveis 
fiquei com o mais provável
embora ainda tão 
deficiente
e incompleto




MULHER SEM RIMAS
(assim mesmo
é o que parece...).














25.01.2010 - 15h20min

Vácuo


Aliança gasta
ocre gosto
castanho suor.
Vibram as farpas
nos perfumes amadeirados
nos finos linhos do Sim.
Sons diluídos na vertigem
malhas de algodão macio
retratos amarelos no jardim.
                                                     Se é verdade que tudo passa
                                                     porque essa falta não tem fim?



25.01.2010 - 12h50min

Responsório





E se a canção
sem acompanhamento
um canto à capela
for solitária
- a solidão é sempre um começo -
e os sinos dobrarem
sem aviso
ou prévio motivo,
se os quadros
embaralhados
e suspensos nas cercas
estiverem cansados
e previstos ensaios azulados
atenuarem os princípios,
então a manhã abrirá outras portas
outros suspenses
outras palavras
pra gente acreditar de novo
e mais uma vez...




25.01.2010 - 12h05min

sábado, 23 de janeiro de 2010

Desencontro

Nossos tempos são diferentes
os caminhos são outros
os teus, centrados
desconexos, meus.
Meus tropeços não findaram
nem começo tiveram, os teus.
De conquistas minhas, pouco sei
de todo o meu resto, desconheço.
Cheguei muito antes
muito depois te encontrei.
Nossos caminhos
nossos tempos
nossas teimas
nossos experimentos
são outros
diferentes
diversos.
Eu cá dentro, simplesmente.
Tu... não sei...




23.01.2010 - 22h34min

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

456 anos



Eu amo e temo São Paulo.
É lá que as coisas acontecem.
É lá que nasce todo enredo.
É lá que brotam os orvalhos
e as orvalhadas orgias
de cimento e novidade.
É em São Paulo que brilha
o brilho eterno do começo,
da descoberta,
da saudade.
Também é lá que o sangue
escorre na calçada
e que a saída
pode não ter volta.
É lá que o mal se mistura ao bem
quase em pé de igualdade.
É em Sampa que o bicho pega
e que existe esperança.
É lá que vivem pessoas incríveis,
que levam minha admiração
e minha eterna confiança.
Sampa é viva
é suja
é bonita
e tem todos os ingredientes
que se procura
numa cidade-artista,
é louca,
é livre,
é receptiva
traduzida em versos
prosa
canção
e fotografia.
Sampa é braços abertos.
É dor e alegria.
Eu amo e temo São Paulo...




22.01.2010 - 03h03min

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Decisiva




Se for quase,
não aceito.
Menos que tudo,
nem ofereça.
Pra perder,
não tenho tempo...




20.01.2010 - 23h10min

Rogai por nós





A poesia é meu grito
minha reza
meu lamento
desabafo, intrusão.
A poesia é minha máscara
minha estrela
meu perdão.
Meu protesto
minha amplidão.
A poesia é meu reverso
minha medalha
minha moeda
solução.
É meu diário
meu confessionário
meu chavão.
A poesia é minha estrada
minha marca
minha esquisitice
minha pretensão.
Minha vingança
meu rumo triste
meu alimento
minha mais preciosa invenção.
Meu rótulo
minha rótula
minha medicação.
A poesia é meu invólucro
meu intento
minha iluminação.
Minha estrela
meu sarcasmo
minha saciedade
minha salvação.







20.01.2010 - 22h18min

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fugidio



Avermelha o horizonte
a queda d'água
desperdiça a atitude
e as correntes não prendem
nem ponteiam os acordes
que os canários não cantam.
Desmentir o tempo
é jogar-se em função inválida.
Com ou sem teu consentimento
outro dia se fará.

Melhor outras alternativas criar.




18.01.2010 - 17h39min

Confiança




Peito
alma
corpo
intuição.






Aos 35 minutos do dia 18.01.2010

Propriedade






O sangue que na veia te corre
sem juras ou descuidos temporários
é teu.
O tanto ou o quanto assumido
com testemunhas ou sem
é vitória ou lamento assistido
depende de quem pretendeu.
Separa os dedos da noite
no frio da ansiedade de então
estranha o sorriso da lua
impõe lágrimas à solidão.
Nada há que se pareça
ao cuidado e tempo gastos
nas palhas das agulhas perdidas
nos terrenos abertos aos passos.
O soro que da veia te escorre
sem ajustes ou desejos
é teu...



