segunda-feira, 30 de junho de 2008
Depoimento para Adrebal
Fotografia e poesia andam de mãos dadas.
Alheias ao alienado olhar aleatório
dos que têm olhos, mas não vêem.
A tua arte, fotografada, não é inerte.
Ela se movimenta.
Ela grita.
Ela ferve.
Ela inunda a rua
e pinta de vermelho a esquina,
pra mostrar que está viva.
A tua arte arranca da minha garganta
o verso, e transforma em lente
o que é convexo,
o que desmente a voz ausente.
A tua voz que me faz falta...
30.06.2008 - 02h
In memorian:
... pedidos perdidos no tempo são asas quebradas
de pássaros, de lamentos.
Segredos sussurrados ao vento,
pra sorrirem à distância na resposta:
"eu entendo"...
30.06.2008 - 02h26min
Comentário
Se não me engano a palavra prende a presa
e faz do longe o fio, de onde pende o anzol...
30.06.2008 - 02h23min
domingo, 29 de junho de 2008
Fechado!
Meu peito está fechado
a chave não existe
não há como entrar
não fique triste...
29.06.2008 - 14h35min
O que dizem por aí
Dizem que quando o sol se fecha
a noite vira solidão.
Dizem que a lua é mãe da paixão,
que o bonito M
aqui gravado na palma
significa MORTE
que me leva pela mão.
Dizem que sonhar é inútil,
que poetar é fútil,
que ganhar dinheiro é que é o Ó!
Dizem que as lembranças são caras,
que algumas pessoas são raras
e que o espelho é o culpado
pela crise.
Dizem que é melhor atacar,
que temer;
e tremer, que surtar.
Dizem que a forma da vida
é disforme
e que a informação é corrente.
Dizem que tudo tem um jeito,
que o que não mata, engorda,
que o que não entorta, endireita.
Dizem que Inês é morta,
mas o cadáver eu não vi!
"Dizem que sou louca"
e que pareço a Rita Lee.
O que mais dizem por aí?
29.06.2008 - 13h10min
O rosto
Não era o rosto de um morto;
recuso-me a acreditar que seria.
Era apenas e tão-somente um outro
que através de mim,
me via...
29.06.2008 - 12h40min
São? Não!
Não são feras
não são monstros
não são contratos de locação.
Não são suspenses
não são pertences
não são...
Não vão à forra
não se vestem de
falsas modéstias
não cantam vitória
não pirateiam amores
não reclamam
não são.
Não aparecem de repente
não partem num repente
não repetem a aflição
não são.
Não emprestam o rosto
não recitam oração
não são outonos
não são diários
não são os donos
das falácias, dos horários.
Não são limites
nem atribuições.
Não são encantos
devaneios
ou ocultas religiões.
Não são alianças
nem trancas
muito menos satisfações.
Não são providência
semelhança ou
alucinação.
Não são palha, nem espinho.
Não são pedra, nem caminho.
Não são...
Não são segurança,
estilhaço ou abandono.
Não são circuncisão.
São invejas
são duetos
são versos decassílabos
são invenção.
Criações estapafúrdias.
São idas e vindas
são espadas e cruzes
e tonéis de tinta.
São luzes?
Não são...
29.06.2008 - 11h45min
sábado, 28 de junho de 2008
Quero viver de poesia
Comer poesia no café da manhã,
no almoço e no jantar, ter cobertura de versos
na sobremesa de doce de maçã.
Respirar poesia leve
sem a poluição da palavra breve
sem a fumaça da regra cega.
Vestir poesia colorida no inverno
e poesia esvoaçante no verão.
Andar sobre pedras poéticas
poeticamente dispostas
em caminhos-sonetos
caminhos-poetrix
caminhos-duetos.
Se não for pra viver de poesia
prefiro morrer.
Mas não deixem, vocês, meus pranteadores,
de colocar na minha lápide
bem legível, o verso que diz:
Eu quis viver de poesia
só assim poderia ter sido feliz...
28.06.2008 -19h30min
Pesadelo
Eu mudei meu nome e meu jeito de dizer.
Eu inventei outra assinatura, fingi crescer.
Eu criei outro personagem, falei bobagens,
usei peruca, mudei a maquiagem.
Eu troquei o guarda-roupas,
comprei diferentes livros
(daqueles que 'a outra' que eu fui
jamais leria).
Eu passei a gostar de moto,
de funk, de fast-food, de perfume barato.
Eu comprei um jeans rasgado,
pus fora o dicionário,
esqueci o caminho da biblioteca
e passei a odiar poesia.
Eu nem sei o que é danceteria!
Mas me amarro numa rave...
Eu larguei o trampo,
não me importo com fumaça de cigarro,
com cheiro de cerveja
e com gás de refrigerante.
Eu agora gosto de destilados,
e de alta velocidade.
Eu não sei mais o que é jornal,
o que é animal, muito menos o que é vegetal.
Eu não tenho amizades, mas interesses.
Não lembro mais como se escreve
uma porção de palavras,
entre elas a que eu nem conheço
o significado: PAICHÃO
(ou será PAIJÃO?).
Eu não quero nem saber.
Eu não estou nem aí.
Agora que mudei, vai ser pra valer.
Vai ser pra arrepiar.
Vai ser pra ninguém colocar defeito.
Eu quero mais é bagunçar.
Afinal...
(Foi só um pesadelo!
Eu ainda sou eu... ai, que saudade de mim...)
28.06.2008 - 18h20min
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Ponto de vista II
Algumas pessoas dizem que eu penso ter o rei na barriga.
Mas eu só tenho um umbigo, oras!
27.06.2008 - 01h
Psicodélica. Um dedo de prosa... Poética?
Eu ganhei uma taça de fogo do Sol.
No vidro da alma, dividi a intenção de sempre.
Nas gélidas madrugadas de inverno, corri descalça
sobre as cinzas da Lua.
Meus erros quebrados escreveram versos
de sonhos tranqüilos, de trocas e lutas
melodicamente pagãs.
Nos paradoxos obtusamente orvalhados
cirandearam cicatrizes profundas.
O milagre é uma fera enraivecida
que engole parafusos de hortelã.
E eu danço nua!
Na mão esquerda, a castidade florescida.
Na direita, um frasco de perfume azul.
No tornozelo, discreta corrente, pequena placa:
“Bons ventos te tragam”, nela gravada.
E um cândido sorriso no movimento todo,
a convidar os passantes da vida
para um gole quente da taça de fogo;
da mesma taça que eu ganhei do Sol...
27.06.2008 – 14h
Assuntando
O assunto dita a direção da hora.
Se ele é puro, ela dura, ela é dura.
Se ele é duro, ela arrasta, ela fica.
Se ele é freio, ela estremece, é maldita.
O assunto dista do interesse
o espaço que não se permite medir.
O quilômetro rodado que não se vê.
O centímetro quadrado que não se espera.
O milímetro exato, difícil de se obter.
O assunto rasga a veia da retina,
engole a cobra, quebra o pau,
encerra a areia, cospe fogo
e se recolhe na inóspita insignificância
de quem já fez o que tinha que fazer.
E perdeu a oportunidade de calar.
27.06.2008 - 13h
Axiomas?
Quantos personagens cabem em nós?
Quantos nós cabem em "Nós dois"?
27.06.2008 - 01h27min
*Um pensamento
Resultado de conversa de poeta-atleta
Ao voltar do trampo,
tapou os olhos
e saltou do trampolim.
Virou pirilampo...
26.06.2008 - 23h16min
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Dúvida
No verão tenho preguiça
tudo me cansa
tudo me custa.
No inverno tenho frio
tudo me cansa
tudo me custa.
Ando desconfiada
que o problema não está
nas estações....
