sábado, 2 de fevereiro de 2008

Objetivo?

O da minha letra? Dizer. Contar de mim para minha imagem e semelhança. Descobrir-me (seja lá o que for que isso queira dizer). Mas, afinal, quem disse que um verso tem que ter objetivo? Um verso pode ser apenas um verso solto no meio de um monte de outros versos ou entre as pernas de um bêbado qualquer que não sabe sequer quem ele próprio é, muito menos com que objetivo diz o que diz. Um poema pode ser um amontoado de pensamentos confusos que andavam perambulando descalços nos porões da mente do poeta insone que tem fome de cantatas ao ar livre de serenetas e de noites enluaradas em que o pio da coruja se ouve ao longe e nada mais se move além da caneta no papel nervosamente transbordante do eco da alma que reclama, impaciente, um ouvido paciente que a ouça. A letra nada mais é que um sinal gráfico usado pra expressar o que vai dentro da gente e que nem sempre abarca todo o significado do sentimento que está muito forte e presente. A letra é um risco que sangra a página virgem. Desfaz o estigma da imaculada folha branca. A letra é violência. É grito amargo. É solidão. Dizer machuca quem diz, maltrata quem lê. Se digo do amor que sinto, provoco inveja em quem não tem amor pra receber. Se digo da dor que me atravessa o peito provoco pena, dó, piedade, em quem não sabe a idade que tem essa minha dor. Se canto a alegria, se faço festa, se celebro a vida, provoco risos e lágrimas ao mesmo tempo e barulho e muita satisfação. Dizer é a função do poema. Nada além disso. Como a função do sexo é dar prazer. E eu já não sei mais viver sem o dito pelo dito, pelo não-dito, pelo mal-dito, pelo bem-dito, pelo jamais proferido sob pena de des-dizer... mesmo sem objetivo... Eu já não sei não dizer.... 02.02.2008 - 05h26min

Arte e Fato


Revelei por essas linhas
os traços da minha vida.
Procurei as palavras exatas
que descrevessem meus passos
que desenhassem as curvas
dos caminhos que escolhi.
Cantei minhas vitórias
chorei as partidas e as saudades.
Confessei meus amores sem culpa.
Espalhei boas novas.
Ri, com os velhos e as crianças.
Colhi os frutos plantados
com a alegria que me acompanha
diariamente
desde que nasci...

Agora, o tempo exige silêncio.
A falta de sentenças exatas
é realidade em mim.
Não há mais o que dizer.
Nenhuma expressão.


O silêncio é em mim, hoje.
Agora, ele sou eu...


Shhhhhhhhh.....



02.02.2008 - 0h34min