Aos 18 minutos do dia 18.01.2010

Término



Bastam minhas fitas
e as fissuras nos joelhos pagãos.
Se enterneço a suposta alegria
cumprimento o contato não tido
o espelho quebrado na escada.
As prendas estão penduradas
nos ganchos de nuvens
dos colares azuis.
Tempestades de fios expostos
e certidões encontradas
n'algum depósito de cinzas
que o vidro esfumaçou.




17.01.2010 - 23h50min

domingo, 17 de janeiro de 2010

Noite






Adormeço, exausta, nos anéis da vida...



17.01.2010 - 21h37min

Retrato


Nas páginas do diário esquecido
rabisco flores e borboletas
sem pensar nem deliberar deveras.
São dez enfeites de sal
nas desordenadas linhas dos afetos.
As fotografias amarelecidas recordam
as coisas que vivi
e não dei importância
confinadas agora a pedaços de papel.
Antigos namorados
planos de barcos sem remos ou âncoras
plenitudes de instantes passados.
Vou competindo com o tempo
que passa
avaro.




17.01.2010 - 21h02min

Trama



Talvez as dicas
não precisem das horas
e as explicações tardias
sejam pingos dos 'is' resvalados
d'alguma insana profecia dormida.
Rabiscar telhados
é chover imprevistos.
A ingenuidade é irmã da insensatez
e acomete os poetas bêbados de rimas
sempre que os olhos deixarem de ver
o infortúnio das eras
nas palmas das mãos partidas.
Os versos longos
são frutos de linhas salientes
gás de lágrima
folha na planta do pé.
A cintura da vida
dispensa da castidade o cinto.
Assunto proibido
nas rodas da fortuna
ou nas dos excluídos
tanto faz
é tudo a mesma aberta lacuna.
As unhas esmaltadas
disfarçam o vício
a falta de sono repetida
a inspiração que não se afasta.
Os ocasos são mistérios mal resolvidos
acompanhados de letras opostas
rabiscadas à revelia
por algum cego sem lei.
A complexidade não resgata
nem assalta o ponto negro
na base do aveludado luto
que esconde os figos
e as feridas
abertas em cicatriz.



17.01.2010 - 20h12min
» Dom Quixote, de Vitor Reis »
http://fotolog.terra.com.br/viagensnoolhar

Bailar


Essencialmente é de luz e sombra
meu próximo passo de dança.
Nas pontas dos pés comprometo
a hora e a meia assumida.
Os plurais excessivos
discursaram no palco da vida
e esconderam os tules
e as atitudes pressentidas.
Acidentalmente as sapatilhas
alargam as estradas
e as tábuas do assoalho gasto.
Grandes as esteiras
escorregam nos perigos
e pintam de onças e picassos
as velhas medidas.
A brincadeira de roda e o banho de mangueira
perpetuam a estrela da infância perdida.

Nas pontas dos pés
valsam as luas.
Nostalgia.



17.01.2010 - 17h03min

Honorífico


Arremato a sensação única
de não estar sozinha.
Pesquiso alternativas outras
que levem à ordem seráfica,
das alusões aos lírios.
Um passo depois do outro.
Tranquilamente desperdiçados
os ninhos se misturam
na subida do morro.
Meu estilo é o caos concreto
a dança das cadeiras estáticas
os lados dos cubos espasmódicos
nas reviravoltas dos assoalhos dos mundos.
Conquisto os instrumentos das falas
e falho na aquisição de novas regras.
Sou exemplo de extermínio e sabotagem
no canto da planta do sapato de salto alto
quebrado na última dança. Tango.
Na bainha do dia
torço a expectativa da sala vazia.
Embrulho o papel
deixo pra lá os ajustes
e crio a seleção dos riscos.
Arrasto a prancheta
acomodo os gastos
desgasto as bordas das orelhas.
É meu livro que acumulo aos poucos
no meio das confusões e detalhes fortes.
Desmitifico a invenção da lua
e encontro a trégua
até a próxima jornada.
O encanto seguinte...





