terça-feira, 31 de março de 2009

Quando tu vens...

Quando tu vens, todos as sombras se dissipam todos os medos emaranham-se em abstratos rolos irreais todos os segredos são castanhos todos os muros são transpostos e nada interfere em nada nem nos umbrais das portas fechadas nem nas distâncias materiais ou nas impossibilidades físicas talvez inexatas talvez oníricas talvez banais. Quando tu vens, tremem dos meus cabelos os cachos e todos os sábados e todos os domingos e todos os feriados são teus olhos, são teu brilho, são teu riso solto que ecoa nos ninhos que eu queria pra nós. Quando tu vens, nenhum soluço permanece e o próprio silêncio já é prece ou insistente desejo de que a vida assim de repente pare ou passe sem pressa de va gar como merece tudo o que realmente vale na minha vida ou na tua ou quem sabe na vida dela que tu sabes que se enternece só de ouvir falar em TI. Quando tu vens... 30.03.2009 - 22h44min Foto: datada de 30.03.2009 -EU

quarta-feira, 25 de março de 2009

Papiro

Escrevo.
Desconheço o limite
onde começa o delírio
onde termina a ilusão.
Escrevo.
Escrevinho mentiras
e açoites e afoitos rumores
de coisas que não haverão.
Escrevo.
Descabelo a noite
e a água fervente
na chaleira vazia
sobre a mesa oval de corda.
Escrevo.
Decoro as formas e os rumos
e as exatas medidas
que eu não soube escolher.
Escrevo.
Desato as gravatas dos nós
que não furam as agulhas
emperradas das máquinas
de costura de lavar de correr.
Escrevo.
Desabo sobre os dedos
cerro os olhos e as janelas da alma
e de todas as minhas posturas
vãs.
Escrevo.
Creio no frio da navalha
descrito no seio da linha
que corta teu rosto
e sangra teu peito
nu.
Meu grito.
Meu consolo.
Meu lamento.
Cru.
25.03.2009 - 21h

Here or Hero? (não-herói, mas aqui)

E eu aqui,
dê-lhe escrever em branco nas páginas turvas de uma vida incógnita. Pra que toda essa luta? Pra que toda essa verve? Se os pássaros morrem nos ninhos e as liras não tocam mais que uma nota mínima por dia? Pra que toda essa lisura de dias acesos nas bordas de um sol sem pontas pontiagudo mito? Pra que toda essa candura se os treinos não levam à taça se os pacotes se abrem vazios e os instintos são facas de corte? E eu aqui, dê-lhe permitir um instante de solidão... 25.03.2009 - noite

Peremptório

Sou o resto eterno
de minh'alma mortal.
Imobiliza-se o instante
sob o piscar perambulante
de um único olho vazado.
Esvazio o cilindro de couro
e escuto as vozes distintas.
Não sei o que é o mar
nem as sereias e seus cantos
encantos certeiros
de navios pesqueiros.
Mas
alto lá!
D'onde surgiram as vigas
amareladas e puídas
que emergem de negras nuvens opacas
nos dias de azul celeste anil?
D'onde, a poesia melosa
que deita os dedos em prosa
e contradiz a malícia
o desperdício
a poderosa e intacta tontura?
D'onde os mergulhos no nada
as canções jogadas
nos cantos dos planos arredondados
que a gente nem discutiu?
D'onde a imagem heróica
de um deus paralítico
que desfez os cadarços
dos tênis importados
de um certo aprendiz?
E eu aqui,
roendo as unhas e os dias
enfrentando as fronteiras do medo
afrontando as paradas exigidas.
E eu aqui,
(dentro do soco na boca do estômago da noite)
sem saber pr'onde ir...
Tem alguém aí?
25.03.2009 - 20h10min

Psicodélico

Arrasto as tamancas o sol diário não adverte do perigo de fritar os miolos da dúvida em plena praça pública e a dívida acumulada escorre ralo abaixo da vida enquanto a apreensão se instala na cuca -iguaria de café colonial-. Exponho os argumentos na bandeja dos olhos. Exploro a barriga da aurora com gargalhadas inauditas. Expando as prováveis razões insanas da sanidade bem vista e não chego a conclusão alguma a não ser a mesma de onde parti. Qual é? Não sei. Não vi. 25.03.2009 - 19h25min

