terça-feira, 29 de abril de 2008

SIM ou NÃO?

Quem ousaria dizer SIM? Com quantas luas se faz uma vida? Com quantas vidas se abre um portão? Quem ousaria dizer NÃO? Com quantas vozes se entoa a canção? Com quantas chaves se assina à mão? Quem ousaria dizer SIM? Quem com flores fere com mágoas será ferido? Em casa de professora caneta nunca tem tinta? Quem ousaria dizer NÃO? Amar e perdoar, é só começar? O que o coração não sente, os olhos fingem não ver? Quem ousaria dizer SIM? Em terra de videntes, têm espaço os cegos? Crocodilo chora? E político, depois da eleição? Quem ousaria dizer NÃO? Ou SIM, ou TALVEZ? Quem ousaria dizer? Quem ousaria? Quem não? Talvez. 29.04.2008 - 23h04min

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Deriva

Antiga conhecida, a solidão arrasta o manto suave entre as alamedas acinzentadas e tristes. O sol, há muito desistente de clarear esses caminhos, escolheu arder em outras paragens, fazer sorrir outras cores, exercitar o calor em corpos menos dormentes. A História recolheu as febres e as criações desses pastos e passou a ferro quente as folhas amarrotadas onde escrevera esses restos de ilusões amareladas. Caminhar constante de lentos panos esvoaçantes num dia sem vento ou desejo algum de servir mate gelado aos fantasmas engasgados pelo desgaste de nada esperar. As cobranças multiplicadas pelas décadas de silenciosas amarguras, despetaladas as margaridas na última primavera que ninguém lembra mais há quanto tempo se foi. Os círculos se repetem e se repetem e se repetem giram em torno de si mesmos, copiando o movimento de um Planeta em extinção. Inesperada centrífuga de talheres postos sobre uma mesa vazia de propósitos. Dormem os viventes envaidecidos pelos sonhos. Mal sabem que os olhos são cegos e que o ontem é repetido mais de cem vezes, sob diferentes prismas e pacotes coloridos, entre o real e o desejado humano, entre o saber e a ignorância total. Dois extremos. Entre eles, a humanidade toda. À deriva... 28.04.2008- 19h30min

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Premonição

Inconstante, canso de divagar. São lentos os passos que me cercam e os pesos impressos na folha reluzem os pedaços do passado recente. O gosto de fruta gelada confude a canção que acompanha o vaso de flores no jardim recém plantado. A tarde livre dessa quarta-feira triste é tapete de escala de cores na escolha que urge entre os afazeres esquecidos, de tanto retomar a antiga lista. O sonho da alma liberta a libélula do pensamento. Empresto o brilho de um céu vago aos instantes que julgo meus, contigo. Teus versos invadem a solidão e quebram os vidros embaçados da lua que se escondeu atrás de uma nuvem de doce e branco algodão. Espero a tempestade que se arma no horizonte, quando já não estiveres aqui. As possibilidades de cristal correm riscos. As portas do futuro estão abertas hoje. E eu temo que o medo seja tão palpável que acabe por congelar as mãos do poeta... 24.04.2008 - 01h30min

Canção

Uma canção não precisa de partitura, nem de letra, nem de arranjo. Uma canção não precisa sequer de um intérprete. Uma canção só precisa, para ser devidamente ouvida, de um leve, suave e delicado coração. 24.04.2008 - 01h18min

Eu confio




Aos 50 minutos do dia 24.08.2008

Partitura natural


O VÔO



Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas,
tempo e vento, desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite
enche-o de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu vôo
te leva sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão,
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota, como um pássaro,
as canções que tens na garganta.


Canta!
Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.

Desde que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota?
Voa e canta, enquanto resistirem as asas.


(Menotti del Picchia - 1892/1988)






24.04.2008 - 0h40min

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Da fragilidade da vida

Um dia, por inocência, desejo de ajudar o outro ou pra chamar a atenção mesmo, a gente resolve prender a vida a um balão de gás. E esquece que o fio dessa mesma vida é frágil demais. Melhor não esticá-lo muito... ele pode não suportar... e aí ...
23.04.2008 - 01h43min

terça-feira, 22 de abril de 2008

Dos julgamentos

Creio que nenhum julgamento seja legítimo, desde que proferido por um homem. A visão humana é extremamente limitada e sujeita a influências as mais variadas; portanto, pouco confiável. Julgamentos nunca são justos, em hipótese alguma. Além disso, nem sempre as vozes dizem o que realmente querem dizer. Mais um ponto em que a legitimidade é questionada. Logo, não pergunte de onde vem uma legitimidade que não existe, de uma voz que não diz tudo o que quer dizer e que profere um julgamento limitado, inclusive, por sua condição. Seja você. O resto é apenas a vida, em movimento.
21.04.2008 - 23h39min