17.01.2010 - 15h

sábado, 16 de janeiro de 2010

Inquietude

Onde fica a frente?
Como se 'chega lá'?
Tudo depende de perspectiva?
Se morro um pouco a cada dia
porque deixo pra me arrepender
quando não existe mais possibilidade
dos meus erros consertar?
Ser feliz é o contrário de ser triste?
A memória genética comporta outras vidas?
Outras vidas explicariam minha falta de memória?
O remédio é a fórmula ou o preço da etiqueta?
O perigo mora na procura?
Desistir pode ser escolher outro começo?
Uma grande jornada começa pelo primeiro passo
ou antes do primeiro pensamento?
E se todos fôssemos iguais?
Os gênios entendem o mundo?
Quantos versos são necessários
pra desabafar?
A resposta mora mesmo na pergunta?
.
.
.




16.01.2010 - 02h03min

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Suficiente







Por hoje chega. Vou dormir.



15.01.2010 - 05h46min

Exílio

Sou esse arrepio que correu pela tua espinha quando sentiste tu'alma tremer. 
Sou teu contra 
e o meu favor. 
A tua perdição 
a petição de miséria 
assinada aprovação. 
Sou o termo extinto 
e a vida eterna. 
O côncavo 
e o infinito. 




Eu sou o todo 
e tu, em mim...




15.01.2010 - 05h24min

Concepção

Jogue-me uma semente
deixe uma migalha cair
cuspa-me um 'ai'
e disso farei minha poesia.
Não precisa rebuscar
palavras antigas lidas
n'algum remoto lugar.
Desnecessário criar outra esfera
ou fingir um recomeço.
Inútil pesquisar belezas
nos partos vividos por outrem.
Quero esses teus suores noturnos
a vida que brota de ti agora.
Quero tuas experiências particulares
e as construções que eu vi.
Quero teu sangue e tua alma
pra injetar nesses meus versos
e por eles dizer
que a poesia é fruto da vida
da voz que agora grita
da unha cravada na pele
da divisão perdida.
A poesia é fruto da tua seiva
combinada co'a minha.
Fala.
Reclama.
Pranteia.
São teus olhos
que eu desenho aqui.







15.01.2010 - 04h56min

Crença

Eu acreditava antes de saber 
hoje eu acredito porque 
provei senti toquei fugi e voltei atrás 
acredito pq é real 
inda que não se possa deter. 
Acredito na utopia 
na empatia 
e na alegria. 
Acredito em ti 
em mim 
e no terceiro quarto vazio 
que  
acredito 
transbordará de razões 
pra eu permanecer.


Acredito em tudo o que for bom acreditar.










15.01.2010 - 4h41min
Publicado na Comunidade BOA NOVA, UMA UTOPIA, 
no Orkut, uma de minhas respostas ao tópico 'Eu acredito pq'

Infinita SAUDADE ou Recaída


Não sei que estranha agonia me deu
um ponto no espaço
e lá estava eu.
A saudade é um aperto fundo
que rasga os pontos
derruba os muros
e entrega as forças.
É quase um ente
com vontade própria
e dor infinita.
Os ais, gemidos e manquejos
próprios da fatal doença
acometem de repente
afiadas facas duras
cortantes instrumentos pagãos.

E tu

nem sonhas
nem lembras
nem cogitas
a existência negada
que no feminino peito arde.
Ferida.




15.01.2010 - 03h44min

Esconderijo

Direi do poeta
que ele é um verso maldito
escandalosa rima doída
barulhenta estrofe dita.
Direi que foi paixão e loucura
ou reviravolta de um escrivão fantasma
que devorou a rua
e deliberou a frase sarcástica.
Do poeta direi calúnias
e incentivarei a prova
que incrimina as luvas
as mesmas que jamais foram usadas.
Do poeta cantarei deveras
despedirei as metades caras
dissiparei as brumas.
Direi do poeta a memória
e a calada ciência da vida
sem toldos nem gotas de orvalho
sem anjos ou mãos ressentidas.
Dele colherei as lágrimas
e saquearei o verso descrito
na última estrela mentida
no passo gigante do homem na lua.
Dele direi demências
e denunciarei  a bainha
o lençol revolto
o voo dormido.
Nele disfarçarei meus medos
fobias e empecilhos.
Vestirei meus olhos.
Roubarei meus quilos.
Armarei as rotas.
Conhecerei meus vazios.
No poeta.
Do poeta em mim.







