segunda-feira, 26 de abril de 2010

Insônia

E daí se daqui a pouco
o dia começado a pouco
pouco a pouco ameace
amanhecer de novo?

O silêncio arranca-me sossegos
virados em estrofes
que eu nem sabia escondidas
nos recônditos da alma.
Pergaminhos e frascos de tinta preta
nos achados e perdidos das letras
que me impedem de despedir.

E daí se meu sono não chega
e se já começam os primeiros passos
da passagem das horas que eu nem vi?

A quietude é boa amiga
inspiração cuidadosa
na exata medida
igualzinha aos teus suspiros
que eu ouço e bendigo.
Tu, minha vigília eterna.
Tu, meu amor sem fim.






26.04.2010 - 04h

Blues



Já não distingo estações
os espaços se fundem
e o Sul mora no Leste
enquanto Cazuza canta um Blues.

São 3, 4 ou 5 da manhã
e teu nome povoa meus pensamentos
rodopia nos meus cabelos
disseca a filosofia que eu não conheço
(eu, que adoro filosofia!)
enquanto Cazuza brinda com Blues.

Digito poemas que são teus
divirto meus versos que te oferto
divido meus sonhos nas palmas das tuas mãos
deposito minhas ganas na tua pele nua
enquanto Cazuza brinca de Blues.

De pés descalços não vejo espinhos
de religiões, fumaça e aguardente
de sofismas, previdente
enquanto Cazuza inventa Blues.

Transgrido a lei e a ordem
natural seria nem tentar
convenciono uma nova regra
pra ver se cola
enquanto Cazuza chora um Blues.

Meu argumento é uma pedra preciosa
meus dedos têm o mapa da mina
meus partos nascem tuas letras
enquanto Cazuza planta Blues.





26.04.2010 - 03h52min

Inocência

Ela manda um gesto de homenagem
na divertida inocência infantil.
Não sabe do efeito
não sabe dos detalhes
não sabe da profusão de cores
que ao ato procedeu.
Tu sabes.
Sei eu.






26.04.2010 - 02h15min

Garimpar-te

Se salvação é poema
não sei.
Poema é pedra preciosa
que existe...


Poema é teu lábio
e tua crise.
Poema é teu sonho
teu lamento
azulejada aura
da tua madrugada triste.
Poema é teu riso alto
teu cansaço
teu conforto
teu breve descanso.
Teu sotaque Leste
tua sofreguidão
teu abandono
tua entrega
e tua querência.
Poema é tua década
o movimento hippie
o rock'n roll
a suíça
o sono que se atrasa
pra acompanhar a melodia.
Poema é tua língua
o mel
o sal
a guarida.
Poema é a medida exata da vida.
A tua
bem ajustada
à minha.


Poema é Ouro.

Garimpar-te,
minha sina...





26.04.2010 - 02h10min

Letra de Mulher

Pingos intermitentes tamborilam no telhado vazio


Metal na mente, anel, arrepio
um sem número de gente é ninguém
se as cruzes são iguais.
Pingentes.
As melodias pesquisadas
contam histórias outras
desconhecidas graças
reconhecidas forças.
E agora que os sons diferem
daqueles com os quais me habituei
outros mundos se revelam
outras tendências
outra lei.
Rouquidão na voz amplificada
na filosofia matemática
da solução dos enigmas
em forma de arco-íris
de pingo de chuva na janela aberta
de gato preto no telhado da esquina monitorada.
Da próxima esquina
bem ali
onde meu braço alcança
onde vira hoje
o fio d'esperança
que se recusa a ficar pr'amanhã.
A fonte verte a vida
na  medida exata da minha sede
mais
decerto
me afogaria
e o sumo do teu sangue
não seria.
Tuas franjas
tuas barbas
tuas orelhas
as vertigens que provocas
e os sentidos que latejas
nas curvas quentes desta igreja
de virtudes e desejos
que te fartem
té que dancem teus olhares
e descansem tuas carnes
sem padres nem santos ou deuses.

Só eu.

Que os limites se\nos rasguem...




26.04.2010 - 01h42min