25.06.2008 - 15h02min
Proteção
O escudo preso
à mão esquerda
impede a queda
da brisa que sopra leve
na carapuça amarela
do suspiro de um deus sem rosto
diluído nos sonhos
de um indivíduo qualquer
que apaga sem pressa
os afazeres de uma vida
sem direito a rascunho...
25.06.2008 - 13h40min
Religião
Vibração.
O melhor do mundo
no símbolo avermelhado
que desconhece derrota.
Poema encomendado
aos pés do goleador
IN-TER-NA-CIO-NAL!!!
Ópio do povo,
delícia de um torcedor?
Mais que isso:
religião.
(O que não se faz
por amor?)
25.06.2008 - 13h56min
Egocêntrica
Ao redor do meu umbigo gira um mundo:
o meu mundo, que a tua língua insiste em definir...
25.06.2008 - 03h34min
A chave
*Esta tarde, depois de adiar por semanas a visita ao chaveiro, finalmente mandei fazer cópia da chave do portão de minha casa. Enquanto ele, muito rapidamente, atendia meu pedido, fiquei observando seu trabalho. E pensei: MÁGICA! Daí o poema a seguir...
A máquina faz chaves:
mágica.
Mágica é a palavra,
chave para um mundo inusitado.
Plantando dizeres
que abrem portas
vão os versos
vão as letras
que vão dentro da gente.
E o chaveiro, inocente,
mal sabe que poeta
é bicho triste,
vê chave de poesia
na fechadura do portão...
Pura magia....
25.06.2008 - 0h51min
terça-feira, 24 de junho de 2008
Controvérsia
Garimpo pensamentos raros
entre as obviedades do cotidiano
perdidos nas alamedas
do que jamais poderia ter sido.
Salto os obstáculos
que se interpõem no caminho
como se a lida fosse suficiente
como se perder já não fosse o bastante.
Estudo cuidadosamente
a imperiosa substância não-tida.
São fartos os dias
de fartura duvidosa,
de suspeita companhia.
Procuro o silêncio desmedido
pra escutar o que me diz
meu sonho distante
o mesmo que não pôde
rasgar a realidade.
Perco o ônibus
na estação do trem
enquanto espero as asas
de um anjo disfarçado
de sorrisos e de fruta
amadurecida no pé.
São lisas as arestas da aurora
e firmes as presas do espelho
que me sorri.
A noção de limite
é o sopro de um deus controverso
que controla um universo vazio.
São minhas as horas que doei sem pressa
que voltei atrás
que voei distâncias imprevistas.
São minhas as faltas
as ausências, as não-presenças
que parecem iguais
mas são contrárias entre si.
O ponto obscuro é o fim
do começo de vida que não conhecia
bastecida de alegrias
e divãs de analistas
onde nunca estive
pra voltar ao começo
e encontrar raros fragmentos
de pensamentos plantados
n'algum lugar
que eu nunca vi....
23.06.2008 - 16h
De repente
De repente tudo vira de cabeça pra baixo
de repente o tinto perde a cor
a cor perde a razão,
a razão, a palavra.
De repente, o espaço está do avesso
o passo é espesso
o escudo, uma invenção
de um louco desacostumado
com a luz de um outro olhar...
De repente, a desconstrução
e tudo passa a ser o que está em outro lugar.
De repente, a tese rasgada,
a antítese no verso da folha amarelada
e todo o dito des-dito, malfadado.
De repente, o que acredito
não sustento
o que sutento
não credito
no símbolo suspenso
sobre o teclado.
De repente, negror e sal amargo
torpor e braço dado
saliência e serpente
no delírio de um doente
que se pensa santo
e que atravessa o sol poente
como quem brinca
de ser criança.
De repente a conversa inocente
rasga as vestes
e enfurece a dança
de corpos distantes que estremecem
ante o afago
ante a proferida sentença
que nega a venturosa lembrança.
De repente acordam-se os sonhos
e andam em dimensões diversas
entre os paradeiros das criadas
das mulheres, das trapaças,
das vertentes de lábios avermelhados,
das madrugadas, das vizinhas,
das deslavadas caras de predadores
famintos por leite diverso.
De repente escrevo poema
quando queria escrever um risco
(apenas um risco)
um cisco no olho do passante
que arranca a trave
e grita, com o espinho entre os dentes:
"SE É POESIA, SIM!
DOU O MEU ACEITE!"
E o acerto é acordado
entre todos os presentes.
Se poetas, se dementes,
não faz mal,
a gente sempre ri de tudo mesmo,
a gente sempre vai estar aqui,
afinal
todo verso se inicia assim
num repente...
Bem assim, de repente...
24.06.2008 - 01h38min
Caminhos
*Para um RICO amigo
São tantos
são claros
são escuros;
são longos
estreitos
controversos.
São frios
calculistas
exatos.
São monstros
são medos
são fetos.
Caminhos
são tortos
são mortos
são tímidos.
Vazios
poluídos
excêntricos.
Caminhos voltam
pelos mesmos caminhos
vãos.
Caminhos são escolhas
porteiras abertas
ruas sem saída
florestas.
Caminhos são luas
estrelas
e
serestas.
Serenos nas madrugadas.
Festas.
Frestas.
Caminhos são velas acesas
são velhas histórias
são frutas diversas.
Caminhos são aberturas
e chaves-mestras
de nomes que não conhecemos
mas queremos saber
por quê.
22.06.2008 - 22h20min
Ando nua
A teus pés meu mundo
meu sangue
meu ar.
Esparramados diante de ti
meus membros
minha pele
meus sonhos todos.
Não preciso de mais nada disso.
Ando nua.
Não tenho morada.
Não tenho parada.
Não tenho dono.
Fica com tudo o que é meu,
inclusive essa minha alma
que te ama
que te ama
que te ama.
Ando nua.
Nem alma carrego
nem coração.
Fica com tudo o que é meu.
Eu?
Ando nua.
Não tenho dono.
Sou asa...
e solidão.
21.06.2008 - 01h41min
Dos sentimentos
Sentimentos são feridas abertas
carne-viva-pulsante-exposta.
Diminuição do que se entende
por "cuidado, não há mais tempo agora".
Sentimentos são canções
que desafinam no momento exato
em que nos apresentamos
diante de múltiplos olhares.
Sentimentos são alçapões
que se abrem debaixo dos pés
bem na hora da primeira pisada
a mais firme,
a que mais esperávamos.
E lá vamos nós,
abismo abaixo.
Sentimentos são fantasias
vestidas em pleno baile de carnaval.
Confundem a gente,
confessam o desfile e riem
como se a nós não pertencessem.
Preparam um espetáculo circense
e desaparecem no dia seguinte.
Sentimentos são ruínas
restos dos trapos que ficamos
ao remendar os dias que se foram
e que já tarde foram
e que furam a memória maldita.
Já pareceram melhores.
Sentimentos são bolhas
são borboletas
são fiapos de lã
que não servem para tricotar
a blusa de inverno no calor do verão.
Sentimentos são espinhos
são rosas que jamais nascerão
nos vasos arrumados
das salas de espera da vida.
Sentimentos não são...
20.06.2008 - 02h45min
Mistério
*"A coisa mais bonita que podemos experimentar é a misteriosa"
(Einstein, soprado por uma poeira brilhante...)
Nuances de cores
na tela fria
risos de diversos sabores
pinturas inexatas
insustentáveis pareceres
cortados por cronologias absurdas
e abstratas liras.
Médicos, pacientes, malucos,
internados na letra
que dirige um olhar de soslaio
entre o que seja
e o que solucione
o enigma transparente
da palavra inexistente
no dicionário vazio.
Não pensamos, não olhamos,
não diluímos os múltiplos 'eus'
na catastrófica realidade
- martelo de sono -
que prende a vida por um fio.
