quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Pretexto

O endereço certo é o teu peito
aberto para meu verso
disposto à minha palavra.
O espetáculo marcado pra hoje tem reprise amanhã com novo elenco porque nos renovamos refazemo-nos constantemente somos outros, somos vários; diversos moram em nós. Não somos singulares. Plurais, dançamos em grupo alternamos falas e conceitos concebemos diferentes pretextos pra sermos... nós... 28.02.2008 - 23h21min

O que há

Há canções, espelhos, corações segundas, terceiras, décimas intenções. Há línguas, linguagens, gestos e jeitos de dizer e des-dizer, fazer e des-fazer. Há toques, re-toques, escolhas e sentires. Há construções e destruições versos e contradições surpresas e recepções. E há nós... 28.02.2008 - 23h16min

Conteúdo

Um livro não carrega apenas a história contada pelas palavras nele impressas. Um livro contém a alma de quem o escreveu, mas também contém a de quem o leu. De quem o teve nas mãos e mergulhou em suas páginas. De quem chorou sobre suas folhas, ou colocou entre elas uma flor, para secar.
Um livro tem o cheiro e o humor daquele a quem pertenceu. Se descansa na prateleira da livraria, tem o cheiro característico da novidade, de quem pacientemente espera ser desvendado. Se mora na estante da tua casa, tem a tua cara, o teu jeito, a tua aura. Acrescentas às palavras contidas nele, as tuas próprias, escritas à caneta, ou não. Ainda que nunca rabisques uma linha sequer em suas páginas, ali estarão tuas impressões todas. Solenemente gravadas para toda a eternidade.
E se emprestas teu livro, a ele são acrescentadas as impressões de quem o leu. E ele cresce. E volta para ti, enriquecido. Relê, então. Constatarás que algo nele mudou, mesmo que tal mudança seja quase imperceptível.
Um livro é uma caixinha de música, que toca a melodia de várias almas.
Quem tem ouvidos, que ouça...
28.02.2008 - 22h37min
Somam-se planos aos versos conjuntos. Juntos, somamos anos sonhamos ânimos aninhamos versos ninamos verbos compramos terras e construímos jardins. Juntos, resgatamos livros antigos escritos diversos impressos amarelados que o tempo não destruiu. Somos. Somamos espaços incompreensíveis voamos sem asas mergulhamos sem máscaras navegamos sem roupas rompemos barreiras enfrentamos distâncias escolhemos caminhos caminhamos lado a lado. Somos... 28.02.2008 - 21h59min

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Notas

Calculei as horas incertas na certeza que não tive nem nunca desejei ter. Busquei a surpresa no detalhe que mora amanhã no que será hoje. Vim a ser infame quis teu couro instrumento de percussão e saber do balanço que me dança no peito, desde o dia ou a noite ou o instante primeiro gravado no infinito -não importa quando- em que chegaste à porta da minha vida que esperava por ti. Data sagrada bendita linguagem interesse que grita entre as distâncias e os desassossegos todos... Muitas horas brancas imagens jamais repetidas esforços recompensados arrepio na espinha. Mais que isso... Transcendente sensação de infinito... 27.02.2008 - 23h35min

Sonâmbulo

O sono chega na carona do sonho desce na fala atrapalhada conta de duendes e fadas estica a coberta da noite sobre a bandeira exausta. O sono anda pelo quarto e fala co'as paredes conta causos e ri, sonora melodia noturna. Enverga a madeira escura que a lua lixou com capricho alhos e bugalhos são espelhos da insônia rendida nos braços do agitado dia. Os passos dóem nas pernas os compromissos acumulham cansaços e os pesos se prendem aos ombros a cama é sereia cantante embriagante descanso que chama: Vem... 24.02.208 - 23h17min

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

QUINTANARES

"Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!"
Mário Quintana - Eterno! 26.02.2008- 21h23min

Criança que ninei



A risada gostosa de bebê

inda mora na garganta

daquela que se fez mulher.

Os primeiros passos relutantes

hoje são firmes e sabem ir;

seguem os caminhos escolhidos

as trilhas, os atalhos, as estradas

que a vida se encarregou de abrir

e os sonhos trataram de pavimentar.



A primeira escola, o primeiro tombo,

a primeira preciosa palavra,

a canção de ninar

e o primeiro salto alto.

Eu vi.

E sei que

a risada do bebê

inda mora na garganta

daquela que sabe o que quer.








Aos 17 minutos do dia 26.02.2008

(Para Carol, minha afilhada e sobrinha amada, no dia do seu aniversário)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Gingado

A missa das seis parou quando ela atravessou a nave. Todos os anjos, solenemente, disseram "Amém"... 25.02.208 - 23h55min *um conto minimalista

Tu

Criar fazer acontecer viver plantar um sonho alternativo colher o fruto doce deixar que escorra o sumo da vida garganta abaixo navegar nas tuas intenções tender a acreditar na verdade que se borda de obstáculos caídos um a um dizer estrelas aprender a voar... 25.02.2008 - 23h23min

Nós

Trilha aberta a fogo improviso do verso que dirá a medida inexistente do que de ti há em mim troca de energia ativa e altiva ultimatum da brasa que arde sem dor brilha a tua estrela em plena luz do dia irradia a esfera de longos tentáculos que me alcançam e ditam a longitude a latitude o ritmo do sangue que me corre impaciente nas veias estremecidas artérias que dão conta desse teu sangue em mim. 25.02.2008 - 23h18min

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Intensidade

Tudo muito forte tudo muito inteiro tudo muito perto entranhado no peito feito fio de navalha quente vem rasgando os instantes os delírios, os imprevistos. Tudo muito novo muito presente muito constante. Energia. Vida. 24.02.2008 - 23h43min

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Vírtua

Nascer. Nos primeiros passos, cambalear. Nos seguintes, ser salva por ti. Dançar sem música. Mergulhar nas possibilidades. Perder-me. Encontrar direção nas tuas pegadas. Navegarte a toda vela. Corpo. Mente. Coração. Pontos de vida na tela. Virtudes reais. 23.02.2008 - 15h45min (Simone Aver e Roberto Amezquita)

Declaração

Declaro aqui, agora, nesse instante, que minha alma anda em outro corpo. Que meu peito não me pertence. Que meus sonhos são construídos diariamente. Que gosto de tudo o que é natural e espontâneo. Que o rio que me atravessa, é o mesmo que molha os teus pés. Que a vida que escolhi não foi escolhida à toa eu quis a que tivesse espaço pras coisas boas eu quis a que me desse flores e dores e pelo menos um amor verdadeiro pra escrever uma história de sucesso. O sucesso que passa ao largo das bilheterias do que a mídia considera ideal. Declaro que sou feliz. 23.02.2008 - 15h

