quarta-feira, 3 de março de 2010

Meada

Umaoutrapágina
umoutrolugar
umserquenãonega
umjeitoprópriodeandar.
Pontesdetrilhosdistantes
cercaniasquejamaishaverão
pontosvírgulashífenserrantes
salivasesóiseponteirosquenãomarcarão.
Feridasalheiascortescosturas
tudomisturadonamesmafolha
namesmaletranamesmatrama
difícildefinirocomeço
ouodesenrolardosfatos
edotropeço.
Grandessãoosmedos
impiedosasasambições.
Tudojuntosemespaço
tudonamesmaagonia
tudonamesmaaflição
tudonamesmadefinição.







03.03.2010 - 23h53min

Instalação

Alumínios nas prateleiras
e espaços entre os dentes dos pentes
quebrados de tanto uso em cacos de cabelos
molhados.
Encostados às janelas
estilhaços de pensamentos impróprios
feito azulejos portugueses
das casas de chá
onde algozes se empanturram de riscos de giz.
Discos violetas assombram os ratos
e os letreiros das avenidas empoeiradas
nas celas dos presídios
e nas fardas amassadas
dos escaravelhos mortos
espalhados pelo caminho das pedras.
Fumaças e fornalhas agourentas
agora são escadas
e buracos nas águas calmas
de poços artesianos em desuso.
Se os monitores já não assumem
suas próprias posturas
que se dirá dos deuses caídos
e dos anjos abjetos
objeto de escárnio e descaso e fantasias mil.

A arrumação é descaminho
d'arte.
A arte é desalinho
da intenção.





03.03.2010 - 23h41min

Agouro


Eu quero corrigir as minhas vontades, 
consertar as minhas verdades, destruir os meus senões.
Eu quero serões de poesia ao ar livre e canções de vitória
onde antes apenas sertões havia e areia e miragens e um rosto infeliz.
Eu quero assumir as fraquezas e desfilar inteira
sem máscara de falsa aprendiz.
Eu quero evitar os entulhos, desviar os atalhos e abrir mão
do que eu sempre quis. 
E não tive. 
Por merecer, não fiz.
Eu quero virar punhados de entrelinhas e garimpar estrelinhas
em versos mancos, de cacoetes manchados e marcas de cigarro
e café.


03.03.2010 – 22h30

Quem, eu?



Eu sou uma coisa sem definição.

Às vezes moça
às vezes nua
às vezes loba
às vezes lua.
Eu sei que sou um pedaço
grande de uma grande tela
inda não pintada
inda não tida
inda sequer parida
pelo artista que eu não conheço
e que talvez nunca venha a.
Eu sou todos os hormônios
e todos os sentidos
e todas as harmonias confusas
que alguém puder ouvir.
Eu sou o pincel
a caneta
a fotografia
e todos os olhos abertos
no fim.

Eu sou uma coisa que não se define
nem definha assim tão simples
nem debruça o peito
assim tão fácil.


Eu sou o que não existe
talvez por isso
e só por isso talvez
eu seja assim tão triste...




03.03.2010 – 21h16min