quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Condição

Se danças, inda que só,
danças.
E teu corpo é só energia.
Se cantas, inda que mudo,
cantas.
E tua canção é pura magia.
Se amas, inda que em sonho,
amas.
E teu peito é
só...
30.10.2008 - 18h22min

Quietude

Compenso tua ausência buscando teu rosto na minha própria voz. Excluo qualquer suposto que me impeça as vírgulas, necessárias esperas, té que teu riso me alcance. Sopro as espumas das letras que lacrimejam tua verdade. Brindo, enfim, à certeza de tua presença, inda que distante de mim. Saudade.... 30.10.2008 - 18h15min

Olhar

Eu não tenho olhos azuis.
Eu não tenho olhos castanhos.
Eu não tenho olhos de cor alguma
que se perceba à claridade
de um olhar qualquer.
Eu não tenho sonhos azuis.
Eu não tenho sonhos castanhos.
Eu não tenho sonhos de cor alguma
que se perceba à claridade
de um olhar qualquer.
Eu não tenho caminhos azuis
muito menos caminhos de rosas brancas
ou de espinhos, sequer, eu tenho.
Eu não tenho caminhos.
O que me há
é um tal gemido constante
que pinta meus olhos
de cores berrantes,
nem um pouco sutis.
O que me tem
é um estado de alerta distante
um tremor de dentro
um desejo ardente, persistente,
de imperiosa meretriz.
O que me leva
é a força de um tudo
dissolvido nas partículas
de minha particular esfera.
Eu não tenho um olhar.
Eu SOU.
30.10.2008 - 18h05min

Lembrança

Das janelas fechadas do velho casarão de minhas pretensas memórias curtas desprende-se o salgado gosto da pele que eu não lambi... 30.10.2008 - 17h53min

Peso

O vento não beija cortinas de crochê... 30.10.2008 - 17h51min

Relance

Escorre a luz
entre as frestas
das janelas desses teus olhos
que resgatam
as fronteiras dos meus.
Nenhum Império
comporta teus braços
nenhuma sombra
cobre-te os passos.
És asa e tatuagem no vento;
és presa da liberdade
breve delírio viajante.
Passagem....
30.10.2008 - 17h48min

terça-feira, 28 de outubro de 2008

... e a vida segue...

28.10.2008 - 03h23min

In Memorian

A vida?
Eu seria redundante se dissesse que ela é breve.
Eu seria infantil se dissesse que é longa.
Eu seria cega se dissesse que é perfeita.
E, finalmente,
eu seria hipócrita se dissesse que não vale a pena.
A vida?
Vale todas as penas
de todos os seres.
Essa vida mesma, que dura sempre a medida exata
da nossa falta de medida.
Essa vida mesma, que brilha no brilho dos olhos
ainda que cerrados pelo sono dos justos, dos injustos,
dos vivos.
Essa vida mesma, que acompanha-nos os sonhos,
ainda que eles se transformem em pesadelos.
A vida?
Vale cada segundo,
mesmo o mais doído,
mesmo o mais doido,
mesmo o mais torto,
mesmo o mais sofrido.
Não importa.
A vida vale.
E o peso da vida haverá de ser peso de ouro.
A vida,
no vale da vida.
A vida,
no vale da sombra da morte.
A vida
vencendo, nem que seja a saudade.
28.10.2008 - 03h03min
Para Silvia, amiga querida, sepultada no dia de ontem.
A vida que havia em ti, permanecerá.
Saudade...

Eu sou

Sou de tudo um pouco
tenho uma alma louca
e aflito coração.
Sou procura, espera
e intenção.
Sou quimera,
aprendiz de vida
alegria e cansaço.
Sou santa e guerreira,
nas horas vagas, rameira;
nas horas inteiras, solidão.
Sou o teu NÃO.
SIM?
28.10.2008- 02h30min

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Teus olhos

Tu tens uns olhos tristes,
desses que vêem tudo
e que alcançam tudo.
Por isso mesmo, tristes.
Tu tens uns olhos fundos.
Desses que alcançam tudo
e vêem tudo.
Por isso mesmo, tristes.
Tu tens uns olhos firmes.
Desses que entendem tudo,
desses que alcançam tudo
e vêem tudo.
Por isso mesmo, tristes.
Tu tens uns olhos fixos.
Por isso mesmo fundos,
por isso mesmo firmes,
por isso mesmo tristes.
Tu tens os olhos que eu amo.
22.10.2008 - 23h35min
Para Adrebal, meu amigo querido,
que eu amo de paixão.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Da violência

A violência? A violência é maldita. Melhor é a malemolência, que não faz mal a ninguém, apesar de começar com 'mal'. A violência suga a alma, rasga a carne, provoca chuvas de água salgada no peito das gentes. A violência é maldita e malditos os seus dissidentes. Torno-me, eu mesma, violenta, contra a violência, tamanho é o poder dessa infeliz. Varre a decência, escurraça a decência, cospe na decência, ela, a violência. Toma conta de tudo à sua volta e não pergunta se é bem-vinda, por se saber sempre indesejada. Mas toma conta de tudo, mesmo assim, a maldita. E nessa conta, toma as vidas de quem amamos, toma os sonhos de quem amamos, toma os amores, toma até as dores, toma os créditos, toma os desejos e toma a alma, de quem amamos. Ceifa vidas feito campo aberto. Ninguém a segura. Ela, a maldita; ela, a violência. E apesar de acreditarmos que amar é que vale a pena, violentamente desejamos que os violentos se danem. Eu desejo. Talvez uma parte dessa violência que tanto maldigo esteja arraigada em mim, também. Maldita violência!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 21.10.2008 - 02h40min