Pertença

Não sou mais minha não me pertenço mais não me tenho mais em mim troquei de casa moro em ti desde sempre desde quando esperava por ti e não te sabia... No te sabía y sin embargo sabía que vendrías no sé de saber no sé de nada hablo, muevo el microcosmos de tu presencia siempre te supe danzando mi recuerdo infundado siempre sentí que lo que sentía eran tus pasos tu silencio la atmosfera del placer de tu nombre solo un nuevo suspiro de anhelarte me indicó que aún sin saberte te sabía mia poeta amada tu ondular el camino tu improvizar la nada ando tu sombra desde que la luz nos dejo otro tiempo desde que la luna perdió el hilo de la marea y no más marionetas giraron entre el alba otra ves surge de ti, en ti, contigo, un asomo cruzado de ésporas luminosos somos desde siempre somos... Sei que me ouves nas horas do dia nas horas da noite, nas madrugadas, e vens ao meu encontro pra fazer parte do meu sangue pra respirar por mim pra percorrer os centímetros da minha pele que é tua da minha alma que dança pra ti dos meus instantes todos que te entrego sem medo dos meus sonhos que incluem os teus do que fui e do que sou do que viremos a ser... pele da minh'alma olhar que me atravessa mãos que alisam todas as curvas e exploram todas as possibilidades... Tua Tuyo 23.02.2008 - 02h29min (Roberto Amezquita e Simone Aver)

Catarse

São tuas as mãos que carinhosamente descortinam as presenças de teus outros nos centímetros da minha pele. Música. Tens música nas mãos. A mais perfeita já composta. Melodia sentida pelos poros dançada nos olhos, num crescendo... ...me laté más rápido el corazón más perto de ti mi respiración ha cambiado el alma esta entre ti es contigo... Catártico encontro d'almas... 23.02.2008 - 01h12min (Simone Aver e Roberto Amezquita)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Contexto???

Latejantes vocábulos soltos interjeições descontextualizadas histórias entrecortadas e lacrimejantes olhos de dentro dos D O I S... Es una larga sensación de volar de caer de un precipicio... Poema único escrito a quatro mãos. As minhas e as tuas entrelaçadas, no encontro febril.... SOMOS SOMOS 23.02.2008 - 02h (Simone Aver e Roberto Amezquita)

Tua

Tua língua passeia pelas minhas palavras porque a ti pertencem meus gestos meus gostos, meus sais, meus suspiros todos. Teus são meus nervos de aço o que eu acho, o que eu penso, suspeito, acredito e repasso. Meus versos, meus reversos, paranóias, neuroses e ilusões. Meus acertos, medos, confusões. Confortos, saudades, intenções. Minhas mãos, estendidas pra ti. 23.02.2008 -14h27min

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Tantra

Arrepio sopro leve no ouvido sabor de sal na língua pele espaço preenchido suspensão de delírios propensão ao soluço terremoto tremor de pernas torpor de idéias confusões mentais nos movimentos dos membros embrionário desejo olhos postos nos olhos do outro observação mútua vertigem sedução. 20.02.2008- 23h59min

Espera II

O sonho demorou tanto que o sono foi embora. E trancou a porta, ao sair.... 20.02.2008 - 18h12min

De vinhos e escolhas

Devidamente escolhida, a taça quebrada. O vinho partido na mesa o riso partilhado no chão. O pão e o queijo e a uva a parte que te cabe na colheita madura o sentimento de mais valia... A longa viagem estende os braços alonga o espaço e a espera dura. O riso servido com pão. A rosa partida na mesa. O vinho rosé na taça. A tênue linha tensa... 20.02.2008 - 01h34min

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

tempo

... o tempo? Areia escorrida entre os d e d o . . . . . . . s . . . . . . . . 19.02.2008 - 21h58min

Confissão

Já te sentiste tão só a ponto de poder tocar a solidão como se fora um ente, passível de abraço? Foi assim que me senti todo o dia de ontem e esse início de dia de hoje...
P r o f u n d a m e n t e
19.02.2008 - 02h10min

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Imunidade

Um dia, a noite te pega. E tu descobres que não estavas imune... ao medo da escuridão... 08.02.2008 - 02h07min

Espera

O sono demorou tanto, que os sonhos chegaram antes dele... 18.02.2008 - 02h02min

O Segredo

De repente, simples como quem encontra uma agulha no palheiro, descobriu o segredo. E um segredo descoberto vira notícia certa.... 18.02.2008 - 02h

Viagem

Nada. Só a linha do trem continuava lá, seguindo sempre para a frente... Sempre na mesmíssima direção... Mas seguindo... Foi assim que ela começou a longa jornada... 18.02.2008 -01h58min

Embriaguez

Quantos livros teria que beber, para esquecer? 18.02.2008 - 01h55min

Reação

Deixou-se ficar quieta, quase paralisada, depois da grave revelação. Que importância têm os grandes acontecimentos, depois de cristalizados numa fotografia? 18.02.2008 - 01h52min

Perdição

Ela se perdeu ao virar a esquina. Nunca mais encontrou o caminho de volta... Ele se perdeu ao endireitar a esquina. Nunca mais conseguiu dobrá-la novamente... 18.02.2008 - 01h30min *Um miniconto...

Poesia?

Saiu de férias. Se volta, Não sei.... 18.02.2008 - 01h15min

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Dica de leitura

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de José Saramago (Companhia das Letras).
Não me perdôo por não ter lido esse livro até...ontem..rs...rs... aliás, já recomecei a ler, mal terminei. Identifiquei-me com tudo, desde a primeira linha à última. E eu, que tinha medo do Saramago, me apaixonei por ele (o quê? me apaixono muito facilmente? ah, mas meu coração tem lugar pra todo o mundo... meu coração é enorme...rs...se for um bom autor, tem lugar garantido...rs), vai ver por isso mesmo tinha medo, não era dele, era da paixão..rs...rs...rs.. "... já éramos cegos no momento em cegamos. O medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos"(p.108).
O tema "cegueira" me atrai grandemente, pelo seu valor metafórico. Muitas vezes me sinto cega num mundo de videntes, e outras muitas vezes sinto como se eu fosse a única vidente, num mundo de cegos, como a mulher do oftalmologista, no livro. O livro? Ah, conta a história de uma epidemia de cegueira, que se abateu de repente sobre um país inteiro. Bobagem? Vai ler....
Algumas frases saltaram do livro e ficaram dançando diante dos meus olhos, ganharam vida própria, e ainda estão aqui, diante de mim, me fazendo pensar, pensar, pensar...questionar meus próprios pensamentos, minhas posturas, meus conhecimentos (os poucos que tenho). Aí vão algumas delas, só pra compartilhar com vocês:
"É preciso cegarem-se todos, para que enxerguemos a essência de cada um? Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" (p.01)
"Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira?" (p.109)
"Lutar sempre foi mais ou menos uma forma de cegueira" (p.111).
"... vistas bem as coisas, não há no mundo nada que em sentido absoluto nos pertença" (p.119)
"... é sabido que as razões humanas se repetem muito, e as sem-razões também"(p.139)
"... certas coisas é melhor deixá-las sem explicação, dizer simplesmente o que aconteceu, não interrogar o íntimo das pessoas..." (p.143)
"... cada bala disparada é uma fração de autoridade que vai perdendo..." (p.172)
"... a cegueira também é isso: viver num mundo onde se tenha acabado a esperança" (p.173).
"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem" (p.269)
Na verdade, não pude colocar aqui TODAS as partes que estão dançando, ainda, diante dos meus olhos... Por serem inúmeras...rs... Aliás, é quase que o livro todo...rs....rs... Um livro "devorável" (preciso invocar a licença poética?); tanto, que comecei a ler ontem à tarde e não fui dormir antes de terminá-lo.
Saramago desvirtua (maravilhosamente, aliás) as regras de pontuação, o que pode representar uma certa dificuldade na leitura do livro. Mas vou te ensinar uma tática: MERGULHE. Entre na história. Misture-se aos cegos. Seja também um cego (todos o somos, em maior ou menor grau). Então a pontuação não terá a menor importância. Porque vais ouvir as vozes dos outros cegos, conseguirás distinguir perfeitamente a do narrador e as dos personagens. Não estarás mais LENDO, mas VIVENDO a história.
Muito bem, hoje recomeço a leitura, agora com outros "olhos". Sou outra. Esse livro merece muitas leituras da mesma pessoa, com visões diferentes. Não entendeu? Então leia o livro. Depois me conte...ok?
Ah... também tenho ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ... Ele está fresquinho, me aguardando, a partir de amanhã...
(Esses livros, entre muitos outros, estão disponíveis para download na Biblioteca Virtual Gratuita: http://portaldetonando.com.br/ )
17.02.2008
(Considero importante salientar que a minha intenção aqui não foi a de escrever uma resenha ou um resumo, nos chamados moldes acadêmicos. Resenhas e resumos são facinhos de encontrar na Rede, sobre qualquer livro. Só o que quero, sempre que comento um livro, é compartilhar com meus leitores o que essa obra FEZ comigo. Como me senti ao VIVER essa leitura. Como saio dela. E gostaria de receber teu retorno. Leste esse livro? Como te sentiste? Valeu? Não? Porquê? Me conta, quero saber...)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

