segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sina


Poesia é a maldição do poeta
impelido a desnudar-se
ante olhos curiosos e invasivos
que perscrutam os versos
os reversos, os signos e os sonhos
que o primeiro sequer tentou
exprimir
ou
espremer
das entranhas da atribulada alma
perseguida pelas orações subordinadas
ao duro escrever nem um pouco sintético.
É atlética a dança da caneta sem canção ou par
na pista clara e completamente vazia de sentidos
que despudoradamente lhe oferece a chance
de dizer o não-dito ou o inter-dito ou o...
Ah... um sussurro
um lamento na folha virgem
e todos os leitores do mundo saberão
que o que te passa pelo peito, poeta,
é essa dor, é essa angústia, é essa alegria
de, à Poesia, jamais poderes dizer
NÃO!




12.05.2008 - 23h23min

Sombreado


Sombra que me habita ou

que me persegue ou

que me devora.



Sombra que me define ou

me permite o sopro do invólucro

que tenho e que não assumo

na diária corrida ao encontro

do desejo

de

sem sombra de dúvida

apenas







SER.











12.05.2008 - 22h58min














Da importância da solidão

Não me pesa a solidão dos meus dias. Velha companheira, não me vejo sem ela, sem os seus acordes diários nas frias madrugadas de outono ou nas perfumadas tardes primaveris. Amiga de todas as horas, ri comigo e verte copioso pranto quando entristeço. Conhece-me por inteiro, a solidão. Mãe da noite, irmã do tempo, sopra o calor do verão no peito frio e é companhia certa, certeira flecha embebida em veneno poético lilás. É ela que me permite o verso absurdo colhido de sua fértil presença branca. De sua saliva é que escorrem os verbos que molham a folha carente da poesia que verte dos meus dedos assim meio que em cascata sem nexo ou correção rítmica alguma... É do ventre da solidão que nascem meus escritos e minhas linhas tortas as palavras mortas que o instante insiste em ressuscitar. Ela, a solidão... 12.05.2008 - 22h35min

Tons

O tom é um tanto grave agudos são os ecos nas grutas derramadas nas fileiras das frestas das almas atormentadas por fantasmas ensandecidos e musicais. É grave o passeio pelas alamedas cobertas de folhas secas, soltas ao vento de outono, nos frios dias de um maio gris. É aguda a voz da gralha que graceja da dor deixada pra trás. As notícias não são as melhores nem as perspectivas as mais azuis; só os bois andam na frente dos carros e os cavalos galopam nos campos como se nada dissesse respeito a eles. E nada diz. Nem a ti, cego passante pela minha vida. São os meus dias que assombram a esperança de cores rosadas e um amanhã que pertence a outrem. São as esferas entortadas pela força de uma história já escrita que rege a orquestra da terra e que permeia o silêncio da noite, coruja insone de alma artista. 12.05.2008 - 20h34min