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Inspiração

Inspiração é coisa que a gente planta entre as fagulhas deixadas pelo poeta. Molha na língua o gosto da vida e aquece o peito enrolado na manta. Inspiração a gente colhe dos passantes que tomam suco de melão e aguardentes. Inspiração é aquela estrela que a gente ainda não vê porque o sol arde forte entre nuvens esvoaçantes. Inspiração é bicho de pluma e asa enorme que voa sem avisar nem dizer porquê e a gente até acredita que ela não volta até que de repente, ela grita o nosso nome. Inspiração é amiga revoltada e carinho no rosto é pele arrepiada e beijo no pescoço é sorriso disfarçado e voz rouca é tristeza repentina e dor louca. Inspiração é isso mesmo que envolve a gente e faz crescer o desejo de riscar de caneta o papel, a tez, a parede, a mente de palavras que talvez nem tenham muito sentido mas que estão impregnadas de sentimento. 21.04.2008 - 17h

Procura

A procura é uma das minhas inquietudes estou sempre à procura. Procuro por ele, procuro por mim, procuro por nada, procuro o sim. Busco aqui, acolá, mais adiante, e dou de cara sempre com um gigante que se chama vida, a me olhar, impaciente. Ai, ai, ai, que moça mais impertinente, que não sossega nunca, que anda sempre pra frente. É assim que passo meus dias. São assim minhas insones escurescências. Essência de rosas no incenso queimando no meu quarto. Não espero. Nego os braços cruzados. Se páro, é só pra renovar as forças. Movimento é meu lema. Movimento a minha vida. O gigante que me abraça e cura qualquer ferida. Na rua, acendo os olhos. Na tela, acendo as luzes. No espelho, acendo a alma. Vou em frente, que atrás vem gente. E nunca se sabe até onde se pode inventar uma nova doçura. É o que eu quero: a alquimia do dia-a-dia. A invenção de um novo amor pulsante. 21.04.2008 - 16h13min

Renovar

Terminei a faxina da casa (feriado, sabe como é...) e aproveitei pra fazer faxina na vida com o pó, foi a tristeza com o lixo, o cansaço com a sujeira, a desesperança. Agora, banho tomado, cheiro de limpeza no ar, sinto o peito renovado e estou pronta para amar. Ah, não dou mole não não vim pra ficar sozinha não estou aqui pra curtir solidão. Meu negócio é companhia. Se for boa, fique até que queira ficar. Se ruim, vá embora, que eu não quero me chatear. Quero paz, alegria, doçura e carinho. Sem isso, não sou ninguém. Mas recomeço sempre, se não tiver alguém. E agora não tenho. Estou à procura. De novo. E quantas vezes forem necessárias. Até que... Eu morra? 21.04.2008 - 15h30min

Gênero

Passado e futuro, substantivos MASCULINOS. Alegria, substantivo FEMININO e bem se vê que ela faz parte do nosso universo. Passado bem vivido, Futuro bem esperado, Alegria o tempo todo, inda que um resto de lágrima no canto de um dos olhos tenha ficado. Alegria é companhia certa na roda de amigos inda que o peito pese e que a folia seja apenas um escape. Escapa da tristeza prolongada, deixa a dor no passado que é substantivo masculino e pode te proteger dela. Escolhe sempre o sorriso hoje, aqui, agora e espera encontrá-lo de novo lá adiante como foi em outros tempos, como foi outrora. Vive o instante presente, também masculino (cá entre nós, ainda bem) e engole o mel do momento doce que não volta mas que haverá de ser sempre teu. Aos 52 minutos do dia 21.04.2008

