sexta-feira, 14 de maio de 2010

In saecula saeculorum

Insana insônia
me acomete de medos
e de frases soltas
gaguejantes procuras
por pontos de luz
na noite escura.
Insônia errante
vagueando pelos ladrilhos
de uma estrada sem volta
sem curvas
sem distâncias.
Insensata ânsia
de malignos desígnios
e cercas de arame farpado
comme il faut
aos mortais exaustos
de tanto viver.
Insondável insônia
que atravessa meus séculos
e meus tremores,
perpassa meus ossos
e alcança a linha
desse horizonte que é só meu;
eu,
solitária sobrevivente
à morte diária
que a manhã ressuscita.







14.05.2010 - 16h

De emoções, de razões e de (in)conclusões

Concluir?
E desde quando os "sem razão e sem falta de razão"
concluem alguma coisa?
Minha vida,
meus delírios,
minhas abastanças,
minhas invenções,
minhas danças,
meus dizeres,
minhas falácias,
meus sonhos,
meus maltrapilhos abraços,
minhas incontáveis faltas de noção,
minhas premissas,
meus sabores,
nada disso tem conclusão...
nada jamais continua,
diria Quintana,
tudo vai recomeçar...
Inclusive essa minha repetida inconclusão...
Ela não continua;
com renovadas forças,
recomeça.


E só isso já basta pra definir toda a minha loucura....





14.05.2010 - 15h40min

CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE

Tão bom viver dia a dia
a vida, assim, jamais cansa
viver tão só de momentos
como estas nuvens no céu....
E só ganhar, toda vida,
inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
presa à copa do chapéu.
NUNCA DÊS UM NOME A UM RIO:
SEMPRE É OUTRO RIO A PASSAR
NADA JAMAIS CONTINUA
TUDO VAI RECOMEÇAR!
E sem nenhuma lembrança
das outras vezes perdidas,
atiro a rosa do sonho
nas tuas mãos distraídas...

Mário Quintana

Cancioneiro

E a vida
(essa louca vida breve
na boca de Cazuza)
amanhece todo dia
atrelada aos raios de um sol teimoso
que rasga as nuvens pesadas
e insiste em dar à luz
um tantinho de calor.
E a vida
(essa mesma vida
sempre igual de Cazuza)
surpreende toda hora
com uma ponta desigual
com um tanto de mudança
visível apenas e tão somente
para quem tiver olhos de ver.
E a vida
(essa mesma vida escrita
na letra de Lobão)
nasce no despertar
dessa minha compreensão
de que a minha e a tua
são duas
e não há como unificar.

Vida intensa no céu da minha boca
na contrapartida da mão espalmada
sobre a parte escura da lua.

É noite
vida espremida
premeditada largura.

Um fio de fogo a salvo...

... da correnteza viva?



14.05.2010 - 4h37min
(Insone rabisco...)

Justificativa

Escrevo.
Destilo meu medo
nas linhas finas das costuras
dos meus verbos.
Encontro avelãs nas dobras
dos trovões de dias passados.
Fabrico sacolas de risos
e enriqueço o mel dos meus dedos.
Escrevo.
Sem pensar, aqueço as chaleiras no fogo
das estrelas caídas da noite.
O dia assalta o começo de tudo
e a folha branca é veneno vermelho
rasgado de agitado oceano.
Escrevo.
Revejo o sol por instantes
té que a caneta se canse
e eu volte a ser oca:
zumbi sem alma nem alegria
invisível pedra nua sem pena
que me absolva dos atalhos
e das síndromes que viajam em mim.




Aos 23 minutos do dia 14.05.2010

Louca


Sou uma louca, bêbada de ilusão


sou luz de vagalume queimado

e vestido vermelho transparente

em noite de lua cheia

e cupido sorridente.

Sou o que nunca tinha sido

e pesadelo de olhos acordados

em ovelha sonâmbula imprecisa.

Sou a junção de juncos empobrecidos

de fios de algodão e laços de tinta

pendentes de enfileiradas facas sem fio.

Sou o ontem decente

e a revolta desta manhã

lutando nas minhas pernas

que insistem em me levar

até o limite do dia que vira chuva de confete

sem resposta que se alimente.



Sou uma louca

dançando sobre folhas

de fios de espadas enfileiradas.



INDECENTE.
 
 
 
 
Exatamente à meia noite, no limite entre os dias 13 e 14 de maio de 2010