domingo, 29 de julho de 2012

Carpe Diem


Não pontuo
aponto um nó
nos anéis de Saturno
nas mecânicas complicadas
que descascam laranjas
misturando angus
ponto e vírgula
mais do que suficiente
para o mistério
do meu riso
-
o mesmo que nada contra a corrente
e enterra meus dedos
nos fios
dos cabelos
dele.

Interior






Ar
doado
sem dó
adorado
o mar
lido
peregrino
amor
;

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Correntezas




E se de versos bordo meus caminhos
é  que d'espinhos às rosas declamo
feito aramados de rendas
vazados de grandes pomos
pombos acinzentados
que sobrevoam colheitas e afins.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Fragmentes




Perdida a trena
perco a mão da medida
des
medida
a mente experimenta
um toque de alcaçuz
na ponta da língua
e o elemento que falta
pr'alcançar a medida exata
é o verso
sem vírgula
ou ponto final
talvez só a desistência
do que foi aclamado
no vão da hora pedida
nas cartas molhadas
de suco de manga
de camisa
marcadas de riso
lapelas vermelhas
de batom abatido
pontuação devidamente
tida
campanha no grafite
grifado de centímetros
por metro quadrado
no armário oferecido
onde ninguém dorme
impunemente


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Alforria

Há mordaças e viseiras
nas esquinas
de cada rua
do lugar.
Há documentos que obrigam
o uso compulsório
de cada acessório
que o rei mandar.
E ameaças
perambulantes de
extenuados zumbis
com olhos de sangue
esfomeados
por cérebros sadios.


Ali, a liberdade é só uma palavra presa entre as capas de um livro qualquer.


(Mal sabem eles que o mesmo livro onde pretendem manter presa a liberdade
esconde a força da revolução
mal sabem eles...)







Mês um


Quando
num repente
a linha de um
cruza
a vida do outro
traz na bagagem
a ímpar sensação
de ser único
de não haver qualquer corpo
que tão bem se encaixe
mais saborosas formas
que as formas
do cheiro "loro" dele
nas formas
do cheiro negro dela.






Peleia

Aposto minhas fichas
no dia que há de vir.
Deposito expectativas
que me valem
a cabeça a prêmio
em bandeja de prata antiga
d'estrelas vermelhas pintada.
Mantenho os pés firmes
e a atenção redobrada
nas desigualdades multiplicadas
pelo desespero evidente
do adversário
que ruge
esperneia
e se debate
ante a clara e inegável
possibilidade
de perder o cetro
para as grades.

Sal da terra




Se o povo perde a língua
na lâmina fria
da espada do rei
inda lhe sobram os gestos
e tudo que escrito se lê.
Os escravos
um dia se revoltam
pois que eles também votam
e seus olhos sabem ver
a mentira estampada
no papel que nega a chibatada
e nega a forma da lei
que reza a expressão livre
na boca
no livro
na opinião manifesta
de que nesta terra sem sal
tudo acaba em pizza
paga com cheque viciado
UPAda em maca fantasma
esburacada na via principal
das promessas quebradas
que o trono
pretende obrigar a esquecer.
O próprio tronco
onde os falantes são erguidos
GRITA
os abusos dos governantes.



(E se eu, peixe pequeno, morro pela boca,
o ditador, pela urna será deposto).




domingo, 8 de julho de 2012

Dura-dita

Renascem metáforas
que apontam ao óbvio
quanto à boca é proibida
a palavra pura
que mostra o que se vê.
Pois que os palhaços
tomem as ruas
nos circos armados
do que se deixou de fazer.
Promessas quebradas
disfarçadas com band-aid
silicone
cuspe
e matérias pagas
que rolam nas mãos
aparentemente mal informadas
mas que sabem bem
onde vai doer.
Há zumbis que fingem ser
no espetáculo milionário
santos do pau oco
amigos do inda que tarde
ditos duros

femininos.