Escrevo.
Desconheço o limite
onde começa o delírio
onde termina a ilusão.
Escrevo.
Escrevinho mentiras
e açoites e afoitos rumores
de coisas que não haverão.
Escrevo.
Descabelo a noite
e a água fervente
na chaleira vazia
sobre a mesa oval de corda.
Escrevo.
Decoro as formas e os rumos
e as exatas medidas
que eu não soube escolher.
Escrevo.
Desato as gravatas dos nós
que não furam as agulhas
emperradas das máquinas
de costura de lavar de correr.
Escrevo.
Desabo sobre os dedos
cerro os olhos e as janelas da alma
e de todas as minhas posturas
vãs.
Escrevo.
Creio no frio da navalha
descrito no seio da linha
que corta teu rosto
e sangra teu peito
nu.
Meu grito.
Meu consolo.
Meu lamento.
Cru.
25.03.2009 - 21h