quinta-feira, 4 de junho de 2009
Mea Culpa
Produzo minha poesia
como quem ergue muros
ou edifica uma cidade
de letras e vocábulos ocos
rebelados contra um poder
que invade minhas entranhas
e os caminhos de meu sangue
mergulhado de solidão.
Planto curativos nas minhas feridas
vertentes de sonhos e saltos
nascentes de representações
e obstáculos e raízes e cordões.
Posto as folhas brancas
nas gavetas das curvas vazias
e respondo ao sol escondido
que não quero nada.
Um tiro no claro da noite de brumas...
Corpo inerte da construção erigida
atrás de outra porta
escancarada.
Emudeço a escolha e a raça
dôo o acento e assento meu lápis
no topo da lista
que não escrevi.
Minha poesia é um muro
que divide uma cidade
de letras escorridas de sangue
de véus e de verdades nuas.
Minha poesia é um soco
no estômago de dentro de mim
pra desviar a dor
a oca dor ventríloqua
uma louca dor poetada...
04.06.2009 - 22h08min
Chocolate
E o chocolate de bule
não leu a bula que informava
célere, como todas as bulas do mundo:
"Não me tome
não me dome
não me domine
não me trema
nem me tema
que sou demônio
ou bálsamo amargo
que te cobre de doce
e te adocica a fome
de quê?
quem poderá saber?
talvez de força
talvez de dores
talvez de formas
ou de falta de cores
quem poderá saber?
os sintomas não mentem
nem desmentem deveras
o que não soa da flauta
nem dá conta da falta
que te corta e flutua.
Não me dome
não me tome
não me forme
não me informe
não me insone
nem me ame.
Não.
Não me ame"
O bule não achocolata
nem o chocolate bule
embolo o bolor
e choco a visão do leitor.
Desavisado leitor
de versos tortos...
04.06.2009 - 22h
Círculo (vicioso?)
O eco espera o grito
o rito não assunta
o prêmio não delira
o pêndulo espreita o rumo
o prumo incendeia a culpa
a catapulta não define a linha
a dupla não definha a sobra
o sopro esfria o leite
o luto esconde o enfeite
a luta esfrega o azeite
o verso não tem medalha
a migalha não tem respeito
o remendo emenda a hora
a honra ocorre sem medo
o cinto não reclama os dentes
os pentes não alisam os pontos
o peito deleita o amigo
o ronco mente o sono
o ranço pinga o sonho
o som dança a valsa
a vala abraça o corpo
o copo afasta o beijo
o susto afasta o desejo
o medo afasta a meta
o modo afasta a liga
e eu?
04.06.2009 - 21h11min
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