Impressionismo

Encerro as gavetas de núpcias inicio outro cacoete presenteio o pacote encerado com abelhas e papéis amanteigados. Mordo o pão amassado e o sangue escorrido do lábio não é o meu! Compactuo co'a licença poética e desvio dos significados rasteiros que oprimem os comuns. Sou poeira e vertigem e essa falta de curiosidade ou me leva à loucura ou quase me mata ou me extravia pra sempre. Poesia é lamento vertente de mundos ocultos instrumento de tortura medieval. Surreal. 25.03.2009 - 17h02min
*Foto:Salvador Dali e seu impressionante surrealismo

terça-feira, 24 de março de 2009

Código (Morse?)

Ouso merecer a bênção
inda que ela me custe as noites
de um sonho sem sono
sobressaltos ou saudades.
Engravido das armadilhas da vida
e CORRO sem pressa ou medida
serpenteando entre os reflexos
de um ESPELHO de cristal intacto.
Tua imagem convoca meus instintos
fracos de percepção de decência.
Tu és antes de quase tudo
e a dor dos teus JOELHOS
incha os dias de receber-te.
Teu nome mora nos PESSOAIS OBLÍQUOS
e acompanha minhas falas diárias
colado em mim
-sangue VERMELHO nas minhas veias azuis-.
É suficiente o período do ANO
pra te dizer sem medida
ou intermédio algum
que o MISTÉRIO da tua vinda
e a alegria da tua permanência
são meus pontos-fracos-cardeais
coroados de CHUVA e reticências...
24.03.2009 - 10h48min
Não há necessidade de dedicatória,
quando se tem um copo de suco de laranja
TIm, TIm...

Sequência

Paralelas à minha outras vidas existem em que pesam as consequências das escolhas dos meus atos. As circunstâncias que me afligem atingem as feridas dos que me cercam. Evito sambas de uma nota só e adoeço de esperança pra compôr meus passos sobre a ponte de pedras irregulares que me separa do controle parcial. Os panos rotos de que fiz as paredes têm franjas e extensos rasgos de redes de cores verdes difusas e atrapalhados balanços rentes. Olha! A sombrinha aberta voa ao vento feito folha no outono da brisa recente. Quebram-se as varetas do jogo que sequer comecei a pensar. Sem querer, cumpro as correntes dos entes ensimesmados que eu não pude arrecadar. Os dias são vagos. Os vagões lotados de festejos enganam a torcida faminta e a partida é só o começo de mais uma outra longa subida. Assovio. Com os pés descalços pressiono o assoalho frio. As portas todas têm chaves e elas me espiam. Expiro. Decido? 24.03.2009 - 09h17min

Suspensão

E tudo está suspenso até segunda ordem. Palavras de algodão doce derretem na língua antes de serem proferidas. E tudo está suspenso até segunda ordem. E se eu contar teus dedos e se eu cantar tuas notas e se eu convidar teus pares... Tudo está suspenso até segunda ordem. Tapete persa legítimo tapete de pétalas de flores tapete de protestos escolhidos. Tudo está suspenso até segunda ordem. Na porta da sala, uma sombra os contos e fábulas lidos comentados entre risos. Tudo está suspenso té segunda ordem. As refeições de alegria corrompidas pela ética compreendidas pela estética. Mas tudo está suspenso té segunda ordem. Aos 19 minutos do dia 24.03.2009
*Baseado em Quintana, o Eterno:
"Tudo agora está suspenso.
Nada agüenta mais nada.
E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes,
o que é que derruba um castelo de cartas?"

segunda-feira, 23 de março de 2009

Dois

Dois olhares. Dois extremos. Dois estados. Dois trabalhos. Dois assovios. Dois sorrisos. Dois prazeres. Duas mãos (entrelaçadas). Dois vincos. Dois vínculos. Dois caminhos. Dois artistas. Dois calabouços. Dois almoços. Dois almaços. Dois braços. Dois elos. Dois selos. Dois seres. Dois dizeres (expostos). Dois supostos. Dois profanos. Dois sarcasmos. Dois deleites. Dois delírios. Dois insanos. Dois fogos. Dois fatos. Dois fecundos. Dois enfeites. Dois versos. Dois mundos. Dois aspectos. Dois. Hummmmmmmmmmmmmmmmmm Hummmmmmmmmmmmmmmmmm 23.03.2009 - 09h06min

