domingo, 22 de março de 2009

Fotografia

Em tempos idos fui mistério

que hoje jaz, em foto amarelada.

Em tempos idos fui lágrima e chupeta

que hoje jaz, em lembranças recortadas.

Em tempos idos fui insegurança

fui 'talvez', fui incógnita ciranda.

Os tempos idos brotam hoje

nesse mesmo 'talvez'

nesse igual mistério

nessa idêntica esperança.

Jazigos que trago em mim...

Aos 44min do dia 22.03.2009

Querer

Quisera eu cercar-te de flores
e entre todos os sabores
o da minha língua ser o teu.
Quisera eu molhar-te de chuvas
nos dias quentes de estio
nas noites sofridas, nos desvios.
Quisera eu mostrar-te o Norte
ser tua bússola, teu pulso forte,
ser teu remédio, teu unguento,
tua alegria.
Quisera eu ser teu país,
tua família, teu esteio, tua razão.
Marisa Monte cantaria:
"Bem que se quis..."
quisera eu...
Aos 10 minutos do dia 22.03.2009

Eu

Eu sou o vento e a fantasia. Sou poesia e solidão. Sou o que está à mão e o que escapa. O que escorre entre os dedos e o que maltrata. Sou a nudez e o exagero, a febre, o sono e a delícia, a água na boca, a preguiça, a faca, o queijo e a reticência. Sou o disfarce de gente, da demência, e um anjo de candura na letra. Sou um grito calado, uma espécie de riso apenas sugerido, um tipo de dor inda não inventado. Sou a pretensão, o divórcio, a escolhida. A fera, o fogo, a exata medida. Sou a desconfiança vestida de mulher e a confiança cega, travestida de infância. Sou a relevância e a figura em quinta dimensão. Um sim prematuro. Um amargo não. Sou a fé sem fundamento e o soco certeiro, de direita. Sou a trave no olho e o tremor dos lábios, na hora do adeus. Sou o próprio adeus e o sorriso de boas vindas. Sou as rendas e as pintas das joaninhas verdes, que esvoaçam entre as flores vermelhas. Sou as trepadeiras e macieiras cheias de frutos doces. Mas também sou o frio, a fome e a miséria. Não pague pra ver. (O que diriam teus pares, quando, afinal, descobrisses que apesar de tudo isso, ainda assim quiseste me ter?) Aos 02 minutos do dia 22.03.2009