juventude e eternidade

A eternidade é um sopro quente de um anjo faceiro que brinca com os homens, fingindo não ver que o que eles mais querem é justamente ela, a eternidade, embrulhada pra presente, com uma fita sempre jovem e um amor que nunca morre. E o anjo se ri dos tolos homens... Ri-se da cegueira humana... Ri-se da fragilidade humana... Ri-se de tão profunda contradição... 16.02.2008 - 02h13min

MULHERES SEM ROSTO


Minha Série MULHERES SEM ROSTO é um trabalho que eu considero beirando a displicência. Não há nele nenhuma pretensão além do prazer de me expressar, através do desenho. Se tem ou não valor artístico, não sei. Confesso não ter curiosidade a respeito. É claro que sinto-me muito satisfeita, quando recebo retornos positivos de quem vê a Série. Isso é inquestionável, porque diz respeito à publicação de qualquer coisa que seja, produto da minha capacidade criativa. Mas não me considero uma artista, por isso. Gosto das minhas MULHERES porque gosto de mim. E elas são eu, como toda a minha obra, quer seja em versos, prosa, desenho ou interpretação. Sou eu.
A todas as pessoas que acompanham a construção diária dessa minha lida, agradeço: Obrigada por apreciarem meu trabalho.
Beijos.
Uma obra de arte é uma obra. A arte depende dos teus olhos. Vê!
16.02.2008 - 02h03min

(Exercício meio sem nexo)

Atravessar Américas. Americanizar travessias. Transpassar transeuntes, Transcrever audaciosas sinfonias. Acreditar, sonhando. Sonhar, acreditando. Amedrontar fantasmas. Fantasmagoricamente, temer. Enroscar os cabelos. Torcer pela vitória. Perceber a onda gigante. Afogar-se sem medo. Afundar-se sem susto. Afrouxar-se sem custo. Perceber a superfície. Desgastar-se na busca. Consertar o profundo. Aprofundar-se na luta. Estar só. 16.02.2008 - 01h18min

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Só para inspirar, com as palavras de outros:

EZRA POUND: "É que eu Sou um Poeta, e bebo vida Como os homens menores bebem vinho.” 14.02.2008 - 23h37min

Poeminha despretensioso

No ouro de hoje encontrei um sonho de prata fitei bem fundo nos olhos dele furtei-lhe a faca libertei a espada presa que estava na pedra da história. No ouro encontrei um hoje bendito risonho e claro perfumado e aflito por dizer-me que tudo não passa de um raio que o ouro real, o que vale uma vida, está no infinito... 14.02.2008 - 02h12min

Esquisitices

Bordo a página que me liberta
dos fantasmas, dos perigos,
das bonecas de pano rasgadas,
das estátuas, das bailarinas...
Meu corpo é palavra que alucina
alucinação que prevalece...
Palavra é faca de dois gumes. Espada que fere e mata o que há de vil na pele o que há de mau na alma. Palavra é magia dúbia às vezes cala às vezes grita. Ninguém sabe ao certo se está empapada de mandinga ou de bom mistério... Palavra é saco de risadas aberto dentro da igreja. S A C R I L É G I O ! Gritam os fiéis do silêncio, explodem as bocas malditas, dispostas a fechar a matraca dos desobedientes, que insistem em proferir dizeres vãos em solo crente. Palavra é privilégio. Peito que verte leite-alimento aos poetas, aos loucos, aos insanos. E S Q U I Z O F R Ê N I C O S que ouvem vozes distantes e são amigos de invisíveis homens nus cantantes, de permanente bom humor. COISA DE LOUCO! Dirão os profetas do pessimismo barato que fazem plantão, ladeados de serpentes, nas portas das casas dos requerentes do seu quinhão de vida e de alegria decente (seja lá o que se considere decente na alegria seja lá o que se considere recente decência seja lá o que se considere decência no dia). MORTE AOS POETAS! Praguejarão os desprovidos de imagens os desprovidos de suavidades os desprovidos de provas de coragem os des-providos de provimentos de beleza, de amor, de sorrisos de palavras. Praguejarão os desprovidos de canetas e os desprovidos de idéias e os desprovidos de sonhos e os desprovidos de palavras. Esses, sim, os esquisitos. Vazios de sentidos ou mistérios. Iguais. Robôs. Repetintes de medos dos outros. Os outros. Os outros. Os vazios de palavras. Os vazios de verbos. Os vazios de si mesmos. Os que silenciam e obrigam o silêncio dos outros... 14.02.2008 - 02h06min

Praia






O mar...

A vida, vindo em ondas...

Quebra na praia, o mar...

A vida, quebrada em ondas...

O mar...

O vento ventando na areia...

Molha a areia, o mar...

O vento levanta poeira...

O mar...

Cheiro de maresia...

Preguiça vadia...

Dani, espreguiçadeira...

O mar...

O banho lento do sol, no mar...

No fim do dia, o sal na pele...

O mar...

Água clara em movimento...

Espumantes as bordas...

Do mar...

Praia deserta de noite...

Já pode descansar...

O mar...



Só os olhos de Daniele,

assim distantes,

assim profundos,

assim presentes,

fitam o mar...



Só o sorriso de Daniele,

assim tão puro,

assim tão branco,

assim tão leve,

é assim tão belo

quanto o mar...