Não somos meninos
sequer poetas somos.
Estamos leitores do outro
ou de si mesmos, espectadores?
Mistério.
19.06.2008 - 23h20min
Restos
Restam-me os pingos dos 'is'
as gotas de saliva
expostas nas portas da garagem
de um poeta aprendiz.
Resta-me a manifestação
da natureza insólita
perversos verbos e versos
presos à porta da geladeira
com imãs que falham.
Resta-me a cura que eu não quero
nem pedi.
(O que seria de mim
sem essa minha loucura?)
Resta-me a insensatez
o delírio, a busca cega
pela chave da prisão de giz.
Resta-me a febre gasta
o suor, o calor, o cansaço,
a prenda que não ganhei,
o cavalo que não montei,
a lágrima que não disfarço.
Resta-me o movimento extinto
na boca pintadade vermelho vivo.
Ao menos na boca, a vida.
Ao menos na vida, a boca que diz:
'eu não quero mais
já tive o meu quinhão
já não me basta
ser feliz'.
19.06.2008 - 16h
Fardo
O pardo fardo
na poeira da estrada.
O farto prato
na beira do abismo.
A língua amarrada
na farpa do clima.
O cataclisma aquecido
na prece do dia.
A tecelã embrutecida
no fiapo da vida.
A faca, o queijo, o pão,
o mantimento da lida.
A mala, o beijo, a mão,
o lamento na partida.
O parto da letra
na folha da sina.
Palavra vazia.
18.06.2008 - 23h32min
*Só mais uma dor...
Corre,rio
*Quintana, citado pelo brilho ofuscante da poeira de uma certa estrela:
"A tristeza dos rios é não poderem parar"...
Corre, rio.
Teu destino é o mar.
Na passagem, admira,
ama, deseja,
a hera, a chama acesa,
o acampamento, os riscos.
Os sisos das serestas alheias.
Corre, rio.
Teu destino é o mar.
Adocica caminhos
alimenta verdades
dá de beber ao luar.
Banha as gentes,
os peixes, os olhares.
Transborda de vez em quando,
provoca mudanças,
acende nuances
jamais suspeitadas
na margem direita
do teu braço
dado co'a chuva
que te abastece e delira,
prazenteira.
Corre,rio.
Teu destino é o mar.
O meu?
Oras!
Eu nasci pra te navegar!
18.06.2008 - 23h
Aviso aos navegantes
Não tente me entender. Não pense em me alcançar. Estou longe. Sou o vento que sopra no deserto. Sinta a essência, e trema. Mais que isso, impossível. Não se permita o interesse. Seria desperdício de tempo. Acompanhe o trabalho, se te apraz, mas não espere aproximação. Não há possibilidade. Nenhuma. Conserve a sua paz. O resto pertence ao nada. Não vale a pena.
18.06.2008 - 19h13min
Pensamento inacabado
A loucura tem gosto de mel. Um tantinho por dia protege das intempéries. Há quem a considere um perigo. Perigosa sou eu, que vivo a um triz da lucidez completa. Isso sim é que inspira cuidados. A loucura não...
Complete, caro leitor, como preferir...
18.06.2008 - 01h29min*Enquanto todos os lúcidos dormem. Lúcido é o cara que sabe que está um frio de rachar e se protege debaixo das cobertas, na cama. Louca sou eu, sentada diante dessa tela fria, digitando num teclado frio, palavras sem nenhum propósito além de esquentar um pouco a escuridão que atravessa o universo. Geladas estão minhas mãos. Louca! Uma louca, eu, com sabor de mel nas veias. Gotas de mel na pele. E gelo no lado esquerdo do peito. Inverno em mim.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
O 'X' do cinto
Não sinto
o cinto.
Se sinto
não minto.
O instinto
desmente
o sentir
que é sina
no badalo do sino
que pressente
o discernir
da mente
ausente de si.
Ensimesmada
retorno à sala
e sugo a frase
soletrada por ti.
A fase de hoje
é só um passo
no descompasso
certeiro
do mistério em
que eu não soube
per-sis-tir.
A luz acende o Sul.
22.06.2008 - 23h12min
domingo, 22 de junho de 2008
Caminhos
São tantos
são claros
são escuros;
são longos
estreitos
controversos.
São frios
calculistas
exatos.
São monstros
são medos
são fetos.
Caminhos
são tortos
são mortos
são tímidos.
Vazios
poluídos
excêntricos.
Caminhos voltam
pelos mesmos caminhos
vãos.
Caminhos são escolhas
porteiras abertas
ruas sem saída
florestas.
Caminhos são luas
estrelas e serestas.
Serenos nas madrugadas.
Festas.
Frestas.
Caminhos são velas acesas
são velhas histórias
são frutas diversas.
Caminhos são aberturas
e chaves-mestras
de nomes que não conhecemos
mas queremos saber
por quê.
22.06.2008 - 22h20min
Eles
Eles têm mais paciência
têm mais sabor
têm mais consistência.
Eles insistem mais
acreditam mais
vivem mais.
Eles apostam mais
arriscam mais
enfrentam mais.
Eles se doam mais
se entregam mais
se expõem mais.
Eles se aventuram
se aperfeiçoam
se comprometem.
Eles,
os homens mais jovens.
22.06.2008 - 20h
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Revolução
Juntaram-se os loucos e os profetas
nas praças das cidades sem lei
e o que se viu jamais se disse de ninguém:
a poesia a dançar de mãos dadas
co'a tortuosa faca de dois gumes;
a romper com as barreiras e os umbrais
que mantinham em pé as estruturas
das pessoas de beleza vazia.
A poesia, correndo solta nas bocas
das malas pesadas, nas cabeças ocas
que se soltaram e viveram a folia
como nunca dantes fora permitido.
A poesia, a bordar e pintar o dito
e o não-dito popular.
A poesia, a libertar o povo cansado
de tanta heresia, de tanto falar.
A poesia, a cantar a liberdade,
a sorrir e a escutar o verso que,
de fato,
finalmente, virá...
19.06.2008 - 0h46min
terça-feira, 17 de junho de 2008
Eu não sou. Por tempo limitado.
Eu sou o nada.
Eu sou tudo o que vai além
da tua capacidade de percepção.
Eu sou o que se esvai
nos minutos que não me prendem
a ti ou a qualquer outro.
Eu sou o esquecimento
em pele de mulher nua.
Eu sou o que ainda serei
e também o que jamais fui
nem tenho a menor vontade de.
Eu sou o oposto do que procuras
o oposto do que precisas
o oposto do que anseias tu.
Eu sou a esfinge e a pergunta
e a solução do enigma.
Eu sou o deserto e a metrópole,
a multidão e a solidão completa
enclausurada em campo aberto.
Eu sou tudo o que desejas
e o tudo que jamais gostarias de ter.
Eu sou a completude e
o imediatismo.
E sou a eternidade e
a dispersão.
Eu sou o que não vês
o que não tocas
o que não sentes
tudo o que provocas
tudo o que pressentes
tudo o que invoca a tua mente
irrigada de sangue quente
e de fresco orvalho da manhã.
Eu sou um sopro breve
o ligeiro movimento da cortina
o que jamais esquecerás
por toda a tua vida.
Eu sou o esquecimento
e a virtude.
O que está por vir
e o que morreu há tempos.
Eu sou quem desfila
diante dos teus olhos desatentos
e que perdes na curva do tempo
por não teres a devida explicação.
Eu sou o que não sei
o que alguém procurou
em algum lugar do universo.
E jamais
em tempo algum
encontrou...
17.06.2008 - 22h
segunda-feira, 16 de junho de 2008
A lava... a tua...
No céu sem estrelas
a língua
a tua
no meu céu sem estrelas.
Na curva da pele
a língua
a tua
na curva da polpa.
