sábado, 24 de abril de 2010

Breve citação, à guisa de resposta

'Não posso deixar, neste momento, de manifestar um grande desprezo, não sei se pela ingratidão ou pelo fingimento dos mortais. É certo que nutrem por mim uma veneração muito grande e apreciam bastante as minhas boas ações, mas, parece incrível, desde que o mundo é mundo, nunca houve um só homem que, manifestando o reconhecimento, fizesse o elogio da Loucura.
(...)
Sabeis porque Cupido se conserva sempre moço? É porque só se ocupa com bagatelas, porque está sempre brincando e rindo, sem juízo e sem reflexão alguma, correndo puerilmente de um lado para outro, sem saber ao menos o que se faz ou o que se diz. Porque a áurea Vênus mantém sempre florida a sua beleza? Não o sabeis? É porque é minha parente próxima, conservando sempre no rosto a áurea cor de meu pai Plutão. Além disso, se devemos prestar fé aos poetas e aos seus rivais os escultores, essa deusa aparece sempre com uma expressão risonha e satisfeita, sendo com razão chamada por Homero de áurea Vênus. E Flora, mãe das delícias, não era, talvez um dos principais objetos da religião dos romanos?
(...)
Asseguro-vos, por Deus, que, embora eu seja a Loucura e esteja, por conseguinte, habituada a toda espécie de extravagâncias, muitas vezes não consigo conter o riso'



(ERASMO DE ROTERDÃ - Elogio da Loucura)

24.04.2010 - 16h33min
Para o bom entendedor, meia loucura basta...

Sagrado

Teu ritual de despedida
e o santo segredo
guardado nas conchas das mãos
de uma menina.












24.04.2010 - 04h33min

Ontem

Tu tinhas a chave da minha biblioteca
e eu, a da tua garagem
as duas, na casa construída a fios de ouro
e toques de guitarra
pra abrigar nossas mãos dadas
descalças de luvas
lavadas de sombras.
Nuas.







24.04.2010 - 04h30min

Espaço

E por falar em espaço
falta espaço em mim
daí o grito
o desabafo
não de tristeza
que já nem sei se existe
na face da terra onde piso
mas de radiância
palavra inexistente em riste
que me dou o direito de inventar.
Invento palavras
rimas
danças
e arremedos.
Invento tudo o que tiver que inventar
inclusive repetências.
É que ando saltitante
e satisfeita debalde
ou de balde
ou aos baldes e baldes e baldes
quantos forem necessários
pra comportar meus risos.
Ao longo dos dias
trancada na biblioteca, amo.
Amo nos coletivos
nos supermercados
nas farmácias
nas páginas dos livros
nas vídeo locadoras.
Ao longo das tardes
entre todos os sabores, amo.
Amo nos tropeços
nos desacertos
nos conformes
nos passos dantescos.
Ao longo das madrugadas
entre lençois e ternuras, amo.
Amo nos murmúrios
nos abraços
nas fomes
nos descansos.
Amo nas chegadas e nas despedidas
nas primeiras chego contigo
nas últimas me levas junto.

Falta espaço em mim
por isso preciso da tua ajuda
pra carregar o peso pena
do amor perfeito 
que vamos construindo pra nós.
Juntos.





24.04.2010 - 04h20min

Pertença


Dentro.





Aos 10 minutos de 24.04.2010