14.02.2008 - 01h20min

(Para minha sobrinha, Daniele, aniversariante de hoje,

que adora praia... Um dia, ela pediu um poema. Aqui está...)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Horizonte

Tu estás na linha do horizonte. No horizonte de dentro de mim. Onde o ontem e o hoje são um só. Onde o amanhã e o hoje estão sós. Onde calco o pé e digo SIM. Tu estás na linha de dentro de mim. E aqui permanecerás, luz e sombra. Descanso e sucesso das letras: de todas as letras que criamos pra nós, de todos os caminhos e redes que traçamos e trançamos juntos, trabalho de mãos unidas, vestidas de luvas ou não, no frio daí, no meu verão. Tu és a linha do nosso horizonte... Do horizonte de dentro de nós... Três sóis somados na luz... SOMOS... 13.02.2008 - 02h03min

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Graças

Sufoco meu medo na curva que se apresenta debaixo dos meus pés. Estendo as mãos e encontro as tuas, fortes e firmes, a guiar meus trôpegos passos, em direção ao que sempre desejei. Sufoca-me o medo do desconhecido, que me aguarda logo ali, entre as palavras amarelas e brancas, plantadas ao longo do caminho que trilhei até hoje, sem perceber -ou justamente percebendo que- eu chegaria no exato ponto onde eu quis estar. Agora estou aqui. E tu estás comigo. Em meio ao desconforto da falta de ar, que sucede o instante esperado, tua companhia me conforta, me anima e aquece. Obrigada pelo braço dado. 12.02.2008 - 02h

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Ritmo

Inspira a vida inspira a letra da canção por cantar. Suspira a vida suspira a letra da canção a inventar. Conspira a vida conspira a letra da canção a enfeitiçar. Inspira suspira conspira a vida a letra... Amar. 11.02.2008 - 03h22min

Mais

Imagem, música ou letra. Poema, canção, silêncio. Conto, surpresa, palavra. Partes perdidas de um todo maior guardado dentro do teu olhar... 11.02.2008 - 03h19min

200

Publiquei 200 contos. Cantei 200 árias. Ariei 200 panelas. Abri 200 janelas. E sofri 200 vezes pelas mesmas coisas. Cometi 200 erros e apaguei 200 trilhas do meu caminho torto. Conheci 200 cidades e tremi 200 vezes antes de te encontrar. Depois, 200 beijos num só dia, até esgotar... Vivi 200 anos pra te contar que os 200 planos feitos juntos separados ou presos nos bicos dos pelicanos, inda ardem inda queimam inda incendeiam os 200 nervos que sobreviveram a rezar... 11.02.2008 - 03h16min

Movimento

Uma janela aberta. Um vento forte. Pronto, foi-se a cortina presa num raio de sol. Uma porta aberta. Um vento norte. Pronto, foi-se a menina solta num raio de sol. Um sonho aberto. Uma brisa leve. Pronto, veio a saudade na carona de um suave raio de sol.... 11.02.2008 - 03h11min

Orfandade

De vez em quando a gente fica assim meio órfã de norte. De vez em quando parece que o mundo gira para trás e nos deixa tontos, meio órfãos da sorte. De vez em quando o riso cala e cola na cara de outro cara. Na tua, fica a morte, meio órfã de aviso. De vez em quando a tarde se faz pranto e a gente fica assim meio órfã de encanto. De vez em quando passa um pássaro cantando e a gente fica assim meio órfã de quebranto..... 11.02.2008 - 02h32min

In-certeza

Ainda que não queiramos, ainda que esperneemos, gritemos, nos atiremos ao chão, aos leões, aos porcos, aos bandidos, ainda que rasguemos as roupas todas e façamos greve de tudo, sempre haverá uma (ao menos uma) certeza: a de que tudo é incerto e não-sabido. Inclusive esse dito... 11.02.2008 - 02h27min

Angústia temporã

Depois da última hora da noite, o dia dobra a esquina. E a gente continua a medir o tempo e a guiar a vida, pelos ponteiros que rodam, que rodam, que rodam. Passam sempre pelo mesmo lugar. As horas são sempre as mesmas. Por isso não são. Marcamos o tempo pra não perdermos a cabeça. Contamos do tempo que passamos pra não perdermos a história. Nossas referências, baseadas nas horas tidas. Tempo é hora. Lembrança é hora presa no tempo passado. Ou será tempo preso na hora passada? Talvez lembrança não seja nada, além de um registro qualquer, cuja única finalidade seja impedir que façamos a mesma besteira mais de duas vezes... Tenho cá pra mim uma teoria muito particular: o tempo, sua passagem ou sua lembrança, não passa de um poema escrito com o cuidado de um artista. Um poema engraçado, que ri da falta de tato da gente, ao tratar com ele, presente, futuro ou passado. Um poema com lacunas enormes, que a gente vai preenchendo mesmo sem saber, mesmo sem nunca perceber, mesmo sem sequer entender. Um poema perfeitamente compreensível caso o soubéssemos ler... 11.02.2008 - 02h18min

Possibilidades

O que significa plantar um sonho? Regar um desejo é mantê-lo vivo? Calcular o valor dos instantes preciosos Impossível? Quedo-me aqui, com meus sonhos todos, dispostos sobre a mesa branca. Quantos vingarão, não sei. De quantos abrirei mão, em favor de... (não sei em favor de quê se pode abrir mão de um sonho!). Quantos permanecerão aqui mesmo esperando ser colhidos...finalmente colhidos... não tem importância real nada disso não importa que nada aconteça que a tarde se transforme em noite que a manhã nasça avessa que os olhos não festejem o dia que o sol entristeça que a febre não encontre cura que o passo não apareça. Pouco importa que a planta floresça que penda, lentamente, minha cabeça ou que, inda hoje, o mundo enlouqueça. Mais do que já está. Mais do que já estou. Mais do que será possível suportar. Pouco importa se o escrito se apagar e se o começo for cair lá no fim se é que há começos, se é que há finais. Pouco importa que as chaves não estejam nas gavetas. Estou exausta. E posso desistir... 11.02.2008- 02h05min

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Livro

...e as palavras se perdem no espaço que separa o marco do começo e do fim que intercede por nós e por outros junto ao espelho do dia e da noite turva que aguarda os passantes, transeuntes da vida, dos sonhos e da alegria que os abraça nas esquinas do sofrimento diário de saber-se pequeno diante de tudo o que há para ser dito... ... e as palavras se perdem no espaço no grande mistério que é o desejo de dizer o que jamais foi dito... 10.02.2008 - 17h44min

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Shhhhh

Encaixo palavras, umas às outras. Nenhuma alcança o sentido. Nenhum encaixe parece perfeito. Concentro a experiência do selo na língua materna, impeço a coerência, desfaço a coesão. De que me vale o texto completo se sou confessamente paralela, avessa ao que me vem pronto, querendo construir aos poucos o que pretendo ter de base? Examino as possibilidades todas. Nada me parece difuso agora. Nada me parece impossível. Tudo difícil. O passo escolhido já dado. Tapete estendido vermelho. E o primeiro passo dado. A escolha consciente dentro da mala. A ternura quente dentro do peito. E a palavra... A palavra.... O último encaixe... Me foge... E eu não sei o que dizer... 10.02.2008 - 0h59min

Escolha

O tempo é AGORA. Perdeu-se o trem da história? Perdeu-se a linha do hoje? Perdeu-se o dia de outrora? O tempo é AGORA. A vida não espera por ti. O relógio não deixa de tique-taquear. Os instantes se sucedem e se somam e somem na longa linha do horizonte. As escolhas são múltiplas mas exigem ser feitas. Não são elas que te escolhem tu é que o fazes, queiras ou não gostem elas ou não. Teu futuro está no passo de hoje. Agora é a tua decisão de amanhã. Ontem já está. Hoje urge. Hoje é. Vive. 09.02.2008 - 20h54min

Poesia...



08.02.2008
(Alina, Simone, Roberto)

Eu sinto



Quando acordo parece que vejo uma

luz branca

Quando vejo letras ou luz bonita

sinto felicidade

Como uma vez eu estive dançando, dançando, dançando

Tipo olhando para alguem que esteja com

oculos olhando no computador

vejo luzes brancas

E sinto felicidade


Amor é muito lindo

E sinto

Felicidade






08.02.2008 - 22h39min

(Alina Aver, aos 6 anos de idade)

Debaixo Da Cama








Érase una vez...