Nos poros abertos
a língua
a tua
no céu das curvas da polpa
de poros abertos
sou tua.
Suspiros certeiros.
No pico do monte
a lava
a tua
na polpa madura.
Açoite.
16.06.2008 - 01h
domingo, 15 de junho de 2008
Gosto de palavra
Não ponha palavras na minha boca
palavras eu tenho e significantes também.
O que me falta é a tua saliva, o gosto, o rosto,
o sumo, o sentido, o signo.
O que eu quero é justamente o que eu não tenho
de ti.
...
("... mas a gente faz o que a distância permite...")
15.06.2008 - 15h35min
Contradições
Meu nome é CONTRADIÇÃO.
Se choro, repara, que rio em seguida.
Se rio, não te enganes, que a graça
encontrei no cio de quem nem sequer conheço
mas que me pareceu ridiculamente engraçado.
Se sou circunspecta, se te pareço concentrada,
não espere que eu esteja digerindo
todas as informações recebidas. Nada!
Devo estar nalgum lugar distante
entediada com a forma cansativa
como determinadas falas
chegam-me aos ouvidos.
Se te digo que sou sossegada, duvida.
Sou até certo ponto, mas não pague pra ver.
Porque posso ter energia que até
a bomba atômica ficaria corada.
Uma hora quero, na outra não quero nem saber.
Se espero quieta num lugar
é porque em outro quero estar.
Se me agito e me enturmo e atormento
é por não ter absolutamente mais nada pra fazer.
E por aí vai. Sou a sapiência em pessoa
e a mais ignorante de todos os mortais.
Sou amável, carinhosa e feliz
e estúpida, grosseira e deprimida.
Contradições à parte,
sou só mais uma mulher
que dança nua na praça
esperando que o povo peça bis.
15.06.2008 - 12h15min
Velha história
Não tenho palavras novas
nem novos dizeres
pra falar tudo o que já foi dito
em toda espécie de saberes.
Sou inexata e equívoca
sou intento e alma vazia
não tenho pretensão de nada
não tenho razão nem falta
de espelho fora de foco
ou de espera fora de senso.
Nada tenho pra contar
que já não saibas
ou que já não tenhas ouvido.
Talvez um jeito diferente
nem assim tão bonito
que te prenda mais que um
pequeno espaço de tempo,
um minuto, um milésimo
de segundo, talvez.
Depois te irás
e nem lembrarás
que um dia, nalgum lugar
na fina e tênue luz do luar
eu te contei uma história
que já sabias
e parti, pra não lembrar...
15.06.2008 - 12h03min
Direito
Uma das coisas de que não abro mão
nem por decreto
é do direito
de fazer da minha poesia
o meu grito.
Aos 24 minutos do dia 15.06.2008
Esse tal de amor
Porque é que se fazem poemas de amor?
Porque é que há declarações de amor?
Porque é que as juras de amor se proliferam
feito moscas em dias de insuportável calor?
Talvez porque o amor seja essa coisa inconstante
meio fugidia, meio rebelde, meio metido a menino,
que não sossega nem com calmante.
Talvez porque esse bichinho impertinente
te faça sentir um tantinho assim mais gente.
Talvez porque, afinal, tudo na vida passa,
inclusive esse amor que as pessoas acreditam
que nada mais é que um etecetera e tal...
Aos 22 minutos do dia 15.06.2008
sábado, 14 de junho de 2008
Não cantarei
Eu não quero mais cantar o amor
amor não é pra ser cantado
sequer vivido; amor é noite escura,
é pra ser dormido.
Eu não quero mais cantar a paixão
paixão é pra ficar quieta, muda, perdida
num canto qualquer de solidão.
Eu não quero mais cantar o riso
riso é soluço que de repente escapa da gente
e não tem mais como controlar.
E falta de controle é um perigo!
Vai que a gente não encontra
o caminho de volta
e não volta nunca mais?
Ah, não. Eu não quero mais cantar
o amor
a paixão
o riso.
Eu quero cantar...
(... mas, sem eles, o que sobra pra cantar?)
14.06.2008 - 21h48min
Vendedora de mentiras
Escoam entre meus dedos os fios de esperança
que um dia acreditei eternos
eternidade é um ponto obscuro
nalgum lugar perdido de mim;
um dia sonhei que o mundo era menos duro
que o sol pra todos brilhava
que a alegria estava ali, o tempo todo,
era só tomar posse. Simples assim.
Nada.
O sol aquece quem tem amigos influentes.
A alegria existe pra quem
tem maior habilidade de enganar.
Pra quem alcança a maior cota de mentiras
estipulada no início do mês,
entre os fingidos de plantão.
Entre meus dedos,
o último fio de esperança
insiste em se agarrar
à pele quente da minha mão.
Mas eu não quero.
Eu não creio mais.
Num sopetão, me livro dele.
Pronto.
Agora sou igual.
13.06.2008 - 22h17min
Permanência
Inventei minha própria caricatura
cortei todos os meus exageros
varri as verdades pra debaixo do tapete
e ateei fogo à casa inteira
- melhor cortar o mal pela raiz -.
Depois virei as costas e parti;
não guardei migalhas na lembrança
nem ais, nem papéis de chocolate vazios.
Não comprei briga com a realidade
nem paguei pedágio pra ilusão.
Fiz plástica nas cicatrizes todas
pra não ter vestígio de dores.
Arranquei do peito o coração;
dói um pouco,
mas dor é coisa que dá e passa.
Ando vazia desde então.
E descobri que essa é a melhor forma
de permanecer...
14.06.2008 - 14h
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Não escrever
E se eu não quisesse mais escrever?
Pra onde iriam meus desabafos
meus espalhafatos, meus diários gritos?
E se eu não tivesse o papel em branco
na minha frente, na escrivaninha do quarto,
pra sangrar nele a minha dor, o meu delírio,
a espera insana, a arritmia?
E se eu só quisesse esquecer
como é que se junta as letras
e se formam os versos
e se formatam poemas
assim, dessa forma ligeira,
quase sem nem perceber?
E se eu não me quisesse mais lida,
e de repente fosse sumida
sem ninguém mais de mim saber?
E se eu descansasse,
finalmente descansasse,
dessa minha vontade de dizer?
Ah, minhas letras viriam sozinhas
acostumadas que estavam
com a caneta, com as linhas que bordam,
que guardam meus sentimentos todos,
minhas solidões perdidas nas noites frias
em que o orvalho lava a lágrima
e a escuridão acena ao riso
que não fere a garganta aflita.
E se eu aposentasse a pena?
Ai, ai, ai...
O que seria de mim?
13.06.2008 - 22h37min
Falsidade
Qual é o sorriso que mais te agrada?
Espera, deixa eu ver se tenho aqui.
Ah, sim, é este, o aberto,
que até parece sincero?
Sim, é este mesmo que tenho
pra te oferecer, hoje, aqui.
Não?
Queres que eu chore contigo
as tuas agruras, os teus delírios,
as dores que não pediste?
Sim, tenho lágrimas
aparentemente sinceras, aqui.
E posso até te oferecer um lenço
perfumado, bordado com as iniciais
de alguém que nem conheço
mas que leva o meu nome.
É de um abraço que precisas?
Tenho de todos os tipos
cores, formas e pressões.
Nem será necessário fazer força,
nem será necessário esperar,
nem será necessário questionar.
Terei abraços, sorrisos,
palavras de consolo,
juras de amor eterno
se for o caso.
É só pedir.
Trago tudo aqui...
13.06.2008 - 14h50min
Só mais uma
Decidi.
Hoje é meu último dia.
Amanhã não existirei mais.
Outra pessoa levantará da cama, em meu lugar.
Estou exausta.
Desisto, hoje, de ser quem eu fui até a presente data.