15.01.2010 - 02h37min

Gostar e cuidar

A deixar de proteger os flancos
melhor entregar as armas
e dar-se por vencido.


Se o território te agrada
e se ele a ti prefere
trata de cercar suas entradas
regar-lhe as flores
podar os espinhos.
Se não o fizeres
outro fará.







15.01.2010 - 02h18min

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ciência

A abstração da coerência é filosofia. 
O cúmulo dessa abstração 
não poderia ser nada 
além de
poesia...


















14.01.2010 - 18h32min

Anuário


Este ano
todos os passos
marcados de estrelas
todas as flechas
pintadas de neon
todas as têmporas
protegidas
todos os enganos
confinados.
Este ano
tudo outra vez...





14.01.2010 - 17h01min

Iluminado

Um sopro de luz
da tua luz
jovem e pulsante
por entre as frestas
da porta lacrada.
Nenhuma dor impede a vida.




14.01.2010 - 15h11min

Quadro

São azuis as evidentes concorrências
e as rimas se sucedem nas canções
que não ouço
por absoluta comoção.
O trânsito impede a ponta da linha
e a agulha arremata o nó
no quartzo do relógio de pêndulo
que dói em mim.
Do outro lado, ninguém.
O eco mudo
o espelho aos cacos
a fechadura atarraxada no brinco.
O status quo questionado
nas ruas escuras e desertas
de um distante sentir.
As legendas não dominam as cenas
e os domingos são outros dias
mais iguais que os seguintes.
As mensagens se acumulam na caixa de Pandora
onde persiste a esperança
ou de onde emergem demônios e dragões
famintos de cinza avermelhada.
Nem choro nem ranger de dentes
só um suspiro quase inaudível
e um lenço branco
esquecido na soleira da janela.
Fecho o arquivo.
Outras pastas aguardam significados...





14.01.2010 - 15h

Surpresa

Dizia o poeta que depois da luz segue-se a noite escura
então, digo eu, o oposto também é a verdade crua.
Foi o que eu vi, foi o que ouvi e o que pude perceber nessa jornada de hoje.





E quando tudo parecia igual
sem nenhuma significativa alteração
sem perspectiva
nem de mudança a alusão,
depois de sacramentada minha jura,
tu chegaste.
Vieste silencioso e leve
no abraço da madrugada.
Sem cuidado ou pudor
descortinaste tua história
perfumada de verdade.
Teria sido um susto
talvez fatal queda
não fosse tua quase infantil inocência.
E agora?
D'onde a força pra resistir?
Mas pra que resistir
se nada me prende
e nada me impede
de arriscar-me à descoberta
de tudo o que contigo tens aí?

Silencioso e leve chegaste
no suave abraço da madrugada.
Ao partir, sonolento e doce,
deixaste, de presente,
um beijo de sol desse teu campo bom.

E eu não poderia resistir...






14.01.2010 - 6h50min
Boa noite... ou seria Bom dia?






Amanhecer

As noites esvaziam
as mesmas rotinas
escoam as desculpas
e uma insensível desfaçatez.
As madrugadas arrepiam
as castanhas formas arredondadas
das retinas cansadas
no límpido olhar de última vez.

O dia rompe o absurdo
com sol ou sem ele
a vida segue o curso
té que se rompa a veia...




14.01.2010 - 02h43min

Armadilha

Algumas perguntas
deixo de fazer
por educação.
Algumas respostas
finjo que não sei
por absoluta covardia.
O que acaba comigo
é não ter aprendido ainda
que cair sempre na mesma armadilha
é o preço das tais respostas
que eu minto não conhecer.