A Chapeuzinho queria dar uma cesta com um monte de maçãs para a vovozinha. Acontece que uma das maçãs estava verde demais para dar para a vovozinha, que já não tinha dentes muito fortes. Entonces buscó la manera de que la manzana fura apropiada para a vovozinha, y se encontró con que un conejo que vivía muj lejos,
sabía de unas manzanas que podía comer ela con sus dientes brillantes y pequeños.
Pero el país del conejo no era facil de encontrar...

Ela andou muito por toda a floresta e achou uma árvore. No fim da árvore tinha uma porta que ela viu e quis entrar; lá estava a casa do coelho!
Ela bateu, bateu, bateu, mas o coelho não estava lá. Apareceu então um macaco com sininhos no pescoço, que faziam tilim tilim tilim...
O macaco avisou que o coelho havia mudado para beeeeeeeeeemmmmmmm longeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.....
E a menina chorou.


Y con las lágrimas de la menina crecieron nuevas flores en la casa del macaco y del conejo.
Entonces una de estas flores dijo que el conejo se había mudado a otro país, a un paìs muy cerca, pero muy lejos; las dos cosas al mismo tiempo. Pero las manzanas en ese país eran transparentes, igual que los conejos, así es que sería dificl mirarles y comerles tambièn...
Pero no importando esto decidió viajar al país que las flores llamaron 'Debaixo Da Cama'...

A Chapeuzinho Vermelho achou um túnel dentro daquela casinha do coelho (a casinha abandonada). Ela entrou no túnel, andou, andou, andou, até que viu algumas pegadas que pareciam pé de coelho. Ela seguiu, seguiu, seguiu...
Como os coelhos eram transparentes, ela não conseguiu achar. Mas ouviu barulhos! E

quando ela colocou a mão, pareceu sentir uns pêlos; pensou que fosse o coelho. Ela disse:
-Como eu posso arranjar essas maçãs? Por favor, responda.
Ele respondeu:
-Vá numa árvore, pegue uma delas e faça o que você precisa.

Acontece que o coelho era transparente e via as maçãs, que também eram transparentes. Logo, era muito fácil pra ele dizer que ela fosse até a árvore e apanhasse, simplesmente, as maçãs. MAS ELA NÃO VIA AS MAÇÃS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nem sequer a tal da árvore; afinal, no país 'Debaixo Da Cama', tudo era transparente!
El conejo le dijo que solo una vez le iba a contar la historia del país de 'Debajo De La Cama'.
Que pusiera mucha atención en este paìs maravilloso: la realidad es un parecida a la de fuera
pero con algunas diferencias pequeñitas.
'Debajo De La Cama' todo lo que hay, conejos como yo, manzanas, palabras, árboles o túneles, todo es parte del reino de la imaginación; así es que precisas poner cada día nuevas cosas, cuando te encuentres debajo de la cama. 'Debaixo Da Cama' es lo que tu quieras, lo que puedas imaginar mientras cierras los ojos, o cuando los tienes abiertos.
Entonces el conejo deapareció, y ella empezo a crear debaixo da cama...



















08.02.2008 - 22h31min

(Uma história, três mãos... SOMOS... Alina, Simone e Roberto)


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Torre

Montei uma torre de palavras

todas elas insuficientes,

daí a necessidade de várias.

As cartas todas no armário

guardadas pra enfeite da casa.

O toque tântrico por aprender

e as pontas picotadas das páginas

do livro que estou por escrever.

A torre só sobe

em busca do céu, que é anil.
08.02.2008 - 16h18min

Escritos

Gosto da letra que escrevo e fico de olho se ela não dança na linha curva do medo que anda à minha espreita às vésperas do sonho. Gosto do cheiro daquilo que escrevo; parece canela, incenso suave, perfume de infância, de breve avenida florida. Gosto da cor do que escrevo a cor do soluço que tive, de rir contigo e sozinha, dos absurdos que a vida apronta pra gente. Gosto, principalmente, dos motivos pelos quais escrevo. Esses, guardados pra mim. São meus, não conto. Só teus olhos é que divisam, mesmo assim, de longe, os porquês desse meu dizer... 07.02.2008 - 23h15min

Paz?

Não quero paz. Eu quero o que existe. O desassossego, a procura, o instante que se perde num piscar de olhos. Eu quero a pressa, a incerteza, a incompletude. O que não vi, o que não sei, o que jamais serei. Eu quero o fundo do poço e da alma. Eu quero o risco, o rabisco, a salsa, a rumba, o merengue, de preferência cor de rosa. Eu quero algodão doce derretendo na mão. Calor de 40 graus, neve em pleno verão. Eu quero sede de beijo, abraço que não termina, risada tão alta, tão longa, tão nossa, que seja quase um desatino. Eu quero a manhã ensolarada depois da noite, em Porto Alegre. Eu quero o nervoso na tua chegada, quero o amor que se bebe. E quero antes e principalmente essa mania de querer tudo o que tenho direito e mais um pouco. Além do que alcanço, além do que mereço. Eu não quero a paz. Eu quero o estorvo, o torto, o turvo, o maldito. Quero a tua insanidade as vozes que ouvimos as mentes brilhantes que cercam o infinito. Eu quero o vôo da águia sobre a rica planície. Eu quero a língua da serpente a peçonha da aranha o veneno da vida na minha garganta no meio da minha lida. Eu quero te ver chegando de braços abertos pra mim. Eu não quero a paz. Eu quero tudo menos paz.... 07.02.2008 - 23h05min (Alina e Simone Aver)

Orações


Desde que vieste,

tudo o que construo

tem a tua assinatura.

Desde que surgiste,

tudo o que crio

tem o teu suspiro.

A tua vida invade a minha

porque se sabe bem-vinda.

A tua vida canta na minha

e enche de melodia a tarde

que vive na gente.

Somos três, com a quase

exata diferença que nos marca.

Somos três, elos

compostos de estrelas,

luzes e bilhetes de amor.






Desde que surgiste,

não somos mais duas...






Somos três...






Orações...








07.02.2008 - 02h12min

Escritura

Se estava escrito? Claro que estava! Minha vida está toda no papel cada suspiro, cada sorriso. Minha vida não poderia não estar descrita em palavras. A palavra sou eu. Sou letra ambulante esperando ser lida. Não sei se sou verso conto ou despedida. Não sei se sou letra sozinha ou história completa, na folha da vida. Mas estou escrita. Espera... Eis outra escritura na primeira metade desse meu caminho. Tu, sonho bendito. A frase que faltava. A crônica, que esperava ser escrita. Tu, sonho bem-vindo. Sopa de letrinhas pra alimentar o meu peito. Tu, alento, sossego na construção dessa que pretende ser a minha história. Não mais só minha. Agora, nossa história. Essas páginas são nossas... 07.02.2008 - 02h