Sempre fui diferente.
Sempre joguei limpo.
Sempre fui sincera.
Contei quem eu era.
Nunca experimentei uma máscara.
Não sei que peso elas têm
(talvez até sejam confortáveis!).
Pois cansei de não encontrar lugar pra mim.
Cansei de ser diferente.
Cansei de ser apenas quem eu era.
E não serei mais.
Hoje é meu último dia.
Amanhã não existirei mais.
Amanhecerei mudada.
Mascarada.
Dissimulada.
Fingida.
Mentirosa.
Assim pode até ser
que eu tenha dificuldade
de encontrar um lugar pra mim,
posto estarem praticamente
todos ocupados,
mas serei apenas mais uma
entre os milhares e milhares
e milhares de outros seres com o dito perfil.
Não consegui pagar o preço altíssimo
cobrado de quem não finge.
Não tive meios de sobreviver sozinha.
Não dormi bem,
a despeito da minha consciência tranqüila.
Não fui mais feliz por ser mais sincera.
Não tive mais sorte por não mentir.
Não respirei aliviada por estar com a cara limpa.
Máscaras.
Hoje gastarei o dia escolhendo,
separando e preparando um belo estoque
de máscaras para todas as ocasiões.
Ensaiarei as mentiras mais convincentes,
os sorrisos mais cínicos
e os mehores fingimentos da praça.
Tive ótimos exemplos até agora.
Sou inteligente
(aliás, devo fingir burrice, também,
a partir de amanhã,
mas hoje ainda posso admitir
esse traço pouco valorizado no mundo),
e sei bem quais são as formas de mentir,
enganar,
ludibriar,
iludir,
dissimular
e todos os verbos
considerados mais sensacionais
e muito usados por esse mundo das pessoas
(de Deus é que não é).
Respirarei fundo, amanhã,
e sairei à rua,
com minhas máscaras tinindo de novas.
Exibirei todas elas.
Distribuirei falsidades
de todas as formas,
cores,
jeitos
e tamanhos.
E dormirei,
finalmente,
em paz.
Hoje é meu último dia.
Amanhã, no meu lugar,
uma mentira andará pelas ruas
e responderá quando chamarem o meu nome.
Porque eu não existirei mais.
Terei morrido esta noite,
de pura exaustão...
13.06.2008 - 14h
Amanhã?
E hoje foi só mais um dia
depois da noite escura
que manchou a face da vida
hoje foi só mais um dia.
Ontem esvaiu-se na lembrança
ficou pra trás, depois da curva
e não recebe mais visitas.
Hoje escorrendo-me das mãos
os risos se perdendo
o brilho se apagando
o som dos passos se distanciando.
Hoje escorre-me das mãos...
Só mais um dia.
Até que o amanhã nasça
pra começar tudo outra vez...
Aos 15 minutos de 13.06.2008Um novo dia...
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Dedicatória
É notável a forma como carregas
na aura todas as cores de que gosto
o suave permanecer ao lado
como se nunca te afastasses
como se me acompanhasses o tempo todo
leve sombra pairando sobre mim
protegendo-me dos raios nocivos
não do sol, mas dos medos e turbulências
de uma vida que a gente não tem como prever.
Ao longo desses meses
tens permanecido sempre o mesmo
sempre disposto a me ouvir
sempre presente, constante.
Nenhuma mudança. Nenhuma contradição.
Se dizes que és, confirmas por atos.
Manténs exatamente o mesmo perfil,
deixando que eu te conheça aos poucos,
mostrando teus lados lentamente
sem nunca abandonar o cara que eu conheci.
Doce, de uma doçura quase infantil.
Seguro, de uma segurança tão firme
e tão madura, que extrapola a tua idade.
Tu és mais do que aquele cara
em quem eu penso durante o dia
e com quem adoro estar.
Tu és mais do que aquele cara
que entrou devagar na minha vida
e eu pensei que não fosse ficar.
Mas ficaste. E estás até agora.
A despeito de tudo...
A despeito de mim...
Hoje não é só mais um dia;
hoje é outro dia em que te vejo na rua,
em que te ouço na rua,
em que quero te encontrar.
Não é uma data especial pra nós.
A minha data contigo é sempre.
A minha data contigo começou há meses.
A minha data contigo permanecerá.
12.06.2008 - 23h21min
*Tu sabes que é pra TI!
Efeméride
terça-feira, 10 de junho de 2008
Gentes
... será que alguém consegue conhecer a gente?
será que a gente conhece a gente?
não será a gente um grande mistério
inclusive pra gente?
Quanta gente cabe na gente?
Quanta lágrima a gente é capaz de ainda derrubar?
Quanta cinza nos anuvia o olhar?
De quantas dores se faz uma gente?
De quantas gentes se faz uma dor inesquecível?
Sentado não se vai mesmo a lugar algum?
Sempre que se anda, se está buscando algum destino?
Uma seca pressente a chegada da chuva?
Uma chuva sente prazer em aliviar a dor da seca?
Tudo isso acontece com a gente
ou a gente é que acontece em tudo isso?
Alguém conhece a gente?
A gente conhece alguém?
A gente conhece a gente?
Quanto da gente há na gente?
Quanto de outras gentes há na gente?
Quanto da gente há em outras gentes?
A gente se confunde com a gente?
As gentes se confundem com a gente?
A gente se confunde com as gentes?
A gente permite outras gentes na gente?
As gentes permitem que a gente seja gente?
Urge que sejamos mais gente!
10.06.2008 - 23h
Frio lá fora, calor cá dentro
Teu beijo com chocolate
churrasco, mel,
pinhão e café quente
no frio do inverno
que enregela a gente
mas que nutre e anima a alma.
E nós dois sem importar
a temperatura negativa,
ou ainda que ela importe
escolhemos estar juntos
enrolados em outro calor
o de dentro.
O da tua mão forte
que firme segura a minha.
O da tua mão firme
que forte prende a minha.
O da tua mão quente
que aquece a minha.
10.06.2008 - 22h30min
Dia após dia
Formamos um vínculo
difícil de romper.
Somando as horas juntos
dá quase uma vida
posto que a vida é um conceito
muito particular.
Esvaindo nos minutos
as distâncias entre nós.
E meus dedos relutam
sempre que é preciso
que se desprendam dos teus.
E meus medos relutam
sempre que eu penso
que ainda não dissemos 'adeus'.
Não consigo não ter notícias tuas.
Não consigo deixar de te falar.
Não consigo evitar de fazer minhas
as risadas que tu dás.
Afinal, se me dás, são minhas!
E rimos juntos, devagar.
Divagar é sonhar contigo;
viver é saber que estás...
10.06.2008 - 21h01min
(PRA TI, PORQUE ESTÁS!)
Lumina
De olhos abertos
atentamente sondo
o que há de vir.
Nos indícios que deixas
perdidos entre os silêncios
- mais longos que meu desejo
menos quietos que gostarias -
encontro brechas de luz lilás.
Acendo as centelhas de um calor
que se diverte em me fugir.
Recruto vagalumes aos milhares
com sua luz amarelada piscante
pra salpicar de beijos
a escuridão da noite
e florestar de cor
a imensidão dessa mesma noite
que me abraça sem trégua
sem dó nem piedade
sem misericórdia de mim.
Quero florir o instante em que te vejo
jardim de lua e prazer
encanto de história lida
beleza de amor pra trazer
pra dentro da alma acesa
e rir da lua, coitada,
que não tem a sorte
nem a bênção de poder ouvir
essa tua risada.
10.06.2008 - 20h08min
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Presente
Neste dia dos namorados
meu peito em versos
pra guardares por mil anos...
09.06.2008 - 23h30min
Do amor III
Que amar seja todos os dias.