Proteção

É preciso dormir. Reconhecer que outro dia se foi e o prato das novidades permaneceu vazio. A tinta do cabelo ruivo escorrendo pelo corpo debaixo do chuveiro quente o cheiro do shampoo suave e as extremidades dos membros cheias de espuma macia vermelha. Os cachos molhados se alisam. São lisas as horas sozinhas escorregam entre os dedos feito sabonete molhado. Passam. As passagens estreitas são vales que não levam a lugar algum. O escuro é silêncio. O silêncio é a porta de entrada do suspiro profundo. As camisas, as saias, os mundos, se diluem no espaço inventado. Juramento sacramentado: na próxima vez a porta estará trancada. 20.04.2008 - 02h27min

domingo, 20 de abril de 2008

Anonimato

Por trás de uma cortina de fumaça a palavra pode ser qualquer uma de deboche, de aceitação ou ciúme. Por trás de uma cortina de fumaça a maldade não tem rosto, não tem nome, não tem grau de proximidade, não tem tesão. Por trás de uma cortina de fumaça se é quem se gostaria de ser, se tem força, coragem e audácia. Não se assina o documento escrito, não se assume a bala disparada, não se resume o texto do atrito. Por trás de uma cortina de fumaça se pode ser qualquer um. Mas, se a gente não vale a pena nem pra gente mesmo, então tem mais é que se esconder por trás dessa cortina de fumaça denominada anonimato. O anonimato é a proteção de quem não tem coragem de quem não tem argumento de quem não tem história de quem não tem opção. E não ter coragem, argumento, história ou opção deve ser muito triste...
20.04.2008 - 17h15min

sábado, 19 de abril de 2008

Conceitos

Mas, afinal, quais são os sentimentos, as idéias, a vontade do povo? Onde está o povo? Quem é o povo? Onde ele se esconde - se é que se esconde? Será uma entidade, o povo? Ou o povo não seremos todos nós, burgueses ou não? O que é a burguesia? Quais são os sentimentos, as idéias, a vontade da burguesia? Onde está a burguesia? Onde ela se esconde - se é que se esconde? Será uma entidade, a burguesia? Ou a burguesia não seremos todos nós, povo ou não? Que tipo de conceitos interiorizamos e usamos como discurso diário? Que tipo de discursos conceituamos e usamos como diárias internalizações? As idéias serão nossas mesmo, ou as roubamos de terceiros? Quem serão esses terceiros? De que lado estarão? Do lado burguês, ou do lado povão? Há quantos lados nessa história? Há lados na nossa História? Questões. Não creio haver uma única resposta a qualquer delas. 19.04.2008 - 02h22min

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Areia






Um grão de areia. Eu. Um grão de areia. Tu.

Quantos grãos de areia são necessários para fazer um mundo justo?








18.04.2008 - 22h01min

Perguntinha


Será que a vida está de cabeça pra baixo?
18.04.2008 - 22h

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Deserto

hum.... local deserto... posso dançar nua gritar para a rua disfarçar a dor de luz de lua coroar a noite escura. Posso falar besteira e estender uma esteira bem no meio da pista de dança. Posso voltar a ser criança e esperar que o dia amanheça. Mas... eu poderia fazer tudo isso de qualquer jeito inda que todos aqui estivessem inda que os sons e assovios e tambores também retumbassem batucados pelas mãos e pelos dedos dos poetas alegres ou entediados ou nervosos que eu amo tanto e que respeito. Mas... o local está deserto não há ninguém por perto e eu desconfio que vou morrer de solidão... 17.04.2008 - 20h10min

Depois do amor

Escancaro as janelas ao pôr do sol as portas estão abertas e se aproximam os visitantes. Escolho as palavras que espero fluir se escondo as escadas é pra deixar claro que não quero intrusos. Exercito a audácia no risco e recomeço de onde parti. O prato quente repousa sobre a toalha de renda improvisada e nada disso é importante tudo nada na imensidão do que considero impreciso e a solução não existe nem aconselha a experimentação. São demais os caminhos tortos e o estertor que confunde as lentes escurecidas dos óculos velhos. Nas mesas dispostas, nenhum par. Estão quebradas as pernas das cadeiras e as carteiras estão vazias de sentimentos. Um gosto de sal enche o espaço vazio e a tinta acaba bem no meio de uma frase sem sentido algum e sem destinatário certo. A televisão ligada se exibe para ninguém e os fantasmas se sentem à vontade para sentar entre os convidados ilustres e amassar as almofadas de cetim lilás jogadas sobre os tapetes batidos. Não se deu o encontro. O encanto não se fez. Depois do amor só um adeus curto e seco para se dizer... 17.04.2008- 18h01min

Sentença

Estaca cravada no peito da rima ferida inútil nascida de cicatriz amor moribundo entre almas cambaleantes soco no estômago da noite sofrida fervor de primavera em pleno gelo ártico pele de urso polar. O sol escorrega pelos anéis dos meus cabelos envermelha o horizonte perdido de vaporosas nuvens brancas envenena os sais e os depósitos de cristais azuis do quarto crescente da lua de São Jorge que desaba ao amanhecer. São pragas as pregas das roupas que não servem mais. O ensino da língua é úmido e corre o risco de secar um dia in-ter-mi-ná-vel sombra que acompanha o veredictum fatal: FINITO! 17.04.2008 - 01h03min