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Trabalho de parto

No ventre da vida, o verso. Ando parindo versos dos quais estava grávida há meses... Ando parindo palavras, sinais gráficos de sentires, sentimentos gráficos de sinais, sortilégios, sinalizando sentires. Ando em trabalho de parto dos prazeres que me tomam quando no verbo me liberto. Não sei ficar quieta num canto sem dizer palavras sortidas como num pacote de biscoitos comprados no boteco da esquina. Não sei não dizer minhas ânsias meu desejo de estar entre teus braços minha saudade, meu desabafo, meus sonhos todos contidos. Ando em trabalho de parto do poema que costurei no teu sorriso da bendita parceria contigo da expectativa do abril-ensolarado. Ando descalça pelas ruas da vida pra sentir a pedra fria pra saber que estou viva esperando o filho teu grávida do poema escrito contigo. No ventre da vida, o verso. O nosso verso... Escrito. 06.02.2008 - 23h58min

Alina, o verso perfeito



DES-Equilíbrio

As palavras precisam de equilíbrio?
Alcança-se o equilíbrio em pleno estado de paixão? Un hermoso des-equilibrio.
A loucura equilibra-se num pé só ou numa só palavra? E que palavra seria essa?
Perigo?
Descubrir a tal grado la interioridad de otro
y amar tan profundamente y tan lejos...
Me encanta el peligro de tus manos.
Tu eres yo.
Mas que dulce.
Luz.
05.02.2008 - 23h56min
(Simone Aver e Roberto Amezquita)

Imagem

Eu? alinhavo de vida.
Suspiro d'algum deus-poeta
que resolveu escrever versos
em dia de copiosa chuva.
Deu no que deu: uma louca,
apaixonada pela lua...
06.02.2008 - 01h19min

Entrega

Eu, totalmente nas tuas mãos, segura. Yo en tus alas entregado.
Yo Eu te amo infinitamente...
Aos 18 minutos do dia 06 de fevereiro de 2008.
(Simone Aver e Roberto Amezquita)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Fronteira

"Deixo o cavalo livre correr fogoso.
Eu, que troto nervosa e só a realidade me delimita."
(Clarice Lispector)
Não há cercas que prendam o amor
nem distâncias impossíveis de serem vencidas.
Não há nada inalcançável
quando se deseja ardentemente...
As fronteiras estão, todas, abertas.
No passaporte, o carimbo inusitado:
A L E G R I A!
05.02.2008 - 17h13min

Para ler e pensar:

"Quando vieres a me ler perguntarás por que não me restrinjo à pintura e às minhas exposições, já que escrevo tosco e sem ordem. É que agora sinto necessidade de palavras - e é novo para mim o que escrevo porque minha verdadeira palavra foi até agora intocada. A palavra é a minha quarta dimensão."
(Água Viva, de Clarice Lispector) 05.02.2008 - 17h

Distância relativa?




Enquanto o dia nasce aqui

a madrugada inda embala teu sono.

Enquanto a vida vai pela metade

nessa minha parte do mundo,

a tua se espreguiça e reclama

a partida do descanso breve.

Enquanto a tarde morre no horizonte

e eu giro, vendo o sol, aos poucos,

adormecer; esse mesmo sol te banha,

início de tarde, hora de ter o que fazer.

Minha noite é teu fim de tarde.

Hora de janta e algazarra pra ti.

Hora de silêncio e descanso pra mim.




Um mundo pequeno que permite que te alcance

embora impeça nossos abraços.

Um mundo pequeno: madrecita, padre, hermanos

os meus, os teus, as nossas famílias juntas

embora impedidas do brinde...



Ainda assim, é teu nome que preenche meus espaços.





05.02.2008 - 16h28min

Yo también espero...

Acá desde la ínfima muestra de mis vertebras desde el resquicio verde de mis ansias en cuanto toco la faz de tu cara con la mano izquierda u abro un camino entre tus labios acá te espero dentro tuyo y tú sin saberlo sin sospecharme siquiera y yo asomado en tus entrañas y yo pescando en tu sangre desde este rincón nuestro de infinito yo también te espero como nunca como a nadie debajo de la innombrable distancia mientras tanto te amo... 02.02.2008 - 03h14min (Roberto Amezquita)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Svãrmood*

*Palavra para definir 'saudade', na Suécia
Umedece a língua da palavra no solo fértil do verbo desejado amorosa mente vagarosa mente nova mente tua palavra dentro de mim.
En la savia que derrama una de las raices de la lejanía alguno de los espasmos de la ausencia no deberián los vientos de otros cruzarse en este andar eu te amo.
Em ondas curtas ou longas, mas ondas de presença e ondas de saudade, enlaçadas nas ondas da ternura eu te amo.
A través de las micro y también de las nano
van las ondas con que te amo.
Eu te sei aqui por onde canta minha voz.
Por donde deciende mi luz te sé y te sé aquí donde cabalga tu ritmo donde anda el paso frenético del aliento donde se fuga mi sangre.
04.02.2008 - 03h28min
(Simone Aver e Roberto Amezquita)

Fala

...son tus ojos el asomo tuyo de infinita luz lo que no marca el retorno ni el principio ni nada solo un nítido camino de amarte... 04.02.2008 - 01h25min (Roberto Amezquita)

Processo

Risco um traço aqui, um outro mais adiante enlaço, faço que apago este refaço aquele mais distante. Busco o desenho do nada que quero entortar no instante. Busco a face delineada que quero encontrar, amante de verbos e risadas soltas justo nesse traço aqui e não em outro qualquer. A curva perfeita do rosto. A expressão que não se sabe o que é. É assim que eu faço quando o espaço que tenho é pouco. Apago, refaço, começo de novo e vou perdendo um tanto da origem no processo da obra feita. Eu quero a surpresa, o suspiro, o assunto contado de forma diversa. Eu quero o traço que me eternize e uma lanterna vermelha pra iluminar o meu passo. 04.02.2008 - 19h30min

Espaço vazio?

Todos os pássaros revoam agora. Todas as línguas se entendem e todos os pecados são perdoados. É dia. Fez-se luz, e o sol é uma realidade aqui. Quebrados os espelhos, as imagens passeiam soltas, livres da prisão da moldura, da tortura de saber-se plágio. O céu foi pintado de um azul intenso sem nuvens ou máculas. Firma mente. Firme convicção de que somos mais que isso que pensamos ser e nos propomos a construir, em nossa pequenez de propósitos. Minha escrivaninha está vazia. Nua de livros, canetas, cadernos, papéis, agendas. Nada dança em minhas mãos. A palavra, paralisada, vai se extinguindo aos poucos té que, em toda a minha vida, espaço destinado especialmente ao verso, nada mais reste, a não ser
SILÊNCIO...
04.02.2008 - 19h16min

Criação

Cachoeira de sentenças, não seguro muito tempo as frases que brotam voluntariamente de mim. Elas me vêm aos borbotões, e não posso contê-las.
Não suporto tamanho volume. Explodo.
Elas vêm, sem nenhuma ordem ou forma estabelecida previamente. Enchem a folha branca. Rasgam a limpa claridade da folha da agenda vazia. Elas vêm.
Têm vida própria, e nenhuma educação. Não pedem licença. Não se despedem. Não têm obrigação.
Selvagens, tomam meu tempo e usufruem das minhas canetas. Nervosamente saltam aos bandos e se agrupam. Mero instrumento d'algum deus maluco, observo. Não sou nada além dessas páginas rabiscadas,
que eu nem sei se são minhas, posto terem sido escritas
tão compulsivamente que sequer permitiram pensar.
Ei-las.
Sacia a fome de desordem da tua vida correta. Eu ainda estarei aqui, canal de letras tresloucadas
que bordam e pintam e desgovernam o que penso ser eu...
04.02.2008 - 14h14min