Extrapole a data,
a distância,
o medo,
a miséria,
a inveja,
o cinismo,
a cobrança,
a lembrança
do último
amor,
a dor da última dor,
a saudade
do que não restou,
a descrença
e
até
a bonança.
Que amar sempre valha a pena.
E esteja em primeiro lugar
no rol das coisas
que nos são mais caras.
Que amar
seja jóia rara.
Que amar
seja amar
e amar
e amar
e amar
té que amanheça
a vida
com coração
de criança....
09.06.2008 - 22h10min
Não ter namorado
Necessidade
Eu preciso dessas risadas soltas
desses assuntos sem compromisso
dessas horas a fio de companhia alegre.
Eu preciso desses momentos leves
em que o pensamento não dói
em que o coração descansa
do peso de sempre, da saudade contida,
da impressão constante de solidão iminente.
Mas eu também preciso da sensação de segurança,
da certeza de que se sabe o que se quer,
de algumas convenções, da esperança.
Eu preciso da conversa séria,
do despir-se da casca da inconsequência,
do olho-no-olho, do momento de dentro.
Eu preciso de tudo o que as horas que tenho contigo
tiverem pra me oferecer.
Por que na verdade
o que eu preciso mesmo
é de ti...
09.06.2008- 19h57min
Miragem
E a gente acredita ter encontrado o amor
assim, meio sem pretensão, meio distraído,
atravessando uma rua qualquer, sem olhar para o lado,
sem olhar para cima, nem pra frente sequer;
olhar parado, longe de tudo, de repente se foca
e a gente jura que viu o amor.
Só que não era ele, na verdade.
Era miragem, absorta que ia tu'alma
nos sonhos da madrugada que ficou pra trás.
Não era o amor.
Era só uma miragem
que aproveitou a carona da amizade
e confundiu teus olhos
acostumados que estavam
co'a nublada sensação de que um dia
(um dia, talvez, quem sabe)
ainda haverá de acontecer...
Ou não...
09.06.2008 - 19h04min
domingo, 8 de junho de 2008
CITAÇÃO PARA PENSAR
Cirurgia de lipoaspiração?
Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada, nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração?
Uma coisa é saúde, outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é auto imagem.
Religião, é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação.
Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem.
Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação. Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso.
A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem, imagem. Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa. Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o coletivo. Jovens não têm mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada.
Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal, mas...
Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados,turbinados, aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser. Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude.
Que eu me acalme. Que o amor sobreviva.
Cuide bem do seu amor, seja ele quem for.
Herbert Vianna - Cantor e compositor
08.06.2008 - 18h22min
*Não costumo e não gosto de colocar aqui textos de terceiros.
No entanto, ao receber esse por mail, de uma amiga muito querida,
quis compartilhar com o máximo de pessoas possível.
Não encontrei outro meio além desse. Afinal, o que eu mais quero
é que o amor sobreviva....
Namorar
Namorar é costurar as veias
embrutecidas da solidão
é soltar as amarras da amargura
aspirar o perfume da ilusão.
Namorar é pressentir o medo
e não se importar com ele,
é rir até às lágrimas,
é beijar até perder o fôlego.
Namorar é contar bobagens
e cantar amores e flores e pedaços
de canções quebradas
que a gente ouviu por aí
e que grudou na gente,
carrapato de saudade.
Namorar é andar de mãos dadas
e dar-se sem reservas
como quem não mora mais em si.
Namorar é fitar longamente
os poros do objeto digno do nosso amor;
é passear detidamente pelas entranhas
do objeto digno do nosso amor;
é enlaçar, lamber, mordiscar
a geografia do objeto digno do nosso amor.
Namorar é encantar-se e encantar
é catar os pedaços da gente
que andaram espalhados por aí,
juntar tudo e se admirar
de como pode recompor um peito
o poder do amor.
Namorar é ficar junto, mesmo que distante.
É rir sozinho, quando o outro aparecer de repente,
na lembrança, feito grilo falante,
feito doce de criança.
Namorar é mergulhar fundo
e voltar à tona, não por falta de ar
mas por excesso de gostar.
É ter sempre um céu azul sobre a gente.
É ter, em noite de tempestade, um particular luar.
08.06.2008 - 03h38min
Sonho - Um conto
Ela entrou em casa. Trancou a porta, como sempre. Não poderia deixá-la só encostada, ela, uma mulher sozinha.
Olhou para o ambiente que a cercava. Apartamento pequeno, predominantemente branco (pra não cansar, ela dissera, enquanto cobria a pintura alaranjada das paredes, com tinta branca perfumada), decoração alegre, almofadas coloridas. As cortinas de 'voil' balançavam levemente, dança provocada por um fio de vento que insistia em passar por uma pequena fresta da janela fechada. O quadro com as mulheres sem rosto, obra dela mesma, era a única coisa que enfeitava a parede. Televisão desligada, som mudo. Não costumava ficar sem música. Escolheu um CD: coletânea do melhor da MPB.
Na cozinha, um vaso com flores do campo, suas preferidas. Não tinham perfume, mas coloriam e alegravam a cozinha também branca (pra não cansar, ela dissera, enquanto tratava de organizar os utensílios, instalar o gás, ligar a geladeira, pendurar os armários aéreos).
O quarto, sempre com as janelas abertas, exalava um frescor quase primaveril. Era ali que sua vida descansava. Quando descansava. Todo branco (pra não cansar, dissera ela, enquanto montava os guarda-roupas e colocava as lâmpadas nas luminárias), dava uma sensação de maciez, quase de nuvem, na cama coberta por um grosso edredom estampado de delicadas e pequenas flores vermelhas, sobre ele, os travesseiros macios.
Incenso de cinamomo por todo o espaço. Mesmo apagado, exalava um perfume leve, que a fazia descansar.
Começou a preparar a janta, arrumou a mesa, atendeu ao telefone. Era Marília, lembrando do jantar na casa de Eduardo. Tinha esquecido completamente. Guardou os ingredientes da jantinha gostosa que iria fazer. Eduardo era melhor cozinheiro, e o jantar seria delicioso, com certeza.
Um banho, creme, secador de cabelo, delineador nos olhos (não gostava de muita maquiagem, nem precisava), batom cor de boca, a sandália de salto agulha que ela adorava, vestido. Ligou para o táxi. Desceu pelas escadas. Estava sem paciência para esperar o elevador.
Na rua, o táxi esperava. Não se atrasou. Nunca se atrasava para nada, embora esquecesse de muitos compromissos, principalmente se fossem referentes a documentos. Aí era um desastre. Mas não era o caso dessa noite. Aliás, o jantar foi esplêndido, Marília e Eduardo eram ótimos amigos. Riram muito, falaram da vida, choraram até...
Eduardo e ela levaram Marília para casa, depois ele quis acompanhá-la também. Já era tarde. Ela aceitou.
Subiram, tomaram um café que ele fez questão de preparar, e ela adorou o agrado. Riram muito, ainda. Eduardo fazia caretas como ninguém. Conhecia bandas das quais ela nunca tinha ouvido falar, mas eram interessantes.
Depois ele foi embora, querendo não ir.
Depois ela deixou que ele fosse, querendo que ficasse.
Já na cama, pensou no quanto seria bom permitir-se ser protegida, cuidada, paparicada. As paredes pintadas por ela estavam ali. Os armários montados por ela estavam ali. As cortinas colocadas por ela estavam ali. O chuveiro, o gás, as lâmpadas, estavam todos ali. E só o que ela queria era o direito de ser frágil.
Foi seu último pensamento, antes de adormecer.
08.06.2008 - 0h41min
sábado, 7 de junho de 2008
Sonho - um poema
Eu queria o direito de ser frágil
não precisava ser pra sempre
não precisava ser de um jeito
que me impedisse a independência.