Um

Um cochicho, um assalto, um sobressalto um espanto, um abraço, um sussurro um encontro, um travesseiro, um muro um estorvo, um entrave, um acerto um começo, um espaço, um pensamento um tropeço, um fio vermelho de cabelo um cinzel, um pano de prato, um pulo um caderno, um namoro, um escuro um pincel, um presente, um beijo um doente, um trovão, um entulho um medo, um motivo, um parente um dedo, um banco, um futuro um sonho, um romance, um susto um prato, um peito, um bocejo um vento, um violão, um casulo um mel, um véu, um barulho hummmmmmmmmmm... 23.03.2009 - 0h02min

domingo, 22 de março de 2009

Fotografia

Em tempos idos fui mistério

que hoje jaz, em foto amarelada.

Em tempos idos fui lágrima e chupeta

que hoje jaz, em lembranças recortadas.

Em tempos idos fui insegurança

fui 'talvez', fui incógnita ciranda.

Os tempos idos brotam hoje

nesse mesmo 'talvez'

nesse igual mistério

nessa idêntica esperança.

Jazigos que trago em mim...

Aos 44min do dia 22.03.2009

Querer

Quisera eu cercar-te de flores
e entre todos os sabores
o da minha língua ser o teu.
Quisera eu molhar-te de chuvas
nos dias quentes de estio
nas noites sofridas, nos desvios.
Quisera eu mostrar-te o Norte
ser tua bússola, teu pulso forte,
ser teu remédio, teu unguento,
tua alegria.
Quisera eu ser teu país,
tua família, teu esteio, tua razão.
Marisa Monte cantaria:
"Bem que se quis..."
quisera eu...
Aos 10 minutos do dia 22.03.2009

Eu

Eu sou o vento e a fantasia. Sou poesia e solidão. Sou o que está à mão e o que escapa. O que escorre entre os dedos e o que maltrata. Sou a nudez e o exagero, a febre, o sono e a delícia, a água na boca, a preguiça, a faca, o queijo e a reticência. Sou o disfarce de gente, da demência, e um anjo de candura na letra. Sou um grito calado, uma espécie de riso apenas sugerido, um tipo de dor inda não inventado. Sou a pretensão, o divórcio, a escolhida. A fera, o fogo, a exata medida. Sou a desconfiança vestida de mulher e a confiança cega, travestida de infância. Sou a relevância e a figura em quinta dimensão. Um sim prematuro. Um amargo não. Sou a fé sem fundamento e o soco certeiro, de direita. Sou a trave no olho e o tremor dos lábios, na hora do adeus. Sou o próprio adeus e o sorriso de boas vindas. Sou as rendas e as pintas das joaninhas verdes, que esvoaçam entre as flores vermelhas. Sou as trepadeiras e macieiras cheias de frutos doces. Mas também sou o frio, a fome e a miséria. Não pague pra ver. (O que diriam teus pares, quando, afinal, descobrisses que apesar de tudo isso, ainda assim quiseste me ter?) Aos 02 minutos do dia 22.03.2009

sábado, 21 de março de 2009

Um grito surdo

São nuvens de poeira nos olhos da vida cegueiras impostas pretensiosas medidas escândalos sucessivos e guerras enormes. Pra que? Se a ferida não sangra e se o sangue infectado não oprime? Pra que? Se o passado desmente a cobrança e o maldito cava buracos na penumbra das angústias que permeiam as bordas dos pratos de sopa vazios de instintos e de consciência de uma raça em vias de extinção. Pra que? Se os humores são turvos se os amores são passageiros se as crianças estão expostas se os velhos vivem de joelhos? Pra que? 21.03.2009 - 20h09min