14.01.2010 - 01h20min

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Consciência

Um dia se é triste
no outro já se esqueceu
não é questão de leviandade
ou de perseguição
destino
sina
fado
e outros sinônimos
quantos se queira alternar
ou diluir nos fatos.
É questão de vida
e dos saltos que a vida dá.
Se são alegres ou são tristes
o valor não reside neles
mas no que nos resta
apesar e além do que existe.




13.01.2010 - 21h02min
Enquanto constato que um prato de Miojo bem temperado
tem seu valor no meu quinhão de alegria desse dia.
Amanhã outro haverá... E assim é a vida. Um dia de cada vez.
Pra todos nós...

Orfandade

Um dia se descobre
que o outro não era
assim tão inteligente
assim tão importante
assim tão interessante
quanto se imaginava ser.
Nesse dia fica-se meio órfão
não do outro
mas do que se pensava
ele significar.
O luto é duro e triste
mas passa
como tudo nessa vida
como tudo em qualquer vida
como tudo deveria ser....




13.01.2010 - 21h

Interligados

O Haiti balança
desmorona alguma coisa aqui
talvez só coincidência
talvez a possibilidade
de afinal não haver diferença
entre os quilômetros de distância
e homens igualmente arruinados
na mesma essência.





13.01.2010 - 20h

Preferência

Mudei de ideia
compreendi o todo
limitei minha postura
ponderei minha razão.
Comprei um espaço livre
aumentei os selos
selecionei as portas
melhorei as rotas
assumi minha posição.
Evidenciei a escolha
optei pela solidão...



13.01.2010 - 18h47min

Canção

http://www.youtube.com/watch?v=gQ_G5k6FBPw&feature=related



Como diria o Brunno, hoje eu sou essa canção...rs...





13.01.2010 - 18h

Alforria

Eu queria saber
de quantas carcaças
é feito o dia.
Quantos ossos de estrelas
rasgam a escuridão da noite?
Quantos Planetas
pra alcançar a vida?
Eu preciso saber
quantos fios amarram
os pulsos dos anos
e de quantos pratos de comida
dependem os portos do perdão?
Eu queria saber
qual é o melhor esconderijo
se dentro de uma bolha de sabão
ou se no brilho de uma espada incandescente.
Eu queria saber
como se dá um passo de cada vez
como se troca a ansiedade
por um mergulho na lucidez.
Quisera eu poder saber
se o sol derrete fantasmas de fato
e se a lua apagará meus olhos
ou se eles escolherão
por mim interceder.
Eu queria saber
se existe mesmo
ou se é só picardia
essa tal carta de alforria
minha última opção...







13.01.2010 - 01h58min

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fui

A saída nem perfume deixou
só uma porta aberta
vazia de todo.
Um dia o retrocesso
tua volta não conta
com a porta aberta
e o interior vazio
de todo.
Não estarei mais
no mesmo lugar de sempre
como sempre esperando.
Fui.









12.01.2010 - 16h33min
Depois que se é feliz
só se pode ser triste.
Nenhuma outra opção existe.

Sou

Eu sou a cicatriz que te horroriza
o dedo em riste que te acusa
a sentença que te absolve.
Eu sou teu não arrependido
e tua fuga diária
teu assunto mal resolvido
e a resposta que te apavora.
Sou teu endeusado demônio
tua sobrevivência mal vista.
Sou teu busto e tua crença
teu cristo amargo
teu regresso
teu desejo de vingança
teu solstício.
Sou teu primeiro desperdício
e tua próxima distância.
Teu mistério e tua invasão.
Tudo o que não ousas dizer
tudo o que pensaste em vão...