Eu queria o direito de ser frágil
de não ter que parecer a dona
da situação, do meu nariz, da minha vida
- o tempo todo, intermitentemente -.
Eu queria o direito de ser frágil
ao menos uma única vez, pra poder dizer:
Eu preciso de ti!
E não sentir que isso me expõe negativamente.
Cristal partido em mil pedaços
a minha fragilidade, contra a parede da sala.
Pra eu mesma me dar o direito de ser ela,
até que esse cristal se recomponha
e eu tenha que voltar a ser só eu mesma:
rocha forte; porto seguro.
07.06.2008 - 22h30min
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Símbolos
Esses meus versos soltos
que ninguém mais pode entender,
são pedaços do tanto que eu ouço
o meu coração, por ti bater.
As frases quebradas, de muletas,
meio canhotas, quase mantras,
são partículas do sangue que me aquece
e que responde, quando a mente
repete o teu nome.
E ela repete.
O tempo todo.
O dia todo.
Tudo.
06.06.2008 - 22h42min
Ou sim?
Evito o canto do que de certo há
na inexata medida do erro
na descoberta imprecisa daquilo que não virá
(ou sim).
Esqueço os cantos dos espaços
em que os acentos são traçados
das poesias jamais escritas por alheios
que nunca estiveram lá
(ou sim).
Desautorizo as assinaturas,
as envergaduras, os folderes,
as resenhas, as bolsas fechadas
que jamais duvidariam da minha inteligência
(ou sim).
E desisto e duvido e caio fora
de tudo o que não me agrada
(ou sim).
Acordo depois ou nunca mais
(ou sim)...
06.06.2008 - 22h32min
Ou não?
Eu canto o que de incerto há
na desmedida ânsia do acerto
no enigma daquilo que virá
(ou não).
Sublinho os cantos dos espaços
em que os acentos são traços
das poesias de terceiros
que sequer passaram por lá
(ou não).
Legitimo as assinaturas todas,
as envergaduras, os folhetos,
os resumos, os envelopes lacrados,
os trabalhos perdidos
que atestam a minha ignorância dos fatos
(ou não).
E insisto e acredito e invisto
naquilo que se anuncia já amadurecido
(ou não).
Adormeço depois ou nunca mais
(ou não)...
06.06.20085 - 22h24min
Característica
Os plurais
as escadas
alguns poucos verbos
são marcas minhas
perfis de escritas soltas
penduradas nos varais da vida.
Algumas vezes sou maluca
outras vezes centrada demais;
os extremos me atraem
ando sempre à beira do cais.
O caos me concentra
na infinitude das horas
em que espalho algodões
embebidos de mel
e ofereço meus ouvidos
às canções da tua boca quente.
Vasculho os bolsos da poesia
embriago teus olhos com meus versos
e me retiro.
Sei que a mim, desde sempre, é reservado
o vácuo do instante
que passa...
06.06.2008 -20h45min
as escadas
alguns poucos verbos
são marcas minhas
perfis de escritas soltas
penduradas nos varais da vida.
Algumas vezes sou maluca
outras vezes centrada demais;
os extremos me atraem
ando sempre à beira do cais.
O caos me concentra
na infinitude das horas
em que espalho algodões
embebidos de mel
e ofereço meus ouvidos
às canções da tua boca quente.
Vasculho os bolsos da poesia
embriago teus olhos com meus versos
e me retiro.
Sei que a mim, desde sempre, é reservado
o vácuo do instante
que passa...
06.06.2008 -20h45min
Confusão
Ansiar é não-morrer
as portas arrancadas dos umbrais
os freios, equilíbrios, vendavais
estremecem nas curvas do tempo
que inexiste, que embriaga a perda
e sustenta a pedra da gruta
da vida, que se esvai por vias tortas.
Os ruídos atrapalham os princípios
e as telhas se desprendem
suporte frágil dos dias de sol.
Assistir é não-sofrer
o desfile das horas impróprias
na provável carne dura.
São cruas as experiências conflitantes
são curvas as excelências dissonantes
são cruéis as insistências difamantes
são minhas
são tuas
as marcas dos pés molhados nos limites
que separam o que fomos
do que haveremos de ser...
19.05.2008
(Este poema fazia parte de um projeto
que foi abortado. Um aborto na folha em branco.
Mancha de sangue. Vida escorrida na escuridão.
Agora é madrugada. 04h06min do dia 06.06.2008
e aconteceu o fato)
Possibilidade
E todos os poemas
que ficaram velhos
de não ver as folhas,
esquecidos que estavam
nas gavetas emperradas
de sentires igualmente de lado deixados?
E todos os versos expostos
que foram lapidados com orgulho
cuidados e alinhados um a um
feito trabalho de ourives?
E todos os rebuscados verbos
que expressavam a dor, a saudade, a paixão
de momentos que se foram, ou que tarde já vão,
de momentos que marcaram e que ficarão?
E todas as linhas, caprichosamente estendidas
na sequência das horas
em que derrubaram as escoras
e os temores e os absurdos cansaços
que jamais representaram fracassos?
E as noites insones, os litros de tinta
derramados no papel amassado
molhado de lágrimas que não poderiam
de jeito nenhum, de jeito maneira,
ser derrubadas diante de testemunhas
neutras que fossem?
E os risos que não se desprendem dos vocábulos
estreitados pelas descrições imperfeitas
porque perfeitos só os sons deles
proferidos por ti.
E nós...nós, que já fomos, que já voltamos,
que agora estamos sós.
E nós...
aqui, sem remédio, sem licença, sem lembrança
que impeça a crença de que
sim
nós
somos possíveis.
E mesmo que não fôssemos...
Seríamos....
06.06.2008 - 01h51min
Do amor II
O amor é uma coisa mágica...
faz horrores com a gente...
vira do avesso,
transforma em outra coisa,
dá vontade de chorar do nada,
dá vontade de rir do nada,
dá vontade de nada
além de ficar com a pessoa escolhida.
O amor faz coisas que até o amor duvida.
O amor é bálsamo pras dores,
tal qual a poesia.
Mas o que seria da poesia sem os amores?
E deles, sem os versos
inspirados no perfume
que exalam as flores do objeto amado?
Ah, que nada...
Amor é acompanhado de dor e sofrimento.
E a gente aguenta.
E a gente pede bis
porque é sempre muito bom
ser feliz...
06.06.2008 - 01h30min
A fila que anda
...e quando a gente tem pressa?
Parece que a fila é imensa.
Parece que a pressa faz fila
na soleira da porta de saída,
tem pressa de vida,
a fila da vida,
que anda,
que anda,
que anda,
mas que também às vezes...
desanda....
05.06.2008 -19h30min
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Fatos
Encontros não-marcados
Sei de ti no conta-gotas
das horas a fio
em que sentamos juntos
e dividimos as vidas
no limite do espaço
reservado pra nós até agora.
Conservo tua companhia comigo
teus gestos, tuas entrelinhas,
todas as palavras
que deixaste de dizer
todas as delícias
que deixei de te falar.
Não marcamos nada.
Voluntariamente te procuram
minhas vontades.
Tuas histórias voluntariamente
vêm a mim.
E te encontro nas ruas, nos ônibus,
nos restos de conversas que escorrem de terceiros.
E te encontro no último fio de sol
deste dia, e no primeiro de amanhã.
E te encontro na canção que eu não conhecia
e na que tenho mais que internalizada,
na que corre pelas minhas veias,
purpúreo rio pulsante
de bem-estar contigo.
E te encontro nas memórias do que ainda não vivi
e nas minhas mais recentes preciosidades.
Não marcamos nada.
Lentamente desfiamos o instante,
como quem o encontra pela primeira vez.
Teu nervosismo me diverte.
Minha alegria te chama pra mais perto.
