quinta-feira, 3 de julho de 2008

Desencontro

Exceto quanto te desejo meu dia tem um vácuo espaço de buraco sem fundo faltoso de significado. Exceto quando te espero as horas se prendem aos cabelos as bengalas não apóiam meus calçados as calçadas não amparam os passos [frios. Exceto quando te quero sou máscara ambulante, insensível sou prato de feitos e frutos invisíveis sou ninguém, que mira um ponto distante. Exceto quando o quanto é presente: TU! 03.07.2008 - 23h58min

Consolo

Estrondos escombros assombros ombros os teus... 23.07.2008 - 23h43min

Quantidade

Quantas vozes
declamarão meus textos?
Quantos corações
buscarão consolo
nas linhas que escrevo?
Quantas descrições
farei dos meus sonhos,
do que sinto,
do que vejo,
do que minto,
do que suspeito?
Quantos anos serão necessários
té que se entenda
que a letra é grito
que a noite me pertence?
Quantos delírios e ilusões
formam uma ponte
até o portal das intenções?
Quantas vozes
derramarão os suores
do meu rosto?
03.07.2008 - 22h58min

Exclamação

Olha só! O tempo tropeçou nos ponteiros do relógio sem corda! Olha só! A vida voou em duplas e os santos aplaudiram o minguar da lua como se fora bênção chegar atrasado em plena procissão marcada pra depois da missa na manhã de um sábado azul. Olha só! São três horas da manhã e o galo avisou que já vai partir, que a tristeza abandou o dia e que a noite vai dormir. Olha só! Minúsculos pingos de chuva molharam os anéis dos meus cabelos enquanto eu ia pelo aterro pra entender direito o que é, afinal, essa velha Poesia muda, que mudou o meu jeito e gritou no meu ouvido que a verdade anda crua, precisando de um pouco de sal, pra parecer mais gostosa. Olha só! Se esse nó te amarrou agora quanto maior será o fio do luto que a pressa da vida te amarrará... 03.07.2008 - 19h36min

O valor do silêncio

Shhhhhhhh Não digas nada busca em silêncio a rima pra tua dor. O embuste te aguarda na próxima esquina disfarçado de amigo disfarçado de circo disfarçado de amor. Evita as ruas lamacentas evita as alamedas lotadas evita as grandes multidões e os dias de chuva e os dias de sol e os dias nublados. Evita a presença da luz mas também foge da escuridão. Evita a palavra sequer pensada. Não, não pensa em nada. Evita o pensar. Busca a tal rima em silêncio absoluto absurdo abstraído de algum lugar. Evita tua própria imagem refletida no espelho do olhar. E compra o bilhete só de ida lá, pra onde queres estar. A rima te aguarda de pé, no topo da escada, que te leva para além de onde desejaste ir. Para além de qualquer parar. Shhhhhhh não digas nada até lá chegar. E quando chegar, CALA! 03.07.2008 - 19h22min