terça-feira, 1 de abril de 2008

Ofício: pastora da alegria




Ensinar: plantar flores
em canteiros floridos.
Ensinar: entender-se pequeno
ante tremenda diversidade
com olhos ávidos que nos espreitam
e nos perguntam sem palavras,
'o que vamos descobrir hoje?'.
Ensinar: crescer junto.
Ensinar: esquecer da gente,
entrar num universo mágico,
r e a l i z a r...


Meu ofício? Pastora da alegria.





01.04.2008-22h59min
*O termo 'pastora da alegria' foi tomado emprestado
de Rubem Alves, admirável educador.
**Imagem: Minha turma do 1º ano do Ensino Fundamental,
em plena atividade de pesquisa. Concentradíssimos!!!!!!!

Desejo

Que estejamos todos poeticamente prenhes da beleza traduzida em versos... Que seja a dor, o amor, o horror, o dia, a noite, a doçura, amargura, alegria ou lerdeza. Que seja a saúde, a doença ou a tempestade, o sabor adocicado de um beijo ou o sangue da ferida aberta. Que seja a risada gostosa do palhaço ressurgido ou o regurgito do fel engolido. Que seja o que tiver de ser. Em todas as fases as faces da poesia bendita. Pra fazer valer essa nossa alma que não é pequena, é vida de Pessoa... 01.04.2008 - 02h10min (E toca o barco pra frente que tem muita água pra navegar...)

Hoje eu morri (ou Poema da Indiferença)


Dou passos arrastados na areia
A maré removerá todos os vestígios
Arbustos mortos rolam na rebentação
O horizonte respira melancolia
Navios duvidosos vogam em direcção a Ormuz
Pescadores enrolam redes remendadas
Um gato procura abrigar-se da pesada chuva
O chamamento do mulá perde-se nas ondas
Recitando uma oração volátil
Mensagens de submissão incondicional
Cantos para Deus, que não desejo ouvir.

Sou aquele que sempre deu a outra face
Fui mil e uma vezes agredido
E em mil ocasiões tudo perdoei
Educado para dar, sem nada esperar
Nunca neguei um apoio gentil
Jamais regateei uma palavra doce.


Porém, hoje eu morri
A visão do mundo turvou-se
Os sons destilaram-se em silêncio
O sangue esvaiu-se lentamente
Parti sem prantos ou lágrimas
Quando me quis, já não me encontrei.

O meu fantasma acordou agnóstico
Ergueu-se com um sabor de fel na boca
Olhou para inúmeras cicatrizes por sarar
Todavia sentiu-se incapaz de sofrer
Sacudiu a areia dos farrapos que lhe cobriam a alma
Soltou o espartilho dos seus valores
Envergou vestes de imaculado negro
Sorveu uma deliciosa taça de indiferença
Sentiu-se mais vivo que em vida
Já nem todas as faces merecem um sorriso.


M.Daedalus



01.04.2008 - 01h45min
(publicado pelo meu querido amigo poeta DOUGLAS, em
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=42836441&tid=2576314501045743642&na=2&nst=252
Imagem: Remedios Varo)

Mentira!

No dia da mentira menti pra mim mesma que tudo tem um fim que também marca um recomeço. No dia da mentira sorri sem vontade brinquei à força forcei a barra de uma alegria que não existia. No dia da mentira respirei fundo e enfrentei o mundo com uma coragem fingida e supostamente grande. No dia da mentira menti descaradamente sem a menor culpa ou sensação de engodo. Enganei sem corar. Corri contra o tempo como quem sabe para onde vai e o que pretende achar. No dia da mentira calei a voz aos gritos gritei sem voz, atritos brilhei sem luz nos ritos que o costume impôs aos que crêem nos mitos. No dia da mentira rasguei a verdade sem dó nem piedade pisei nas farpas nos espinhos nas lições da idade. No dia da mentira menti descaradamente que o coração não sente o que o peito encerra. No dia da mentira desfiz o acordo e entendi a verdade. No dia da mentira acordei do sonho. Renasci. 01.04.2008 - 01h33min