quarta-feira, 30 de junho de 2010

Carpe diem

A minha arte
é um escudo
contra a morte iminente.
Não fossem meus olhos
que seria da minha poesia?
Não fosse a poesia
que seria da minha existência?
O que há em mim
esfarelo na folha virgem
e garanto mais um dia.
Amanhã
ritual repetido
té que se esgote a íris
e a força do verso
já não me seja suficiente...







30.06.2010 - 02h20min

Estio

Minha inspiração anda órfã
manca
cega
lenta
tolhida.

Espia por entre as frestas da realidade.

Expia as minhas culpas.

Definha.









30.06.2010 - 02h10min

Suspiro

Quisera poder escolher estradas
desbravar terrenos
saber-me suficiente e farta.
Quisera ter outros conhecimentos
e saber deveras
o que deveras sente
aquele que conhece os caminhos.
Eu não sei o que faço.
Não sei se ando.
Não sei se paro.
Não sei se esqueço o lenço
ou se amarro o bode no pau de sebo.
Não sei se cedo
ou se insisto no contrário.
Quisera não ter chegado tão tarde
na hora exata em que os sóis
de todos os mundos existentes
desaparecem
na linha de um mesmo horizonte inglório.
Quisera outras margens
talvez outras respostas
ou, quem sabe, perguntas diferentes.
As minhas dores todas
carrego sozinha.
Acostumada ao peso delas
não me queixo. Choro.
Tranço o sal das lágrimas
e dele faço poesia.
Nenhuma outra alternativa
de sobrevivência.










30.06.2010 - 02h02min

Reflexo

Arrisco um passo em falso
disfarço um atalho
soluço um suspiro
invento solução pra tudo
intuo a solidão do vento.
O reflexo que me protegia
anda mudo

e hoje
sou só lamento...







30.06.2010 - 01h43min

O que é

Poesia
é susto de madrugada
carranca de pirata
escultura de artista
exposta na praça
no meio da calçada.
Poesia
é mais que rima
mais que arremedo
de companhia
mais que pretensa união
de letras e verbos e pretensões.
Poesia
é canção bailarina
menopausa de menina
e sangramento interrompido
na folha vazia
do fluxo do destino.
Poesia
é tropeço e esperança
vocabulário curto
largo latim de criança.
Poesia
é calor e geleira
chuva, vento e cachoeira.
Poesia
é grito
rumor e asfalto.
Pedra de granito.
Incêndio. Terremoto.
Poesia
é lamento e desabafo
barraco desabado
na beira do abismo.
Tormento.
Poesia
é riso e rouquidão.
Mudez madura.
Solidão.







30.06.2010 - 01h40min