Salvação II - A Lista

Eu quero um batom azul e uma trena um bombom de chocolate meio amargo e um generoso pedaço de pão. Eu quero um rio de águas claras e um contrato assina(la)do co'a solidão. Eu quero uma manhã enluarada com cheiro de orvalho e noites com jeito de flor. Floreiras nas janelas da alma sorrisos no retrovisor. Senhas escritas nas paredes parábolas e sementes e um bom cobertor. Eu quero um amor sem medidas uma loucura validada pela ausência de feridas. Eu quero a chama a lenha a comida. Todos os sonhos todas as danças todos os trovões todas as montanhas do mundo. Eu quero a cama a mesa o banho e as toalhas manchadas de alegria. Eu quero a cor do capim a cor dos teus olhos as asas do jasmim nas bandeiras da minha vida na única lista que penso importante ser. Eu quero TI ter. 21.03.2009 - 0h35min

Salvação

Eu quero um poema Que me salve da morte. Um verso, um verbo, Um encanto qualquer Que me aponte um norte. Eu quero um poema de açúcar Embrulhado pra presente Encrustado de risos E papéis de seda coloridos. Eu quero um poema permanente Desses que não se gastam No pós-leitura, facilmente. Eu quero um poema Que me restitua a saliva Que me apresente uma réstia de luz Que me acrescente dias Que me estenda tapete de peles vermelhas. Eu quero um poema Que me salve da morte E que nasça do sol Na lua crescente minguante No espaço breve e na partilha. Eu quero um poema de coragem Uma semente de vida Que me arranque da morte Um verso Um verbo Um encanto qualquer. Uma única medida... 21.03.2009 – 0h16min

Sonho ou fantasia?

Sonhei que não havia E o não haver Não impedia a roda Da fortuna Do infortúnio Da demência De crer na procedência De ceder a um haver bem-vindo. Mas eu sonhei que não havia! E mesmo assim A inusitada presença De impetuosa cadência Existia. Era só pousar a mão no peito. Sonhei que não havia O músculo O peito O pulso. 20.03.2009 – 21h10min

sexta-feira, 20 de março de 2009

Confusão

Navega meu barco em águas passadas redemoinhos gulosos devoram-me as entranhas e esperam ansiosos o ponto final do começo mas o lápis perdeu a linha e a tiara da vida brilhou mais forte cegando a impotência. IMPERTINÊNCIA! 20.03.2009 - 20h34min

Viagem

Todos os caminhos são surpresas. O mundo é um mundo de novidades à parte de nossas novas certezas. Compro um gato e um pente levo pra casa. Resisto à tentação do medo. Minto pra mim mesma e ergo uma estátua à solidão do poema. Quero uma ode bem escrita. Descrevo a trilha aberta e sou quase floresta no cotidiano de sonoridades de pedras e paus e sabores e todos os amores impressos em senhas suspensas várias. Vertigem. 20.03.2009 - 20h12min

quarta-feira, 18 de março de 2009

Delírios

*Daniel Cavalcante & Simone Aver

Flocos de talco flutuam próximo ao meu copo sujo O sangue suga a ferida da vida E assim toco meu gado uivante pra não dizer que o outono derreteu os meus calos A assadeira calunia a todos os descrentes na vinda do segundo Reich o absurdo desmente o medo que me amputa o sono Me torna homem-mulher, com cólicas, TPM e profusão de pêlos e desejos conecto com o mundo de Sofia e lambo os beiços da escuridão Somente para conseguir daquela acetinada o último grão-de-café de Shambala dentro do bolso da calça rasgada, todas as histórias de Sherazade Nuredim nunca nevou no norte da Noruega mas ao Sul do Equador, os gritos de adeus confundem-me os ouvidos É tanto furacão, tanto transporte... As pessoas voam como pedriscos dentro de sapatos de gigantes Cuidado! Criar asas é arriscar-se à peste da insanidade! Procuro uma coisa que não tem nome nem cara, gosto ou cheiro. Apenas fulgor. E quem disse que o peito não bate mais forte, quando nasce uma alegria? 15.03.2009 - 01h30min