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Até que a ausência nos separe

A porta da frente aberta lá fora chuva torrencial um céu de anil na primavera sensação de frio abaixo de zero e um espirro ao longe como se uma formiga, de repente, tivesse desfalecido sob o peso insuportável da folha verde. A claridade cega os olhos distantes o movimento lento da criação desvia a vista para o além onde ninguém alcança onde ninguém é um bem. A educação exige resposta polida a prataria sobre a mesa enquanto as teias de aranha crescem e tomam conta das entranhas da casa vazia de sangue quente. A escolha dos trincos das portas foi tua as trancas jamais usadas são minhas as capas de chuva dormem secas no armário e as botas bem lustradas descansam os fantasmas usam as sementes dos verbos semeados antes da repentina partida. As vozes serpenteiam e contam as vezes em que as cantigas foram mais que notas musicais foram musas de orvalhos sagrados esquecidas nos cantos das lentes dos óculos há muito quebrados... Às 22h50min do dia 14.04.2008

Violência

Quando o amor surge a paixão vem e degola o coração faz arte por toda parte e pendura os quadros pintados de sangue nas paredes do cemitério dos peitos doentes de amor. Só o amor pode matar a violência... Alina e Simone Aver Aos 18 minutos do dia 14 de abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

Silenciosamente

Chega mais. Vem ver com quantas palavras se faz um longo silêncio. Aos 16 minutos do dia 13.04.2008

ECO!

Eu digo que sim e meu eco responde que não. Eu digo que não e meu eco responde:"NÃO!" Eu nada digo e ele, descaradamente, grita: "E aí, vai falar ou tá difícil?" Aos 15 minutos do dia 13.04.2008

Um minuto

No primeiro minuto, busquei poesia procurei nos cestos de roupa suja a rima animada que estava guardando pra quando a festa chegasse. Mas ela não chega. Mas elas não chegam. Nem a rima, nem a festa. Então revirei o cesto e encontrei a danada. Escorrega, esfrega, estremece, adormece (e eu não vejo nada que se encaixe). Ai, ai, ai, que desespero que dá na gente quando não encontra nenhuma palavra perdida que diga tudo, assim, exatamente o que se espera dela bem bonita, de saída, como quem não está cansada muito menos arrependida de rir alto na madrugada acordando de encomenda a vizinhança... Nem rima, nem festa... E o primeiro minuto, que era pra ser poesia, sucesso, verso, canção, improviso, processo, virou busca... Mas... A busca, em si, não será poesia?????????????????? No primeiro minuto do dia 13.04.2008

sábado, 12 de abril de 2008

Maiúsculos


o tempo parou nesse instante

conversa interna pela eternidade afora

que dirão eles? quantos versos farão juntos?

que diremos nós de nossos humanos poemas

cheios de imperfeitos dizeres

de sensações de futuro inexistente

de pretensão de rima que não aflora?

que diremos nós diante dos deuses

quando nos oferecerem um banco e um livro

e uma caneta de material reluzente?

que diremos, pois, ao dar de cara com eles?

oi, Drummond, meu velho...

oi, Quintana, meu bem...










12.04.2008 - 23h57min



Buscando resposta...


Drummond, Drummond, de costas pro mar
Responde, me diz, me conta, não esconde, Drummond:
Com quantas estrelas uma poesia se faz?






12.08.2008 - 23h40min

Círculo de luz

As estrelas são redondas e cantam... Círculos têm cantos? Claro! Têm cantos, cantigas, canções. Apura o ouvido. Escuta. 12.04.2008 - 23h38min

Saudade?

Saudade é uma coisa que acaba um dia e deixa no lugar... nada... 12.04.2008- 23h27min

Aurora Boreal

Eu quero a subjetividade do que está escondido dos olhos e da percepção geral do comum. Eu quero a simplicidade do que está revelado aos olhos e à percepção de quem é raro. Eu quero a doçura da fruta colhida no pé jurado de morte pela mão do progresso desmedido. Eu quero a força da expressão madura que ainda não cheguei a conhecer. Eu quero a linha imprecisa que guarda no âmago a segurança do velho conhecido. Eu quero as cores todas juntas, dançando sobre mim. Um céu tão colorido e movimentado que acabará por fazer-se branco. Tranqüilidade, enfim. 12.04.2008 - 20h41min

