terça-feira, 29 de maio de 2012

FOME

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Cultivo meus versos
como quem escreve
a um curandeiro qualquer
inventor de milagres
e cinzas de bendizer.

Sereia
enfeitiço o vento
e lanço raízes ao mar.
Oceanos são limites virtuais
nos quais enfeito os braços
de pérolas
anzóis
e sais.

Não me bastam
duas ou três estrofes
nem múltiplos orgasmos.

Não me basta Tudo.

Eu quero mais.



.

Alma

.


Experimento o sopro
do que não existe
nem disfarça o frio corrente
nas bandeiras desfraldadas
que balançam ao vento
de um outono vazio.
As velocidades limitam os olhos
e o espetáculo é fio de seda partido
na boca da borboleta tonta
que a pedra escorregadia incendeia.

Dependo do orvalho nas folhas frescas
e do atropelo dos minutos
- que pingam -
dos incansáveis ponteiros da vida
- que dançam -
em redemoinhos de poeira
linha
e
argumento.

 
Na calmaria
- sedento -
meu coração
expira...


.

Leve

Das feridas já sofridas
nenhuma dor me guarda.
Alimento em mim
o que de mim
ainda me traga
e as efemérides liberto
que voem as mágoas
não quero o peso
da lágrima derramada
depois de seca
nem a hora que não deixou
de ser alegria.
É o riso que eu abraço
eu preciso é da saudade
eu gosto é de folia.