quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Da genialidade*

Gênios são depressivos lamentos.
Gênios são orvalhos disfarçados em lágrimas.
Gênios não têm tempo para espelhos,
por isso não se sabem.
Nem se confiam.
Agosto/2008
*Para o gênio 'Segundinho'

Toda tua

Ele quis que eu dissesse que sou toda dele.
Absurdo extremo! Como poderia ser de outro,
se ele guarda, nos olhos, meus dois corações?
Agosto/2008

Nós, psicografados por mim*

Atropelam-me as frases que deposito no papel amarelado
são tantas, são brancas, são disformes
as formas que assumem as palavras impressas.
Não me interessa.
Minha mão desenha sozinha o desabafo da alma.
Acalmam-se minhas fervuras no movimento
intenso da escrita ligeira, que não posso conter.
Sou tomada inteira pela força que tensiona a vida
que me habita, que me atormenta, que regurgita
as visões que quero absorver.
Absolvo-me do crime de dizer o que me vai por dentro,
de abster-me de calar a força que guardo em mim,
o absurdo da imperfeição, em vocábulos acesos
pela luz de uma vela distante.
A vela da tua voz que me sopra uma verdade qualquer.
A tua verdade que faço minha,
na psicografia dessa única história
que é feita de nós.
*Segundo a Wikipédia: "Psicografia (do grego, escrita da mente ou da alma), segundo o vocabulário espírita, é a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas por Espíritos".http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicografia *Escrito depois de uma conversa com Marcelo, sobre como se dá o processo de criação, no nosso caso. Agosto/2008

Contrapartida

Engulo o verso concreto envolto nas cartas de um baralho mudo. Emudeço diante da imprecisão louca da previsão de uma cartomante cega. Tateio meu ventre à procura do útero que carrega teu filho. Sou grito, num parto sem partitura. Comentário para o poema CONTIDA CORTINA, de meu querido amigo, o genial Glauco César II Agosto 2008

Pra quê?

Pra quê tanta lâmpada. Pra quê tanta gente. Pra quê tanto mundo, meu Deus? Quero velas que me animem, gente de menos pra iluminar essa minha solidão errante porque tem um mundo imenso lá fora, que clama por mim, exige-me a presença, vampiro desse meu desejo de nutrir a sanha que me ferve n'alma quente. Pra quê tanto suspiro, se a madrugada embrulha o dia e faz da lua um sol distante? Pra quê tanta distância. Pra quê tanta cobiça. Pra quê tanto suor se meus poros choram um sono perdido e migram, perdidos também eles, sem direção alguma? Pra quê tanta poesia. Pra quê tanta inspiração. Pra quê toda essa prosa, meu Deus? Talvez pra acender uma única lâmpada, para um único representante de toda a gente, nesse meu mundinho particular: VOCÊ. Comentário para o poema O MUNDO LÁ FORA, do admirável poetaJorge Fernandes agosto 2008

Caminho para o começo

Andei por esse caminho e perdi-me nos versos cantados pelo poeta peregrino. Cantei canções de sonhos e embalei palavras de ninar monstros. Pintei os fios das calçadas dos verbos que dirigiam-me os passos rumo ao epílogo. O epílogo é o fim do fim do fim do fim do fim do fim... do começo... O epílogo é o prelúdio. O previsto é o preciso. O proposto é a partida. O começo do fim. O fim do fim do fim do fim do fim do fim do fim do fim do sim . . . Comentário para o texto O CAMINHO DA POESIA, de Jorge Fernandes

De versos e de amor

...ou um verso vermelho de amor. Ou um verso suado de amor. Ou um verso choroso de amor. Agora só falta um verso. Um único verso de amor, tenha ele a forma que for. Um único verso piegas. Um único verso que repita o mesmo dito século após século. Não importa. É noite. Poesia e madrugada fazem amor. Esperemos, então, pacientes, o próximo verso... de amor... sempre de amor... Comentário para o texto A NOITE E A POESIA, do magnífico Jorge Fernandes