quinta-feira, 24 de abril de 2008

Premonição

Inconstante, canso de divagar. São lentos os passos que me cercam e os pesos impressos na folha reluzem os pedaços do passado recente. O gosto de fruta gelada confude a canção que acompanha o vaso de flores no jardim recém plantado. A tarde livre dessa quarta-feira triste é tapete de escala de cores na escolha que urge entre os afazeres esquecidos, de tanto retomar a antiga lista. O sonho da alma liberta a libélula do pensamento. Empresto o brilho de um céu vago aos instantes que julgo meus, contigo. Teus versos invadem a solidão e quebram os vidros embaçados da lua que se escondeu atrás de uma nuvem de doce e branco algodão. Espero a tempestade que se arma no horizonte, quando já não estiveres aqui. As possibilidades de cristal correm riscos. As portas do futuro estão abertas hoje. E eu temo que o medo seja tão palpável que acabe por congelar as mãos do poeta... 24.04.2008 - 01h30min

Canção

Uma canção não precisa de partitura, nem de letra, nem de arranjo. Uma canção não precisa sequer de um intérprete. Uma canção só precisa, para ser devidamente ouvida, de um leve, suave e delicado coração. 24.04.2008 - 01h18min

Eu confio




Aos 50 minutos do dia 24.08.2008

Partitura natural


O VÔO



Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas,
tempo e vento, desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite
enche-o de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu vôo
te leva sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão,
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota, como um pássaro,
as canções que tens na garganta.


Canta!
Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.

Desde que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota?
Voa e canta, enquanto resistirem as asas.


(Menotti del Picchia - 1892/1988)






24.04.2008 - 0h40min