12.01.2010 - 15h56min

Encarnação

Se outras vidas vivi
homem, fui boêmio
de tuberculose morri.
Mulher, talvez invisível
dessas sem história
ou rastro ou perda
que valha a pena ver.
Secretária, talvez.
Talvez feminina feminista
de coldre na cinta liga
nada deixando a desejar.
Talvez tenha lido
A Paixão do Jovem Werther
e de uma corda feito colar
ou esfregado o chão
d'algum castelo secular
sem jamais chegar a conhecer
nem príncipes nem fadas-madrinhas
nem em cavalo alado cavalgar.
Se outras vidas vivi
talvez tenha criado ovelhas
talvez inda em criança morri
talvez um artista
que o mundo está por descobrir.
Feiticeira consorte espiã assassina juiz
freira escrava médico louca soldado meretriz
mensageiro do rei profeta cocheiro infeliz
do feudo, o senhor-escravo-raiz.
Talvez arrogante
talvez pacifista
linear ou não, cínica.
Talvez daí a falta de sono
a falta de apetite
a falta de superstição.
Talvez daí a sede louca
permanente cansaço
profunda solidão.
Daí, talvez, a muda agonia
a ferida no peito
a confusa desilusão.
Dessas vidas que me habitam.
Das vidas todas que vivi.


12.01.2010 - 13h13min

Talvez

Um dia falaram comigo
disseram de coisas
que eu não sabia
nem poderia explicar.
Contaram estrelas
mostraram tambores
zombaram dos rumores
pisaram esferas
falaram horrores
criaram raízes
abriram o peito
rasgaram as dores
descruzaram os braços
apontaram culpados
provaram inocências
construíram sabores.
Um dia mostraram os seguintes
com todos os requintes
com todas as cores.
Não foram presságios
nem frias bobagens
os arrepios nas bagagens
ou os algodões nas mãos.
Vieram em duplas
depois se desfizeram ligeiro
arcos de pura razão.
Um milímetro de movimento
numa fração de segundos
nada mais eram
que ilusão...








12.01.2010 - 03h15min

Os outros

Eu vejo gente
que duvido que morta esteja
e que tenho absoluta certeza
de que viva não está.
Eu vejo gente
pacífica
levando o tempo de um jeito
que não entendo bem qual seja
ou talvez nem deva tentar.
Eu vejo gente
pra cá e pra lá
o dia todo
toda a noite
verão e inverno
céu e inferno
ou clara manhã.
Essa gente fala ri anda resvala boceja corre sorri surpreende passeia compreende
e eu não tenho medo
nem tento ter.
Eu vejo gente
que morta não está...




12.01.2010 - 03h

Só por hoje

Sem inspiração, perambulo pelos cantos
dos círculos abertos por meus punhos.
São pontos de pastagens que eu não vi
ou intervalos de linhas nas agulhas dos olhos
que eu não pressenti. Não sei...
Calculo o tempo gasto na procura
do que eu jamais soube se existia
talvez o fato nem seja esse
ou seja só mais uma partida. Não sei...
Imponho uma opinião da qual nem tenho certeza
e assino voluntariamente a minha saída
de tudo o que desconheço
de tudo o que até então esperei.
Sem explicação alguma
fico à deriva
presa fácil de abutres
e outros quês nem tão hostis.
Retiro as declarações desnecessárias
e as conclusões precipitadas
que os sinais me levaram a ter.
Mentirosa fumaça.
Disfarçada promessa
que sempre soube não existir.
Amarro os sapatos.
Penduro os grãos de trigo.
Vasculho meus porões.
Removo quaisquer insignificantes sobras
do que ainda poderia haver.
Lavo a alma.
Repito o mantra sagrado.
Acordo.
Não aceito mais sonhar.
Vou viver.







12.01.2010 -  2h46min

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Mudança

Agora os termos são outros
agora outra sou eu
o passado está escrito numa história
que já se perdeu
outros tempos
outros rumos
outras memórias
prioridades outras.

Agora outra sou eu....


11.01.2010 - 17h56min

domingo, 10 de janeiro de 2010

Trajetória

Nem de longe
as  proporções são as mesmas
de quando tudo parecia em vão.
Agora há vãos enormes
nas tábuas dos pisos
bem no meio das portas
a trinco fechadas.
Nem de longe
sobreviveram as lacunas
calúnias que convivem
com maçãs meio mordidas
restos de inexistente paraíso.
Nem de longe
a franja esconde os olhos
de lágrimas secos e claros.
Sem resquícios
véspera ou
lembrança
o espaço fica livre
pra nada
pra ninguém.



