sábado, 8 de novembro de 2014

Dejavù

Se identificas teus traços
nos versos que faço
de provas e ditos
é que devolvo os pincéis
e os livros que não leste
nas pinturas de teus dedos
sem nome
ou digital impressa.

Óculos, borrachas e pretéritos
impostos.
Sempre os mesmos começos
os mesmos santos devotos.

E as trilhas descobertas
nas emprestadas tintas
que não novas
e em tuas mãos
viram festas.


Às 11h do dia 11.08.2014

Faceta

Dupla face
de luz matutina.

Um anjo salta da cadeira
derruba a tinta da vida
massageia as costas de um Sol
tímido.

Devagar, os passos na sala
recortam ecos.

Late a força do dia.

Um espirro assusta a saúde
e a pressa anda longe da cor.

Empresto meu braço de espera
e escolho as visitas.

Meu lápis dança
na imagem do teu espelho.


Às 10h50min do dia 11.08.2014

Revista

Folheio as horas
meu gesto de ser indiferente
ao que não me floreia
as horas.
Meu rosto desculpa os finais
as pontas dos cílios
as máscaras maquiadas
nos umbrais das portas de correr.
Pedras de Drummond
-espatifadas-
ciclos ensombreados de azul
de sono
de vertigens no fio da cola.
Fitas transparentes
lançadas
nuas.
Finos raptos de olhares.
Olhos sérios
de poesia cegos.
Sóis duplos
na escadaria
recortada de papel
crepon.



Às 10h15min do dia 11.08.2014

terça-feira, 28 de outubro de 2014

História

Carrego a culpa
de grão de mostarda
saber-me.
O ópio público cega as massas.
Amassam-se os papéis
donde a História escorre
nas pontas d'estrela vermelha de vinho
de tinto sangue
de Chico's
e outras cachaças mais.
O calendário sai de foco.
O fato é previsto nos jornais.
(Mas ninguém lê)
A vida corre
longe do estado de graça.
Atrás das grades
os ladrões
os bandidos
os párias
riem de nós
presos que estamos
na falta de horizontes.

Quando foi que entregamos os pontos?

A rainha desfila nua
e não há crianças
para ver-lhe as vergonhas
as banhas
as rugas
os enganos.

50 milhões de forças
e nenhuma criança
para apontar-lhe o dedo
e extirpar a mentira
de todo um país.




28.10.2014 - 08h12min

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ah... Quintana.....

Sim.

Meus versos nascem de mim
marcados
têm dia e hora exatos
pra gravar a folha
inda que a eles eu possa voltar eternamente
e em todas as vezes
eles sejam pretéritos novos
enérgicos preâmbulos
do que haverei de ser.


Às 11h09min do dia 20.10.2014

Horário de verão

Adianto os ponteiros do dia.

A vida amanhece lenta.

Sons anteriores à luz
nublam o silêncio.

A dor é quente
o amor ardente
a saga assente de termos
que expliquem a rima óbvia e
a cor azul.

Presa à bainha das horas
a língua atrai formas
que distraem horizontes e soluções.

Os comparativos não cabem no exíguo espaço
que define o
quase nada.

Tudo é inexato na tela branca
que descortina energias outras
e arreganha os dentes do amanhã.

Não sei se passo ou
invento pedaços de sonhos
nas pontas do sono:

estopim de verão.




Às 11h30min do dia 20.10.2014