sábado, 15 de janeiro de 2011

Meus dez anos

Saudade de tudo da minha infância
do cheiro de pneu de bicicleta
do churrasco no bosque, aos domingos
das bonecas de pano, da casa cheia.

Saudade do que não volta
nem por fotografia
da Maria Fumaça
do balanço na árvore
das brincadeiras de roda
dos problemas insolúveis
que, de problemas, nada tinham.

Saudade da inocência tida
alheia a afogamentos
deslizamentos
entulhos políticos.

Saudade da verdadeira poesia...





15.01.11 - 16h28min

Prudência

Cordata,
aceito a existência de mentiras
como se natural fosse
estar há dias sem um prato de comida.
Engano aos vendidos minutos:
nada importa
pouco vale o silêncio obtuso,
um grama de poesia
minha fome de permuta
já sacia.
Casta,
evito escândalos
escavo túneis
delineio metas
que excluem...

o benefício é meu
se a porta estiver aberta... 






15.01.11 - 15h 26min

Essência

Esmeralda é pedra espalmada
no extremo oposto da noite
em que meus olhos
relutantes de aceitar a morte
permanecem abertos
atentos ao próximo gênese.
Horizontalmente
doo a cartada final do embate
quando as luzes já não bastam
e os pesadelos cercam as janelas e
os botões acesos dos aparelhos
desligados das tomadas de força
formados de cinzas e cantoneiras brancas.
Não me importa a coerência rara
na alta madrugada
em que me encontro
- eu e os meus fantasmas todos -
frutos de entremeios
que me eximem da culpa
de não dormir.
Esse desejo impoluto
de saciar-me de vida e mistério
ondas de lacrimejantes febres
manifesto de energia em mim
é que rascunha meus próximos versos
os ritmos que me permito
os laços que abro e sustento e vibro.

Raiz dessa minha controvérsia essencial...




15.01.11 - 14h 03min

Enigma

Augusto dos Anjos
de asas quebradas
nas teias
cuidadosamente esticadas:
presa perfeita
de versos
que denunciaram
os limites desnecessários
para o voo alçar...





15.01.11 - 05h28min

Confessionário

E se os anjos disserem amém
bem na hora de um desejo maligno?
Valham-me os deuses!
Que diriam meus pares
se soubessem o quanto de mim há
nos pecados que não ouso confessar?





15.01.11 - 05h12min

Insônia

Busco nas sombras da noite
na luz da tela vazia
a réstia de sono
que eu não tinha
té as horas escorrerem
goela abaixo
da gola da lua
e se perderem
n'algum ponto obscuro.

Minha função é alimentar
os fios de velas
do que se pretende real
mas que pinga no papel
desenhado de sonho
- espetáculo banal -.

Nutro a essência da poesia
na insana despedida
de quem não ousa apresentar
qualquer argumento que valha
um terço da sentença finita
que eu pedi pra demonstrar.

Acompanho o tilintar dos trincos
na passagem de todos os segundos
recolhem-se os mundos
os gênios despedem as lâmpadas



e eu




busco nas sombras da noite
na luz da tela vazia
um despertar que me invente
um jeito de ser diferente
o milagre de apagar-me o dia...





15.01.11 - 05h06min
Quase manhã...