Nota de falecimento

A tese defendida. Morta. 04.02.2008 - 14h06min

Somatório

Carrego no peito todos os versos do mundo os que já foram escritos,os que estão por vir. Carrego nos ombros o peso do espaço vazio e na bolsa um sem-número de coisas inúteis. As agendas vivem repletas de palavras soltas que vou juntando pelo caminho que traço passo a passo, insistentemente, na conta dos dias que se somam à arte independente da escrita. Os sustos, coleciono dentro de armários, entulhados de papéis usados e antigos, amarelados pelo tempo, pela falta de manuseio, pelo esquecimento, pela lembrança distante das anotações diversas. Os que vieram, os que passaram, os que ficaram, os sonhos que voaram, reclamando liberdade. As liberdades que voaram, reclamando sonhos. As asas que voaram, reclamando o horizonte. Os cuidados que não me levaram a parte alguma. Os desmoronamentos que não me enterraram. Os abraços que não me prenderam. E as verdades que me pintaram de rosa, cinza ou vermelho. E as verdades, que esfumaçaram meus olhos. E as verdades, que copiaram as lágrimas que derramei. E as verdades que escolho, inda que doloridas, inda que solitárias, inda que duras, inda que irritantemente reais. As verdades que escolho. As falhas, os vínculos, as doçuras, as impropriedades, as aberturas, as farturas, as falsidades, máscaras, relógios, estorvos, salários, solstícios, mãos abertas, mãos espalmadas, mãos machucadas na lida do dia claro. Soma de suspiros... E tu estás aqui.... 04.02.2008 - 14h01min

Depende...

Toda leitura é poesia? Toda imagem é poética? Toda forma é verso? Toda cor é verbo? Todo sentimento é palavra? Toda luz é linha? Depende... Dos olhos.... De quem vê.... 04.02.2008- 13h45min

Cachos

O cacho de uvas no prato. Os cachos dos meus cabelos entre os teus dedos. A vida é simples assim. 04.02.2008 - 04h24min

Nada é In Certo...

Nada é certo? Damos passos incertos por uma estrada de densa neblina. Somos hoje o que não poderemos ser amanhã. Fomos ontem o que jamais nos pensávamos capazes hoje. Trazemos raízes de um medo ancestral, que nos prende ao chão. Não somos covardes. Mas também não somos heróis. Nada é in certo. O in completo ronda a porta da manhã. Traz tempestade vazia. Esvaziam-se as conclusões e a biografia está sempre por ser escrita. Somam-se perguntas sem respostas e respostas que não foram pedidas. Subtraem-se as horas com vertiginosa rapidez no país de Alice. No reino de Abrantes nada de modifica, ainda que nada seja igual aos Dantes. Nada mais certo que a incerteza. E me perguntam se amanhã vai chover, se eu vou sofrer, se a pele vai arder. Eu não sei, respondo. Cada dia com a sua agonia, um passo depois do outro, e todos juntos na mesma estrada escolhida antes de nascermos, tu e eu. Nada mais incerto que a certeza vadia. Na leviandade fria, dizer-se oprimido pelo sim. O fino fio da espada que corta o silêncio e confirma o sim que confina a vida em si. Orgulho sitiado. Situação enfática da louca aventura de querer. Nada mais certo que a loucura. A costura da muralha da China que nos separa da lua. Um satélite no espaço e as curtas ondas de ternura. Os tentáculos da vida e o alcance jamais sonhado por nenhuma criatura. O meu peito pulsando no teu. O teu pulso batendo no meu. Vida e arte confundem a cabeça de qualquer um. Eu recorto tua boca e colo na minha pra sempre. Tuas palavras brotando dos meus ouvidos. Arrepiando a espinha. Cacho de uvas maduras da única safra do ano. Perdeu-se a guia. Não sei o caminho. Nada mais louco que a certeza. O desejo de ser tua. De louvar a calçada da rua por onde passaram teus pés. Avião, foguete ou pensamento, tanto faz. Tudo leva à demência. Insanidade provocada pela insônia de um outro que habita em mim, e cochicha ao meu ouvido coisas que só posso contar em versos, versos que só posso cantar pra ti, no acesso de riso de uma Monalisa misteriosa e vã, plagiada por algum artista anônimo que cruzou teu caminho. Nada mais forte que o amor. O que o amor tem a ver com isso? TUDO! 04.02.2008 - 04h09min