Despertar

O acervo das minhas obras esgota o pensamento hostil que me cerca. Acordo entediada com olhos de abismo postos sobre os próximos minutos que me aguardam indecisos quanto à presteza do meu estado atônito diante do curso que o rio do tempo toma. Tiranizo o relógio. Eu mesma faço as minhas horas. As honras enfraquecem os laços ou os desfazem ao seu bel prazer. Beijo as espumas dos dias corridos. Serão resgatáveis os minutos perdidos? Os pontos finais serão mudanças ou abrirão expectativas outras que sequer suspeitávamos, nós dois? Piores são as reticências. Silêncios prolongados em que não sei se estás ou se já foste entre um emaranhado de conversas antigas que nem sequer chegamos a ter. Adapto o mundo ao som de um piano distante que canta de dentro das páginas do livro na estante próxima da cama. São espaços que não me pertencem, que dançam entre os dedos, com cheiro de cera líquida, recém coberto o assoalho de tábuas escuras por onde meus pés passeiam agora. Espreguiço e estremeço o corpo diante da possibilidade de jamais vir a escrever as linhas que tracei no horizonte do sonho e que se vão perdendo, rapidamente, enquanto a lucidez assume o comando e o estômago reclama um pouco de café. Amanhece o dia. Faz frio. Acordo. 12.04.2008 - 20h28min

Produção

Produzo sem pestanejar que os olhos foram feitos pra ver não pra fechar as janelas da alma e esquecer que as entranhas os anéis e os dedos e as esquisitices todas são partes importantes do meu cotidiano e da minha criação louca. Produzo sem pressa de colheita ou de precisão de letra na tela quente de um computador impertinente que sopra dissabores entre as dores e os dotes e os bilhetes e as mensagens e as distorções e os contrários e as impressões todas estranhas ao que eu nem imaginei um dia querer dizer... Aliás, dizer não me basta. Eu quero aprender. 12.04.2008 - 02h40min

Antes

Se dizes que sim se ocultas o não se entras por uma porta e fechas a outra a chave pro lado de fora do lado de dentro, não sei. Se encontras abrigo na água do chuveiro quente e espreguiças o acerto debaixo do travesseiro coberto do perfume do cabelo recém lavado de espuma. Se espremes a fruta e dela extrais o sumo e a cor e a doçura. Se estás aqui ou não se estendes ali a mão se encobres de mim a pretensa ilusão. Não sei não quero saber não conheço quem sabe nem espero conhecer. Quero a pedra a lua a fome o aço inoxidável e o homem. Quero a espera a vida a chama o incômodo o estrado e a cama. Quero a impaciência e a coragem a leitura a sentença a vadiagem. Não quero nada além do que me valha: valha-me Deus! Que me venha a vaia e que a gaia me receba de braços abertos pra que eu beba da fonte da raiz eterna. Que eu seja dele antes que entardeça... 12.04.2008 - 02h33min

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Pedido

Moço, traga-me só a tônica a tônica da vida a tônica da sílaba a tônica da canção que foi derramada sobre o balcão e seca com pano ensopado de suor sobre o piano de cobre e cobertor de linho azul. Moço, traga-me só a tônica a tônica da lua pendurada lá em cima a rir-se desse meu peito arfante, exausto e solitário de tanto desgastar-se entre versos e melodias vagas que escrevo no guardanapo amassado desse bar virtual abençoado. Moço, traga-me só a tônica que eu risco aqui, com o dedo em riste um dó, um ré, um mi triste e canto uma toada acompanhada pelos melhores poetas que existem. Moço, só uma tônica, por favor, pra eu misturar com açúcar e mel e poesia e amor... Aos 15 minutos do dia 11 de abril de 2008

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Certas linhas... linhas incertas...

Não gosto de linhas retas; elas não me atraem, não me alimentam, não me prendem, não me exercitam, não me interessam, em absoluto. Linhas retas não oferecem surpresas. Nem podem. Não há sobressaltos se transitas por estradas retas. Tudo está ali. Nas curvas, o não-saber é constante. A descoberta é permanente. O susto, o imprevisto, o desconhecido é lei. Não gosto de regras prontas ou de posturas vazias repetidas aos milhares, inquestionáveis. Questiono meus questionamentos. Reformulo meus caminhos. Pinto de outras cores meu arco-íris particular: tempo, espaço, presente, futuro, se amanheço ou se acabei de nascer, se espero ou adormeço, se morro, estremeço ou desisto de dizer. Se acendo essa luz agora não é por não ter outra opção ou por repetir teus passos deixados aqui mesmo. Não. Se acendo essa luz agora é por acreditar que preciso de um tantinho de iluminação pra ver se termino esse pensamento que, longe de ser linear, é cortina balançada ao vento, arrancada da janela aberta solta, livre, pra ver, crescer e voar... 10.04.2008 - 23h46min

