Destelho o que me cobre
desenterro meus cumprimentos
sentencio meus desejos
e minhas pragas aos quatro ventos
na rosa dos tempos perdidos.
Sou conquista e contratempo
sou diversas lidas e outros unguentos
sou terço rezado na sexta-feira santa
e rito pagão cumprido à luz da lua.
Desespero a escolha
e começo de novo, do nada.
Visto a mortalha e deito na estrada
esperando o trem eterno.
Não sei mentir que sei o que emudeço.
Se amanhã eu estiver estremecida
é que meus brios se esgotaram
nos nervos que meus dedos permitiram
que se entrelaçassem sem custo.
Se hoje esqueço a hora
e perco de vista meus assombros
é que o cachecol enrolou os minutos
e eu peguei no sono que destila vãs vinganças.
Se ontem à toa sofri
é que as visões esvairam-se
entre os dedos da madrugada
e os começos derreteram as estacas
cravadas no coração da terra de ninguém.
Se aqui estou
é porque há vácuos e mútuos escombros
entre o que está por vir
e o que já houve
n'algum tempo obscuro
n'alguma falha de muro
n'algum reduto perdido
entre o que inventei
e o que poderia ter sido
se eu houvesse permitido.
Ou tu...
20.07.2009 - 10h