domingo, 3 de fevereiro de 2008

LER

Estou lendo alguns livros muito interessantes e gostaria de compartilhar contigo esses títulos. Todos que me conhecem,ainda que superficialmente, sabem da minha paixão pela leitura. Sabem o que um livro faz comigo. Sabem que ele nem precisa ser bom, mas, se for, então eu serei a pessoa mais feliz do mundo. Um livro me tira de qualquer deprê, ao menos enquanto estou mergulhada em suas páginas, viajando entre suas letras. Um livro, pra mim, é um tesouro mais precioso que ouro em pó.
Então preciso dividir com meus amigos e com as pessoas que amo, aquilo que estou lendo. O que vem preenchendo meu tempo, o que tem dado alegria ao meu coração, o que tem me emocionado às lágrimas, o que tem me feito viajar. Sair de mim. Conhecer outros lugares, outras coisas, outras gentes, outras culturas, outras fantasias, outros saberes, outras visões de mundo... outros milhares de "outros".
Pois bem, essa é a lista:
*HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005
"Pode ser injusto, mas o que acontece em poucos dias,
às vezes até uma única vez, pode alterar o rumo da
vida inteira" (p.89)
Desde 2005 pego esse livro pra ler. Desde 2005, sempre que saio pra comprar um livro, esse me chama. Não o trouxe pra casa. Não me perguntem a razão. Eu não saberia responder. Ao mesmo tempo em que sempre ouvi seu chamado, também sempre me recusei a atendê-lo. Pois bem, agora, finalmente, estou lendo. E decidi: de 2008 em diante, sempre que um livro me chamar, não apenas ouvirei, como atenderei imediatamente. Estou emocionada desde a primeira página. Ele é de uma beleza e de uma humanidade quase palpável. Uma história triste, com certeza, cruamente real, mas de uma profunda reverência à vida, com seus erros e acertos, suas alegrias e seus dissabores.
Acredito que seja esse o momento de ler tais páginas, pra mim. Estou aprendendo muito. Chorando aos cântaros. Sorrindo da leveza de algumas cenas.
*LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado.Lisboa: Edições 70,1978.
"... não consigo entender como é que a
Humanidade poderá viver sem algum tipo
de diversidade interna" (p.32)
Sempre me interessei por antropologia. Não, não sou uma profunda conhecedora. Sequer uma conhecedora superficial. Mas gosto de ler a respeito. Gosto de saber alguma coisa sobre o assunto. E tenho especial preferência por Lévi-Strauss. Não sei exatamente as razões. Mas gosto desse cara...rs... Talvez seja a forma da escrita dele. É tão fácil entender o que ele põe no papel... Eu, completamente leiga no assunto, sinto-me em casa. Parece que posso perguntar qualquer coisa para o autor, que não serei ridicularizada...rs... Bobagem? Bem, não estou isenta...rs...
De qualquer forma, o livro é muito interessante, e me prende muito. Aliás, é uma dificuldade parar de ler esse livro. Estou quase terminando, por isso resolvi "economizar" um pouco, voltar atrás, dar uma relida em algumas páginas...rs... Sabe quando a gente não quer que o doce acabe, e fica comendo devagar, pelas beiradas? Pois é, estou mais ou menos assim. Sim, eu sei que posso voltar a ele quantas outras vezes quiser, mas quero ter o prazer de prolongar o prazer dessa primeira leitura. Deliciosa. Como a leitura de qualquer texto dele.
Leitura preciosa.
*LEROUX, Gaston. O fantasma da ópera. 3.ed. São Paulo: Ática, 2006
"Parecia a todos, de fato, que um roçar se fazia ouvir atrás da porta.
Nenhum ruído de passos. Dir-se-ia de uma seda ligeira que
escorregasse sobre um painel. Depois, mais nada" (p.16)
Esse estou lendo para Alina. É um dos poucos casos em que assisti o filme antes de ler o livro. Bem, devo dizer que o fato do livro ser melhor que o filme vale SEMPRE. E acho lindo ver como Alina tem medo do livro...rs... Sim, do filme ela não teve medo em nenhum momento. No livro, logo nas primeiras páginas, ficou com medo. Acho isso delicioso. O poder da palavra escrita te transportar para algo completamente diferente do meio em que vives. Completamente diferente da tua época. Completamente diferente das tuas crenças. Mesmo assim mexer contigo. Mesmo assim provocar sensações físicas em ti. Emocionais, sim, mas físicas também. Isso é bárbaro! Mágico...
*LUPTON, Hugh. Histórias de sabedoria e encantamento. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
"- Mmmm, desgraça é doce como açúcar! O macaco comeu, comeu, cuspindo fora os pedacinhos de pau
e casca de árvore e lambendo os cacos do pote quebrado. - Mmmm, desgraça é uma delícia!"
(p.09)
Histórias curtas, de diferentes partes do mundo, que fazem a gente pensar. E pensar é uma coisa tão boa, tão boa, que se assemelha a... bem, à melhor coisa que podes ter na tua vida. São 7 histórias, de 7 povos diferentes, mas que não se restringem a 7 lições, embora 7 seja considerado um número perfeito. Talvez perfeito por isso mesmo: por permitir a expansão. O 7 transformando-se num número impossível de ler. Então... só lendo, pra saber....
*YALOM, Irvin D. A cura de Shopenhauer.Rio de Janeiro: Ediouro, 2005
"A sólida base de nossa visão do mundo e também o grau de sua profundidade são formados na infância. Essa visão é depois elaborada e aperfeiçoada, mas, na essência, não se altera" (p.75)
Outro livro que eu andava "namorando" há séculos...rs... Bem, ei-lo em minhas mãos. Estou devorando. Já tinha lido Quando Nietzsche chorou (São Paulo:Ediouro, 1995), do mesmo autor, e amei. Primeiro porque falava de Nietzsche, meu eterno amor, segundo porque é um livro realmente sensacional, provocou em mim o desejo de pesquisar mais sobre a vida do filósofo. E o que me incita a estudar é bom... sempre bom...
Pois bem, estou amando "A cura..." também. E tenho vontade de estudar mais, de novo... Logo, o livro é muito bom...rs...
Saborear. Ler é S A B O R E A R, não apenas a palavra, mas a VIDA. É reconhecer, na folha de papel, um pedacinho da gente. Pode não ser o tempo inteiro, pode não ser em todas as leituras, mas está ali, latente, pedindo pra ser percebida, pra ser S A B O R E A D A.
Adoro ler. E tu?
04.02.2008 - 0h06min

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Objetivo?

O da minha letra? Dizer. Contar de mim para minha imagem e semelhança. Descobrir-me (seja lá o que for que isso queira dizer). Mas, afinal, quem disse que um verso tem que ter objetivo? Um verso pode ser apenas um verso solto no meio de um monte de outros versos ou entre as pernas de um bêbado qualquer que não sabe sequer quem ele próprio é, muito menos com que objetivo diz o que diz. Um poema pode ser um amontoado de pensamentos confusos que andavam perambulando descalços nos porões da mente do poeta insone que tem fome de cantatas ao ar livre de serenetas e de noites enluaradas em que o pio da coruja se ouve ao longe e nada mais se move além da caneta no papel nervosamente transbordante do eco da alma que reclama, impaciente, um ouvido paciente que a ouça. A letra nada mais é que um sinal gráfico usado pra expressar o que vai dentro da gente e que nem sempre abarca todo o significado do sentimento que está muito forte e presente. A letra é um risco que sangra a página virgem. Desfaz o estigma da imaculada folha branca. A letra é violência. É grito amargo. É solidão. Dizer machuca quem diz, maltrata quem lê. Se digo do amor que sinto, provoco inveja em quem não tem amor pra receber. Se digo da dor que me atravessa o peito provoco pena, dó, piedade, em quem não sabe a idade que tem essa minha dor. Se canto a alegria, se faço festa, se celebro a vida, provoco risos e lágrimas ao mesmo tempo e barulho e muita satisfação. Dizer é a função do poema. Nada além disso. Como a função do sexo é dar prazer. E eu já não sei mais viver sem o dito pelo dito, pelo não-dito, pelo mal-dito, pelo bem-dito, pelo jamais proferido sob pena de des-dizer... mesmo sem objetivo... Eu já não sei não dizer.... 02.02.2008 - 05h26min

Arte e Fato


Revelei por essas linhas
os traços da minha vida.
Procurei as palavras exatas
que descrevessem meus passos
que desenhassem as curvas
dos caminhos que escolhi.
Cantei minhas vitórias
chorei as partidas e as saudades.
Confessei meus amores sem culpa.
Espalhei boas novas.
Ri, com os velhos e as crianças.
Colhi os frutos plantados
com a alegria que me acompanha
diariamente
desde que nasci...

Agora, o tempo exige silêncio.
A falta de sentenças exatas
é realidade em mim.
Não há mais o que dizer.
Nenhuma expressão.


O silêncio é em mim, hoje.
Agora, ele sou eu...


Shhhhhhhhh.....



02.02.2008 - 0h34min

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Suspiro

Um suspiro. Ninguém soube. Ninguém viu. Um suspiro inigualável. Um suspiro insuperável. Um suspiro insurreto. Invejável suspiro de amor... 01.02.2008 - 22h27min

Tenho dito!


Hoje não quero dizer nada.
Ando farta das palavras.
Será que eu já disse tudo?
Será que elas já me disseram inteira?
Será esta a hora do silêncio?

Hoje não quero dizer nada.
Quero apenas sentir latente
a palavra que não será dita.
Ou o silêncio que não será gritado.
Ou o ruído que não será cobrado.

Hoje não quero dizer nada.
Não me são suficientes as palavras
nem os ouvidos, nem as metáforas
que porventura eu invente
num rompante inspirativo
que promova o trabalho de parto
do poema que me engravida
há meses...

Hoje não vou dizer nada
além do que já foi dito.
Hoje quero descansar do verso
bendito verso que me tem acompanhado
pelas estradas dessa minha vida
escolhida meticulosamente por mim.

Hoje não vou dizer nada.
Preciso de um pouco de silêncio.
Recostar a cabeça e não pensar em palavras.
E não querer a linha escrita.
E não desejar espremer o significado
na folha exausta da agenda já tão rabiscada.

Hoje não.

Tenho dito.




01.02.2008 - 21h20min