Não perdemos o rastro um do outro.
Escreves. Entendo.
Falo. Entendes.
Estendemos, juntos, o tapete vermelho.
Lançamos, juntos, o laço brilhante.
Juntos, nos afastamos a contra gosto
do conta-gotas
e contamos os minutos
que faltam para o que nunca marcamos.
Nem precisaria....
05.06.2008 - 18h15min
(Pq penso em tudo o que não marcamos.
O tempo todo.)
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Breve,breve....
Comungo com tua saliva
no berço preparado para tal
melodia de ruídos conhecidos
recheados de novidades e afins
afunilo o horizonte e estremeço
parecem gaivotas esses teus olhos
que voam, lânguidos, sobre mim.
Aos 38min do dia 04.06.2008
Ciúme pontuado
não tenho ciúme do que não tive
do que não chegou a mim
do que não tocou minh'alma
do que não me confortou
do que não me fez sonhar
não tenho ciúme do que foi maiúsculo
mas não esteve aqui
do que foi sensível
mas não tocou aqui
do que foi verdade
mas não se fez real
não tenho ciúme do que busquei
e não tive, pelas razões que forem
do que quis e não alcancei
pelas razões que forem
do que desejei e não provei
pelas razões que forem
não tenho ciúme nem do que tive
porque, se tive, fui feliz
e felicidade não dá tempo
pro sofrimento se instalar
e fazer morada permanente
não tenho ciúme dos meus pontos
das minhas vírgulas
das minhas reticências
invadidas pelo olhar alheio
elas estão aqui
devoradas ou não
apreciadas ou não
discutidas ou não
ainda estão aqui
como esses teus olhos escuros
que não desviam dos meus
e que não me permitem o ciúme
e nunca me dizem adeus
Aos 34 minutos do dia 04.06.2008
Brinde
Um sim
um brinde
uma lágrima
no copo de cristal.
Escorre solta
despede-se
o soluço prende
voluntariamente...
Escoras derretidas
soluções imprevistas
um vão na estrada
um fogo na escada
que vai adiante
sem perguntar a razão.
Um brinde cego
exercício degustado
com precisão.
A lágrima perdida
não-vista
não-lembrada
não-sofrida
de novo
outra vez.
A fome certa
saciada.
Equilíbrio no espaço aberto
liberto de frentes
ou de luvas nas calçadas.
Período ganho em vertigem
de publicação
de letras em piercings
invisíveis condições
pra estarmos felizes.
Nós dois.
Aos 23 minutos do dia 4 de junho de 2008
terça-feira, 3 de junho de 2008
Temperatura
Febre. É de febre minha noite
por detrás das cortinas
debaixo do capuz negro
que esconde os olhos que me vêem.
Febre. Testa quente, calafrio na espinha.
Arrepio constante, incômoda dor.
São travessões no meu ninho
escurecido de quedas...
Febre.
.
.
.
03.06.2008 - 23h46min
Medidas
Quantos anos têm os dias?
Quais supostos enganos
aguardam nas ruas?
Como se conta o tempo
não vivido?
Como se encontra o prazo
não vencido?
Quantos passos até teus olhos?
Onde a razão do encantamento?
Até onde a coragem?
Quantas melodias guarda
uma voz?
Quantas loucuras ainda terão vez?
De quantas declarações de amor
se faz um riso?
A alegria é um estado ou uma situação?
Nó mais solto amarra mais?
Seriedade assusta?
Quais motivos são suficientes
para romper sólidos vínculos?
É mais feliz quem ama mais?
Qual é o preço de um abraço sincero?
Quanto te custa a distância?
Que peso têm tuas mãos
na minha pele?
É teu coração que vê,
ou será tua obra?
São teus sonhos as algemas
que prendem os meus?
A luta diária te aumenta o fôlego?
O fôlego da luta, aumenta teus dias?
Vinte horas apagam 20 anos?
Quem nasceu antes: eu ou o teu encanto?
Quantos quilômetros estendem
as estradas que te guiam?
É absurdo um começo sem haver?
Quantas lágrimas, antes
que a fonte seque?
Quantas secas, antes
que a esperança nasça?
Que diferenças guardam 20 anos?
Que planos aguardam
os panos da rede lilás?
Onde o calor da estrela?
Quantas diferenças revelam
semelhanças importantes?
De quanta proteção precisa
um anjo?
Distância é atitude ou escolha?
A medida exata da vida.
Existirá?
03.06.2008 - 18h20min
Tanto querer
E o tanto que eu te quis
entre as linhas e os risos
e os parêntesis que abriste
entregues na letra de uma única
canção.
E o tanto que desejei o tato
o olfato o perfume a flor
entre os rabiscos e decências
das tuas presenças
das tuas conversas
das frestas abertas
nos pareceres expostos
nas ruas das rugas
dos cantos dos meus olhos.
E o tanto que busquei o fato
de ser só tua e te querer só meu
entre as fendas da história
que condena mulheres como eu.
E o tanto que sofri em silêncio
por me ter sido negado
o direito a esse mesmo silêncio
o direito ao legado
da minha condição.
Não consegui.
E te quis.
Eu
te
K
I
S
S
.
03.06.2008 - 01h35min
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Dispensa
Desfio palavras múltiplas
levianamente lançadas ao léu.
Voam soltas as carapuças vocabulares
entre tempestades e interrogações
intermináveis construções frasais
que soam verdadeiramente melodiosas
encantadoramente hipnóticas
no que há de melhor entre nós:
o entendimento, além delas,
as palavras...
02.05.2008 - 20h26min
domingo, 1 de junho de 2008
Constatação
Sem sombra de dúvida
o mundo não dá mais voltas;
qual pêndulo, balança suavemente
entre as prosas e as canções
entoadas por artistas anônimos
maquiados de surpresa e solidão.
As pressas são presas dos preços
pagos por milhares de ouvintes
que se apertam entre os presentes
e encobrem suas dores e dúvidas
com plumas de algodão doce azul.
Pretende-se que o dia amanheça.
Sonha-se com mãos dadas
e lentos passos seguros.
Convida-se ao delírio da vida
onde espectador também é ator
também é juiz, também é a parte ferida.
Onde não se tem divisões ou cantigas
que liberem qualquer da festa
da diária festa escolhida.
Sem dúvida, sem sombra, sem volta.
Os dias com sol, nublados ou estreitos
são compromissos que assumimos
entre sorrisos e gemidos
entre desejos e concursos
entre saudades e tormentos.
E é bom que seja assim.
Aos 7 minutos do dia 02.06.2008
Realidade
A primeira boa impressão
não se desfaz em vídeo antigo
reafirmada na fragilidade exposta
do peito largo que se abre
e aposta na partitura do mantra sagrado
no violão de Vinícius, no piano de Jobim,
na voz de Chico, nas histórias afins,
embaladas pelas canções de sempre
embrulhadas em vistoso papel de presente
como só a saudade é capaz de fazer.
Reconhecer os passos já dados
nas pegadas dos risos deixados pra trás
e sentir-se absurdamente novo
diferente, estável e preciso
como só o tempo é capaz de mostrar.
E encontrar numa curva qualquer
a letra-metralhadora-palavra-mulher
e saber que o colo existe
independente da temperatura ambiente
do gelo, do suor, do trabalho,
independente do que houve,
do que gerou, do que deteve,
independente de hoje não haver
de ontem já ter sido
do amanhã entrecortado de
paralelepípedos. Tanto faz!
A vontade de estar é voraz.
A vontade de acompanhar é voraz.
É voraz a vontade de SER.
Impressão impressa n'alma
protegida por luvas coloridas
estampada de beijo com sorvete.
*Porque a primeira boa impressão é que fica
não adianta tentar me provar o contrário, ok?
01.05.2008 - 01h50min
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