Eu busco a perfeição
mas não quero encontrar com ela.
Eu garimpo o verbo
que distinga exatamente
o que pretendo opinar
mas não quero encontrar com ele.
Eu esgrafinho a terra
e cato o punhado de vida
que anseio desde sempre
que desde sempre espero
que crio e produzo e decanto
desde que me conheço por gente
(e isso faz tanto tempo
que já nem sei mais a quantas anda
o metro que perdi no meio do caminho
onde não tinha uma pedra
mas tinha um certo Drummond
que desvirtuou o conteúdo todo
desse maldito poeminha).
Mas eu busco
e garimpo
e esgrafinho
e anseio
e desejo ardentemente
o que não quero que caia no meu colo.
Porque, se cair um dia,
o que restará a fazer?
Não quero!
Afasta de mim esse vocábulo precioso
que eu tanto desejo
e pelo qual tanto luto
e trabalho
e pesquiso
e me perco.
Afasta de mim esse cálice de dicionário ambulante
que eu me acabo, então
que então eu esmoreço
que me arrependo em vão
e concluo tristemente
que nada mais há a fazer
nem a construir.
Está tudo consumado
tudo desfeito
todo o trajeto interrompido
por ela
a palavra bendita
que eu tanto desejei
que tanto eu quis
que almejei tanto, meu Deus!
Desvio os olhos do fim da luta.
Porque a guerra é que é.
Isso sim.
E é por ela que eu vivo.
Se encontrar o vernáculo final.
Ai de mim!
Ai de mim...
10.05.2009 - 23h56min