quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Rotina

Cravo as unhas na paredes da rotina. Ranhuras diárias rugas que contam a história do que poderia ter sido e, por isso mesmo, foi. Previsíveis rusgas estorvos estouvos extorções de uma energia já parca. Parto, para partilhar de graça o que jamais tive. Participo do ritual do leite da carne, do sangue, do vinho, da sede das multidões omissas. Omito que sou uma delas. Só uma delas, minto. Uma. Delas. E nada mais. 11.09.2008 - 16h36min

Desalinho

Desiludo a energia; concentro a nudez diante do véu vazio. Escrevo pra entender mas também pra mostrar que não entendo. Desenho pra pretender encontrar o traço que perdi n'algum lugar desse trajeto que desconheço. Escancaro as portas e janelas e pesco palavras em outros idiomas na busca d'alguma tênue ligação com o resto da humanidade. Desiludo a concentração que já desistiu de mim faz tempo. A saudade não me dói mais. Anestesio meus passos a r t i f i c i a l m e n t e... Decido dormir mais cedo decido fazer mais coisas decido roer meus dedos decido rompantes outros pra depois decidir desistir de todos eles. As pessoas se perdem nas ondas de um mar d'águas dessalgadas; nem doces nem pequeninas, muito menos acesas por ventarolas agitadas. As pessoas se perdem na marola. Desiludo a folha seca que esvoaça ao vento feito pena feito feno feito flor em movimento devasso. Desiludido de tudo. Desencontrado de nada. De-se-qui-li-bra-do. Quem, eu? 11.09.2008 - 01h08min

Mãos

As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro esperam. Espreitam os exercícios que chamam de lamentos e desencontros chamuscados por invisíveis labaredas de ilusórias canções. Estreitas são as estradas por onde trafegamos nós, voluntários aprendizes de nada. As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro esparramam os líquidos os sentidos das viagens não feitas. As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro espalham pedidos de cidra de contato disfarçado de verdade e cordel. As mãos espalmadas sobre a bancada de vidro não passam de senões... Aos 45min do dia 11.09.2008