sábado, 29 de maio de 2010

Do que há em mim*

Sou tudo e mais um pouco.


Além do que se pode entender.

Aquém de quem eu gostaria de ser.

Sou prata da casa e

casaca virada no quintal deserto.

Sou esposa e amante.

Sou espinho e razão.

Sou nada e menos um pouco.

Alimento de fera

e ferida exposta de verão.

Sou voz presa na garganta

e garganta seca

pendurada no cabide do dia

inda não nascido

sem a menor previsão.

Sou ponta de iceberg

e oceano revolto

bem no meio de florestas tropicais.

Sou neve e sorvete de uva.

Sou folha de plátano

voejante de amareladas resistências.

Sou o que nunca pensei

penso quem nunca fui

e talvez quem jamais serei.

Sou a repetição da imagem perdida

e a perdição na esquina de luz

que o sol acendeu

depois de ascender a alma

nas conchas das mãos do amor.

Sou eu e ninguém mais além de mim

na caixa que eu chamo de corpo

e que abriga dentro

misturados a tudo o que vivi

minha filha e meu homem

desde antes

e pra muito além

de tudo o que existe

e de tudo o que haverá de ser.



29.05.2010 - 16h
*Da Série SOBRE QUEM SOU