domingo, 20 de novembro de 2011

Alimento

Vivem em mim
as dores dos anos
que passam
as dores
e os anos.

A solidão é qualquer coisa
que me alimenta
uma quase companhia
disfarçada de ninguém
em quem depositar meus medos.

Os cantos d'alma
guardo-os
todos
intactos
no meu álbum de visitas
últimas
as minhas
pé ante pé
submersas
em gelo seco
e unhas pintadas de azul.

Programo as próximas atrações
factuais
fracionadas
e diluídas em gotas
de um suor espesso.

Es
pe
zi
nho
a culpa
de saber-me só
sem nada pr'oferecer
além de um silêncio mortal
e de um fio de cabelo quebrado
que insiste
no embaraçado
e assumido
assunto
a contra gosto
encerrado.

Enceno uma bola d'algodão doce
enfrento fugas e míticos ataques
faço da fera
aliada
e alinhavo
outros cabrestos
nas pontas dos dedos cansados.

Satisfaço o que possuo de meu
sem nada consumir.

Calculo invasões
e danço...

Danço
como se o corpo fora
minha vida inteira
derretida na pista quente
na gota salgada que
devagar escorre
rente
entre a blusa fina
e minhas costas.

A solidão é qualquer coisa
que me alimenta...







20.11.2011 - 05h34min



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Finados

Todos os meus fantasmas
aos bandos me voltam
às voltas co'as colheitas
n'outros invernos perdidas.


Todos os meus fantasmas
bailam danças de sôfregos espinhos
infravermelhas lâmpadas
cacofônicos espelhos.
Bolhas.


Todos os meus fantasmas
esfumaçados de delirantes visões
primícias de demências sempre tidas.


Tudo a um tempo.
Sem minuto livre.
Sentinela
e gravidade urgente.
Vácuo.
Subterfúgio.
Incorreção.



02.11.2011 - 18h16min

Cambaleante

Sorrateiros

bêbados versos
buscam encaixes
nas estrofes tortas
do poema mal nascido.

Azuleja o vidro da mesa
sem caneta opaca nem tinta de parede ovalada.

Os quadros esquartejam líquidos
e pontas de semelhanças desfocadas.

Manca
a blusa azul atravessa o pente
comprime a ponta da cela
sem eira, beira ou macete

esperneia.

Cambaleantemente
suspende-se um ar falso
de falta d'água na premissa das gentes.

Pena...



02.11.2011 - 17h30min