sábado, 9 de janeiro de 2010

Procura-se!





09.01.2010 - 22h44min

Ghost

Converso com meus fantasmas
quando os vivos não estão por perto
sou pega, às vezes, num desses colóquios interessantes
então não há desculpas ou explicações
se meus emissores não são vistos
resigno-me aos olhares curiosos
ou aos risos acusadores
que outra atitude se esperaria de um louco?
Traduzir as falas seria tarefa vã
partindo-se do pressuposto
de que elas são um apanhado de frases desconexas
ou de palavras soltas aqui e ali
fazendo sentido apenas para os envolvidos
- nós, os que não existimos -.


(Não me considere caso de internação.
Ainda nem contei os fatos completos.
Contarei? Um dia... talvez...)





09.01.2010 - 20h

Exaustão

O corpo reclama descanso.
Procuro meu travesseiro baixo
pra soltar a cabeça
e aprisionar as águas
que banham palavras noturnas
e impedem a pequena morte diária
desse instrumento do ritmo
e de algo que acalente os ritos
e os mitos
de alguém de fora de mim...




09.01.2010 - 5h12min

Gravidade

O papel de parede
dá a dimensão exata
de uma cratera lunar.
Pulo no espaço.
Flutuo no silêncio
que consome meus mundos.
Mudo de escolha
e a direção me exime
das licenças e das culpas.
De todas que há em mim.




09.01.2010 - 04h54min

Amortecida

Comparo minhas passagens.
Prefiro não deixar rastros
parte de imagem apagada...









09.01.2010 - 03h38min

Enleio


Não celebro as pontas
dos saltos das botas altas
que eu não calço mais.
Arrumo outro passatempo
menos perigoso para as calúnias.
De meias de seda enfeito a pele
já colorida por tatuagens espaçadas
e jóias nem um pouco preciosas.
Desfilo meus pensamentos assumidos
lãs de ovelha marrom
singulares em seus disfarces
plurais nas cercanias suspensas
nas loucuras e sessões azuis.
Pé ante pé
mergulho no nada.
Emerjo aqui
sem a menor noção
de quantas sou...



09.01.2010 - 03h08min

Fatal




Quebrado meu radar de poesia
partido n'alguma véspera de absurda sordidez.
Dos cacos junto pedaços
de versos ocultos
e trapos rasgados de rimas.
Na insônia planto dizeres
sonâmbulos
confusos
vocábulos
gravados em neon
dentro dos meus olhos
bordados de olheiras
e cansaço triste.
Se a poesia é minha sina,
que seja
inda que arruinada
pela queda inevitável
nesse inelutável jogo da vida.




09.01.2010 - 02h31min

Gana




Escureço a vontade de poesia
que inunda-me os gestos
e as juntas dos dedos fechados
agarrados ao lápis
e às conjunturas não vistas
nem tocadas pelo ouro.
Radicalizo meu querer
e a fita no cabelo disfarça a dor
da alma exposta
nas vírgulas e parágrafos
que eu não canso de escrever.
Fotografo as sombras dos meus sonhos
estremeço ante a realidade crua.
Sem cura
ensurdeço ante os apelos da (in)constância.
Não tenho mais tempo
ou ele não mais me tem.
Deixarei uma música
ou uma nota solta
debaixo da soma
que eu
im
piedosamente
falhei.
Na sombra permaneço.
Voarei...





09.01.2010 - 02h22min

Distanciamento


Quando a gente se afasta
perde o gosto o hortelã
o princípio se embaça
o gesto frio é raso e claro
lânguida e estéril maçã.





Aos 50 minutos do dia 09.01.2010

Indelével


Ando com medo do tempo
que um dia meu amigo foi.
Um não-sei-quê que me acomete
desde a noite ameaçada
té que nasça manhã.
Incômodo inoportuno
que me persegue
ocupa as frestas
e continua sem alívio
ou solução.

Ando com medo desse tempo
que um dia meu amigo foi....






Aos 21 minutos do dia 09.01.2010