segunda-feira, 30 de abril de 2012

Fica...

Dizer do dia
das horas 
que esvaem
dos tempos 
que escorrem
minutos sem dó 
que vão.
Dizer do rastro
do gosto
do riso
da companhia
que assim que começa
termina.
Do dia
das horas
do tempo
que assim que começam
se vão...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

Vide Verso

Sonolenta, esvazio sinistros assovios
no palco lento
do lerdo cruzamento
de esfumaçados padrões.
À beira das decisões
encosto fraturas
aos versos expostos
as espelhos d'água vistos
aos recortados portões.
Grito.
De rouquidão vidente
avaliso a longevidade do lábio
que brilha.
Razão  de sobra
degrau sem lenço
corrimão sem linho.
Acuada, risco a sombra
como quem padece
nas entrelinhas da testa
e descobre os segredos
os santos
os atalhos.
As dimensões flutuam.
Os vultos são só detalhes.
Confesso.
Confirmo o já sabido:
gente não sou
sou verso desnudo
cuspido por deus errante
sem rosto
língua
ou resto.
Sonolenta
poetiso...







Reflexo

Espanto os pontos abertos
dilacero quadriláteros
enferrujo algodões etéreos
a eternidade é grão d'areia
no deserto d'outras almas.
Erro a mira.
No mirante não vislumbro
a via estreita
o lume
o raio.
Exagero a ponta do lápis
na grosseria da escalada
interno assombro do recomeço.
Veredas são feridas
histórias de hiatos perdidos
futuros vindouros
vinhas
ouros
áureos dias.
Outras paragens....

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Interpretação

Nada entendas
do que invento
nos versos
que se me escorrem
pelos cantos da boca úmida.
Nada esperes
do que digo
porque meus dizeres
são pássaros avoados
doidas sentenças
sem sentido diferente
além da tinta de
uma pintura intransigente.
Nada argumentes
contra meus mundos
que se atrelam
aos pedaços dos cedilhas
e das sinas insistentes
que se prendem
aos meus tornozelos

todos os dias

inevitavelmente.


O que?

Se dou um passo
me arrependo
se abro a guarda
incorro em erro
se calo, tremo
se falo, termino.
Se me abro
rasgo o momento
se me tranco
não experimento.
Se busco, não acho.
Se fico, não tenho.

O que quer que se encontre
lá adiante
ou cá
no meio do caminho

se diviso
some

se apalpo
rompe

se sonho
rebento.












terça-feira, 17 de abril de 2012

Metáfora




Escorrem-me os verbos nos cantos da boca
enquanto as vias de fato
falham-me às pernas bambas.
Confirmo acontecidos
relato neblinas e delírios
em decúbito dorsal (in)sano.
A pedra cantada
tem cor de umidade
e tinta vermelha
na cabeceira.
Os ciclos são mistérios.





Gotas de metáforas mordidas.







segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ternura


Vestígio de Imperador
marca vertiginosa
viga no braço
vista embaçada
de perto
de perto
muito mais laço
rouca caligrafia
precisão cartográfica
de muito perto
a Cézar
o que é de Cézar
dai:
ternura.


domingo, 15 de abril de 2012

Passagem

Tudo é breve.
Ao minuto sucede
esvair-se n'outro
feito areia
ao vento uivante.
A vida é breve.
Errante.
O tempo perde
o instante
que já é outro
na estrada
em frente.
O asfalto segue.
Falha
a folha seca
no chão seco
da seca vela
que acende
mais uma noite.
Breve
breve
té que outro dia
este dia
leve...

Ou não


Dirá
de vez
ou quanto
talvez
terá
talvez
um quando
talvez
enquanto
o tanto
será

talvez.

sábado, 7 de abril de 2012

Duas


Sou duas.
Duas broncas
duas ruas
duas alegrias.
Sou duas
distintas luas
errantes construções
inconstâncias suas.
Duas ligações
imprevistas
presumíveis
opiniões nuas.
A que alimenta
e a que investiga
os vestígios
das próprias incursões
cruas.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Intertextualidade


Compartilho do prazer de Pessoa
não cumprindo um dever
curto ou comprido
tanto faz.
E minha desculpa
maltrapilha
é o acúmulo de caos
nesta mente doentia
que mora em corpo
que se finge são.
O que me leva a considerar
tudo o que há pra viver
e a insuficiência dos anos
pra dar conta de metade
dos projetos
que sempre ficam pr'amanhã...
"Hoje não", diria Pessoa.
Hoje não,
minha boca diz...