Possibilidade

FILOSOFIA... pensar... detesto pensar... isso só me traz problemas... acontece que virou hábito, melhor (ou pior, depende do ponto de vista), virou vício. Não. Pior que vício. Pensar é maldição. Às vezes é menos dolorido morrer... 10.04.2008 - 23h23min

quarta-feira, 9 de abril de 2008

FECHADO?


Um dia essa palavra se apaga.

A partir de então, talvez,

haja abertura...







09.04.2008 - 01h58min

O Muro

Desejei uma imagem

poeticamente colorida.


A vida despertou-me do sonho


e entregou, de bandeja,


um muro


poeticamente dolorido...














09.04.2008 - 01h51min

Igualdade? Ah, não!

Não quero saber de unanimidade quero a discordância, a discussão, o desafio, a generosidade. Eu quero isso que a gente está perdendo de tanto inventar a igualdade. Eu quero, eu preciso, eu acredito, é na diversidade... Aos 9 minutos do dia 09 de abril de 2008

terça-feira, 8 de abril de 2008

Súplica

Não, por favor. Poupem-me do martírio de explicar o que eu quis dizer. Assumam meu verbo. Tomem para si os sentidos todos.
Que os meus, só a mim pertencem.
Ainda que em cada homem haja um tanto do que é universal. 08.04.2008 - 23h42min

4...3...2...1...

Pergunta perdida é coisa de não-dizer o feito destituído o fato de não-querer fala a prata da casa que prato fraco se quebra de tédio e desengano acontecido mil vezes ao ano entre as contagens regressivas insistentemente abortadas. Aborda o recomeço... 08.04.2008 - 23h38min

Escolhe, acolhe, recolhe... alucina...

Se te escolho entre todos os mortais e a ti dedico atenção e cuidados é que tens um não-sei-quê nesse teu olhar alado de poeta enternecido. Se te acolho entre meus membros num abraço quase embrionário é que tens um sei-bem-o-quê nesse teu andar enluarado de poeta anoitecido. Se te recolho entre as palavras que escrevo e que bem domino é que tens um bem-querer nesse teu falar enfeitiçado de poeta amanhecido que me escolhe, que me acolhe, que recolhe os meus cacos todos que, enfim, me alucina... 08.04.2008 - 23h29min

Amor e pão

Do lado de fora da vida, o cansaço, as costas doídas. Brisa leve anuncia lá adiante que a letra é navegante e o espinho é passageiro. Escreve torto nas linhas imprecisas do tempo direito. O espaço é denso e certo? Fomento o sentido perfeito da consolação e do lamento. Considero as curvas da passagem: frestas nos muros erguidos nas arestas cortadas do medo. Encontro abrigo e oração na casa que acolhe o andarilho errante esfarrapado e cambaleante que já perdeu tudo primeiro que esse tudo, a razão. Descanso a cabeça no ninho tecido fio a fio lentamente e agradeço a polpa escorrida da fruta suculenta oferecida. Brilhante oferta carnuda. Amor e pão é do que todo Ser precisa. 08.04.2008 - 23h21min

Anestesia

Quando a saudade for tão grande a ponto de anestesiar-te o peito, observa... É serviço do tempo garantir-te vivo. Desnuda-te e perdoa. O que é teu, não esquece. Acorda e sonha, que o desejo, um dia, amanhece.... 08.04.2008 - 02h08min

Exílio

...à noitinha,
o crepúsculo pinta de vermelho
um imenso céu azul...
Nas conchas das mãos as lágrimas derramadas pelo absurdo silêncio. O desespero é parte de quê? Do abandono ou da esperança? Na prancheta as últimas palavras tristemente pronunciadas como um toque de amargura pincelado na delícia de viver. E uma saudade do não-tido anestesiando o peito gritando por uma anistia impossível de se conceder! O exílio é o castigo do desobediente que insiste na procura vã de uma atenção ausente ou da presença que não pode ser. Exílio é tortura consentida, dor que brota de noite e te acompanha nas horas do dia, com cheiro de flor quase parida entre as contrações e os tremores e os espasmos que a solidão, essa furada canoa, provoca no peito de quem já não tem no que sonhar, além de um coração vermelho e de um céu azul a pulsar... 08.04.2008 - 01h58min

sábado, 5 de abril de 2008

Graham Bell


Depois do acidente, o orelhão,

a meio caminho de espatifar-se no chão,

sugere um pensamento:

Que comunicação é essa, que estilhaça

os vidros e não desvia das linhas

cruzadas entre a razão e a não-razão?