10.01.2010 - 14h40min

Calada

Frios
os versos fervem
nas palmas das mãos sangrentas
gotejam amenidades
pingos de ironia
dores absurdas
de longos períodos estéreis
homeopáticas doses de esperança
insuficientes cordas
abstratas demais
de frouxos e cegos Nós.
Cético
o pulso descompassa a fé certeira
e a seleção já não é a mesma.
Ausentes
as estrofes dispersam
conotações errôneas.
A saudade não cabe
porque não existe.
O sufoco não sabe
o por quê de ser triste.
Larga
a vida se esvai
nas vielas imundas
de rítmicos dias vazios.

É sempre uma questão de tempo?




10.01.2010 - 4h13min

sábado, 9 de janeiro de 2010

Procura-se!





09.01.2010 - 22h44min

Ghost

Converso com meus fantasmas
quando os vivos não estão por perto
sou pega, às vezes, num desses colóquios interessantes
então não há desculpas ou explicações
se meus emissores não são vistos
resigno-me aos olhares curiosos
ou aos risos acusadores
que outra atitude se esperaria de um louco?
Traduzir as falas seria tarefa vã
partindo-se do pressuposto
de que elas são um apanhado de frases desconexas
ou de palavras soltas aqui e ali
fazendo sentido apenas para os envolvidos
- nós, os que não existimos -.


(Não me considere caso de internação.
Ainda nem contei os fatos completos.
Contarei? Um dia... talvez...)





09.01.2010 - 20h

Exaustão

O corpo reclama descanso.
Procuro meu travesseiro baixo
pra soltar a cabeça
e aprisionar as águas
que banham palavras noturnas
e impedem a pequena morte diária
desse instrumento do ritmo
e de algo que acalente os ritos
e os mitos
de alguém de fora de mim...




09.01.2010 - 5h12min

Gravidade

O papel de parede
dá a dimensão exata
de uma cratera lunar.
Pulo no espaço.
Flutuo no silêncio
que consome meus mundos.
Mudo de escolha
e a direção me exime
das licenças e das culpas.
De todas que há em mim.




09.01.2010 - 04h54min

Amortecida

Comparo minhas passagens.
Prefiro não deixar rastros
parte de imagem apagada...









09.01.2010 - 03h38min

Enleio


Não celebro as pontas
dos saltos das botas altas
que eu não calço mais.
Arrumo outro passatempo
menos perigoso para as calúnias.
De meias de seda enfeito a pele
já colorida por tatuagens espaçadas
e jóias nem um pouco preciosas.
Desfilo meus pensamentos assumidos
lãs de ovelha marrom
singulares em seus disfarces
plurais nas cercanias suspensas
nas loucuras e sessões azuis.
Pé ante pé
mergulho no nada.
Emerjo aqui
sem a menor noção
de quantas sou...



09.01.2010 - 03h08min

Fatal




Quebrado meu radar de poesia
partido n'alguma véspera de absurda sordidez.
Dos cacos junto pedaços
de versos ocultos
e trapos rasgados de rimas.
Na insônia planto dizeres
sonâmbulos
confusos
vocábulos
gravados em neon
dentro dos meus olhos
bordados de olheiras
e cansaço triste.
Se a poesia é minha sina,
que seja
inda que arruinada
pela queda inevitável
nesse inelutável jogo da vida.




09.01.2010 - 02h31min

Gana




Escureço a vontade de poesia
que inunda-me os gestos
e as juntas dos dedos fechados
agarrados ao lápis
e às conjunturas não vistas
nem tocadas pelo ouro.
Radicalizo meu querer
e a fita no cabelo disfarça a dor
da alma exposta
nas vírgulas e parágrafos
que eu não canso de escrever.
Fotografo as sombras dos meus sonhos
estremeço ante a realidade crua.
Sem cura
ensurdeço ante os apelos da (in)constância.
Não tenho mais tempo
ou ele não mais me tem.
Deixarei uma música
ou uma nota solta
debaixo da soma
que eu
im
piedosamente
falhei.
Na sombra permaneço.
Voarei...





09.01.2010 - 02h22min

Distanciamento


Quando a gente se afasta
perde o gosto o hortelã
o princípio se embaça
o gesto frio é raso e claro
lânguida e estéril maçã.





