sexta-feira, 4 de abril de 2008

Hoje é Sexta-feira

Sexta-feira, e a vida anda mole assim, meio de bobeira, como se hoje não fosse agora como se agora não fosse hoje como se já e daqui a pouco nada mais fossem que só um ponto ou uma vírgula ou uma expectativa não se sabe de quê. Sexta-feira, e a vida enrola um novelo de lã quentinha pra tricotar casaco pra filhinha que dorme tranqüila, na cama macia. Sexta-feira, e o informe oficial é de que, depois dela, vem o fim de semana esperado pra um descanso invejado por quem não pára nem em feriado muito menos em pleno sábado. Sexta-feira... Festival do Beijo, em Madri, e eu aqui... Sexta-feira... Aos 9 minutos do dia 05.04.2008

Cotidiano poético


Há poesia em cada canto da cidade.
Há poesia nos cantos dos muros,
nos cantos das praças, nos cantos dos fundos
dos poços do cotidiano dos citadinos
que se apressam para chegar ao nada.
Há poesia na lágrima que rola no rosto da menina,
no latido do cão preso na coleira,
no sinal fechado, na rua vazia, no trilho do trem
que não partiu hoje por falta de turistas.
Há poesia no perigo da limpeza da vidraça,
no jogo com a vida que se faz diariamente
sem que se perceba, sem que se atormente,
já que as contas não fazem perguntas,
nem os credores querem respostas,
apenas as notas, umas sobre as outras,
no vencimento das prestações mortas.
Há poesia no carro que passa, na buzina estridente,
no mendigo, no pedinte, no doente, no indigente,
na moça bonita, na velha elegante, na cor do fim do dia
que enfeita a vida e pinta de vermelho o horizonte.
Há poesia no cheiro de flor que ficou da primavera
e na folha seca partida debaixo dos pés,
no início de um outono frio e bem-vindo.
Há poesia na correria que acontece
entre os pedestres, entre as pedras paradas
que observam os pombos e seus vôos,
na praça defronte à prefeitura municipal.
Há poesia na cidade, nas coisas pequenas,
na sirene da polícia, dos bombeiros, da ambulância,
ainda que sejam esses versos cantados tristemente,
como quem chora ou como um lamento doído
de quem perdeu o que não voltará, nem com forte pedido.
Há poesia no bom e no que é visto de soslaio
que a gente evita o contato, que a gente finge não ver.
Tudo parte do soneto universal
cotidiano poético por todos lido
por quase ninguém entendido como tal...




04.04.2008 - 23h38min