sexta-feira, 11 de julho de 2008
Insônia
Teço o infinito na terça parte da noite
quando teu sono abastece de sonhos
as luas e os astros que luzem por ti.
Tranço sementes de sombras
nas arestas exatas das horas que passam.
Enfrento sozinha os monstros que passeiam
descalços nas silenciosas madrugadas.
Ruas vazias de empertigados viventes hostis.
Ruas exaustas de riso e esperança
exultantes de prazer e crença
extenuantes: fulgor e dança.
Enriqueço a presença rasgada
na fotografia escura que fiz.
O verso encoberto de areia
e a curva no corpo insone
serão testemunhas das linhas
que eu jamais escrevi
mas que leste em meu ventre
ontem
quando te servi.
11.07.2008 – 02h33min
Vieira
Voam meus ares por novos ares
A vara de condão distante
Desnuda teu corpo de letras
Tu’alma de suspiros lentos.
Sou eu quem desvenda
Os mistérios da ostra,
Rara pérola negra
Nos olhos meus...
11.07.2008 – 01h23min
Alegria
Todos os tentáculos da alegria me alcançam
E mordem a isca, presa aos cantos da minha boca
E no centro do meu olhar.
11.07.2008 – 01h17min
Estrada
Meus caminhos são os que eu mesma invento
Meus caminhos são os que desconheço
E carrego nas costas a passos largos
Enquanto a vida se distrai
E eu me vingo da areia
Que não pisei...
11.07.2008 – 01h07min
Milagre
Arrisco recortes de estrelas
No céu arisco sobre mim
Encontro flores vermelhas
E espinhos maduros:
Vida e rumores estáveis
Nas pouco prováveis oscilações
Das malhas de um tempo e de um espaço
Que não almejam o fim...
11.07.2008 - 02h
Divagar
Deixo transparecer as transparências
Da minha essência invisível.
A olho nu encontras minúsculas
Partículas do que tento evitar a todo custo.
Desconsidero o confronto voluntário imediato
Entre a garganta e o verbo obtuso
Que esqueci de pronunciar
Em todas as horas em que minh’alma foi tua.
O milagre é reticente
E condescendentes todos
Os beneficiados por ele.
Nuvens são cães, são gatos,
São leopardos, são corpos inflamados
De raiva, desejo ou pudor.
Três tentativas de eternidade.
Três tratativas de poder.
Três formas de dor.
E o amor?
Aos 58 minutos do dia 11.07.2008
Ostra
Coleciono opiniões próprias
só pra delas discordar
a interrogação mora em mim
e a fatalidade, no ponto final.
São cercas de arame farpado
todas as horas em que me vi
obrigada a viver um instante
que eu não criei,
que não nasceu de mim,
que eu não pari.
A catarse me ganha
o grito, a gana, a saga,
a sina, a sanha.
Ensandecida, rabisco versos livres.
Recuso-me à permissão do erro.
Entrincheiro a alma e aguardo nua
a lágrima restante.
Inteira, eu mesma mergulho no lodo
ao lado da primeira estrela
e deixo rolar a pedra sagrada:
pérola negra
ao longo do corpo
cujos olhos observam, ao largo.
Recolho as amarras guardadas
nos parcos silêncios, nas abundantes palavras.
Tranco a sete chaves a ostra
nenhum olhar me alcança
nenhuma luz me arranca.
Rasgo a opinião própria
e me aproprio do grão de areia:
promessa de jóia vindoura.
11.07.2008 – 0h35min
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