quarta-feira, 7 de maio de 2008

Espectralismo

Engravido do desejo
de parir A canção.
Concebo a harmonia. Os primeiros acordes: sílfides nuas e livres, a dançar. Um Si Bemol escorrega entre meus dedos trêmulos de luar. Um Ré volta atrás, arrependido. Dou o tom da estrofe catártica. Arrepio a pele crua. As cifras, todas, de pé. Aplaudo. 07.05.2008-22h10min

Eu SOU


Sou um ponto de interrogação
diante de um espelho mudo.
Sou um ponto final,
entre outros dois iguais.
Sou aquilo que não se vê,
aquilo que não se toca,
aquilo que não se percebe,
mas que se pressente,
entre um sopro de lua
ou um raio de sol escaldante.
Sou o amanhã cambaleante
sobre as pernas de um hoje
que se desprende.
Sou a pressa e a imperfeição
juntas, inseparáveis.
Sou a cegueira e a visão,
o marasmo e a enxaqueca
depois da impertinente visita
da solidão, que se despede.
Sou alegria, rebeldia, exaustão.
Inconformismo preso na forma
retangular dos óculos prateados.
Sou barulho e silêncio.
Duas partes opostas
guardadas entre as portas
que protegem o que há em mim.

Eu

SOU.



07.05.2008 - 19h21min