Aos 50 minutos do dia 09.01.2010

Indelével


Ando com medo do tempo
que um dia meu amigo foi.
Um não-sei-quê que me acomete
desde a noite ameaçada
té que nasça manhã.
Incômodo inoportuno
que me persegue
ocupa as frestas
e continua sem alívio
ou solução.

Ando com medo desse tempo
que um dia meu amigo foi....






Aos 21 minutos do dia 09.01.2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ousadia


Viver é passar.
Cumprir os dias
como quem parte
sem jamais andar.
Viver é unir
os pontos e as pontas
de luas distantes
sem direito à desistência
nem ao cansaço.
Viver é contar
descabida história-
autor e personagem juntos
sem nunca se falar
nem saber o fim da estrada
mas sofrer o acidentado percurso
um com o outro
de mãos dadas.
Suada e suave distância
entre o que está feito
e o que será.
Viver é enfrentar
o parto diário
das incompreensões e alegrias
todas juntas
sem fissuras
ou enfeite de estrelas.
Viver é desacelerar o peito
empreender as forças
aprender a dança
dos desesperados.
E esperar.
É desencontrar
sem ter-se perdido.
Perder
e não compensar.
Viver é nada além de
ousar...







08.01.2010 - 23h32min

Depois


Depois da curva vem alguma coisa
que quaisquer desconhecem
depois da estrada, depois da juventude,
depois da virada, depois de depois de hoje,
talvez nada haja que valha
ou que tudo valha mais que ontem
mas que escondido permanece
por tempo (in)determinado
provavelmente esvaziado
dos olhos limitados
pela inconstante medida
que nada sabe
dessa (ou de outra-s-) vida.
O que existe depois da ruptura do momento
da explosiva gargalhada
da presença permitida
-ou nem tanto-
da gota escorrida face abaixo
interrompida por um lenço de papel
o que existe depois do segundo minuto
do qual quase nada foi palavra
do lampejo existido
no fio da cega navalha guardada
na bainha da cortina do instante
rasgada ou cortada
-tanto faz-
por espada ou centelha de fogo
por raio de luz ou reluzente sombra disfarçada.
O que existe depois
de depois
de depois
de depois
talvez permaneça
num paralisado depois de hoje
ou num caminho desviado
de um sonho que vivido fora
ontem
ou depois de ontem
ou depois do abismo
ou depois do retrato congelado
ou...






08.01.2010 - 18h34min

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Este ano ou Retorto


Faço lista de escolhas para 2010
aprenderei a voar
criarei uma banda de rock pesado
estarei viva daqui a 200 anos
- em 2007 marquei um jantar para a data -
moverei uma cordilheira
viajarei pelo mundo todo
escreverei um best seller cult
acreditarei em linhas retas
farei todas as perguntas
descartarei todas as respostas certas
imprimirei suavidade nos meus gestos
e doçura nas minhas palavras
definitivamente ficarei com o homem da minha vida
serei abduzida por um anjo
assinarei um contrato eterno
de exclusividade co'a alegria
e sorrirei, feliz, para sempre.








Aos 42 minutos do dia 07 do começo de 2010

Por enquanto





Passo depressa demais
por enquanto
continuo...




Aos 14 minutos do dia 07.01.2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

2010

Aprendi a evitar os planos
os curtos nem pensar
os longos nem em sonho.
Aprendi a evitar as letras mortas
os fantasmas do futuro que nem sei
se de fato encontrarei um dia.
Aprendi a evitar aquelas perguntas
cujas respostas evitam a sonoridade
da voz ou a indiscreta necessidade de dizer
o que o outro nem sonhava ouvir
pelo bem ou pelo mal
(vai saber).
Aprendi  a evitar acentos e incrementos
exceto por uma absoluta força maior
- e eu nem sei se ela existe!-
Aprendi a evitar escolher o que farei
do meu ano no primeiro dia
ou no decorrer dele.
Aprendi a evitar.
Levito...





06.01.2010 - 03h14min

Obscura







Escapo pelas vielas escuras do desconhecido

arremesso minhas teias no breu dos medos
despedaço a simplicidade no absurdo.
Cuidado comigo.
Eu mordo.






06.01.2010 - 02h56min