**Ilustração: Barco da Loucura, de Hieronymus Bosch, In:

http://porcaseparafusos.blogbrasil.com/archives/2005_04.html

Bem guardado

Eu guardei teus beijos
nos bolsos da alma
escondi os desejos
na cintura do teu riso
e não foi preciso
mais do que um segundo
um primeiro
um meio acorde
da tua voz macia
pr'eu cair na tua veia
por vontade própria.
Eu guardei meus desejos
nos bolsos da cintura
da alma escondida
e não foi preciso
mais do que um ensejo
dois segundos
três terceiros
uma gota de saliva
da tua língua macia
pr'eu cair na tua voz
e tornar-me tua.
Eu guardei teu riso
nas conchas dos meus ouvidos
pra te reconhecer
onde quer que a vida
me/TI leve
leve
leve
leve
pluma de alegria
que meu peito aquece.
Eu guardei teu nome
teu riso
teu jeito
teu motivo
nos bolsos da minha vida
e costurei com flores
pra não TI perder...
18.03.2009 - 20h01min

Adivinha

Sanduíche de chocolate branco
pra esquentar tuas mãos.
Um bombom aguarda a lágrima secar.
Não há tempo para contar nos dedos
as vezes que desejaste partir.
São longas as feras famintas
como são ligeiros os dicionários
e as fábricas de letras
que reticentes torcedores
entornam depois das seis.
Contorno os cabelos recém cortados
do mesmo corte toda vez.
Encontro espelhos
e a imagem delira
diluída na fluidez do riso teu.
Conflituo com as canetas
estouradas de tinta
antes vermelha,
antes sadia,
antes nobre,
antes azul.
A luz me cega
a luz me guia
a luz incendeia
a lua
a rua
a tua carne
partida em duas
no assoalho da sala apenas imaginada
jamais suposta
jamais proposta
jamais imposta
estreita
de portas fechadas
e escancaradas defesas
devassas.
Adivinha.
18.03.2009 - 18h03min

Descrição

Debato-me entre espinhos
e salas de aula marcadas.
Sou sensação de voo
sem o circunflexo acostumado.
Costumeira impressão conhecida
abro os braços à fortuna
de saber-me visada
visitada de ombros eretos
refeita de membros expostos.
Minhas pernas são cansaço.
Ato meus braços ao teu destino
e calo.
Sou dormência e desalento
na calada da noite que te aguarda.
Meia noite
noite inteira
um quarto de hora
sem ponteiros ou discos
nas pontas dos minutos
que não passam
ou passeiam pelos meus olhos
feito cordões de calçadas vazias.
Acalento o desejo de seguir os calores
que sobem das pedras.
Vulcões.
E teu riso é canção afinada
que eu gosto de ouvir.
Não?
Uma negativa fecha-te as frases
e as fases das luas distintas
agarram as quedas quadradas
que eu teimo em insistir...
Orgulho da mensagem.
Mensageiro de um prisma.
Prisioneiro relutante de uma altura.
Não?
18.03.2009 - 0h

terça-feira, 17 de março de 2009

Arte

Todas as artes estão em mim
ainda que nenhuma delas seja eu
ainda que não as vejas
ainda que eu não consiga expressá-las.
Estão em mim
andam comigo
navegam meus mares
a b s o l u t a s...
Todas as artes
em mim...
17.03.2009 - 23h12min

segunda-feira, 16 de março de 2009

Angústia

Olhos abertos
apagada a lâmpada da alma.
Os girassóis deixaram
de procurar o Astro Rei.
Sem luz, os corredores se estreitaram
e a corrida de rotina
perdeu o brilho do orvalho
típico das manhãs normais.
É morna a hora morta.
São frias as mãos da vida
e os escândalos já não têm razão de ser.
Numa rua qualquer
um gato de cetim arranha a nuvem
que se deixa espremer.
O medo devora o riso
e o martelo define o momento exato
em que a trégua deixou de existir.
As forças esvaem-se entre as feridas
e um filete de sangue
no canto da boca do dia
denuncia:
não há lugar para renúncias
não há lugar para raivas tardias.
O parto é a porta da morte
depois dele, ALEGRIA!
16.03.2009 - 18h33min
*Quando tudo parece ir mal, lembre da dor do parto,
que eu TI contei um dia. Mas lembre também
que sobreviver a ela é de inenarrável valia...

