sábado, 21 de março de 2009

Um grito surdo

São nuvens de poeira nos olhos da vida cegueiras impostas pretensiosas medidas escândalos sucessivos e guerras enormes. Pra que? Se a ferida não sangra e se o sangue infectado não oprime? Pra que? Se o passado desmente a cobrança e o maldito cava buracos na penumbra das angústias que permeiam as bordas dos pratos de sopa vazios de instintos e de consciência de uma raça em vias de extinção. Pra que? Se os humores são turvos se os amores são passageiros se as crianças estão expostas se os velhos vivem de joelhos? Pra que? 21.03.2009 - 20h09min

Salvação II - A Lista

Eu quero um batom azul e uma trena um bombom de chocolate meio amargo e um generoso pedaço de pão. Eu quero um rio de águas claras e um contrato assina(la)do co'a solidão. Eu quero uma manhã enluarada com cheiro de orvalho e noites com jeito de flor. Floreiras nas janelas da alma sorrisos no retrovisor. Senhas escritas nas paredes parábolas e sementes e um bom cobertor. Eu quero um amor sem medidas uma loucura validada pela ausência de feridas. Eu quero a chama a lenha a comida. Todos os sonhos todas as danças todos os trovões todas as montanhas do mundo. Eu quero a cama a mesa o banho e as toalhas manchadas de alegria. Eu quero a cor do capim a cor dos teus olhos as asas do jasmim nas bandeiras da minha vida na única lista que penso importante ser. Eu quero TI ter. 21.03.2009 - 0h35min

Salvação

Eu quero um poema Que me salve da morte. Um verso, um verbo, Um encanto qualquer Que me aponte um norte. Eu quero um poema de açúcar Embrulhado pra presente Encrustado de risos E papéis de seda coloridos. Eu quero um poema permanente Desses que não se gastam No pós-leitura, facilmente. Eu quero um poema Que me restitua a saliva Que me apresente uma réstia de luz Que me acrescente dias Que me estenda tapete de peles vermelhas. Eu quero um poema Que me salve da morte E que nasça do sol Na lua crescente minguante No espaço breve e na partilha. Eu quero um poema de coragem Uma semente de vida Que me arranque da morte Um verso Um verbo Um encanto qualquer. Uma única medida... 21.03.2009 – 0h16min

Sonho ou fantasia?

Sonhei que não havia E o não haver Não impedia a roda Da fortuna Do infortúnio Da demência De crer na procedência De ceder a um haver bem-vindo. Mas eu sonhei que não havia! E mesmo assim A inusitada presença De impetuosa cadência Existia. Era só pousar a mão no peito. Sonhei que não havia O músculo O peito O pulso. 20.03.2009 – 21h10min