Que vida é essa, que pouco vale

e vale pouco menos que um cartão

que se gasta na primeira ligação?

Que sonho tão curto,

que se quebra numa esquina,

aos pés de Bell?

Pra que lado fica o céu?






05.04.2008 - 19h13min
(Será que é no lado de dentro?)

Brrrrrrr......


Amendoim, pinhão na chapa, fogão à lenha,
blusa de lã, cobertor, meia grossa, bota de cano alto,
cachecol, touca, aquecedor, chocolate quente,
chocolate em barra, pipoca, batata na brasa.
Da boca, saindo fumaça de frio. Luvas, batom vermelho,
churrasco, fogueira, cantoria, gripe, espirro, espiriteira.

Ah... Inverno bom. Chuva e cerração de manhã cedinho.

Vontade de dormir até mais tarde. Quem não sente?
Casaco pesado, polainas, montanha de edredons na cama.
Pantufas de bichinhos. Pijama de flanela. Sopa quente na panela.

Ah... Inverno bom...
Outono foi sopro breve, secou as folhas, despetalou os galhos.
Outono é só convenção na folhinha.
E o frio vem depressa, conserva meu riso,
conserva na despensa do meu velho peito
a certeza de que o dia amanhece
e de que a vida se renova, sempre.
Debaixo de geada, vem novinha,
saudar a alegria que se inicia.







05.04.2008- 19h04min

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Hoje é Sexta-feira

Sexta-feira, e a vida anda mole assim, meio de bobeira, como se hoje não fosse agora como se agora não fosse hoje como se já e daqui a pouco nada mais fossem que só um ponto ou uma vírgula ou uma expectativa não se sabe de quê. Sexta-feira, e a vida enrola um novelo de lã quentinha pra tricotar casaco pra filhinha que dorme tranqüila, na cama macia. Sexta-feira, e o informe oficial é de que, depois dela, vem o fim de semana esperado pra um descanso invejado por quem não pára nem em feriado muito menos em pleno sábado. Sexta-feira... Festival do Beijo, em Madri, e eu aqui... Sexta-feira... Aos 9 minutos do dia 05.04.2008

Cotidiano poético


Há poesia em cada canto da cidade.
Há poesia nos cantos dos muros,
nos cantos das praças, nos cantos dos fundos
dos poços do cotidiano dos citadinos
que se apressam para chegar ao nada.
Há poesia na lágrima que rola no rosto da menina,
no latido do cão preso na coleira,
no sinal fechado, na rua vazia, no trilho do trem
que não partiu hoje por falta de turistas.
Há poesia no perigo da limpeza da vidraça,
no jogo com a vida que se faz diariamente
sem que se perceba, sem que se atormente,
já que as contas não fazem perguntas,
nem os credores querem respostas,
apenas as notas, umas sobre as outras,
no vencimento das prestações mortas.
Há poesia no carro que passa, na buzina estridente,
no mendigo, no pedinte, no doente, no indigente,
na moça bonita, na velha elegante, na cor do fim do dia
que enfeita a vida e pinta de vermelho o horizonte.
Há poesia no cheiro de flor que ficou da primavera
e na folha seca partida debaixo dos pés,
no início de um outono frio e bem-vindo.
Há poesia na correria que acontece
entre os pedestres, entre as pedras paradas
que observam os pombos e seus vôos,
na praça defronte à prefeitura municipal.
Há poesia na cidade, nas coisas pequenas,
na sirene da polícia, dos bombeiros, da ambulância,
ainda que sejam esses versos cantados tristemente,
como quem chora ou como um lamento doído
de quem perdeu o que não voltará, nem com forte pedido.
Há poesia no bom e no que é visto de soslaio
que a gente evita o contato, que a gente finge não ver.
Tudo parte do soneto universal
cotidiano poético por todos lido
por quase ninguém entendido como tal...




04.04.2008 - 23h38min

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Questão?

