segunda-feira, 16 de março de 2009

Angústia

Olhos abertos
apagada a lâmpada da alma.
Os girassóis deixaram
de procurar o Astro Rei.
Sem luz, os corredores se estreitaram
e a corrida de rotina
perdeu o brilho do orvalho
típico das manhãs normais.
É morna a hora morta.
São frias as mãos da vida
e os escândalos já não têm razão de ser.
Numa rua qualquer
um gato de cetim arranha a nuvem
que se deixa espremer.
O medo devora o riso
e o martelo define o momento exato
em que a trégua deixou de existir.
As forças esvaem-se entre as feridas
e um filete de sangue
no canto da boca do dia
denuncia:
não há lugar para renúncias
não há lugar para raivas tardias.
O parto é a porta da morte
depois dele, ALEGRIA!
16.03.2009 - 18h33min
*Quando tudo parece ir mal, lembre da dor do parto,
que eu TI contei um dia. Mas lembre também
que sobreviver a ela é de inenarrável valia...

Argamassa

Nevoeiro.
Transcendente espaço.
Mágica concreta
de palpável calor.
Escolho vocábulos nas falas de versos dos livros fechados que pousam nos traços das faces de anjos guerreiros. Voejantes asas azuis. Espanto episódios impróprios. Escrevo absurdos e sinto saudade de tudo o que está por vir. O porvir guarda o santo... Sem sonhos sou frouxa. Afrouxo os cintos da vida que me suspende que me delira que me batiza sem trégua, nos dias vadios. Ouço as vozes da impertinência e sacudo a poeira penitente dos pés descalços de frio. Libélula irrequieta, acentuo meus medos assento nas mãos de luvas libertas. Sou espinho e pedra no sapato (o teu?). Humana, cambaleio entre tuas pernas. Humana, serpenteio entre as penas que sofro. Humana, sacrifico apostas outrora impostas pelos meus desvarios. Humana, atravesso a lua e morro de fome todo dia pra renascer faminta à noite nutrida de força mas, principalmente, de poesia. 16.03.2009 -13h44min