Argamassa

Nevoeiro.
Transcendente espaço.
Mágica concreta
de palpável calor.
Escolho vocábulos nas falas de versos dos livros fechados que pousam nos traços das faces de anjos guerreiros. Voejantes asas azuis. Espanto episódios impróprios. Escrevo absurdos e sinto saudade de tudo o que está por vir. O porvir guarda o santo... Sem sonhos sou frouxa. Afrouxo os cintos da vida que me suspende que me delira que me batiza sem trégua, nos dias vadios. Ouço as vozes da impertinência e sacudo a poeira penitente dos pés descalços de frio. Libélula irrequieta, acentuo meus medos assento nas mãos de luvas libertas. Sou espinho e pedra no sapato (o teu?). Humana, cambaleio entre tuas pernas. Humana, serpenteio entre as penas que sofro. Humana, sacrifico apostas outrora impostas pelos meus desvarios. Humana, atravesso a lua e morro de fome todo dia pra renascer faminta à noite nutrida de força mas, principalmente, de poesia. 16.03.2009 -13h44min

sábado, 14 de março de 2009

Azul

Foi uma estrela azul
quem primeiro pariu o perdão.
14.03.2009 - 21h27min

Ignorância

Não sei o que me resiste nem sequer se existe essa tal in-com-pa-ti-bi-li-da-de de gênios desculpa tola pra fugir de uma verdade que assusta. Não sei o que me treme nem o que me tira do prumo arrumo explicações mútuas e te libero do trabalho de assuntos futuros. Não sei o que me entorta nem sequer se importa a palavra não-dita se pressinto o estorvo que estou na tua vida. Não sei o que me cerca nem sequer o que em cheio acerta o que aceito dessa minha medida vazia. Não sei o que me abarca nem sei como se embarca na viagem sem volta que ainda farei um dia. Ignoro. 14.03.2009 - 15h30min

Louca de pedra

Louca de uma loucura sadia de uma esperança insana de uma maluca doideira. Louca prendo os cabelos e os cachos se revoltam. Solto as revoltas e os cabelos se ajeitam. Louca completamente muda mudo meus cheiros mudo meus mundos mudo os espaços vazios. Louca navego estrelas estrelo espetáculos espanto o equilíbrio destruo as metas meto o pé na estrada e na porta fechada que me impede o vôo. Louca camisas de força enforcam os livros que jamais escrevi. Louca boneca de louça envolta em trapos rasgados de estio estico os elásticos cansados dos dias cansados dos frutos cansados dos ventos que não sopram que não vibram que não futuram. Louca invento verbos que não entendo crio melodias que não se cantam construo obstáculos que não impedem. Louca varro os ciscos dos olhos fechados invado barreiras fecho a boca e as mãos dos monstros que devoram os medos. Louca não perdoo nem perpetuo. Louca tomo remédio. Vicio. Louca espero por TI. Té que me restabeleça e morra enlouquecida de falta de excesso de queda de uma razão que não sofri. LOUCA! 14.03.20096 - 15h03min

Poesia

Fiapo de vida pendurado na ponta de uma metáfora qualquer. E a gente tenta entender o que é que o outro disse, quando deveria proceder à busca do quanto de nós existe nos versos que porventura um certo poeta escrever... 14.03.2009 - 13h41min

Bicho

Sou bicho solto
qualquer controle me perde.
Se corro, desista.
Se escorro, não me recolhe.
Se espero, silencia.
Sou bicho solto
nem toda palavra me acolhe.
Se estendo os membros
e devoro as linhas,
não mova os brios
nem acenda os fósforos
de fogueiras distantes
ou extintos calafrios.
Silencia.
Sou bicho solto
ar e fogo
vento e poeira
calmaria.
Silencia.
Sou o que não se prende
e se prender
se perde...
Sou bicho solto
na vida e na folia
na sombra de uma árvore que não existe
na existência de uma luz que já não brilha.
Sou bicho solto
não aceito algemas
não aceito dono
não aceito a ordem do dia.
S
i
l
e
n
c
i
a
.
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.
.
.
.
.
.
.
14.03.2009 - 13h31min