SER ou SER. Uma quase maldição... 03.04.2008 - 22h12min

Amor menino

E o amor é esse menino travesso que apronta arruaças e levanta vôo entre as moças, nas praças só pra lançar seus dardos avermelhados nos corações de jovens poetas que por ali passam, desavisados. Ah, amor levado e imprevisto, que vem de mansinho, se acerca do ouvido e sopra nele versos leves de algodão. Ah, amor sapeca e bem ligeiro planta no peito um fiapo faceiro da mais pura e verdadeira paixão. E aí é um deus nos acuda um valha-me ó deus um salve-se quem puder porque então nem de reza braba resulta a cura pra essa loucura do coração... 03.04.2008 - 01h21min

terça-feira, 1 de abril de 2008

Ofício: pastora da alegria




Ensinar: plantar flores
em canteiros floridos.
Ensinar: entender-se pequeno
ante tremenda diversidade
com olhos ávidos que nos espreitam
e nos perguntam sem palavras,
'o que vamos descobrir hoje?'.
Ensinar: crescer junto.
Ensinar: esquecer da gente,
entrar num universo mágico,
r e a l i z a r...


Meu ofício? Pastora da alegria.





01.04.2008-22h59min
*O termo 'pastora da alegria' foi tomado emprestado
de Rubem Alves, admirável educador.
**Imagem: Minha turma do 1º ano do Ensino Fundamental,
em plena atividade de pesquisa. Concentradíssimos!!!!!!!

Desejo

Que estejamos todos poeticamente prenhes da beleza traduzida em versos... Que seja a dor, o amor, o horror, o dia, a noite, a doçura, amargura, alegria ou lerdeza. Que seja a saúde, a doença ou a tempestade, o sabor adocicado de um beijo ou o sangue da ferida aberta. Que seja a risada gostosa do palhaço ressurgido ou o regurgito do fel engolido. Que seja o que tiver de ser. Em todas as fases as faces da poesia bendita. Pra fazer valer essa nossa alma que não é pequena, é vida de Pessoa... 01.04.2008 - 02h10min (E toca o barco pra frente que tem muita água pra navegar...)

Hoje eu morri (ou Poema da Indiferença)


Dou passos arrastados na areia
A maré removerá todos os vestígios
Arbustos mortos rolam na rebentação
O horizonte respira melancolia
Navios duvidosos vogam em direcção a Ormuz
Pescadores enrolam redes remendadas
Um gato procura abrigar-se da pesada chuva
O chamamento do mulá perde-se nas ondas
Recitando uma oração volátil
Mensagens de submissão incondicional
Cantos para Deus, que não desejo ouvir.

Sou aquele que sempre deu a outra face
Fui mil e uma vezes agredido
E em mil ocasiões tudo perdoei
Educado para dar, sem nada esperar
Nunca neguei um apoio gentil
Jamais regateei uma palavra doce.


Porém, hoje eu morri
A visão do mundo turvou-se
Os sons destilaram-se em silêncio
O sangue esvaiu-se lentamente
Parti sem prantos ou lágrimas
Quando me quis, já não me encontrei.

O meu fantasma acordou agnóstico
Ergueu-se com um sabor de fel na boca
Olhou para inúmeras cicatrizes por sarar
Todavia sentiu-se incapaz de sofrer
Sacudiu a areia dos farrapos que lhe cobriam a alma
Soltou o espartilho dos seus valores
Envergou vestes de imaculado negro
Sorveu uma deliciosa taça de indiferença
Sentiu-se mais vivo que em vida
Já nem todas as faces merecem um sorriso.


M.Daedalus



01.04.2008 - 01h45min
(publicado pelo meu querido amigo poeta DOUGLAS, em
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=42836441&tid=2576314501045743642&na=2&nst=252
Imagem: Remedios Varo)

Mentira!

No dia da mentira menti pra mim mesma que tudo tem um fim que também marca um recomeço. No dia da mentira sorri sem vontade brinquei à força forcei a barra de uma alegria que não existia. No dia da mentira respirei fundo e enfrentei o mundo com uma coragem fingida e supostamente grande. No dia da mentira menti descaradamente sem a menor culpa ou sensação de engodo. Enganei sem corar. Corri contra o tempo como quem sabe para onde vai e o que pretende achar. No dia da mentira calei a voz aos gritos gritei sem voz, atritos brilhei sem luz nos ritos que o costume impôs aos que crêem nos mitos. No dia da mentira rasguei a verdade sem dó nem piedade pisei nas farpas nos espinhos nas lições da idade. No dia da mentira menti descaradamente que o coração não sente o que o peito encerra. No dia da mentira desfiz o acordo e entendi a verdade. No dia da mentira acordei do sonho. Renasci. 01.04.2008 - 01h33min