sábado, 11 de outubro de 2008

Cultura

Cultura alimenta
o espírito
a mente
o corpo
a alma
a semente
do qu'inda nem nasceu.
Cultura dá brilho
dá compasso
dá certidão de nascimento
pra alegria
que dormia
no quarto ao lado.
Cultura dá poesia
e dá o que não vende
e vende o que desvenda
e empresta o que desprende
do corpo
do olho
do pão de centeio
que o corvo não comeu.
Cultura não é ópio
não é disfarce
não é desfalque
não é distorção.
Cultura é o culto
ao que surge do povo
que brota da veia
que vela pela veracidade
do que anda escondido
por detrás das cortinas
das individuais solidões.
Cultura é o cara que declama
o poema do poeta eterno.
Cultura é o índio que dança
e divulga o som da sua tribo.
Cultura é a peça em cartaz
há anos e anos e anos
e é sempre nova,
e é sempre honesta.
Cultura é o que a gente espelha
é o que a gente espera
é o que a gente É.
A cultura anda nas ruas
sai de casa e vai ver...
11.10.2008 - 23h12min

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Quando a atração é só física

A gente pode morrer de atração por alguém aí se chega perto, se olha nos olhos, se conversa e o inesperado pode acontecer: a atração por esse alguém pode morrer na gente... 09.10.2008 - 20h41min

Troca

Eu sei que parece injusto,
mas tudo o que eu queria
era que fosses TI
no lugar dele...
09.10.2008 - 20h39min

O jogo, o mesmo

Um passo.
Uma hora.
Um começo.
Um interesse.
Um sentido.
Uma descoberta.
Uma percepção.
Uma alegria.
Outro passo.
Outra hora.
Outro começo.
Outro interesse.
Outro sentido.
A mesma descoberta.
A mesma percepção.
A mesma alegria.
Outra descoberta.
Outra percepção.
Outra alegria.
A exatidão do que vejo.
A visão do exato.
A vida, a mesma.
A visão, a mesma.
A alegria, a mesma.
O jogo, o mesmo.
As cartas na mesa.
E eu disse NÃO.
A alegria, a mesma.
A alegoria, a mesma.
A vida, a mesma.
09.10.2008 - 0h22min

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

The best real life

Existe.
E, um dia,
passas por 'ele',
olhas,
constatas O fato,
és correspondida
e segues teu caminho.
No entanto,
no instante seguinte,
'ele' está do teu lado.
Mais uma alucinação?
Mas 'ele' está falando contigo.
De verdade.
E é real...
The first life! Então te dás conta
de que a realidade
é muito mais excitante
que a fantasia.
Ele sorri,
te elogia,
tenta ser gentil.
Tu sabes que faz parte do jogo.
Tu sabes o que ele quer.
Tu sabes o que também queres.
E sabes jogar muito bem.
E esta é a vida real...
The best real life...
08.10.2008 - 03h13min
(Porque é bom olhar para o lado
e saber que a vida pulsa, apesar de tudo,
e não apenas ao teu redor,
mas também dentro de ti...
e é muito bom redescobrir
o melhor da vida real...)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Tranca

Um passo depois do outro uma arrastada pegada na terra molhada de lágrimas e ventos significantes. Um rastro depois do outro um toco de cigarro amassado no meio de um caminho que jamais percorri da fumaça que jamais traguei do delírio de onde jamais saí. Um posto rente ao chão o pasto gasto de tantos círculos desenhados pelo andar da carruagem que, longe de ser de princesa, é de sombria indignação. Um dia depois do outro uma noite depois da outra um tijolo sobre o outro e eis edificada a cura. Basta que a porta se abra basta que a mão se estenda basta que se encontre a chave. A chave a chave a chave a chave a chave a chave... A chave ainda agüenta... Aos dois segundos do dia 07.10.2008

Voltando... devagar... bem devagar...

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos)
É como acordar de um longo sono. Não um sono restaurador, daqueles que te renovam as forças, que te fazem respirar diferente, que te trazem fôlego para o dia que te aguarda depois da madrugada. Não. É como acordar de um sono agitado, desses que te fazem acordar cansado, suado, exausto, louco de vontade de dormir de novo.
Mas desperto.
A despeito da inconstância deste Sol que não dura.
A despeito da pouca firmeza dos dias que ignoro.
A despeito da baixa destreza de minhas mãos trêmulas.
Desperto.
E tenho minha vida inteira pela frente.
E temo minha vida inteira pela frente.
E tremo minha vida inteira pela frente.
Desperto.
Se a beleza se desfigura, se são tênues as conquistas,
se os passos que dou são trôpegos
e me fazem hesitar entre as ruínas do que de mim sobrou
depois do terremoto,
desperto.
E despertar é uma escolha.
Escolhemos o tempo inteiro, inclusive a doença.
Escolho despertar.
Por mais que a alegria seja ilusória
por mais que a tristeza seja palpável
por mais que a vontade seja de morte
por mais que a verdade seja de sorte,
desperto.
Escolha feita.
Volta sacramentada.
Assim,
devagar,
lenta,
imprecisa quase.
Mas escolhida.
Desperto.
06.10.2008 - 20h51min