sexta-feira, 13 de março de 2009

Gagueira

Toda poesia tem um fio de sangue escorrido Toda poesia tem um fio de cabelo vermelho Toda poesia tem um fio de vida pulsante Toda poesia tem um fio de um filho errante Toda poesia tem um fio e outro fio e outro fio e outro fio fiados trancafiados às pressas pelas presas dos tapetes persas que não fazem parte da história mas que ortograficamente são perfeitos. Aqui, toda poesia é contada em letras e se esvai pelas calçadas estreitas que gargalham satisfeitas de nada de nada de nada de nada de toda poesia safada que esfrega na cara a rima feita EITA! E o tempo escorre no ralo do esgoto de rugas que espreitam a pele exposta ao sol o sol o sol o sol o sol. Gaguejo o filme da minha vida.... E não conheço o final... Mistério mistério mistério mistério rio.... 13.03.2009 - 22h13min

Retalho

A surpresa atira-me ao rosto o instante
incógnito.
Saliento as esferas de sóis, luas, estrelas cadentes
incandescentes futuros
que não sei onde
nem d'onde virei.
Suspendo expectativas absolutas
espero o bonde da vida
impaciente.
Sangro antigas cicatrizes
quando o real me inunda.
Perco a hora, a razão, a cabeça e a medida
se me faltam as fraldas do afeto na ferida.
E sou deveras ambulante
pra ser cigana.
E sou deveras estreante
pra ser maldita.
E sou deveras dissonante
pra ser artista.
Suo água doce.
E o instante?
Recuo...
13.03.2009 - 16h12min

terça-feira, 10 de março de 2009

sábado, 7 de março de 2009

Dúvida

Se não me acompanhares,
o que sobrará de mim? 07.03.2009 - 16h34min

Vida

Catártica armadura. Catástrofe e amargura. Solidão. Na curva do rio um peixe luta contra o ar que lhe explode os pulmões. Na curva do rio um cão abocanha a presa e não ouve sermões. Na curva do rio uma voz inventa canções e não há solução. Na curva do rio um sopro de luz um carvalho antigo um pio um suspiro. Na curva do rio a certeza de hoje a loucura da vida a volúpia do pão. Na curva do rio sobre a tua, a minha mão. E tudo haverá de valer pra Pessoa, pra mim, pra que possas saber. 07.03.2009 - 15h44min (De mim, pra TI)

Nada

Diminuo a produção de argumentos coerentes. Emito um apanhado de sem-sentidos tolos e desperto do pesadelo. Intacta, arranco os curativos e aventuro-me em nova busca. Meus olhos faíscam os fios vermelhos encaracoladamente soltos que adornam a satisfeita face de fase desdita que inicia outra tormenta. Pactuo com teus traços que sombreiam as ondas de mares distantes -águas que meus pés não molharão-. Documento é meu dizer talhado a ferro e fogo n'alma que se debate entre o que É e o que se não vê. Cato feijão na melódica curva do vento que o tempo insiste em me ocultar. Mergulho meus medos na luz dos teus olhos. Os passos não passam da porta. Empalho as cores de cabeça pra baixo desvirginando silenciosas madrugadas sem teus risos sem teus brios sem teus contornos. Sem mim. 07.03.2009 - 14h57min

Escritura

Escrevo. Meus termos passeiam por tuas garras abertas estreitas estradas escombros escolhidos a dedo. Escrevo. Suspeito do verbo parido sem dor: a-ca-dê-mi-co endêmica solução sucessão de erros desencadeantes de vazios. Escrevo. Liberto a tinta e o itinerário esvai-se pelas linhas que não ajudei a vestir. Escrevo. 07.03.2009 - 14h09min

Tendas nos desertos, enlameadas de sol

Sombra d'água corrói
o obstáculo insuspeito.
Lavo de poeira os mitos..
Sou louca de força e camisa de pedra
- a de vênus, esculpi no leite
do teu corpo escorrido -.
Meu nome pintado no muro de tinta
pro orvalho beijar.
Esqueço a primeira estrofe
da canção que jamais ouvi.
Risco um fósforo
e ascendo às nuvens.
Restauro minhas dúvidas
e os açoites da vida
são feridas permanentes
que aprendi a curar.
Meus segredos purgam estrelas
estalam as bolhas de luz
que pingam nas partituras
rascunhadas no almaço
amassado de gomos
e remédios crus...
07.03.2009 - 13h08min